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SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA
(330-379)
Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 41 - 46)
Solicitação do Tratado: Bispo
Anfilóquio de Icônio.
Basílio
escreve: “Há pouco, estava orando com o povo.
Glorificava a Deus Pai com ambas as formas de doxologia: ora com o Filho, com o
Espírito Santo; ora pelo Filho, no Espírito Santo. Alguns dos presentes nos acusaram de
empregar palavras estranhas e até contraditórias entre si. Tu, porém..., ...pediste
um ensinamento bem claro sobre o alcance destas sílabas”.
17.
Àqueles que afirmam não ser o
Espírito Santo “co-enumerado” com o Pai e o Filho, mas ser “subenumerado”.
Neste capítulo se faz também um rápido sumário da fé acerca da piedosa
“co-enumeração”
Capítulo 41.
1.
Não é fácil entender o que eles chamam
de “subenumeração”, qual o significado atribuído ao termo. De fato, ninguém
ignora ser ele um empréstimo feito da sabedoria deste mundo. Examinaremos se
possui afinidade com o nosso assunto.
2.
Com efeito, afirmam eles, tão
entendidos em futilidades, que há nomes comuns de significa do extenso e nomes
mais particulares, uns com sentido mais restrito que outros. É comum, por
exemplo, o nome de “essência”, porque é imposto a todos os seres, tanto
animados quanto inanimados.
3.
O termo “animal”, contudo, é certamente
próprio, pois é mais limitado do que “essência”, embora mais extenso do que
parece, uma vez que abrange seres racionais e irracionais. Ainda “homem”
determina mais do que “animal”, “varão” mais do que “homem” e cada indivíduo,
como Pedro, ou Paulo, ou João mais do que “varão”.
4.
O conceito que eles têm de
“subenumerar” seria a divisão do gênero em seres que o restringem?
5.
Mas, não posso acreditar que cheguem à
loucura de assegurar ser o Deus do universo algo de muito geral, simplesmente
nocional, sem nada absolutamente de subsistência, dividido em vários
indivíduos; e ainda, chamam esta subdivisão de “subenumeração”.
6.
Nem loucos o diriam, pois além de
ímpio, constituiria argumento contrário a seu propósito. Pois o que é
subdividido é da mesma essência que aquilo que é dividido. Mas aparentamos,
perante tão grande estultícia, ter perdido a razão e não saber como atacar esta
falta de lógica, a tal ponto que parecem tirar proveito de sua loucura.
7.
Do mesmo modo que não se aplicam duros
golpes a corpos doentios e inconsistentes, por não oferecerem resistência, não
se apresenta argumento vigoroso aos evidentemente loucos. Resta, pois, calar o
que essa impiedade tem de abominável. Todavia, nem a caridade devida aos
irmãos, nem a maldade dos adversários me permitem calar.
Capítulo 42.
8.
Mas, o que dizem eles? Notai de que se
vangloriam! “— Afirmamos que aos seres que
merecem a mesma honra convém a “co-enumeração”, e a “subenumeração”, aos de condição
inferior”.
9.
— Com efeito, por que falais assim? Não
compreendo vossa estranha sabedoria.
10. Uma vez que o ouro é “co-enumerado” com o ouro, o chumbo é
indigno de ser “co-enumerado” com o ouro, mas enquanto matéria de baixo preço
seria “subenumerado”?
11. Atribuis, pois, ao número força tal que aumente o valor das
coisas visou rebaixe o das coisas preciosas? Então, seria também necessário
“subenumerar” o ouro em confronto com as pedras preciosas e delas “subenumerar”
diante das mais brilhantes e maiores, as foscas e menores.
12. No entanto, que diriam aqueles que passam o tempo a falar ou
ouvir novidades? Enfim, esses coletores de impiedades sejam contados entre os estoicos
e epicureus.
13. Que “subenumeração” pode ocorrer de objetos menos honrosos a
outros de maior valor?
14. Como “subenumerar” ao estáter de ouro o óbulo de cobre? — Nós
não declaramos, dizem eles, possuir duas moedas, e sim um estáter e um óbulo.
15. Qual das duas então se há de “subenumerar” relativamente à
outra? Efetivamente, ambas são designadas da mesma forma. Se, portanto,
contares cada uma por si, atribui-lhes honra igual, contando-as da mesma
maneira; mas se as reúnes, novamente as igualas em dignidade, “co-enumerando” a
ambas.
16. Se, porém, em segunda contagem, retorna a “subenumeração”,
depende daquele que conta começar pela moeda de cobre. Mas, deixemos para mais
adiante convencê-los de ignorância e voltemos à parte mais importante.
Capítulo 43.
17. Assegurais ser o Filho “subenumerado” ao Pai, e o Espírito
ao Filho, ou a “subenumeração” é privativa do Espírito?
18. Se, de fato, “subenumerais” o Filho, renovais a mesma
doutrina ímpia, a saber, existir desigualdade quanto à essência, haver diminuição
de dignidade, ser posterior a origem; em resumo, verificar-se-á simultaneamente
uma restauração de todas as blasfêmias contra o Unigênito, por uma única
palavra.
19. Replicar-lhes seria tarefa além de nosso presente escopo.
Tanto mais que, em outra obra, à medida de nossas forças, refutamos essa
impiedade. Se, porém, eles acreditam que só ao Espírito convém a
“subenumeração”, tomem conhecimento de que o Espírito é nomeado com o Senhor
do mesmo modo que o Filho com o Pai.
20. Com efeito, o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo
foram igualmente dados. Por conseguinte, o Espírito acha-se relativamente ao
Filho, como o Filho para com o Pai, segundo a ordem das palavras transmitidas
no batismo.
21. Se, porém o Espírito está coordenado com o Filho, é claro,
uma vez que o Filho o está com o Pai, que o Espírito também esteja coordenado
ao Pai. Que lugar resta para dizer que um é “co-enumerado” e o outro “subenumerado”,
quando seus nomes estão dispostos juntos numa só e mesma ordem?
22. Em suma, qual dentre os seres foi privado de sua própria
natureza por ter sido contado? O que é contado não subsiste conforme era por
natureza desde a origem? O número não é para nós sinal que designa a
multiplicidade de indivíduos? De fato, a alguns corpos contamos, a outros
medimos, e a outros pesamos.
23. Adquirimos conhecimento dos contínuos por natureza,
medindo-os. Aos descontínuos, contamo-los, excetuando os mais tênues, até que
se tornem mensuráveis. Quanto aos corpos pesados ponderamo-los na balança. Pelo
fato de termos concebido sinais para conhecermos a quantidade, nem por isso
mudamos a natureza das coisas por eles representadas.
24. Assim, quanto aos seres pesados, não os subpesamos a outros,
também se um é de ouro e o outro de estanho, nem submedimos os seres
mensuráveis; sem dúvida alguma, não “subenumeramos” os elementos aritméticos.
25. Ora, se nada é “subenumerado”, como podem afirmar que convém
ao Espírito ser “subenu merado”? Estão atacados da doença dos pagãos, que julgam
conveniente “subenumerar” os seres inferiores em grau de dignidade e em sua essência.
18. Como se
conserva a piedosa doutrina da “monarquia”, embora se confesse acreditar nas três hipóstases. Ainda a refutação dos que
afirmam a “subenumeração” do Espírito.
Capítulo 44.
26. Ao nos fazer o Senhor a revelação do Pai e do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28,19), não os revelou com um número. De fato, não disse: no
primeiro, e no segundo e no terceiro; nem em um, e em dois e em três, mas
através dos santos nomes concedeu-nos o conhecimento da fé que conduz à
salvação.
27. De fato, o que nos salva é a fé. O número, porém, concebe-se
como um sinal que dá a conhecer a quantidade nos sujeitos. Aqueles, contudo,
que sempre acumulam danos contra si mesmos, utilizam contra a fé até a numeração,
e embora ser algum se tenha alterado pela adição de uma unidade, cuidam de
aplicar um número à natureza divina, para deste modo não honrarem o Paráclito
além de certa medida.
28. Mas, ó ilustres sábios, é preferível que o Inacessível
esteja acima da numeração. A antiga piedade dos hebreus empregava sinais
particulares para assinalar o nome inefável de Deus, demonstrando assim a sua
superioridade sobre todos os seres. E se importa contar, ao menos não se falsifique
a verdade. Ou, com o silêncio se venerem as coisas inefáveis, ou que se
enumerem piedosamente as coisas santas.
29. Há um só Deus Pai, um só Filho Unigênito, um só Espírito
Santo. Anunciamos cada uma das hipóstases singularmente. E se fosse conveniente
“co-enumerar”, não nos deixaríamos levar por rude enumeração a uma ideia
politeísta.
Capítulo 45.
30. Ora, não contamos adicionando, partindo da unidade para a
multiplicidade, pois não contamos: um, dois, três; nem: primeiro, segundo,
terceiro. Mas, “eu sou o primeiro e o último” (Ap 22,13).
31. Até hoje, porém, não ouvimos falar de segundo Deus, pois, adorando
um: “Deus de Deus”, confessamos a propriedade das hipóstases e mantemos a “monarquia”,
sem fragmentar a teologia, visto que em Deus Pai e em Deus Unigênito apenas se
contempla, por assim dizer, uma forma refletida qual em espelho na imutável divindade.
32. De fato, o Filho está no Pai e o Pai está no Filho (Jo
14,10), uma vez que este é como aquele e aquele é tal qual este, e assim são
um. Por isso, segundo a propriedade das pessoas, são um e um, mas segundo a
comunhão da natureza, os dois são um.
33. Como, então, sendo um e um, não são dois deuses? Porque se
denomina rei também à imagem do rei, e não se diz que são dois reis.
Efetivamente, nem a potência se reparte, nem a glória se divide. Assim como é
uma a autoridade que nos governa e único o poder, também a glória que lhe
prestamos é uma só, e não múltipla, porque a veneração da imagem se transfere
ao protótipo.
34. O mesmo que o Filho é por natureza, é aqui a imagem por
imitação. Assim como nas artes, a semelhança segue a forma, na natureza divina,
que é simples, a unidade encontra-se na comum posse da divindade.
35. O Espírito Santo também é um, e também pode ser anunciado
separadamente. Por meio do Filho que é um, ele se religa ao Pai, que também é
um, e por si completa a Trindade bem-aventurada, digna de todo louvor.
36. Sua intimidade com o Pai e o Filho manifesta-se devidamente
no fato de não estar classificado no meio da multidão das criaturas, e ser singularmente
nomeado. Não é um pela reunião de muitas partes, mas é absolutamente um. Como o
Pai é um e um é o Filho, assim também é um o Espírito Santo. Está, portanto,
tão afastado da natureza criada quanto o que é um está longe do que é composto
e múltiplo. Está tão intimamente unido ao Pai e ao Filho quanto a unidade à unidade.
Capítulo 46.
37. Comprova a comunhão de natureza não somente tudo isso, mas
ainda porque se diz provir ele de Deus. Não da mesma forma como todas as coisas
são de Deus, mas enquanto ele procede de Deus; não por geração como o Filho,
mas como Espírito da boca de Deus.
38. A palavra “boca” aqui não significa absolutamente um membro
do corpo, nem Espírito assinala um sopro que se perde; mas por esta “boca”
entenda-se algo que seja digno de Deus, e Espírito designe uma essência viva,
senhora da santificação.
39. Certamente, daí se deduz intimidade, mas sua maneira de
existir permanece inefável. Ele é denominado também “Espírito de Cristo” a este
intimamente unido por natureza. Consequentemente, “quem não tem o Espírito de
Cristo, não pertence a ele” (Rm 8,9).
40. Por isso, somente o Espírito louva dignamente o Senhor, pois
este afirma: “Ele me glorificará” (Jo 16,14), não como a criação, mas como
Espírito de verdade, que manifesta claramente em si a verdade, e como Espírito
de sabedoria que revela, em sua própria grandeza, o Cristo, Poder de Deus e
Sabedoria de Deus.
41. Como Paráclito, exprime em si a bondade do Paráclito que o
enviou e na sua própria dignidade mostra a grandeza daquele do qual saiu.
42. Há, pois, uma glória natural, como a glória do sol é a luz; e
uma glória extrínseca, oferecida livremente, com ponderação, aos que dela são
dignos.
43. Ela é dupla. Ora, diz o profeta: “Um filho honra o pai, um
servo o seu senhor” (Ml 1,6). A criação fornece o que é servil; o outro, porém,
por assim dizer, vem da família, por meio do Espírito.
44. O próprio Senhor dizia de si mesmo: “Eu te glorifiquei na
terra, concluí a obra que me encarregaste de realizar” (Jo 17,4). Também diz do
Paráclito: “Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vos anunciará”
(Jo 16,14).
45.
O Pai glorifica o Filho, declarando:
“Eu o glorifiquei e o glorificarei novamente” (Jo 12,28). Igualmente o Espírito
é glorificado por estar em comunhão com o Pai e o Filho e por testemunho do Unigênito,
nesses termos: “Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia
contra o Espírito não será perdoada” (Mt 12,31).
Trindade
Ao nos fazer o Senhor a revelação do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19), não os revelou com um número. De fato, não disse: no primeiro, e no segundo e no terceiro; nem em um, e em dois e em três, mas através dos santos nomes concedeu-nos o conhecimento da fé que conduz à salvação. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 44)
Trindade
Há um só Deus Pai,
um só Filho Unigênito, um só Espírito Santo. Anunciamos cada uma das hipóstases
singularmente. E se fosse conveniente “co-enumerar”, não nos deixaríamos levar
por rude enumeração a uma ideia politeísta. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 44)
Trindade
Até hoje, porém,
não ouvimos falar de segundo Deus, pois, adorando um: “Deus de Deus”,
confessamos a propriedade das hipóstases e mantemos a “monarquia”, sem
fragmentar a teologia, visto que em Deus Pai e em Deus Unigênito apenas se
contempla, por assim dizer, uma forma refletida qual em espelho na imutável divindade.
SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 45)
Jesus – Deus com o Pai
De fato, o Filho
está no Pai e o Pai está no Filho (Jo 14,10), uma vez que este é como aquele e
aquele é tal qual este, e assim são um. Por isso, segundo a propriedade das
pessoas, são um e um, mas segundo a comunhão da natureza, os dois são um. Como,
então, sendo um e um, não são dois deuses? Porque se denomina rei também à imagem
do rei, e não se diz que são dois reis. SÃO BASÍLIO
MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado
sobre o Espírito Santo (Capítulo 45)
Espírito Santo
O mesmo que o
Filho é por natureza, é aqui a imagem por imitação. Assim como nas artes, a
semelhança segue a forma, na natureza divina, que é simples, a unidade
encontra-se na comum posse da divindade. O Espírito Santo também é um, e também
pode ser anunciado separadamente. Por meio do Filho que é um, ele se religa ao
Pai, que também é um, e por si completa a Trindade bem-aventurada, digna de
todo louvor. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 45)
Espírito Santo
Comprova a
comunhão de natureza não somente tudo isso, mas ainda porque se diz provir ele
de Deus. Não da mesma forma como todas as coisas são de Deus, mas enquanto ele
procede de Deus; não por geração como o Filho, mas como Espírito da boca de
Deus. SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado
sobre o Espírito Santo (Capítulo 46)
Espírito Santo
Certamente, daí se
deduz intimidade, mas sua maneira de existir permanece inefável. Ele é
denominado também “Espírito de Cristo” a este intimamente unido por natureza. Consequentemente,
“quem não tem o Espírito de Cristo, não pertence a ele” (Rm 8,9). SÃO BASÍLIO
MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado
sobre o Espírito Santo (Capítulo 46)
Espírito Santo
Por isso, somente
o Espírito louva dignamente o Senhor, pois este afirma: “Ele me glorificará”
(Jo 16,14), não como a criação, mas como Espírito de verdade, que manifesta
claramente em si a verdade, e como Espírito de sabedoria que revela, em sua própria
grandeza, o Cristo, Poder de Deus e Sabedoria de Deus. Como Paráclito, exprime em si a bondade do
Paráclito que o enviou e na sua própria dignidade mostra a grandeza daquele do
qual saiu. SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado
sobre o Espírito Santo (Capítulo 46)
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