terça-feira, 23 de agosto de 2022

211 Hilário de Poitiers (315-368) - O Tratado da Santíssima Trindade - Livro Sexto (Capítulos 1 - 12)

 



211
Hilário de Poitiers (315-368)
O Tratado da Santíssima Trindade
Livro Sexto (Capítulos 1 - 12)

 


Divisão do Tratado

O Tratado está dividido em 12 livros.

O livro I começa autobiografia. Refere-se às heresias e apresenta um plano geral do trabalho.

O livro II é um resumo da doutrina da Trindade.

O livro III trata do mistério da distinção e unidade do Pai e do Filho.

No livro IV o autor apresenta a carta de Ário a Alexandre de Alexandria e demonstra a divindade de Filho a partir de citações tiradas do Antigo Testamento.

O livro V também cita o Antigo Testamento para demonstrar a divindade do Filho, que não é um outro Deus ao lado do Pai.

O livro VI refere-se novamente à carta de Ário e argumenta a partir do Novo Testamento.

 

LIVRO SEXTO

Capítulo 1.

1.      Estou bem consciente de minha ousadia de ter, em tempos tão difíceis, empreendido escrever este livro contra a insensata heresia dos ímpios, que afirmam ser criatura o Filho de Deus.

2.      Já por quase todas as províncias do Império Romano muitas igrejas estão infeccionadas pela peste desta pregação.

3.      Há muito tempo eles abusam da pregação como se fosse a verdadeira fé, acobertados pelo falso nome de verdadeira religião.

4.      Não ignoro ser difícil mover a vontade para que se emende, visto que, para muitos, a aceitação por parte da autoridade pública já faz supor que seja verdadeira uma doutrina.

5.      Grave e perigoso é o erro de muitos, e a falha de vários se reveste de autoridade, pois, ainda que seja reconhecida como tal, inúmeros homens se envergonham de opor-se a ela, porque os que a seguem são numerosos e têm a insensatez de pretender que o erro seja considerado como prudência.

6.      Aquele que se engana na companhia de muitos afirma possuir a verdade por pensar que o erro é menos grave quando cometido por vários outros.

 

Capítulo 2.

7.      Quanto a mim, por causa do cuidado e da obrigação de meu cargo, e porque, sendo o bispo desta Igreja, tenho o dever do ministério da pregação evangélica, com mais empenho me entreguei ao cuidado de escrever.

8.      Por estarem as inteligências dos infiéis presas por maiores e mais diversos perigos, esperava mais frutuoso gáudio provindo da salvação de muitos. Estes, tendo conhecido os mistérios da perfeita fé em Deus, abandonariam os ímpios ensinamentos da humana estultice e se voltariam para Deus, repudiando os hereges como ao alimento mortífero usado habitualmente para capturar as aves, e se elevariam no voo com livre segurança, seguindo a Cristo como chefe, os Profetas como núncios, os Apóstolos como guias.

9.      Chegariam assim à fé consumada e à perfeita salvação, na confissão do Pai e do Filho lembrando-se da palavra do Senhor: Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou (Jo 5,23), haveriam de glorificar o Pai pela glória do Filho.

 

Capítulo 3.

10.  Brotou há pouco uma peste detestável e mortífera para o povo, a qual, grassando com muito grande poder de contágio, trouxe a ruína de morte miserável.

11.  Não foram maiores, nem o repentino mergulho no caos de cidades com seus habitantes, nem as freqüentes e tristes mortes causadas pelas guerras ou moléstias sem remédio, que têm castigado o povo por devastador contágio, do que esta funesta heresia, que se espalha para a morte do gênero humano. Pois, para Deus, para quem todos os mortos vivem, somente perece aquele que, por si mesmo, se afasta da vida. Ele há de vir, para julgar todas as coisas pela misericórdia de sua majestade, e moderará para o ignorante a pena merecida pelo erro. Aos que o negam, entretanto, já não os julgará, mas negará (cf. Mt 10,33).

 

Capítulo 4.

12.  A louca heresia nega o mistério da verdadeira fé e, para favorecer a sua impiedade, emprega princípios da religião, expondo, como já foi dito nos livros anteriores, sua falsa doutrina.

13.   Assim começa: Conhecemos a um só Deus, único incriado, único eterno, único sem princípio, único verdadeiro, único imortal, único verdadeiramente bom, único poderoso. Para isso se aproveita dos princípios da piedosa profissão de fé, dizendo: um só Deus, único incriado e único sem princípio.

14.  Com estas palavras aparentemente religiosas, os hereges introduzem impiamente a falsidade. Depois de muitas outras coisas, que professam sobre o Filho, simulando religião, acrescentam: Criatura perfeita de Deus, porém não como uma das criaturas, feito por Deus, mas não como as demais obras.

15.  E depois de outras afirmações, entre as quais são intercaladas confissões verdadeiras, para esconder a intenção da herética impiedade, querendo defender, com arguta sutileza, a sua interpretação, dizem existir a partir do nada: Criado e constituído e antes dos séculos; não existia antes de nascer.

16.  Finalmente, já armados com tudo o que há de mais válido para a defesa da impiedade, para que não se entenda ser Ele Filho ou Deus, acrescentam que as expressões ex ipso (vindo dele), e ex utero (do seio) é ex Patri exivi et veni (saí do Pai e vim) devem dar a entender que é parte de sua única substância, como prolação que se estende.

17.  Para eles, o Pai seria composto, divisível, mutável e corpóreo. Segundo eles, Deus sem corpo sofreria as consequências da corporeidade.

18.  Nosso discurso será totalmente contrário a esta exposição da impiíssima doutrina. Julgamos já ter dito, no primeiro livro, tudo a respeito desta heresia, mas agora queremos inseri-la também neste sexto livro para que a leitura recente e a comparação das respostas dadas a cada proposição, pelas declarações evangélicas e apostólicas, façam admitir a verdade mesmo aqueles que não querem aceitá-la e a repudiam. Pois eles dizem:

 

Capítulo 5.

19.  Conhecemos um só Deus, único incriado, único eterno, único sem princípio, único verdadeiro, único imortal, único verdadeiramente bom, único poderoso, que cria, ordena e dispõe todas as coisas, inalterável, imutável, justo e inteiramente bom. Deus da Lei e dos Profetas e do Novo Testamento. Este Deus gerou um Filho unigênito antes de todos os séculos, por meio do qual criou os séculos e todas as coisas, nascido, não em aparência, mas em verdade, obediente à sua vontade, imutável e inalterável, criatura perfeita de Deus, porém não como uma das criaturas, feito por Deus, porém não como as demais obras. O Filho não é, como Valentino pensou, uma prolação do Pai, nem é uma parte da única substância do Pai, como explicou Maniqueu, nem, como interpreta Sabélio, que separa a união, que diz que o Filho é o mesmo que o Pai, nem, como quer Hieracas, é luz de luz, ou uma lâmpada dividida em duas partes. Aquele que existia antes não nasceu depois e foi recriado como Filho, como tu mesmo, beatíssimo Pai, no meio da Igreja e na assembleia contradisseste com frequência os que introduzem tais ensinamentos. Mas é, como dissemos, criado pela vontade do Pai antes dos tempos e dos séculos, recebeu do Pai a vida e o ser, e o Pai o glorifica ao fazê-lo participar de seu ser. O Pai, ao dar-lhe em herança todas as coisas, não se despojou dos atributos incriados que possui, pois é fonte de todas as coisas.

 

Capítulo 6.

20.  Por isso são três as Pessoas (hypostaseis): Pai, Filho e Espírito Santo. Certamente Deus é causa de todas as coisas, absolutamente único e sem começo. O Filho saiu do Pai, fora do tempo, criado e constituído antes dos séculos. Não existia antes de nascer, mas nasceu antes de todas as coisas, fora do tempo. Subsiste, Ele só, do Pai, só. Mas não é nem eterno, nem coeterno, nem incriado, com o Pai, nem tem seu ser com o Pai, como alguns dizem, a respeito de outro, introduzindo dois princípios não nascidos, senão, assim como Deus é a união e princípio de tudo, assim existe antes de tudo. Por isso existe também antes do Filho, como aprendemos de tua pregação no meio da Igreja. Por isso tem de Deus a glória e a vida e tudo lhe foi entregue segundo isto: Deus é seu princípio. E Deus lhe é superior como seu Deus, pois existe antes dele. Se as palavras “dele” (Rm 11,36); “do seio(Sl 109,3) e “saí do Pai e vim(Jo 16,28) se entendem como se fosse parte de sua única substância ou como uma prolação que se estende, o Pai, segundo eles, seria composto, divisível, mutável e corpóreo e segundo suas próprias palavras, o Deus incorpóreo suportaria as consequências de sua corporeidade.

 

Capítulo 7.

21.  Quem não percebe os escorregadios rodeios do caminho da serpente, ou não reconhece, nas contorções tortuosas, os nós das víboras, que encerram a força poderosa de uma boca cheia de veneno no estreito círculo de um corpo enrodilhado? Logo que todos se estendam e se soltem, se mostrará todo o veneno da cabeça oculta.

22.  Apresentam-nos em primeiro lugar os nomes da verdade, a fim de introduzirem o vírus da falsidade.

23.  Na boca está o bem, para que o mal do coração se insinue. Entre todas estas coisas, nunca escuto dizerem ser Deus o Filho de Deus, nunca vejo, em lugar nenhum, ser pregado o Filho como sendo Filho. Usam a palavra Filho de modo a calar a respeito da natureza.

24.  Retiram a natureza para que o nome não seja próprio. Citam as outras heresias para enganar sobre a sua própria heresia. Afirmam um só Deus único verdadeiro, para que o verdadeiro e próprio Filho de Deus não possa ser o que Deus é.

 

Capítulo 8.

25.  Embora nos livros anteriores já tenhamos falado sobre Deus e Deus, e Deus verdadeiro e Deus verdadeiro, e tenhamos dito que no Pai, verdadeiro Deus, e no Filho, verdadeiro Deus, deve-se entender um só verdadeiro Deus, segundo a unidade da natureza, não segundo a unicidade das pessoas, conforme as declarações da Lei e dos Profetas, contudo a perfeita clareza desta fé deve ser dada pelas doutrinas evangélicas e apostólicas, entendendo-se que o verdadeiro Filho de Deus é Deus, não por natureza alheia e diversa da natureza do Pai, mas por ter a mesma divindade, existente pela verdade do nascimento.

26.  Não julgo poder existir alguém tão insensato que, conhecendo as afirmações de Deus sobre si mesmo, não as compreenda ou, tendo-as compreendido, não queira que sejam compreendidas pelos outros, ou pense que devem ser corrigidas pela opinião da prudência humana.

27.  Antes de começar a falar dos próprios mistérios salutares, para que, tendo eles proclamado os nomes de outros hereges, o ensino herético não se infiltre em alguns, devemos erguer todo o véu que encobre a sutil maldade a fim de que seja descoberto o veneno escondido e mostrado pelos mesmos meios com que se esconde, para que a sensibilidade da consciência comum comece a conhecer esse veneno lisonjeiro.

 

Capítulo 9.

28.  Os hereges querem afirmar que o Filho de Deus não vem de Deus e que não nasceu de Deus como Deus, da natureza e na natureza de Deus. Antes tinham falado de um Único Deus, único verdadeiro sem acrescentar Pai, para negar que o Pai e o Filho tenham uma única e verdadeira natureza.

29.  Excluíram o que é próprio do nascimento e disseram: Não é uma prolação do Pai como pensou Valentim.

30.  Sua intenção era de recusar o nascimento de Deus, nascido de Deus, assimilando-o ao nome de prolação da heresia de Valentim. Este, certamente, afirmou coisas ridículas e vergonhosas e introduziu uma família de deuses e inúmeras potestades eternas e disse que nosso Senhor Jesus Cristo existiu como prolação pelo mistério da vontade oculta.

31.  A fé evangélica e apostólica ignora esta prolação sem sentido inventada pela insensatez de um autor temerário e estulto. Ignora o Abismo, o Silêncio e os trinta éons de Valentim.

32.  Conhece um só Deus de quem tudo procede e um só Senhor Jesus Cristo por quem tudo foi feito (cf. 1Cor 8,6), nascido de Deus. Porque nasceu de Deus, não deixou Deus de ser o que é. Pelo seu nascimento, não deixou de ser Deus. Porque é Deus não começou a existir já que nasceu de Deus. Segundo o senso comum humano, o que nasce parece ser uma prolação, de modo que se julga que o nascimento é uma prolação.

33.  Portanto, por causa da heresia de Valentim, tentou-se excluir o nome de prolação, para que não permanecesse a verdade do nascimento, pois a noção de prolação, na opinião terrena, não se afasta muito da natureza do nascimento neste mundo.

34.  A natureza humana é lenta e tem muita dificuldade para compreender as coisas divinas. É preciso que seja advertida com frequência a respeito do que foi dito, para não crer que os mistérios do divino poder possam ser explicados suficientemente a partir de exemplos tirados da comparação com as coisas humanas.

35.  A comparação com as coisas terrenas serve apenas para que as coisas celestes possam penetrar espiritualmente em nossas mentes. Pelos meios de nossa natureza poderemos ser conduzidos ao conhecimento da grandeza divina. Não é conforme a prolação dos nascimentos humanos que se pode avaliar o nascimento de Deus.

36.  Quando o que é Um vem do que é Um e Deus nasce de Deus, a noção de nascimento terreno serve só para ajudar a compreender.

37.  Quanto ao mais, não satisfaz a comparação com o nascimento humano que traz consigo a união, a concepção, o tempo de gestação, o parto. Do Deus nascido de Deus, nada se pode entender senão que nasceu. Da divina e verdadeira natividade, segundo a fé evangélica e apostólica, trataremos no seu lugar. Entretanto, devemos mostrar as artimanhas da arte herética que, para abolir a verdade do nascimento, quer extinguir a palavra prolação.

 

Capítulo 10.

38.  A fraude mantém seus artifícios malignos também em outros pontos, dizendo: Nem é uma parte da única substância do Pai, como explicou o Maniqueu.

39.  A prolação foi negada antes, para que o nascimento fosse negado. Agora, usando-se o nome de Maniqueu, é apresentada, para negar a doutrina segundo a qual o Filho é uma parte da única substância, para que não se creia que é Deus de Deus.

40.  Maniqueu, defensor declarado do diabo, em tudo o que estava a seu alcance, e néscio adorador do sol, movido por violento furor, quis desautorizar a Lei e os Profetas. Ensinou que o que esteve no seio da Virgem era uma porção da única substância divina e que se deveria entender ser o Filho uma parte tirada da substância do Pai, que apareceu na carne.

41.  Para negar o nascimento do Filho Unigênito e a unidade de sua substância, os Arianos querem demonstrar que o nascimento do Filho significa divisão da única substância.

42.  Como constitui blasfêmia pregar o nascimento, considerado como uma porção da única substância, querem deduzir, em primeiro lugar, que não há nascimento, porque a separação professada por Maniqueu foi condenada.

43.  Depois querem abolir o nome e a fé na única substância, porque, para os hereges, isto significa que o Filho é uma porção do Pai.

44.   Assim, não pode ser Deus de Deus, porque nele não está o que é próprio da natureza divina. Por que o ímpio furor simula uma preocupação insensata, sob a aparência falsa de religião?

45.  A fé da Igreja condena Maniqueu, como os pregadores da herética insensatez. Desconhece no Filho uma porção do Pai e sabe que é todo Deus, de todo Deus. Confessa-o como Uno do Uno, não separado, mas nascido. Sabe que o nascimento de Deus não significa diminuição do que gera nem fraqueza do que nasce. Se a Igreja sabe isto por si mesma, acusa-a por atribuir a si mesma o conhecimento.

46.  Se aprendeu do seu Senhor, permite ao que nasce conhecer seu próprio nascimento. Estas coisas foram reveladas à Igreja pelo Deus Unigênito: que o Pai e o Filho são Um, que no Filho está a plenitude da Trindade.

47.  Por isso, não aceites que o Filho seja considerado uma parte da substância única e venera no Filho a Verdadeira divindade, por causa da verdade do seu nascimento. Deixamos para depois uma explicação mais completa de todas as questões e vamos continuar com o que falta.

 

Capítulo 11.

48.  Dizem a seguir: Nem como interpreta Sabélio, que separa a união, que diz que o Filho é o mesmo que o Pai.

49.  Sabélio ignora os mistérios dos Evangelhos e do Apóstolo. Mas isto não é simplesmente condenado em um herege por outro herege. Porque querem que não haja unidade alguma entre o Pai e o Filho, censuram em Sabélio o erro de dividir a unidade.

50.  Esta divisão não produz o nascimento, mas divide o mesmo no seio da Virgem.

51.  Nós, porém, confessamos o nascimento. Recusamos a unicidade e mantemos a unidade da divindade.

52.  Deus de Deus significa que são um em sua natureza, porque Aquele que, pelo verdadeiro nascimento de Deus, para ser Deus, recebeu de Deus o seu ser, não subsiste a partir de nenhum outro.

53.  Aquele que não permanece no ser por nenhum outro princípio que não seja Deus deve permanecer necessariamente na verdadeira natureza pela qual é Deus. São um só, porque Aquele que é Deus de Deus não é em si mesmo outra coisa e não recebe de outra parte o ser Deus.

54.  O erro de Sabélio sobre a unidade serve para destruir a fé da Igreja na unidade. Continuarei a apresentar os outros artifícios da falsidade herética para não ser tido por intérprete malévolo da simplicidade alheia, mais preocupado com as suspeitas do que com a verdade.

55.  Terminando esta apresentação de sua profissão de fé, mostrarei as conclusões a que levam as premissas de um discurso tão enganador.

 

Capítulo 12.

56.  Segue-se: Nem, como quer Hieracas, é luz de luz ou uma lâmpada dividida em duas partes. Nem também aquele que existia antes nasceu depois e foi recriado como Filho.

57.  Hieracas, que desconhecia o nascimento do Unigênito, sem compreender o valor dos mistérios evangélicos, falou de duas luzes de uma lâmpada.

58.  Dizia que a substância do Pai e do Filho era semelhante a uma lâmpada dupla que, para acender-se, recebe o óleo do mesmo vaso, como se houvesse uma substância eterna, como o óleo que está na lâmpada, contendo a natureza de duas chamas, ou como uma lâmpada que tem uma única mecha e que acende nas duas pontas e na qual o material combustível do centro produz duas chamas a partir dele mesmo.

59.  Este é um erro da insensatez humana que procura a sabedoria mais em si mesma do que em Deus.

60.  A verdadeira profissão de fé é que Deus nasce de Deus, como a luz, da luz que, sem sofrer diminuição em si mesma, comunica sua própria natureza, dando o que tem, mas conservando o que deu. Nasce o que é, pois não nasceu algo diferente do que é. O que nasce recebe o que existia, porém não deixa o que recebeu.

61.  Os dois são Um porque o Filho nasce daquele que é Pai, e o que nasce não tem outra origem e não é outra coisa senão o que Ele é, pois é luz da luz. Para afastar os homens da compreensão da doutrina, foi usada a ideia da lâmpada e da luz de Hieracas, como pretexto para acusar os que afirmam a luz da luz e para que se pense que não é dito de acordo com o sentido da fé aquilo que foi condenado agora e antes, no sentido que lhe dão os hereges.

62.  Retira-te, retira-te, vão temor dos hereges, não te faças defensor da fé da Igreja com a falsa doutrina que sustentas. Nada há, para nós, em Deus, de corpóreo e inanimado. Deus é inteiramente Deus. Nele existe somente força, vida, luz, felicidade, espírito. Sua natureza não tem a fraqueza da matéria nem consta de coisas diversas para continuar existindo. Deus, porque é Deus, permanece no que é e, permanecendo Deus, gerou a Deus. Não estão contidos como uma lâmpada na outra, ou uma luminária na outra, em alguma natureza exterior.

63.  O nascimento do Deus, Unigênito, de Deus, não é sucessão, mas geração, não é derivação, mas luz que vem da luz. É unidade da natureza, não uma sucessão de elementos unidos.

 

O que você destaca no texto e colo ele serve para sua espiritualidade?

 

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