Divisão do Tratado
O Tratado está dividido em 12 livros.
O
livro I começa autobiografia. Refere-se às heresias e apresenta um plano geral
do trabalho.
O
livro II é um resumo da doutrina da Trindade.
O
livro III trata do mistério da distinção e unidade do Pai e do Filho.
No
livro IV o autor apresenta a carta de Ário a Alexandre de Alexandria e
demonstra a divindade de Filho a partir de citações tiradas do Antigo
Testamento.
O
livro V também cita o Antigo Testamento para demonstrar a divindade do Filho,
que não é um outro Deus ao lado do Pai.
O
livro VI refere-se novamente à carta de Ário e argumenta a partir do Novo
Testamento.
Capítulo 1.
1. Estou bem consciente de minha ousadia de ter, em tempos tão
difíceis, empreendido escrever este livro contra a insensata heresia dos
ímpios, que afirmam ser criatura o Filho de Deus.
2. Já por quase todas as províncias do Império Romano muitas igrejas
estão infeccionadas pela peste desta pregação.
3. Há muito tempo eles abusam da pregação como se fosse a verdadeira
fé, acobertados pelo falso nome de verdadeira religião.
4. Não ignoro ser difícil mover a vontade para que se emende, visto
que, para muitos, a aceitação por parte da autoridade pública já faz supor que
seja verdadeira uma doutrina.
5. Grave e perigoso é o erro de muitos, e a falha de vários se
reveste de autoridade, pois, ainda que seja reconhecida como tal, inúmeros
homens se envergonham de opor-se a ela, porque os que a seguem são numerosos e
têm a insensatez de pretender que o erro seja considerado como prudência.
6. Aquele que se engana na companhia de muitos afirma possuir a
verdade por pensar que o erro é menos grave quando cometido por vários outros.
Capítulo 2.
7. Quanto a mim, por causa do cuidado e da obrigação de meu cargo, e
porque, sendo o bispo desta Igreja, tenho o dever do ministério da pregação
evangélica, com mais empenho me entreguei ao cuidado de escrever.
8. Por estarem as inteligências dos infiéis presas por maiores e mais
diversos perigos, esperava mais frutuoso gáudio provindo da salvação de muitos.
Estes, tendo conhecido os mistérios da perfeita fé em Deus, abandonariam os
ímpios ensinamentos da humana estultice e se voltariam para Deus, repudiando os
hereges como ao alimento mortífero usado habitualmente para capturar as aves, e
se elevariam no voo com livre segurança, seguindo a Cristo como chefe, os Profetas
como núncios, os Apóstolos como guias.
9. Chegariam assim à fé consumada e à perfeita salvação, na confissão
do Pai e do Filho lembrando-se da palavra do Senhor: Quem não honra o Filho,
não honra o Pai que o enviou (Jo 5,23), haveriam de glorificar o Pai pela
glória do Filho.
Capítulo 3.
10. Brotou há pouco uma peste detestável e mortífera para o povo, a
qual, grassando com muito grande poder de contágio, trouxe a ruína de morte miserável.
11. Não foram maiores, nem o repentino mergulho no caos de cidades com
seus habitantes, nem as freqüentes e tristes mortes causadas pelas guerras ou
moléstias sem remédio, que têm castigado o povo por devastador contágio, do que
esta funesta heresia, que se espalha para a morte do gênero humano. Pois, para
Deus, para quem todos os mortos vivem, somente perece aquele que, por si mesmo,
se afasta da vida. Ele há de vir, para julgar todas as coisas pela misericórdia
de sua majestade, e moderará para o ignorante a pena merecida pelo erro. Aos
que o negam, entretanto, já não os julgará, mas negará (cf. Mt 10,33).
Capítulo 4.
12. A louca heresia nega o mistério da verdadeira fé e, para favorecer
a sua impiedade, emprega princípios da religião, expondo, como já foi dito nos
livros anteriores, sua falsa doutrina.
13. Assim começa: Conhecemos
a um só Deus, único incriado, único eterno, único sem princípio, único
verdadeiro, único imortal, único verdadeiramente bom, único poderoso. Para
isso se aproveita dos princípios da piedosa profissão de fé, dizendo: um só
Deus, único incriado e único sem princípio.
14. Com estas palavras aparentemente religiosas, os hereges introduzem
impiamente a falsidade. Depois de muitas outras coisas, que professam sobre o
Filho, simulando religião, acrescentam: Criatura perfeita de Deus, porém não
como uma das criaturas, feito por Deus, mas não como as demais obras.
15. E depois de outras afirmações, entre as quais são intercaladas
confissões verdadeiras, para esconder a intenção da herética impiedade, querendo
defender, com arguta sutileza, a sua interpretação, dizem existir a partir do nada:
Criado e constituído e antes dos séculos; não existia antes de nascer.
16. Finalmente, já armados com tudo o que há de mais válido para a
defesa da impiedade, para que não se entenda ser Ele Filho ou Deus, acrescentam
que as expressões ex ipso (vindo dele), e ex utero (do
seio) é ex Patri exivi et veni (saí do Pai e vim) devem dar a
entender que é parte de sua única substância, como prolação que se estende.
17. Para eles, o Pai seria composto, divisível, mutável e corpóreo.
Segundo eles, Deus sem corpo sofreria as consequências da corporeidade.
18. Nosso discurso será totalmente contrário a esta exposição da
impiíssima doutrina. Julgamos já ter dito, no primeiro livro, tudo a respeito
desta heresia, mas agora queremos inseri-la também neste sexto livro para que a
leitura recente e a comparação das respostas dadas a cada proposição, pelas
declarações evangélicas e apostólicas, façam admitir a verdade mesmo aqueles que
não querem aceitá-la e a repudiam. Pois eles dizem:
Capítulo 5.
19. Conhecemos um só Deus, único incriado, único eterno, único sem
princípio, único verdadeiro, único imortal, único verdadeiramente bom, único
poderoso, que cria, ordena e dispõe todas as coisas, inalterável, imutável,
justo e inteiramente bom. Deus da Lei e dos Profetas e do Novo Testamento. Este
Deus gerou um Filho unigênito antes de todos os séculos, por meio do qual criou
os séculos e todas as coisas, nascido, não em aparência, mas em verdade,
obediente à sua vontade, imutável e inalterável, criatura perfeita de Deus,
porém não como uma das criaturas, feito por Deus, porém não como as demais
obras. O Filho não é, como Valentino pensou, uma prolação do Pai, nem é uma
parte da única substância do Pai, como explicou Maniqueu, nem, como interpreta
Sabélio, que separa a união, que diz que o Filho é o mesmo que o Pai, nem, como
quer Hieracas, é luz de luz, ou uma lâmpada dividida em duas partes. Aquele que
existia antes não nasceu depois e foi recriado como Filho, como tu mesmo, beatíssimo
Pai, no meio da Igreja e na assembleia contradisseste com frequência os que
introduzem tais ensinamentos. Mas é, como dissemos, criado pela vontade do Pai
antes dos tempos e dos séculos, recebeu do Pai a vida e o ser, e o Pai o
glorifica ao fazê-lo participar de seu ser. O Pai, ao dar-lhe em herança todas
as coisas, não se despojou dos atributos incriados que possui, pois é fonte de
todas as coisas.
Capítulo 6.
20. Por isso são três as Pessoas (hypostaseis): Pai, Filho
e Espírito Santo. Certamente Deus é causa de todas as coisas, absolutamente
único e sem começo. O Filho saiu do Pai, fora do tempo, criado e constituído
antes dos séculos. Não existia antes de nascer, mas nasceu antes de todas as
coisas, fora do tempo. Subsiste, Ele só, do Pai, só. Mas não é nem eterno, nem
coeterno, nem incriado, com o Pai, nem tem seu ser com o Pai, como alguns
dizem, a respeito de outro, introduzindo dois princípios não nascidos, senão,
assim como Deus é a união e princípio de tudo, assim existe antes de tudo. Por
isso existe também antes do Filho, como aprendemos de tua pregação no meio da
Igreja. Por isso tem de Deus a glória e a vida e tudo lhe foi entregue segundo
isto: Deus é seu princípio. E Deus lhe é superior como seu Deus, pois existe
antes dele. Se as palavras “dele” (Rm 11,36); “do seio” (Sl
109,3) e “saí do Pai e vim” (Jo 16,28) se entendem como se
fosse parte de sua única substância ou como uma prolação que se estende, o Pai,
segundo eles, seria composto, divisível, mutável e corpóreo e segundo suas
próprias palavras, o Deus incorpóreo suportaria as consequências de sua
corporeidade.
Capítulo 7.
21. Quem não percebe os escorregadios rodeios do caminho da serpente,
ou não reconhece, nas contorções tortuosas, os nós das víboras, que encerram a
força poderosa de uma boca cheia de veneno no estreito círculo de um corpo
enrodilhado? Logo que todos se estendam e se soltem, se mostrará todo o veneno
da cabeça oculta.
22. Apresentam-nos em primeiro lugar os nomes da verdade, a fim de
introduzirem o vírus da falsidade.
23. Na boca está o bem, para que o mal do coração se insinue. Entre
todas estas coisas, nunca escuto dizerem ser Deus o Filho de Deus, nunca vejo,
em lugar nenhum, ser pregado o Filho como sendo Filho. Usam a palavra Filho de
modo a calar a respeito da natureza.
24. Retiram a natureza para que o nome não seja próprio. Citam as
outras heresias para enganar sobre a sua própria heresia. Afirmam um só Deus
único verdadeiro, para que o verdadeiro e próprio Filho de Deus não possa ser o
que Deus é.
Capítulo 8.
25. Embora nos livros anteriores já tenhamos falado sobre Deus e Deus,
e Deus verdadeiro e Deus verdadeiro, e tenhamos dito que no Pai, verdadeiro
Deus, e no Filho, verdadeiro Deus, deve-se entender um só verdadeiro Deus, segundo
a unidade da natureza, não segundo a unicidade das pessoas, conforme as
declarações da Lei e dos Profetas, contudo a perfeita clareza desta fé deve ser
dada pelas doutrinas evangélicas e apostólicas, entendendo-se que o verdadeiro
Filho de Deus é Deus, não por natureza alheia e diversa da natureza do Pai, mas
por ter a mesma divindade, existente pela verdade do nascimento.
26. Não julgo poder existir alguém tão insensato que, conhecendo as afirmações
de Deus sobre si mesmo, não as compreenda ou, tendo-as compreendido, não queira
que sejam compreendidas pelos outros, ou pense que devem ser corrigidas pela
opinião da prudência humana.
27. Antes de começar a falar dos próprios mistérios salutares, para
que, tendo eles proclamado os nomes de outros hereges, o ensino herético não se
infiltre em alguns, devemos erguer todo o véu que encobre a sutil maldade a fim
de que seja descoberto o veneno escondido e mostrado pelos mesmos meios com que
se esconde, para que a sensibilidade da consciência comum comece a conhecer
esse veneno lisonjeiro.
Capítulo 9.
28. Os hereges querem afirmar que o Filho de Deus não vem de Deus e
que não nasceu de Deus como Deus, da natureza e na natureza de Deus. Antes
tinham falado de um Único Deus, único verdadeiro sem acrescentar Pai,
para negar que o Pai e o Filho tenham uma única e verdadeira natureza.
29. Excluíram o que é próprio do nascimento e disseram: Não é uma
prolação do Pai como pensou Valentim.
30. Sua intenção era de recusar o nascimento de Deus, nascido de Deus,
assimilando-o ao nome de prolação da heresia de Valentim. Este,
certamente, afirmou coisas ridículas e vergonhosas e introduziu uma família de
deuses e inúmeras potestades eternas e disse que nosso Senhor Jesus Cristo
existiu como prolação pelo mistério da vontade oculta.
31. A fé evangélica e apostólica ignora esta prolação sem sentido
inventada pela insensatez de um autor temerário e estulto. Ignora o Abismo, o
Silêncio e os trinta éons de Valentim.
32. Conhece um só Deus de quem tudo procede e um só Senhor Jesus
Cristo por quem tudo foi feito (cf. 1Cor 8,6), nascido de Deus. Porque nasceu
de Deus, não deixou Deus de ser o que é. Pelo seu nascimento, não deixou de ser
Deus. Porque é Deus não começou a existir já que nasceu de Deus. Segundo o
senso comum humano, o que nasce parece ser uma prolação, de modo que se julga
que o nascimento é uma prolação.
33. Portanto, por causa da heresia de Valentim, tentou-se excluir o
nome de prolação, para que não permanecesse a verdade do nascimento, pois a
noção de prolação, na opinião terrena, não se afasta muito da natureza do
nascimento neste mundo.
34. A natureza humana é lenta e tem muita dificuldade para compreender
as coisas divinas. É preciso que seja advertida com frequência a respeito do
que foi dito, para não crer que os mistérios do divino poder possam ser
explicados suficientemente a partir de exemplos tirados da comparação com as
coisas humanas.
35. A comparação com as coisas terrenas serve apenas para que as
coisas celestes possam penetrar espiritualmente em nossas mentes. Pelos meios
de nossa natureza poderemos ser conduzidos ao conhecimento da grandeza divina.
Não é conforme a prolação dos nascimentos humanos que se pode avaliar o
nascimento de Deus.
36. Quando o que é Um vem do que é Um e Deus nasce de Deus, a noção de
nascimento terreno serve só para ajudar a compreender.
37. Quanto ao mais, não satisfaz a comparação com o nascimento humano
que traz consigo a união, a concepção, o tempo de gestação, o parto. Do Deus
nascido de Deus, nada se pode entender senão que nasceu. Da divina e verdadeira
natividade, segundo a fé evangélica e apostólica, trataremos no seu lugar.
Entretanto, devemos mostrar as artimanhas da arte herética que, para abolir a
verdade do nascimento, quer extinguir a palavra prolação.
Capítulo 10.
38. A fraude mantém seus artifícios malignos também em outros pontos,
dizendo: Nem é uma parte da única substância do Pai, como explicou o
Maniqueu.
39. A prolação foi negada antes, para que o nascimento fosse negado.
Agora, usando-se o nome de Maniqueu, é apresentada, para negar a doutrina
segundo a qual o Filho é uma parte da única substância, para que não se creia
que é Deus de Deus.
40. Maniqueu, defensor declarado do diabo, em tudo o que estava a seu
alcance, e néscio adorador do sol, movido por violento furor, quis desautorizar
a Lei e os Profetas. Ensinou que o que esteve no seio da Virgem era uma porção
da única substância divina e que se deveria entender ser o Filho uma parte
tirada da substância do Pai, que apareceu na carne.
41. Para negar o nascimento do Filho Unigênito e a unidade de sua
substância, os Arianos querem demonstrar que o nascimento do Filho significa
divisão da única substância.
42. Como constitui blasfêmia pregar o nascimento, considerado como uma
porção da única substância, querem deduzir, em primeiro lugar, que não há
nascimento, porque a separação professada por Maniqueu foi condenada.
43. Depois querem abolir o nome e a fé na única substância, porque,
para os hereges, isto significa que o Filho é uma porção do Pai.
44. Assim, não pode ser Deus de
Deus, porque nele não está o que é próprio da natureza divina. Por que o ímpio
furor simula uma preocupação insensata, sob a aparência falsa de religião?
45. A fé da Igreja condena Maniqueu, como os pregadores da herética
insensatez. Desconhece no Filho uma porção do Pai e sabe que é todo Deus, de
todo Deus. Confessa-o como Uno do Uno, não separado, mas nascido. Sabe que o
nascimento de Deus não significa diminuição do que gera nem fraqueza do que
nasce. Se a Igreja sabe isto por si mesma, acusa-a por atribuir a si mesma o
conhecimento.
46. Se aprendeu do seu Senhor, permite ao que nasce conhecer seu
próprio nascimento. Estas coisas foram reveladas à Igreja pelo Deus Unigênito:
que o Pai e o Filho são Um, que no Filho está a plenitude da Trindade.
47. Por isso, não aceites que o Filho seja considerado uma parte da
substância única e venera no Filho a Verdadeira divindade, por causa da verdade
do seu nascimento. Deixamos para depois uma explicação mais completa de todas
as questões e vamos continuar com o que falta.
Capítulo 11.
48. Dizem a seguir: Nem como interpreta Sabélio, que separa a
união, que diz que o Filho é o mesmo que o Pai.
49. Sabélio ignora os mistérios dos Evangelhos e do Apóstolo. Mas isto
não é simplesmente condenado em um herege por outro herege. Porque querem que
não haja unidade alguma entre o Pai e o Filho, censuram em Sabélio o erro de
dividir a unidade.
50. Esta divisão não produz o nascimento, mas divide o mesmo no seio
da Virgem.
51. Nós, porém, confessamos o nascimento. Recusamos a unicidade e
mantemos a unidade da divindade.
52. Deus de Deus significa que são um em sua natureza, porque Aquele que, pelo
verdadeiro nascimento de Deus, para ser Deus, recebeu de Deus o seu ser, não
subsiste a partir de nenhum outro.
53. Aquele que não permanece no ser por nenhum outro princípio que não
seja Deus deve permanecer necessariamente na verdadeira natureza pela qual é
Deus. São um só, porque Aquele que é Deus de Deus não é em si mesmo outra coisa
e não recebe de outra parte o ser Deus.
54. O erro de Sabélio sobre a unidade serve para destruir a fé da
Igreja na unidade. Continuarei a apresentar os outros artifícios da falsidade
herética para não ser tido por intérprete malévolo da simplicidade alheia, mais
preocupado com as suspeitas do que com a verdade.
55. Terminando esta apresentação de sua profissão de fé, mostrarei as
conclusões a que levam as premissas de um discurso tão enganador.
Capítulo 12.
56. Segue-se: Nem, como quer Hieracas, é luz de luz ou uma lâmpada
dividida em duas partes. Nem também aquele que existia antes nasceu depois e
foi recriado como Filho.
57. Hieracas, que desconhecia o nascimento do Unigênito, sem
compreender o valor dos mistérios evangélicos, falou de duas luzes de uma
lâmpada.
58. Dizia que a substância do Pai e do Filho era semelhante a uma
lâmpada dupla que, para acender-se, recebe o óleo do mesmo vaso, como se
houvesse uma substância eterna, como o óleo que está na lâmpada, contendo a
natureza de duas chamas, ou como uma lâmpada que tem uma única mecha e que
acende nas duas pontas e na qual o material combustível do centro produz duas
chamas a partir dele mesmo.
59. Este é um erro da insensatez humana que procura a sabedoria mais
em si mesma do que em Deus.
60. A verdadeira profissão de fé é que Deus nasce de Deus, como a luz,
da luz que, sem sofrer diminuição em si mesma, comunica sua própria natureza,
dando o que tem, mas conservando o que deu. Nasce o que é, pois não nasceu algo
diferente do que é. O que nasce recebe o que existia, porém não deixa o que
recebeu.
61. Os dois são Um porque o Filho nasce daquele que é Pai, e o que
nasce não tem outra origem e não é outra coisa senão o que Ele é, pois é luz da
luz. Para afastar os homens da compreensão da doutrina, foi usada a ideia da
lâmpada e da luz de Hieracas, como pretexto para acusar os que afirmam a luz da
luz e para que se pense que não é dito de acordo com o sentido da fé aquilo que
foi condenado agora e antes, no sentido que lhe dão os hereges.
62. Retira-te, retira-te, vão temor dos hereges, não te faças defensor
da fé da Igreja com a falsa doutrina que sustentas. Nada há, para nós, em Deus,
de corpóreo e inanimado. Deus é inteiramente Deus. Nele existe somente força,
vida, luz, felicidade, espírito. Sua natureza não tem a fraqueza da matéria nem
consta de coisas diversas para continuar existindo. Deus, porque é Deus,
permanece no que é e, permanecendo Deus, gerou a Deus. Não estão contidos como
uma lâmpada na outra, ou uma luminária na outra, em alguma natureza exterior.
63. O nascimento do Deus, Unigênito, de Deus, não é sucessão, mas
geração, não é derivação, mas luz que vem da luz. É unidade da natureza, não
uma sucessão de elementos unidos.
O que você destaca no texto e
colo ele serve para sua espiritualidade?
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