domingo, 2 de novembro de 2025

295 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Regra Monástica - Asketikon - As Regras Extensas (55 regras) - Questões 19 a 22

 

                                                                             295

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Regra Monástica - Asketikon

As Regras Extensas (55 regras) 

Questões 19 a 22

 

QUESTÃO 19

QUAL A MEDIDA DA CONTINÊNCIA  (NA ALIMENTAÇÃO).

Resposta

1.      Em relação aos vícios da alma, uma só é a medida da continência: a total abstenção do que produz um prazer culpado.

2.      Quanto aos alimentos, como diferem as necessidades de cada um, conforme a idade, o gênero de vida e a saúde corporal, também a medida e o modo de empregá-los são diversos.

3.      É, portanto, impossível abranger numa só regra todos os que exercitam a piedade. Permitimos aos responsáveis pela administração modificarem prudentemente a medida estabelecida para os ascetas em gozo de boa saúde, adaptando-a às condições de cada um.

4.      Não é possível abarcar tudo nestas disposições, mas somente quanto depende de princípios comuns e gerais. Quanto à alimentação, os superiores proporcionem sempre o alívio conforme a necessidade aos enfermos, ou reconforto aos fatigados de outro modo por trabalhos intensos, ou aos que vão enfrentar uma fadiga, por exemplo, uma viagem ou outro árduo labor.

5.      Façam o que foi dito: Dividia-se por todos segundo a necessidade de cada um (At 2,45). Não se pode determinar para todos a mesma hora, o mesmo modo, nem igual medida para a alimentação.

6.      Mas haja um só escopo: satisfazer às necessidades.

7.      Sobrecarregar o estômago ou fartar-se de alimentos é digno de maldição, pois diz o Senhor: Ai de vós os que agora estais fartos! (Lc 6,25).

8.      A saciedade toma também o corpo incapaz para o trabalho, propenso ao sono e predisposto aos distúrbios. A alimentação não tem por finalidade a satisfação do paladar, mas é indispensável à vida, devendo ser contida a intemperança do prazer.

9.      Servir aos prazeres nada mais é do que fazer do ventre o seu deus.

10.  Desde que nosso corpo continuamente se esvai e diflui, precisa de refeição; é por isto que o apetite é natural.

11.  A razão equilibrada exige o uso de alimentos sólidos ou líquidos para a conservação do ser vivo, suprindo o que foi consumido.

12.  Assim devemos proceder-se, com simplicidade, queremos atender às necessidades. Foi o que o próprio Senhor demonstrou quando alimentou a multidão cansada, para não desfalecer no caminho, conforme está escrito (Mt 15, 32).

13.  Embora pudesse acentuar o milagre no deserto excogitando um lauto banquete, preparou-lhes um alimento leve e frugal, isto é, pão de cevada, e, com o pão, um pedaço de peixe (Jo 6,9).

14.  Não mencionou a bebida, porque a água que brota naturalmente e basta para o necessário está ao alcance de todos.

15.  A menos que, por doença, esta bebida seja prejudicial; então dever-se-ia evitá-la, como Paulo aconselha a Timóteo (lTm 5,23). Igualmente tudo quanto certamente faz mal, seja recusado.

16.  Seria incongruente tomar para sustentar o corpo um alimento que suscitasse incômodos para o mesmo, obstaculizando-lhe o cumprimento dos mandamentos.

17.  Este exemplo habitua a alma à fuga do que é prejudicial, mesmo se agradável.

18.  Em todo o lugar, tenha preferência o que é mais fácil de se adquirir, a fim de que, sob pretexto de temperança, não procuremos ansiosamente as coisas mais caras e custosas, nem temperemos os alimentos com os mais apreciados condimentos; mas, em cada região, seja preferido o que for mais fácil de obter, mais vulgar e mais acessível a todos.

19.  Dentre os alimentos importados usemos somente os mais indispensáveis à vida, como o óleo e outros semelhantes, e o que for conveniente para alívio dos debilitados; e que possa ser arranjado sem muito trabalho, perturbação e solicitude.

 

QUESTÃO 20

COMO HÁ DE SER A REFEIÇÃO DOS HÓSPEDES

Resposta

20.  A vangloria, o desejo de agradar aos homens e a ostentação são completamente proibidos ao cristão, em todos os seus atos.

21.  Quem praticar o mandamento para ser visto e exaltado pelos homens, perderá a sua recompensa.

22.  Aqueles que abraçaram, por causa do mandamento do Senhor, toda a espécie de humildade, fujam absolutamente de qualquer gênero de vangloria.

23.  Se vemos os de fora envergonharem-se da humilhação da pobreza e ao receber um hóspede porem com cuidado lauta e suntuosa mesa, receemos ser também nós, sorrateiramente, atingidos de idêntico mal e venhamos a ser surpreendidos corando da pobreza que Cristo chamou bem- aventurada (Mt 5,3).

24.  Como não nos convém adquirir fora vasos de prata, véus de púrpura, leitos macios ou vestes brilhantes, assim também não devemos excogitar alimentos muito em desacordo com nosso regime de vida.

25.  Não só é vergonhoso, e dissonante do fim que nos propusemos, correr à busca do supérfluo, criado para um mísero prazer ou vangloria prejudicial, mas ainda causa enorme prejuízo, se os que vivem nas delícias e limitam sua felicidade aos prazeres do estômago, vêem-nos também voltados para os mesmos cuidados que os apaixonam.

26.  Se os deleites são ilícitos, temos de evitá-los e nunca aceitá-los. Nada do que foi reprovado pode, em tempo algum, ser oportuno.

27.  A Escritura condena os que vivem em delícias, que se untam com os melhores unguentos, que bebem os vinhos mais finos (Am 6,6).

28.  Diz-se que a viúva que vive em deleites, embora viva, está morta (lTm 5,6). O rico foi privado do paraíso por causa desses banquetes (Lc 16,22).

29.  Que temos nós a ver com as mesas suntuosas? Chegou um hóspede? Se é um irmão e segue a mesma vida, reconheça na nossa a sua própria mesa. Encontrará junto de nós o que deixou em casa. Mas está cansado da viagem? Oferecer-lhe-emos quanto for exigido para aliviar-lhe a fadiga.

30.  Veio alguma pessoa de fora? Aprenda pelas obras aquilo a respeito de que por meio da palavra não se conseguiu persuadi-la.

31.  Veja o exemplo, o modelo da frugalidade. Guarde a lembrança da mesa dos cristãos e da pobreza suportada sem rubor por causa de Cristo. Se não se impressiona com isto e antes ridiculariza, não nos incomodará segunda vez.

32.  Quando vemos alguns ricos que consideram como bens precípuos o gozo das delícias, lastimamo-los muito, porque desperdiçam a vida em vaidades e divinizam os prazeres.

33.  Sem o perceberem, recebem sua parte de bens nesta vida e pelas delícias presentes precipitam-se no fogo ardente que lhes está preparado. Se tivermos oportunidade, não hesitemos em dizê-lo a eles mesmos.

34.  Se, porém, para nos pormos a sua altura, à medida de nossos meios, procurarmos as iguarias e lhas prepararmos por ostentação, receio que estejamos a destruir o que, na aparência, construímos, e sejamos condenados pelo que julgamos mal nos outros.

35.  Constituiria simulação em nossa vida, à qual damos variadas formas; a não ser que mudemos também de hábito, quando vamos nos encontrar com os orgulhosos.

36.  Se é vergonhoso agir assim, mais ainda o seria preparar diversamente nossa mesa por causa dos glutões.

37.  A vida do cristão é constante e igual a si mesma, porque tem um só escopo, a glória de Deus; Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (ICor 10,31), diz São Paulo, que falava em Cristo. A vida dos de fora é multiforme e vária, passando de um a outro estilo, ao sabor dos visitantes.

38.  Se preparas com variedade e excessivo apuro os alimentos para dar prazer a teu irmão, tu o acusas de apego às delícias e lhe exprobras a gula pelo que lhe ofereces, censurando-lhe este prazer.

39.  Não se pode, acaso, muitas vezes conjecturar quem é, ou como é, o visitante esperado, só de lançar um olhar à apresentação e ao preparo da mesa?

40.  O Senhor não elogiou a Marta, dispersa na contínua lida, mas disse: Andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas (Lc 10,41.42); no entanto, poucas ou antes uma só coisa é necessária. Poucas, refere-se ao preparo; uma, ao fim, isto é, atender à necessidade.

41.  Ninguém ignora qual alimento ofereceu o próprio Senhor aos cinco mil.

42.  E Jacó fez a Deus o seguinte voto: Se der, disse, pão para comer e roupa para vestir... (Gn 28,20). Não disse: Se me deres delícias e suntuosidade.

43.  O que diz o sábio Salomão? Não me dês nem pobreza, nem riqueza; concede-me o pão que me é necessário, para que, saciado, eu não te renegue e não diga: Quem me vê? Ou que, pobre, eu não roube e não per jure o nome de meu Deus (Pv 30,8-9). Chama riqueza à saciedade, e pobreza à penúria completa do indispensável à vida.

44.  Indicou, simultaneamente, que a suficiência não é nem indigência, nem superabundância do necessário. O grau de suficiência difere de um a outro, conforme o estado de saúde e a necessidade do momento.

45.  Um precisa de alimento mais forte e em maior quantidade, devido ao labor; outro, de mais fraco e mais leve, de acordo em tudo com a própria fraqueza; mas, em geral, necessitam todos do mais simples e mais fácil de adquirir.

46.  Em tudo, no entanto, é preciso cuidado e farta mesa sem que nunca se excedam os limites da necessidade.

47.  A norma da hospitalidade seja procurar atender às necessidades de cada um dos recém-vindos. Diz-se: Os que usam deste mundo mas sem abuso (ICor 7,31). Abuso seria a prodigalidade, além da necessidade.

48.  Mas se temos riquezas? Oxalá não as tenhamos. Mas não estão repletos os nossos celeiros? Vivemos o dia-a-dia e o sustento provém do trabalho de nossas mãos.

49.  Por que, então, desperdiçar em iguarias para os de paladar delicado o alimento que Deus dá para os famintos? Pecaríamos duplamente, aumentando de um lado as tribulações da miséria e, de outro, os incômodos da saciedade.

 

QUESTÃO 21

COMO NOS SENTAMOS OU NOS RECLINAMOS POR OCASIÃO DO JANTAR OU DA CEIA

Resposta

50.  Uma vez que o Senhor, para nos acostumar à humildade em toda a parte, ordenou que, ao nos reclinarmos para o jantar, ocupássemos o último lugar (Lc 14,10), é dever daquele que se empenha em fazer tudo de acordo com o mandamento não desdenhar este preceito.

51.  Se alguns seculares se reclinarem em nossa companhia, convém dar-lhes o exemplo de não se ensoberbecerem, nem procurarem o primeiro lugar.

52.  Como todos têm, de comum acordo, o escopo de darem sempre provas de humildade, convém que, segundo o mandamento do Senhor, procure cada qual o último lugar: no entanto, se houvesse rivalidade para obtê-lo, este modo de agir seria reprovável, porque causaria desordem e agitação.

53.  Se mutuamente não quisermos ceder e discutirmos por isso, assemelhar-nos-emos aos que disputam o primeiro lugar.

54.  Eis por que, discernindo e procurando prudentemente também nisso o que nos convém, deixamos a ordem dos lugares a cargo do hospedeiro. O Senhor sugeriu dizendo que cabe ao dono da casa.

55.  Portar-nos-emos assim com caridade mútua, fazendo tudo com dignidade e ordem. Demonstraremos que não é por ostentação na presença de muitos, nem para alcançar popularidade, que buscamos a humildade com teimosia obstinada e veemente; antes será pela obediência que exerceremos a humildade.

56.  Disputar seria maior indício de orgulho do que aceitar o primeiro lugar quando nos ordenarem que o tomemos.

 

QUESTÃO 22

QUAL A VESTE CONVENIENTE PARA O CRISTÃO

Resposta

57.  Acima ficou demonstrado serem indispensáveis a humildade, a simplicidade, a aceitação em tudo do que é barato, pouco dispendioso, para diminuirmos as ocasiões de nos dispersarmos por causa das exigências do corpo. Assim convém seguir o mesmo em relação às vestes.

58.  Se devem todos procurar ser os últimos, também quanto ao vestuário é evidente ser preferível o de pior qualidade.

59.  Os que ambicionam a glória, andam à sua caça até pelas vestes e buscam atrair os olhares e a consideração através da magnificência dos vestidos; por esta razão, quem pela humildade reduziu sua vida a ínfima condição, também quanto a isto deve aceitar o que é de qualidade inferior.

60.  Como os coríntios, na ceia em comum (ICor 11,22), foram repreendidos porque envergonhavam com sua suntuosidade os que nada tinham, assim, no emprego habitual e externo das vestes, quem ultrapassar o modo de trajar vulgar, por uma espécie de comparação, incute vergonha ao pobre.

61.  Diz o Apóstolo: Não aspireis a coisas altas, mas acomodai-vos às humildes (Rm 12,16).

62.  Considere cada um consigo mesmo se convém mais aos cristãos assemelharem- se aos que vivem nos palácios dos reis e vestem roupas luxuosas ou ao anjo e arauto da vinda do Senhor: Entre os filhos das mulheres não surgiu outro maior. Digo João, o filho de Zacarias (Mt 11,8-11), cuja vestimenta era de peles de camelo (Mt 3,4).

63.  Também antigamente os santos andaram errantes, vestidos de peles de ovelhas e de cabra (Hb 11,37).

64.  O apóstolo indicou qual a finalidade das vestes, numa palavra: Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto (lTm 6,8). Sugere ser necessário apenas com que nos cobrirmos.

65.  Não caiamos pois na vaidade proibida da variedade e dos adornos que dela se originam, para não dizer coisa pior.

66.  Foram, finalmente, algumas artes ociosas e vãs que as introduziram na vida. Conhece-se quais foram as primeiras vestes dadas por Deus aos necessitados. Fez-lhes, diz-se, Deus veste de peles (Gn 3,21).

67.  Para cobrir as partes menos honrosas, bastavam essas túnicas. Mas como há simultaneamente um outro fim, o de nos agasalharmos, forçoso foi aplicá-las para ambas as finalidades: revestir as partes menos decentes e servir de proteção contra as intempéries.

68.  E se entre as vestes, umas são mais úteis e outras menos, prefiram-se as que prestem maior número de serviços, sem lesar a pobreza.

69.  Não devemos arranjar algumas para ostentação e outras para uso diário; nem umas diurnas e outras noturnas. Mas procuremos uma roupa que sirva para tudo: manto decente para o dia e coberta necessária para a noite. Assim teremos todos o mesmo hábito.

70.  Dê-se a conhecer o cristão por uma nota peculiar, até na maneira de vestir. Todos os que visam o mesmo fim, têm em muitas coisas idêntico cunho.

71.  É bom ainda que as vestes sejam características, porque servem de prévio anúncio e atestado da profissão de viver para Deus. Assim, os que nos encontram exigirão de nós ações condizentes com tal promessa.

72.  Difere em grau o que é inconveniente ou vergonhoso num homem da plebe ou numa pessoa de compromissos mais elevados.

73.  Um homem do povo ou de origem obscura, se apanha ou bate em público, se diz palavras inconvenientes, se frequenta tabernas ou pratica ações vergonhosas semelhantes a essas, não chama logo a atenção, pois compreende-se que age de maneira consequente com seu modo de viver.

74.   Mas, se o que professa perfeição negligenciar, por mínimo que seja, suas obrigações, todos o observam e lançam-lhe em rosto este opróbrio, fazendo conforme foi dito: Voltando-se contra vós, vos despedacem (Mt 7,9).

75.  O compromisso que o hábito constitui por si só é uma espécie de pedagogia para os fracos, que os afasta dos vícios, mesmo contra a vontade.

76.  Como a farda é própria do soldado, diversa é a veste do senador e outros usam roupa característica da respectiva dignidade, assim é plausível e conveniente haver uma veste peculiar ao cristão, que conserve o modo de trajar recomendado pelo Apóstolo.

77.  Determinou que o bispo ande bem arranjado (lTm 3,2), que a roupa das mulheres seja adornada (lTm 2,9), de modo que se entenda a palavra ornato segundo o sentido próprio  no cristianismo.

78.  O mesmo digo dos sapatos; sempre se prefira o menos extravagante, mais barato e que satisfaça à necessidade.

 

Quais as partes você destaca no texto? Por que?

Como serve para sua espiritualidade?

 

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