domingo, 18 de maio de 2025

280 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo - (Capítulos 47 - 51)

 

Participantes: Edson, Cássio, Demétrius, Gênisson, Issac, Luiz Daniel, Liliam, Leopoldo, Fátima e  Edmar







280

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 47 - 51)

 

Solicitação do Tratado: Bispo Anfilóquio de Icônio.

 

Basílio escreve: “Há pouco, estava orando com o povo. Glorificava a Deus Pai com ambas as formas de doxologia: ora com o Filho, com o Espírito Santo; ora pelo Filho, no Espírito Santo. Alguns dos presentes nos acusaram de empregar palavras estranhas e até contraditórias entre si. Tu, porém..., ...pediste um ensinamento bem claro sobre o alcance destas sílabas”.

 

Capítulo 47.

1.     Quando, através de uma potência iluminadora, fixamos o olhar na beleza da Imagem do Deus invisível, e por meio dela, nos elevamos à visão belíssima do arquétipo, está de modo inseparável presente o Espírito do conhecimento, oferecendo em si a força para se contemplar a Imagem àqueles que gostam de ver a Verdade.

2.     Não faz a demonstração de fora, mas fá-la reconhecível em si mesmo. Pois “ninguém conhece o Pai senão o Filho” (Mt 11,27), assim como “ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3).

3.     Com efeito, não foi dito: “pelo Espírito”, e sim “no Espírito”. “Deus é Espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito, e verdade” (Jo 4,24). Conforme está escrito: “Em tua luz nós vemos a luz” (Sl 36.9), isto é, com a iluminação do Espírito, veremos “a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1,9).

4.     Assim, em si ele mostra a glória do Unigênito, e aos verdadeiros adoradores ele concede o conhecimento de Deus. Ora, o caminho do conhecimento de Deus estende-se do Espírito que é um, pelo Filho que é um, até o Pai que é um, e vice-versa, a bondade natural e a santidade natural, e a dignidade real partem do Pai, pelo Filho, até o Espírito.

5.     Assim também confessamos as hipóstases, sem quebra da piedosa doutrina da monarquia.

6.     Os que, porém, afirmam estar a “subenumeração” no dizer: “primeiro, segundo e terceiro” saibam que estão introduzindo na teologia imaculada dos cristãos o politeísmo dos erros pagãos.

7.     Ora, o crime da “subenumeração” a outra coisa não leva senão à confissão de que há Deus primeiro, segundo e terceiro. A nós basta a ordem estabelecida pelo Senhor; transtorná-la não seria crime menor que a impiedade deles. Foi dito bastante que nada, conforme seu engano, tem que ver a comunhão segundo a natureza com esta opinião de “subenumeração”.

8.     Mas, concordemos com este contraditor estulto e concedamos que o primeiro possa ser “subenumerado” ao segundo. Vejamos o resultado. Diz o Apóstolo: “O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre. O segundo homem (o Senhor) vem do céu”, e em outro trecho: “Primeiro foi feito não o que é espiritual, mas o que é psíquico; o que é espiritual, vem depois” (1Cor 15,46).

9.     Se, pois, o segundo deve ser “subenumerado” relativamente ao primeiro, o “subenumerado” é menos honroso que aquele sob o qual é enumerado; o “espiritual”, portanto, é segundo vossa opinião menos honroso do que o psíquico, e o homem “celeste” do que o homem “terrestre”!

 

19. Contra os que asseveram que não se deve glorificar o Espírito

Capítulo 48.

10. Seja, dizem eles. Mas não se deve absolutamente glorificar o Espírito, exaltando-o com hinos de louvor. De onde, então, extrairemos provas da dignidade do Espírito, se a comunhão com o Pai e o Filho não for testemunho fidedigno de sua dignidade?

11. É lícito, porém, olhar de relance o sentido de seus nomes, a grandeza de suas ações, a efusão de seus benefícios sobre nós, ou antes sobre toda a criação, para perceber ao menos um pouco de sua natureza sublime, de seu poder inacessível. Chama-se Espírito como “Deus é Espírito” (Jo 4,24) e “o Espírito de nossa face, o Ungido do Senhor” (Lm 4,20).

12. É denominado “Santo”, como o Pai é santo, e santo é o Filho. Quanto às criaturas, recebem de outrem a santificação, mas para o Espírito a santidade é integrante de sua natureza. Por conseguinte, ele não é santificado, mas santificador.

13. É “bom” como o Pai é bom, e bom aquele que foi gerado do bom; tem a bondade por essência. É “Justo” (Sl 92.15), como o Senhor Deus é reto; efetivamente, é em si mesmo verdade e justiça e não pode desviar-se, nem vergar, sendo imutável por natureza. É chamado “Paráclito” da mesma forma que o Unigênito, conforme este mesmo disse: “Rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito” (Jo 14,16).

14. Por conseguinte, são comuns os nomes dados ao Pai, e ao Filho e ao Espírito, que recebe tais denominações em vista da intimidade entre eles, por natureza. Do contrário, como lhe sucederia isto? Recebe ainda as denominações de “Espírito que governa”, e “Espírito de verdade”, “Espírito de sabedoria”. “Foi o Espírito divino que me fez” (Jó 22,4, sg LXX).

15. E: “Deus encheu Beseleel com o Espírito divino em sabedoria, habilidade e perícia” (Ex 31,3). São estes os nomes do Espírito, extraordinariamente grandes, mas de forma alguma o exaltam em demasia.

 

Capítulo 49.

16. Como são as suas ações? É impossível narrar sua grandeza ou contar a multidão delas. Como pensar no que é anterior aos séculos? Quais as suas ações antes de existirem as criaturas inteligentes? Qual o número de seus benefícios para com as criaturas, seu poder relativamente aos séculos futuros? Pois, ele era, preexistia e estava presente antes dos séculos com o Pai e o Filho.

17. Se pensares, portanto, em um ser que existisse antes dos séculos, descobririas que é posterior ao Espírito. Refletes sobre a criação? As potências dos céus foram consolidadas pelo Espírito, e tal consolidação, é claro, consiste numa estabilidade nos bons hábitos. De fato, a intimidade com Deus, a imutabilidade diante do mal, e a permanência na felicidade provêm da fortaleza do Espírito. O Espírito precede a vinda de Cristo. É inseparável da sua manifestação na carne.

18.  Os milagres, o carisma das curas, foram produzidos por ação do Espírito Santo. Os demônios foram expulsos por meio do Espírito de Deus. A presença do Espírito venceu o diabo.

19. A remissão dos pecados realizou-se por graça do Espírito. “Mas vós vos lavastes e fostes santificados em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito Santo” (1Cor 6,11).

20. A familiaridade com Deus se mantém por obra do Espírito Santo, pois “enviou Deus aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: ‘Abba, Pai!’ ” (Gl 4,6).

21. A ressurreição dos mortos se realiza por ação do Espírito. “Envias teu Espírito e eles são criados e assim renovas a face da terra” (Sl 104.30). Se interpretarmos essa criação como a revivescência de seres já corrompidos, como não é possante a ação do Espírito que nos destina uma vida de ressuscitados e readapta nossas almas a essa vida espiritual?

22. Se, porém, dermos o nome de criação à transformação para melhor dos que haviam caído no pecado (é costume da Escritura exprimir-se assim, por exemplo, como diz Paulo: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura” — 2Cor 5,17), se criação for a renovação realizada aqui na terra, e a mudança de uma vida terrestre e passível em cidadania celeste, por obra do Espírito em nós, isto provoca em nossa alma imensa admiração.

23. Diante disso, que faremos? Temer ultrapassar a medida do que ele merece, honrando-o em demasia, ou, ao invés, diminuir o conceito que dele formamos, também se o engrandecermos com os nomes mais belos formados pela mente ou pelos lábios humanos?

24. Assim diz o Espírito Santo, como assim diz o Senhor: “Desce, e vai com eles sem hesitação, porque fui eu que os enviei” (At 10-20). Seriam estas expressões de alguém de condição humilde, paralisado de temor? “Separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os destinei” (At 13,2). Acaso fala assim um escravo?

25. “E agora o Senhor com o seu Espírito me enviou” (Is 48,16, sg LXX), diz Isaías, e “o Espírito desceu de junto do Senhor, e os guiou”. Mas, não consideres ser humilde serviço o de guiar, pois a própria Escritura atesta constituir obra do Senhor: “Guiaste o teu povo como um rebanho” (Sl 77.20), e também: “Guias a José como um rebanho” (Sl 80.1).

26. E ainda: “Guiou-os com segurança e não temeram” (Sl 78.53). Mas, ao ouvires: “quando vier o Paráclito, ele vos recordará, e vos conduzirá à verdade plena” (Jo 14,26; 16,13), concebe a ação de guiar conforme aprendeste e não a calunies.

 

Capítulo 50.

27. Além disso, “ele intercede por nós”, diz o Apóstolo (Rm 8,26). Por conseguinte, o Espírito está tão abaixo de Deus em dignidade quanto um suplicante dista de seu benfeitor. — Nunca ouviste dizer que o Unigênito está à direita de Deus, e intercede por nós (Rm 8,34)?

28. Apesar de estar o Espírito em ti (se, de fato, está em ti) e de nos ensinar a nós, cegos, a escolher o que for mais útil, não fique prejudicada a doutrina pia e sagrada que temos a seu respeito. Seria o cúmulo da insolência fazer do amor que aos homens dedica o benfeitor uma oportunidade de manifestar ingratidão. “Não entristeçais o Espírito Santo” (Ef 4,30).

29. Ouvi o que dizia Estêvão, o primeiro mártir, ao censurar a indocilidade e insubmissão do povo: “Vós sempre resistis ao Espírito Santo!” (At 7,51). E Isaías: “Mas eles magoaram o seu Espírito Santo. Foi então que ele se transformou em seu inimigo” (Is 63,10). E em outra passagem: “A casa de Jacó irritou o Espírito do Senhor”. Tudo isso não assinala um poder soberano? Deixo ao leitor julgar o que opinar diante desses trechos.

30. Referem-se a um instrumento, a um sujeito, a um ser que mereça honra igual à de uma criatura, a um companheiro de servidão? Não seria peso insuportável para os homens piedosos suportarem, ainda que somente em palavras, tal blasfêmia? Afirmas que o Espírito é servo? “O servo não sabe o que seu amo faz” (Jo 15,15). Ora, o Espírito conhece o que há em Deus como o espírito do homem sabe o que há no homem (1Cor 2,11).

 

20. Contra os que afirmam que o Espírito não é de condição servil, nem de condição

senhoril, e sim livre

 

Capítulo 51.

31.  O Espírito, dizem eles, não é escravo, nem senhor, mas é livre. Espantosa insensibilidade, miserável temeridade dos que assim falam! O que é neles mais lastimável: a estultícia ou a blasfêmia? Insultam a doutrina teológica com exemplos tirados das realidades humanas, e tentam aplicar à inefável natureza divina o costume terreno de diferenças em dignidade.

32.  Não refletem que não existe homem algum escravo por natureza. Uns foram reduzidos à escravidão por opressão como os prisioneiros de guerra; outros devido à penúria, como os egípcios sob os Faraós; ou ainda por um sábio e inexplicável desígnio, decidiria um pai que os filhos menos dotados servissem aos irmãos mais prudentes e melhores, o que não constituiria propriamente condenação, e sim benefício, diria um justo observador.

33.  Efetivamente, é preferível para quem carece de bom senso e domínio natural de seus atos, tornar-se possessão de outro. Orientado pela razão do amo, assemelhe-se a um carro dirigido por um cocheiro, a uma nave com um piloto ao leme.

34.  Assim, Jacó foi estabelecido senhor de Esaú pela bênção do pai (Gn 27,29-40), a fim de que o insensato recebesse, embora de má vontade, os benefícios do irmão prudente, uma vez que não era capaz de cuidar de si. E: “Canaã seja, para seus irmãos, o último dos escravos!” (Gn 9,25), porque ele ignorava a virtude, tendo tido um pai sem inteligência, Cão. Isso relativamente aos escravos.

35.  São livres, ao invés, os isentos de penúria ou guerra, ou de responderem por outrem. Se um recebe o nome de senhor, outro de escravo, entretanto, somos todos companheiros de servidão, por merecer igual respeito e ser possessão daquele que nos fez.

36.  Sendo assim, quem pode nos liberar da escravidão? Simultaneamente com a criação estabelece-se a escravatura. Os seres celestes não se combatem mutuamente, porque desconhecem a ambição de domínio, mas todos se curvam diante de Deus, e lhe prestam a reverência que lhe compete qual Senhor e dão-lhe a glória devida ao Criador. Pois “um filho honra o pai, um servo o seu senhor”.

37.  Destas duas espécies de reverência, Deus exige absolutamente uma delas: “Se eu sou pai, onde está a minha honra? Se eu sou senhor, onde está o meu temor?” (Ml 1,6-7). De outro lado, seria misérrima a vida que não estivesse sob o olhar do Senhor. Tal foi a sorte das potências rebeldes que, erguendo a cerviz contra o Deus onipotente, revoltaram-se contra a servidão, embora não fossem por natureza de outra condição, mas por insubmissão relativamente ao seu autor.

38.  A quem chamas de homem livre? Aquele que não tem rei? Aquele que não tem poder de governar e recusa ser governado? Mas, não existe tal natureza entre as criaturas, e pensar isso acerca do Espírito constitui impiedade evidente! Por conseguinte, se o Espírito é criado, sem dúvida é escravo como as criaturas, pois diz a Escritura: “Todas as criaturas te servem” (Sl 119.91). Mas, se o Espírito está acima da criação, ele participa da realeza.

 

O que você destaca neste texto?

Como serve para a sua espiritualidade?

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