sexta-feira, 22 de março de 2024

252 - Efrém, o Sírio (306-373) - Biografia

 






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Efrém, o Sírio (306-373)

Biografia

1.      Efrém da Síria ou Efrém, o Sírio, (c. 306 — 9 de junho de 373) foi um prolífico compositor de hinos e teólogo do século IV, venerado por cristãos do mundo inteiro, especialmente pela Igreja Ortodoxa Síria, como um santo.

2.      Nascido em Nísibis, foi discípulo de Tiago de Nísibis na famosa escola da cidade.

3.      Escapando do avanço do exército sassânida, fugiu para Edessa onde lecionou por muitos anos.

4.      Autor de uma grande variedade de hinos, poemas e sermões de exegese bíblica, em verso e em prosa.

5.      Suas obras são exemplos de uma teologia prática voltadas para defesa da igreja em tempos turbulentos e tornaram-se tão populares que, por séculos após a sua morte, autores cristãos escreveram centenas de trabalhos pseudepígrafes em seu nome.

6.      Por suas obras, foi declarado Doutor da Igreja pelo papa Bento XV em 1920. Efrém tem sido considerado o mais importante de todos os padres da Igreja na tradição siríaca da igreja.

 

Vida

7.      Efrém nasceu por volta de 306 na cidade de Nísibis (moderna Nusaybin, na Turquia, perto da fronteira com a Síria), que tinha se tornado parte do Império Romano apenas oito anos antes, em 298.

8.      Evidências internas da hinódia de Efrém sugerem que seus pais eram parte da crescente comunidade cristã da cidade, embora hagiógrafos posteriores tenham defendido que seu pai seria um sacerdote pagão.

9.      Diversas línguas eram faladas em Nísibis na época, a maior parte delas dialetos do aramaico, enquanto a comunidade cristã utilizava-se de um dialeto siríaco.

10.  A cultura local estava sujeita a influências pagãs, judaicas e das seitas do início do cristianismo.

11.  Tiago (em latim: Jacobus), o segundo bispo de Nísibis e um dos signatários do Concílio de Niceia, foi consagrado em 308 e Efrém cresceu durante seu episcopado; foi batizado ainda menino e, quase certamente, tornou-se um "filho da aliança", uma forma pouco comum do proto-monasticismo siríaco.

12.  Tiago indicou Efrém como professor (em siríaco: malp̄ānâ, um título que ainda inspira grande respeito entre os cristãos siríacos), e ele foi ordenado diácono no seu batismo ou em seguida.

13.  Efrém começou a compor seus hinos e escrever comentários sobre a Bíblia como parte de sua função de educador.

14.  Em seus hinos, ele às vezes se refere a si mesmo como um "boiadeiro", ao seu bispo como o "pastor" e à sua comunidade como "rebanho".

15.  Tradicionalmente, acredita-se que Efrém tenha sido o fundador da Escola de Nísibis, que, nos séculos posteriores, foi o centro do conhecimento do cristianismo oriental.

16.  Em 337, morreu o imperador Constantino (r. 306–337), que legalizou e promoveu a prática do cristianismo no Império Romano.

17.  Aproveitando a oportunidade, Sapor II iniciou uma série de ataques no norte da Mesopotâmia romana. Nísibis foi cercada em 338, 346 e 350.

18.  Durante o primeiro cerco, Efrém creditou ao bispo Tiago ter defendido a cidade com suas preces.

19.  No terceiro, em 350, Sapor desviou o rio Migdônio para minar as muralhas da cidade, porém os habitantes rapidamente a consertaram enquanto a cavalaria de elefantes persa se via atolada no solo úmido.

20.  Efrém celebrou o que entendeu ser uma salvação milagrosa da cidade num hino que retratou Nísibis como a Arca de Noé, flutuando em segurança durante o dilúvio.

21.  Uma ligação física importante com a época de Efrém é o batistério de Nísibis. A inscrição dedicatória diz que ele foi construído durante o episcopado do bispo Vologeses em 359.

22.  Naquele ano, Sapor atacou novamente e as cidades na vizinhança de Nísibis foram todas destruídas, uma por uma, e seus habitantes foram mortos ou deportados.

23.  Constâncio II (r. 337–361) estava incapacitado de responder à agressão, e a campanha de Juliano, o Apóstata (r. 360–363), terminou com a sua morte no campo de batalha.

24.  Seu exército então elegeu Joviano como novo imperador e, para resgatar seu exército de uma desgraça maior, ele foi forçado a entregar Nísibis para os sassânidas, além de ser obrigado a permitir que toda a população cristã fosse expulsa.

25.  Efrém, com outros fugitivos, seguiu primeiro até Amida (Diyarbakır) e se assentou finalmente em Edessa (moderna Şanlıurfa) em 363.

26.  Com quase sessenta anos, dedicou-se ao ministério em sua nova igreja e parece ter continuado a lecionar, talvez na Escola de Edessa.

27.  A cidade sempre esteve no coração do mundo siríaco e estava repleta de filosofias e religiões rivais.

28.  Em suas obras, Efrém comentou que os cristãos ortodoxos nicenos eram chamados simplesmente de "palutianos" em Edessa, em homenagem a um bispo anterior.

29.  Arianos, marcionitas, maniqueístas, bardesanistas e várias seitas gnósticas proclamavam-se como a verdadeira igreja. Nesta confusão, Efrém escreveu um grande número de hinos defendendo a ortodoxia nicena.

30.  Um escritor siríaco posterior, Jacó de Batnas, escreveu que ele ensaiava seus coros, todos compostos apenas por mulheres, para que cantassem no ritmo das canções siríacas mais populares no fórum de Edessa.

31.  Após um período de dez anos morando ali, Efrém sucumbiu à peste enquanto ministrava às suas vítimas.

32.  A data mais confiável de sua morte é 9 de junho de 373.

 

Obras

33.  Mais de quatrocentos hinos compostos por Efrém ainda existem. Dado que muitos devem ter se perdido, não há dúvidas sobre sua produtividade.

34.  O historiador da Igreja Sozomeno acredita que Efrém tenha escrito mais de três milhões de linhas.

35.  Efrém combina em seus textos três heranças principais: ele se baseia em modelos e métodos do antigo judaísmo rabínico, utiliza com habilidade a filosofia e ciência gregas e se delicia na tradição mesopotâmica do simbolismo oculto.

36.  As mais importantes entre suas obras são os seus hinos edificantes e líricos.

37.  Estes hinos estão cheios de um imaginário rico e poético baseado em fontes bíblicas, nas tradições populares, em outras religiões e na filosofia.

38.  Os madrāšê foram escritos em estrofes de versos silábicos e empregam mais de cinquenta diferentes esquemas métricos.

39.  Cada madrāšâ tinha seu qālâ, uma canção tradicional identificada por seu verso inicial.

40.  Todos estes qālê se perderam atualmente. Parece que Bardesanes e Manes também compuseram madrāšê e Efrém percebeu que esta mídia seria uma ferramenta adequada para combater seus adversários e suas alegações.

41.  Cada madrāšâ geralmente tinha um refrão, que era repetido após cada estrofe.

42.  Particularmente influentes foram seus "Hinos contra as heresias".

43.  Efrém os utilizava para alertar seu rebanho das heresias que ameaçavam dividir a igreja primitiva.

44.  Ele lamentava os fiéis que eram "atirados de um lado para o outro e carregados em cada nova doutrina, pela esperteza humana, por suas habilidades e desejos enganadores".

45.  Ele também compôs hinos carregados com detalhes da doutrina para inocular os cristãos que pensavam corretamente contra heresias como o docetismo.

46.  Os "Hinos contra as heresias" empregam metáforas coloridas para descrever a encarnação de Cristo como sendo tanto totalmente humana e, ao mesmo tempo, divina.

47.  Efrém afirma que a unidade de Cristo com a humanidade e a divindade representa a paz, perfeição e a salvação.

48.  Em contraste, o docetismo e outras heresias procuravam dividir ou reduzir a natureza de Cristo.

49.  Efrém também escreveu homilias em verso.

50.  Estes sermões em poesia existem em quantidade muito menor que os madrāšê. Os mêmrê foram escritos em pares heptossilábicos (pares de linhas com sete sílabas cada).

51.  A terceira categoria de escritos de Efrém foi a obra em prosa. Ele escreveu comentários sobre o Diatessarão (Tatiano combinou os quatro evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas e João - em uma única narrativa), sobre o Gênesis e sobre o Êxodo.

52.  Já sobre o Novo Testamento, ele comentou sobre os Atos dos Apóstolos e as Epístolas Paulinas.

53.  Ele também escreveu refutações contra Bardesanes, Mani, Marcião e outros.

54.  Efrém escreveu exclusivamente em siríaco, mas as traduções de suas obras existem em armênio, copta, georgiano, grego e outras línguas.

55.  Algumas de suas obras só sobreviveram em traduções (principalmente armênias).

56.  As igrejas siríacas ainda usam muitos dos hinos de Efrém como parte de seu ciclo litúrgico anual. Porém, a maior parte destes hinos litúrgicos foram editados.

 




Texto do vaticannews

https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/06/09/s--efrem--diacono-e-doutor-da-igreja.html

 

57.  “As árvores do Éden / foram dadas como alimento ao primeiro Adão. / Para nós, o jardineiro do Jardim / tornou-se pessoalmente comida / para as nossas almas”.

58.  Estes versos vêm do alvorecer da Igreja, precisamente do século IV, criados e escritos por um diácono do Oriente, chamado Efrém, natural de Nísibis, uma cidade da antiga Mesopotâmia, onde nasceu em 306.

59.  A tradição da Igreja o recorda como "Efrém da Síria" e o venera como Doutor da Igreja.

60.  Uma das suas características é a de ser um profundo pensador cristão - um dos mais famosos do seu tempo – como também um poeta fino.

61.  Efrém era capaz de revestir suas intuições sobre a fé com a harmonia de versos, que tocavam o coração. O que ele escreveu, para nós, é uma lição.

 

Gênio e coração

62.  A inteligência e erudição de Efrém combinam com seu notável temperamento humano.

63.  Aos 15 anos, defrontou-se com o Evangelho e o estudou com paixão. Porém, isto lhe custou a perseguição do seu pai, sacerdote pagão.

64.  Aos 18 anos, recebeu o batismo e seguiu o bispo Tiago no Concílio de Nicéia (325).

65.  Depois, retornou a Nísibis, onde abriu uma escola bíblica.

66.  Quando a cidade foi invadida, várias vezes, pelos persas, Efrém foi obrigado a deixar sua cátedra, tornando-se herói da resistência.

67.  Logo, foi um teólogo de pulso, combatente e homem de caridade.
Para diminuir o impacto da escassez, que em certo momento atingiu Edessa, ele arregaçou as mangas para garantir ajuda humanitária à população.

 

Fé nos paradoxos

68.  O pensamento e os escritos de Efrém foram, portanto, seus melhores talentos, além da música.

69.  Ele escreveu muito e de tudo com grande qualidade espiritual e estilo.

70.  Seus poemas e sermões em versos, seus hinos (as obras mais abundantes), e comentários bíblicos em prosa abordavam, com inteligência e beleza, os pilares da fé que o fascinavam: Deus, Criador, a virgindade de Maria, a redenção do Cristo...

71.  Ele afirmava que nada na criação era isolado; no entanto, o mundo, além da Escritura, era a Bíblia de Deus.

72.  Enfim, a poesia foi o instrumento que lhe permitiu se aprofundar na reflexão teológica "através de paradoxos e imagens", como, há alguns anos, Bento XVI observou ao comentar sobre a vida de Efrém.

 

Um santo em Edessa

73.  Edessa, ajudada por Efrém durante o drama da escassez, foi a cidade para aonde o Santo se transferiu e se estabeleceu após uma peregrinação em 362.

74.  Ali prosseguiu seu trabalho como teólogo e pregador, continuando a ajudar as pessoas, em primeira linha, quando, mais do que a caneta, sentiu a necessidade urgente de se curvar para os que sofriam.

75.  O cuidado dos doentes de peste foi a última obra-prima, que Efrém da Síria escreveu com a tinta da caridade.

76.  Santo Efrém faleceu em Edessa, acometido pela pestilência, em 373.

77.  As crônicas não narram, com certeza, se ele foi ou não um monge. Certo é que sempre foi um diácono exemplar, um servo de todos, por amor a Deus, um seu cantor e "Harpa do Espírito Santo".

 


 

O que você destaca na vida de Efrém?

Como serve para sua espiritualidade?

 

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