domingo, 30 de março de 2025

276 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 27 - 36)

 



276

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 27 - 36)

 

Solicitação do Tratado: Bispo Anfilóquio de Icônio

 

Basílio escreve: “Há pouco, estava orando com o povo. Glorificava a Deus Pai com ambas as formas de doxologia: ora com o Filho, com o Espírito Santo; ora pelo Filho, no Espírito Santo. Alguns dos presentes nos acusaram de empregar palavras estranhas e até contraditórias entre si. Tu, porém, pensando antes no bem deles, ou ao menos, se o mal for inteiramente irremediável, para premunir seus companheiros, pediste um ensinamento bem claro sobre o alcance destas sílabas”.

 

Para os hereges arianos o Filho não era semelhante ao Pai. “Daí vem que eles destinam a Deus Pai a expressão de quem. Determinam para Deus Filho a expressão por quem; quanto ao Espírito Santo, reservam-lhe a expressão em quem”.

 

11. É uma transgressão renegar o Espírito

Capítulo 27.

1.     Para quem os ais? Para quem a tribulação? Para quem a angústia e as trevas? Para quem a sentença condenatória (Pr 23,29)? Não para os transgressores? Não seria para os que negam a fé? Qual a prova da negação? Não renegaram a própria profissão? Que profissão fizeram e quando?

2.     Confessaram crer no Pai e no Filho e no Espírito Santo, quando, tendo renunciado ao diabo e a seus anjos, proferiram aquela palavra de salvação. Qual então a denominação adequada para lhes ser aplicada pelos filhos da luz? Não foram denominados transgressores, por faltarem a seus compromissos salutíferos? Então, como nomearei ao que renega a Deus? Como haverei de designar a quem renega a Cristo? Que denominação a não ser a de transgressor? Que nome queres que atribua ao que nega o Espírito? Não seria o mesmo que o aplicado a quem não cumpriu a aliança feita com Deus?

3.     Por conseguinte, se confessar a fé no Espírito nos torna felizes pela piedade e, ao invés, renegá-lo acarreta-nos a sentença condenatória por impiedade, como não seria terrível agora verificar que existem os que o renegam, não impelidos pelo temor do fogo, nem pelo medo da espada, da cruz, dos flagelos, da roda, das torturas, mas apenas enganados pelos sofismas e insinuações dos adversários do Espírito? Atesto a todo aquele que confessa o Cristo, mas renega a Deus, que Cristo em nada o ajudará.

4.     Dou testemunho ao que invoca a Deus, mas rejeita o Filho que sua fé é vã, e ao que recusa aceitar o Espírito que a sua fé no Pai e no Filho cairá num vazio; nem mesmo poderá possuir a fé, se não tiver o Espírito. Efetivamente, não crê no Filho quem não acredita no Espírito; nem crê no Pai aquele que não crê no Filho. Com efeito, “ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,18).

5.     Acha-se também excluído da verdadeira adoração aquele que renega o Espírito. De fato, é impossível adorar o Filho, a não ser no Espírito Santo, nem é possível invocar o Pai, a não ser no Espírito da adoção filial.

 

12. Contra os que asseguram ser suficiente o batismo em nome do Senhor

Capítulo 28.

6.     Ninguém se iluda com a palavra do Apóstolo, quando, ao referir-se ao batismo, muitas vezes omite o nome do Pai e do Espírito Santo, nem creia ser dispensável empregar a invocação desses nomes. Diz o Apóstolo: “Todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo” (Gl 3,27). E ainda: “Todos os que fostes batizados em Cristo, é na sua morte que fostes batizados” (Rm 6,3).

7.     Ora, nomear a Cristo é confessar a todos, pois designa a Deus que unge, o Filho que foi ungido, e a unção que é o Espírito. Assim ensinou Pedro, segundo os Atos: “Jesus de Nazaré, Deus o ungiu com o Espírito Santo” (At 10,38). E em Isaías : “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu” (Is 61,1; cf. Lc 4,18). E o salmista: “Eis por que Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo da alegria” (Sl 44,8).

8.     Evidencia-se, porém, que às vezes o Apóstolo relembra apenas o Espírito relativamente ao batismo. “Todos, diz ele, fomos batizados num só Espírito para ser um só corpo” (1Cor 12,13). Concorda com esta passagem os dizeres: “Vós fostes batizados no Espírito Santo” (At 1,5). Igualmente: “Ele vos batizará  no Espírito Santo” (Lc 3,16).

9.     Mas, nem por isso se deve afirmar que é perfeito o batismo em que somente o nome do Espírito foi invocado. Importa seja conservada sempre íntegra a Tradição transmitida pela graça vivificante. Efetivamente, aquele que redimiu da corrupção a nossa vida, outorgou-nos uma força renovadora, cuja causa inefável encontra-se oculta no mistério, e que traz às almas sublime salvação. Assim, sem dúvida, acrescentar ou tirar algo daí, seria perder a vida eterna. Entretanto, se do Pai e do Filho separar o Espírito no batismo é perigoso para quem batiza, e prejudicial ao batizado, como seria seguro arrancar o Espírito de junto do Pai e do Filho?

10. Ora, a fé e o batismo são dois meios de salvação, estreitamente unidos e inseparáveis, pois se a fé se consuma no batismo, o batismo, contudo, baseia-se na fé; ambos se realizam através dos mesmos nomes. Como acreditamos no Pai e no Filho e no Espírito Santo, assim também somos batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Precede, de fato, a confissão que nos conduz à salvação; mas segue-se logo o batismo, selo de nossa adesão.

 

13. Qual o motivo por que Paulo trata conjuntamente dos anjos, do Pai e do Filho.

Capítulo 29.

11. Mas, replicam eles, existem outros seres enumerados com o Pai e o Filho, e que de forma alguma são glorificados com eles. Assim o Apóstolo pôs junto deles os anjos, ao conjurar a Timóteo: “Conjuro-te diante de Deus e de Cristo Jesus, e dos seus anjos eleitos” (1Tm 5,21).

12. No entanto, não os isolamos das outras criaturas, nem aceitamos enumerá-los com o Pai e o Filho. Embora tais objeções não mereçam resposta alguma, por se tratar de absurdo evidente, todavia digo o seguinte: pode acontecer que alguém encontre por testemunha um companheiro de servidão, perante um juiz manso e indulgente, e principalmente se este demonstra para com os acusados, por equidade, indiscutível justiça em seus julgamentos.

13. Mas, de escravo passar a liberto, receber o nome de filho de Deus, de morto recuperar a vida, só é realizável por aquele que, naturalmente fruindo da intimidade com Deus, foge da condição servil. E como um estranho introduzirá na intimidade com Deus? Como libertará, se ele mesmo se acha sob o jugo da escravidão? Por conseguinte, não se faz memória do Espírito e dos anjos como se fossem iguais, mas considera-se o Espírito como Senhor da vida, enquanto se mencionam os anjos como amparo aos companheiros de servidão e fiéis testemunhas da verdade.

14. Os santos, efetivamente, costumam transmitir os preceitos de Deus, apoiados em testemunhas, conforme fez o próprio Paulo, escrevendo a Timóteo: “O que de mim ouviste na presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis” (2Tm 2,2). Toma os anjos agora por testemunhas; com efeito ele sabe que os anjos assistirão o juiz, quando ele vier na glória do Pai a julgar com justiça a terra inteira. Diz a Escritura: “Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, o Filho do homem também se declarará por ele diante dos anjos de Deus; aquele, porém, que me houver renegado diante dos homens, será renegado diante dos anjos de Deus” (Lc 12,8-9).

15. Por sua vez, diz Paulo: “Quando se revelar o Senhor Jesus, vindo do céu, com os anjos” (2Ts 1,7). Por esta razão, já daqui ele atesta diante dos anjos, no intuito de preparar provas convincentes a serem apresentadas quando comparecer perante o grande tribunal.

 

Capítulo 30.

16. Mas, não somente ele. Certamente, também todos aqueles aos quais foi confiado o ministério da palavra, não cessam em ocasião alguma de empregar os testemunhos, clamando diante do céu e da terra; com efeito, agora todas as ações se realizam no céu e na terra. No julgamento das obras praticadas durante a vida, esses testemunhos acompanharão os que são julgados. “Do alto ele convoca, diz o salmo, o céu e a terra, para julgar o seu povo” (Sl 49,4). Moisés também exclama, estando prestes a dar os preceitos ao povo: “Eu tomo hoje o céu e a terra como testemunhas contra vós” (Dt 4,2). E ainda, no cântico: “Dá ouvidos, ó céu, que eu vou falar; ouve, ó terra” (Dt 32,1).

17. Igualmente Isaías: “Ouve, ó céus, presta atenção, ó terra” (Is 1,2). Jeremias, porém, narra certo espanto do céu pelo que ouve das obras ímpias do povo: “Espantou-se disso o céu, horrorizou-se profundamente, porque meu povo cometeu dois crimes” (Jr 2,12- 13). Por isso, o Apóstolo, ciente de que os anjos são para os homens pedagogos ou educadores, invoca-os como testemunhas. Josué, filho de Nun, porém, ergueu em testemunho uma pedra (outrora, parece, Jacó deu o nome de testemunho a um montão de pedras) (Gn 31,47). “Eis que esta pedra, disse ele, será testemunho contra vós, nos últimos dias, para vos impedir de mentir ao Senhor, nosso Deus” (Js 24,27).

18. Talvez ele acreditasse que, pelo poder de Deus, até as pedras pudessem falar, a fim de confundir os transgressores; no mínimo, para que a consciência de cada um fosse atingida pelo vigor da advertência. Desta forma, todos aqueles aos quais foi confiada a direção das almas, previamente preparam testemunhas, seja como for, para mais tarde estarem a seu lado. O Espírito, porém, está junto de Deus, não para atender a uma necessidade momentânea, mas por comunhão de natureza. Não somos nós que o puxamos para lá, mas foi o Senhor quem aí o pôs.

 

14. Objeção: Em Moisés alguns também foram batizados e nele creram. Resposta: Acerca dos “tipos”

Capítulo 31.

19. Mas, replicam eles, ainda que sejamos batizados no Espírito, não é justo pô-lo com Deus, pois também alguns foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar (1Cor 10,2). Entretanto, devemos confessar que tiveram fé num homem. Efetivamente, o povo acreditou “em Deus e em Moisés, seu servo” (Ex 14,31).

20. Por que motivo, então, objetam eles, a propósito da fé e do batismo, exaltar e engrandecer tanto o Espírito Santo acima das criaturas, quando se atesta haver a mesma fé e o mesmo batismo em nome de homens? Que responderemos? Que se tem fé no Espírito, da mesma forma que no Pai e no Filho. Igualmente sucede no batismo.

21. Quanto a Moisés, batiza-se nele e na nuvem, enquanto são sombra e tipo. No entanto, se as realidades divinas são prefiguradas por pequenos sinais humanos, nem por isso é insignificante a natureza divina, que os tipos frequentemente de antemão desenharam com luzes e sombras. De fato, o tipo revela através de uma imitação o que se espera; deixando entrever o futuro, com propriedade o indica. Assim, Adão é tipo do Cristo que há de vir; o rochedo simbolicamente é Cristo (Ex 17,6).

22. A água que brota da pedra (Ex 17,6) é tipo do poder vivificador do Verbo. Ora, diz o Senhor: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37). O maná também é tipo do pão vivo que desceu do céu. A serpente suspensa num poste é tipo da paixão do Salvador, consumada na cruz; os que nela fixavam o olhar, eram salvos.

23. De igual modo, é também típico o êxodo de Israel, designando os que foram salvos através do batismo. Pois foram salvos os primogênitos dos israelitas, da mesma forma que os corpos dos batizados, pois a preservação foi concedida aos marcados com o sangue do cordeiro. Este sangue era tipo do sangue de Cristo; os primogênitos eram tipo do primeiro homem. Quanto a este, existe necessariamente em nós, acompanhando-nos em consequência da propagação do gênero humano até o fim. Por esta razão, em Adão todos morremos (1Cor 15,22) e a morte reinou até a consumação da Lei, e a vinda de Cristo.

24. Preservou Deus os primogênitos dos ataques do destruidor, para demonstrar que de forma alguma morrem em Adão os que foram vivificados em Cristo. O mar, contudo, e a nuvem, relativamente ao presente, despertavam a fé, por causa do espanto que causavam; quanto ao futuro, prefiguravam, enquanto constituíam um tipo, a graça futura. “Quem é sábio e observa estas coisas?” (Sl 106,43; cf. Os 14,10) para entender por que o mar é tipicamente o batismo, que separava de tal modo de Faraó como este banho livra da tirania do diabo.

25. O mar matava o inimigo; aqui morre também nossa inimizade com Deus. O povo saiu do mar indene; quanto a nós, subimos da água, quais vivos dentre os mortos, salvos pela graça daquele que nos chamou. A nuvem, porém, era sombra do dom que provém do Espírito, e resfria a chama das paixões pela mortificação de nossos membros.

 

Capítulo 32.

26. E então? Se Moisés batizava tipicamente, por isso a graça do batismo seria insignificante? Mas, nada haveria de grande para nós se depreciarmos por causa dos tipos o que há de honroso em cada coisa. Ficaria, então desprovido de grandeza sobrenatural o grande amor que aos homens devota Deus, ele que por nós entregou seu Filho Unigênito por nossos pecados, pois Abraão também não poupou o próprio filho.

27. Nem a paixão do Senhor seria mais gloriosa, considerando-se que em lugar de Isaac (Gn 22,1-14) um cordeiro foi tipo de oferenda para um sacrifício. A descida aos Hades deixaria de ter aspecto terrível, uma vez que Jonas em três dias e outras tantas noites (Jn 2,1ss), havia de antemão apresentado o tipo da morte.

28. O mesmo acontece com o batismo. Se alguém julga a verdade pela sombra, comparando as realidades significadas com os correspondentes tipos, e tentando utilizar a figura de Moisés e do mar para despedaçar com um só golpe toda a economia evangélica. Qual o perdão dos erros? Qual a renovação da vida através do mar? Qual o carisma espiritual por meio de Moisés? Que morte aos pecados ali existe?

29. Eles não padeceram com Cristo, portanto, também não ressuscitarão com ele. Não trouxeram a imagem do homem celeste, nem foram portadores da mortificação de Jesus no seu corpo; não se despojaram do velho homem, nem revestiram o novo, renovados para o conhecimento, à imagem de seu criador. Por que, então, comparar os batismos, que de comum têm apenas o nome, e que de fato diferenciam-se tanto como um sonho difere da realidade, ou uma sombra, uma imagem da substância dos seres?

 

Capítulo 33.

30. Mas, crer em Moisés não significa que seja de pouca valia a fé no Espírito. Antes, segundo a doutrina deles, diminuiria a profissão de fé no Deus do universo, pois diz a Escritura que o povo acreditou em Deus e em seu servo, Moisés. A Escritura alia Moisés a Deus, e não ao Espírito; ele, com efeito, não era tipo do Espírito, e sim de Cristo.

31. Ele prenunciava, no ministério da Lei, o mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5). Moisés não era tipo do Espírito, quando servia de intermediário para o povo, junto de Deus. Efetivamente, a Lei tinha sido promulgada por anjos, pela mão de um mediador (Gl 3,19), isto é, Moisés, conforme o pedido do povo, que dizia: “Fala-nos tu, e não nos fale Deus” (Ex 20,19). A fé depositada nele refere-se, portanto, ao Senhor, ao mediador entre Deus e os homens, que disse: “Se crêsseis em Moisés, haveríeis de crer em mim”(Jo 5,46).

32. Seria, pois, coisa pequena a fé no Senhor, pelo fato de ter sido prefigurada por Moisés? De igual modo, se houve um batismo em Moisés, nem por isso é sem valor a graça proveniente do Espírito no batismo. Entretanto, devo observar que a Escritura costuma mencionar Moisés em lugar da Lei, como, por exemplo, na passagem: “Eles têm Moisés e os profetas” (Lc 16,29). Pertenceria ao batismo sob a Lei a referência: “Foram batizados em Moisés” (1Cor 10,2).

33. Por que, então, aqueles que, por causa das sombras e dos tipos, têm aversão à verdade, declaram desprezíveis o motivo de altivez de nossa esperança (Hb 3,6) e o precioso dom de Deus, nosso Salvador, que renova a nossa juventude como a da águia por meio da restauração de todas as coisas? Sem dúvida, é peculiar a quem é muito jovem, ou a uma criança ainda bem precisada de leite, ignorar o grande mistério de nossa salvação.

34. Com efeito, segundo a iniciação ministrada nas escolas, somos exercitados na piedade em vista da perfeição, aprendendo primeiro as coisas elementares, cujo conhecimento está a nosso alcance. A providência de Deus nos conduz até a plena luz da verdade, habituando aos poucos os nossos olhos, como se tivéssemos sido criados em meio a trevas.

35. No intuito de poupar a nossa fraqueza, na profundidade da riqueza de sua sabedoria, e nos julgamentos imperscrutáveis de seu intelecto, proporciona-nos esta orientação suave e harmoniosa, fazendo-nos primeiro ver as sombras dos corpos e fitar o sol dentro da água, a fim de evitar a cegueira, que pode suceder se precipitadamente contemplarmos a luz intensa.

36. De igual maneira, a Lei, sombra dos bens futuros (Hb 10,1), esboço traçado pelos profetas, enigma da verdade, é tida como exercício dos olhos do coração. Assim, destas sombras nos seja fácil a passagem para a sabedoria escondida no mistério. A respeito dos tipos, isso basta. Não é possível determo-nos por mais tempo. Seria dar ao acessório importância maior do que ao principal.

 

15. Resposta à réplica: “Somos também batizados na água”. O batismo

Capítulo 34.

37. O que, porém, eles ainda podem acrescentar? Eles são peritos, de fato, em refutar. Somos também, dizem eles, batizados na água, mas nem por isso honraremos a água mais do que as outras criaturas, nem vamos torná-la partícipe do culto que prestamos ao Pai e ao Filho.

38. Tais expressões são próprias de homens irritados, os quais, por causa do obscurecimento apaixonado da razão, nada poupam para se defenderem daqueles que os afligem. Quanto a nós, de forma alguma hesitamos em discutir sobre este assunto. Efetivamente, ou instruiremos os ignorantes, ou não cederemos diante dos malfeitores. Mas, retornemos a um trecho mais acima.

 

Capítulo 35.

39. Consiste a economia de Deus, nosso Salvador, em soerguer o homem após a queda, e fazer com que recupere a amizade com Deus, escapando da condição de inimizade em que se encontrava, devido a sua desobediência. Daí origina-se a vinda de Cristo na carne, o exemplo de sua vida de acordo com o evangelho, a paixão, a cruz, o sepultamento, a ressurreição. Assim, o homem salvo, através da imitação de Cristo, recupera a primitiva adoção filial.

40. É indispensável para uma vida perfeita a imitação de Cristo não somente nos exemplos de mansidão, humildade e paciência que deu durante a vida, mas ainda na morte, conforme diz Paulo, o “imitador de Cristo” (1Cor 11,1; Fl 3,17): “Conformando-me com ele na sua morte, para ver se eu alcanço a ressurreição de entre os mortos” (Fl 2,10-11).

41. Como nos conformaremos com Cristo na morte? Por nosso sepultamento com ele pelo batismo. Mas, como ser sepultado? Qual o proveito de tal imitação? Em primeiro lugar, faz-se mister romper com a vida anterior. Isso, porém, é impossível se não nascermos do alto, segundo a palavra do Senhor (Jo 3,3), porque a regeneração, conforme indica a palavra, é o começo de segunda vida. Mas, no intuito de começar esta segunda vida, será necessário pôr termo à vida anterior.

42. Assim como em dupla corrida, uma parada, um momento de repouso separa a ida da volta, igualmente em mudança de vida parece necessária uma espécie de morte entre as duas vidas, para terminar a anterior e iniciar a seguinte. Mas, que fazer para descer ao Hades? Imitar o sepultamento de Cristo, por meio do batismo. O corpo dos batizados é de certo modo sepultado na água. O batismo simboliza, pois, o despojamento de obras carnais, segundo a palavra do Apóstolo: “Nele fostes circuncidados, por uma circuncisão não feita por mão de homem, mas pelo despojamento do corpo carnal: essa é a circuncisão de Cristo.

43. Fostes sepultados com ele no batismo” (Cl 2,11-12). O batismo é para a alma ablução da mancha contraída por causa de pensamentos carnais, conforme está escrito: “Lava-me, ficarei mais branco do que a neve” (Sl 50,9). Por isso, não usamos purificarmo-nos depois de cada mancha como os judeus, mas conhecemos apenas um batismo salutífero; pois uma só é a morte relativamente ao mundo e uma só a ressurreição dos mortos, das quais o batismo é tipo. Assim se entende por que razão o Senhor, que nos concede a vida, estabeleceu conosco esta aliança no batismo, tipo da morte e da vida.

44. A água é imagem da morte, e o Espírito nos dá o penhor, as primícias da vida. Assim evidencia-se para nós o que procurávamos saber: Por que a água se acha ligada ao Espírito? Porque o batismo tem dupla finalidade: eliminar o corpo de pecado (Rm 6,6), a fim de não produzir mais frutos de morte (Rm 7,5), e fazer viver do Espírito, frutificar para a santidade (Rm 6,22).

45. A água, com efeito, apresenta a imagem da morte, pois acolhe o corpo, à guisa de uma sepultura, enquanto o Espírito infunde a força vivificadora, renovando nossas almas, que retira da morte no pecado e transfere para a vida dos primórdios. É isto o que se chama nascer do alto, na água e no Espírito. A morte se realiza na água, mas o Espírito nos transmite a vida.

46. Em três imersões, e em igual número de invocações, cumpre-se o grande mistério do batismo, para figurar o tipo da morte e iluminar os batizandos pela transmissão da ciência de Deus. De fato, se existe na água uma graça, esta não provém da natureza da água, mas origina-se da presença do Espírito. Com efeito, o batismo não consiste em lavar-se para tirar manchas carnais, mas em suplicar a Deus uma boa consciência.

47. O Senhor, querendo preparar-nos para a vida de ressuscitados, apresenta-nos o modo de viver evangélico, preceituando sermos mansos, resignados, livres do amor do prazer, desprendidos das riquezas, de forma que voluntariamente realizemos desde agora o que o século futuro contém como que naturalmente. Se alguém, contudo, irritado, dissesse que o evangelho já é uma prefiguração da vida da ressurreição, a meu ver, ele não estaria errado. Mas, voltemos ao nosso assunto.

 

Capítulo 36.

48. Por meio do Espírito Santo realiza-se a restauração do paraíso, a subida ao reino dos céus, o retorno à adoção filial. É ele quem nos dá a ousadia de chamar a Deus de Pai, possibilita-nos participar da graça de Cristo, ter o nome de filhos da luz, partilhar a glória eterna, em uma palavra, recebermos a plenitude da bênção, neste século e no século futuro, e como em espelho contemplar, desde já presente, a graça dos bens que nos estão reservados, conforme as promessas, e cuja fruição aguardamos pela fé.

49. Se, porém, as arras são tais, o que será o dom completo? E se as primícias são tão grandes, que será a plenitude integral? Assim se torna cognoscível a diferença entre a graça do Espírito e o batismo na água. Pois João batizou na água; nosso Senhor Jesus Cristo batizou no Espírito Santo. “Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu.

50. De fato, eu não sou digno nem ao menos de carregar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3,11). João, aqui, à prova do juízo dá o nome de batismo com fogo, conforme diz também o Apóstolo: “O fogo provará o que vale a obra de cada um”, e ainda: “O Dia a tornará conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo” (1Cor 3,13).

51. Mas, houve alguns que, combatendo em prol da piedade, em todo realismo e não apenas em imitação, suportaram a morte por Cristo. Eles não precisaram, para se salvar, do símbolo da água, uma vez que foram batizados no seu próprio sangue.

52. Não falo desta maneira para excluir o batismo na água, mas a fim de derrubar os raciocínios desses homens exaltados que se opõem ao Espírito, misturam coisas que não se misturam, e igualam outras que não são comparáveis entre si.

 

 

O que você destaca neste texto?

Como serve para a sua espiritualidade?

domingo, 23 de março de 2025

275 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - ratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 16 a 26)



275

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 16 a 26)

Solicitação do Tratado: Bispo Anfilóquio de Icônio

Basílio escreve: “Há pouco, estava orando com o povo. Glorificava a Deus Pai com ambas as formas de doxologia: ora com o Filho, com o Espírito Santo; ora pelo Filho, no Espírito Santo. Alguns dos presentes nos acusaram de empregar palavras estranhas e até contraditórias entre si. Tu, porém, pensando antes no bem deles, ou ao menos, se o mal for inteiramente irremediável, para premunir seus companheiros, pediste um ensinamento bem claro sobre o alcance destas sílabas”.

Para os hereges arianos o Filho não era semelhante ao Pai. “Daí vem que eles destinam a Deus Pai a expressão de quem. Determinam para Deus Filho a expressão por quem; quanto ao Espírito Santo, reservam-lhe a expressão em quem”.

7. Contra aqueles que afirmam não convir ao Filho a locução com quem, e sim por

Quem.

Capítulo 16.

1.      Mas, dizem eles, é completamente estranho e inusitado dizer com ele; no entanto, por ele é habitual na Escritura, e frequentemente empregado entre os irmãos. Que responderemos? Que são felizes os ouvidos que não vos escutaram, e os corações que se mantiveram invulneráveis a tais palavras.

2.      Ora, eu vos asseguro, a vós que amais a Cristo, serem usuais na Igreja as duas formas, e nem uma nem outra é rejeitada, como se elas se excluíssem mutuamente. Ao contemplarmos a majestade da natureza do Filho e a excelência de sua dignidade, atestamos ter a glória junto com o Pai. Se, porém, refletimos sobre o conjunto dos bens que nos coube, ou acerca do acesso que temos junto de Deus, ou da intimidade com ele, temos de confessar ter-nos sido outorgada tal graça por Cristo e em Cristo. Assim, a expressão com ele pertenceria propriamente ao louvor, enquanto por ele caberia melhor à ação de graças.

3.      Outra mentira é a seguinte: quem pratica a piedade não emprega a locução com ele. Efetivamente, todos os camponeses ou citadinos, arraigados em seus hábitos, que preferem uma respeitável antiguidade às novidades e conservam sem deformações a tradição dos Pais, empregam esta palavra.

4.      Aqueles, porém, que, enfastiados de seus costumes, revoltam-se contra tudo o que é antigo, como sendo superado, acolhem bem qualquer inovação, da mesma forma que na indumentária, os que apreciam os ornatos, sempre preferem vestir-se à última moda. Os camponeses, ainda agora, empregam uma linguagem antiquada, enquanto nossos peritos, como que ungidos para um combate verbal, cunham as palavras de acordo com a nova sabedoria.

5.      Nós, porém, falamos como falavam nossos Pais, que a glória é comum ao Pai e ao Filho; por isso, proferimos a Doxologia ao Pai com o Filho. Não nos basta, porém, que se trate de tradição dos Pais. Eles próprios seguiam o conteúdo da Escritura e extraíam os princípios dos testemunhos da Escritura, que há pouco citamos. Assim, concebe-se a irradiação com a glória, a imagem com o modelo, e o Filho absolutamente com o Pai. Nem a sequência dos nomes, nem a natureza das coisas permite ruptura.

8. De quantos modos se usa por quem; quando é preferível com quem. Exposição da

maneira como o Filho recebe uma ordem, e como se diz que é enviado

Capítulo 17.

6.      Quando o Apóstolo dá graças a Deus por Jesus Cristo, (Rm 1,8) e ainda diz ter recebido por ele a graça e a missão de pregar às nações para que obedeçam à fé, ou também que teve acesso por Cristo a essa graça em que fomos estabelecidos e da qual nos gloriamos, revela-nos a bondade para conosco daquele que ora nos transmite da parte do Pai a graça dos benefícios e ora nos introduz por seu intermédio junto do Pai.

7.      Ao declarar: “por quem recebemos a graça e a missão de pregar” (Rm 1,5), Paulo revela a origem da distribuição dos bens; e ao afirmar: “por quem tivemos acesso” (Rm 5,2), mostra que nossa elevação e nossa familiaridade com Deus se realizaram por Cristo.

8.      Por acaso, confessar que a graça em nós atua por ele seria diminuir a glória de Cristo? Ou não seria mais exato afirmar que uma enumeração de boas obras constituiria tema conveniente de louvor? Além disso, verificamos não nos transmitir a Escritura um nome apenas para o Senhor, nem somente nomes que revelam a divindade e a sua grandeza, mas ainda apresenta propriedades características da natureza.

9.      Com efeito, ela sabe proferir o nome que está acima de todo nome, o do Filho, verdadeiro Filho, Deus Unigênito, Poder de Deus, Sabedoria, Verbo. Ademais, devido às múltiplas formas da graça em relação a nós, graça concedida aos suplicantes por bondade, conforme a sua multiforme sabedoria (cf. Ef 3,10), a Escritura designa o Senhor por muitas outras denominações.

10.  Ora ela o denomina pastor, ora rei; ora ainda médico, esposo, caminho, porta, fonte, pão, machado, pedra. Estes nomes, porém, não designam a natureza, mas, como já disse, a multíplice energia que ele transmite, por misericórdia para com a sua própria obra, àqueles que a pedem, em suas particulares necessidades. Quanto àqueles, porém, que sob sua autoridade se refugiam, dispostos a partilhar o que têm, e são resignados, Cristo os chama de ovelhas e confessa servir-lhes de pastor, pois elas escutam sua voz, sem prestar atenção em doutrinas estranhas. Declara: “Minhas ovelhas escutam minha voz” (Jo 10,27).

11.  Ele é rei dos que já alcançaram as culminâncias, e precisam de chefe legítimo. Igualmente, é porta, porque conduz às práticas de zelo, conforme os seus retos mandamentos e ainda apascenta em segurança os que se refugiam no bem do conhecimento (gnósis), por meio da fé que nele depositam. Pois, “quem entrar por mim, entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9).

12.  Chama -se, contudo, “pedra” (1Cor 10,4), por ser para os fiéis abrigo forte, inabalável, mais sólido que qualquer fortificação. Nesses casos, quando se chama Cristo de porta ou caminho, usar por quem é preferível e mais expressivo. Como Deus e Filho, possui com o Pai, junto com ele, a mesma glória, porque “ao nome de Jesus, se dobrará todo joelho dos seres celestes, terrestres e dos que vivem sob a terra, e, para glória de Deus Pai, toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2,10-11).

13.  Por esta razão, usam-se ambas as partículas; uma, para exprimir sua dignidade peculiar, e a outra, para expressar sua graça em nosso favor.

Capítulo 18.

14.  Por ele, contudo, é que vem às almas toda espécie de auxílio. A cada uma das formas de sua particular solicitude corresponde determinada denominação. Quando se une a uma alma irrepreensível, sem ruga, nem mancha (Ef 5,27), qual virgem pura, recebe o nome de esposo. Quando acolhe uma alma ferida pelos golpes malignos do diabo, e ele a cura da grave doença dos pecados, denomina-se médico.

15.  Tais cuidados para conosco nos induziriam à baixeza de pensamentos? Ou, ao contrário, despertariam nossa admiração diante do grande poder e imenso amor para com os homens de nosso Salvador, que aceitou compadecer-se de nossas fraquezas (Tt 3,4 e Hb 4,15), e quis descer até nossa pobre condição. Efetivamente, nem o céu, nem a terra, nem a imensidão dos mares, nem os que povoam as águas, nem os animais terrestres, as plantas, os astros, o ar, as estações, e o variegado ornamento do universo, nada disso comprova tanto a virtude de Cristo, que lhe tornou possível, a ele que é Deus, o infinito impassivelmente ser enlaçado por meio da carne na morte, a fim de nos conceder, por sua própria paixão, a impassibilidade.

16.  Se o Apóstolo pôde assegurar: “Em tudo isto somos mais que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8,37), não está insinuando por meio de tais palavras um humilde serviço, e sim um socorro atuante no vigor de sua força. Ele ligou o forte (Mt 12,29), roubou-lhe os instrumentos, a saber, nós mesmos, de quem o forte havia abusado através de toda espécie de obras más, e transformou-nos em instrumentos úteis ao Senhor, preparados para toda obra boa, por disposição livre de nossa parte.

17.  Assim por ele temos acesso ao Pai, ao passarmos do poder das trevas à parte da herança dos santos na luz (Cl 1,12). Por isso, não consideremos como serviço forçado, próprio de escravo em sua condição humilhante, o plano (oiconomia) determinado pelo Filho; ao contrário, a solicitude voluntária relativamente à obra de suas mãos origina-se da bondade e misericórdia, segundo a vontade de Deus Pai.

18.  Desta forma, permaneceremos na prática da piedade, dando testemunho em tudo do perfeito poder do Filho, que jamais se aparta da vontade do Pai. Igualmente, se damos ao Senhor o nome de caminho, erguemo-nos a uma concepção mais elevada do que a comum. Esta consistiria no contínuo e bem ordenado progresso para a perfeição, por meio das obras justas e da iluminação do conhecimento; de fato, sempre vamos avante, tendendo para o que resta na frente (Fl 3,13), indo ao encontro do fim bem-aventurado, o conhecimento de Deus.

19.  O Senhor o concede, por si mesmo, aos que nele acreditaram. É nosso Senhor realmente ótimo caminho, certo e sem desvios. Conduz ao bem verdadeiro, ao Pai. Conforme ele mesmo disse: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). Por conseguinte, subimos até Deus por meio do Filho.

Capítulo 19.

20.  Em seguida, vamos dizer qual é, por sua vez, o conjunto dos bens que provém do Pai pelo Filho. Uma vez que toda natureza na criação visível ou no mundo inteligível precisa da providência de Deus para persistir, o Verbo Criador (Demiurgo), Deus Unigênito, concede auxílio, segundo as necessidades de cada um. Seus benefícios são múltiplos e diversos, conforme as diferenças dos necessitados, adaptados a cada qual de acordo com o que precisam. Ilumina os que se encontram presos às trevas da ignorância; é, por conseguinte, luz verdadeira.

21.  Julga, retribuindo dignamente as boas obras; por isso, é justo juiz. Efetivamente “o Pai a ninguém julga, mas confiou ao Filho todo julgamento” (Jo 5,22). Ele reergue da queda os que, das culminâncias na vida, deslizarem para o pecado; é, portanto, ressurreição (Jo 11,25). Ele tudo faz por seu contato poderoso, agindo por voluntária benevolência. Apascenta, ilumina, nutre, conduz no caminho, cura, ressuscita. Dá existência ao que não existe, e sustenta o que criou. É deste modo que os bens chegam até nós, de Deus, por meio do Filho, que os produz cada qual por si, com rapidez maior do que se possa dizer. Não são tão rápidos nem os relâmpagos, nem a propagação da luz no ar, nem tão ligeiro o piscar dos olhos, nem tão velozes os movimentos do intelecto.

22.  Mas, cada um deles em rapidez perde em comparação com o poder divino; bem mais que o mais lento dos animais perde, já não digo em comparação com as aves, ou com o vento ou com o movimento dos céus, mas até mesmo com o nosso espírito. De que duração temporal poderia, então, necessitar aquele que “sustenta o universo com o poder de sua palavra” (Hb 1,3)? Ele não age corporalmente, nem precisou do trabalho das mãos para criar, mas a natureza das criaturas obedece à sua vontade a agir sem violência. Assim, disse Judite: “O que pensaste aconteceu. O que determinaste se apresentou” (Jd 9,4).

23.  Mas agora, no intuito de evitar que, diante da grandeza destas operações, sejamos levados a imaginar que o Senhor é sem Princípio, o que afirma aquele que é a Vida em si? “Eu vivo pelo Pai” (Jo 6,57). E o que assevera aquele que é o Poder de Deus? “O Filho, por si mesmo, nada pode fazer” (Jo 5,19). E a Sabedoria absoluta? “O Pai me prescreveu o que dizer e de que falar” ((Jo 12,49). Por meio de tudo isso, leva-nos a entender o Pai, atribuindo a este as maravilhas por ele operadas, a fim de que por meio dele conheçamos o Pai.

24.  Não quer isto dizer que se  divisa o Pai, através das diferenças percebidas nas obras, como se estas diferenças manifestassem que ele possui uma atuação própria e distinta, uma vez que tudo o que o Pai faz, o Filho o faz igualmente (Jo 5,19). Entretanto, por causa da glória que lhe é prestada pelo Filho, ao Pai se dirige a admiração das criaturas, não somente devido à grandeza das obras, mas também por causa do próprio autor delas, sendo exaltado e louvado por aqueles que o reconhecem como Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, “por quem e para quem todas as coisas existem” (Hb 2,10).

25.  Por isso, diz o Senhor: “Tudo o que é meu é teu”, tendo em vista ao Pai atribuir o Princípio das criaturas. E o que “é teu é meu”, para mostrar que deste Princípio ele recebe a causalidade criadora. Ele não tem necessidade de auxílio para sua atuação, nem é encarregado em cada obra, por comissão particular, de exercer aquele múnus; pois isso seria função servil, inteiramente contra a dignidade divina.

26.  Ao invés, o Verbo cumulado dos bens do Pai, resplendor do Pai, tudo faz à semelhança daquele que o gerou. Se, quanto à essência, não há entre eles diferença alguma, também não existe diferença no poder. Efetivamente, quando o poder é igual, também o é inteiramente a operação. Cristo, de fato, é o Poder de Deus e a Sabedoria de Deus (1Cor 1,24).

27.  E assim, tudo foi feito por ele, tudo foi criado por ele e para ele (Cl 1,16). Ele não executa um múnus instrumental ou servil, mas, ao criar, cumpre a vontade paterna.

Capítulo 20.

28.  Por isso, quando ele declara: “Não falei por mim mesmo”, e ainda: “O que eu digo, portanto, eu o digo como o Pai me disse” (Jo 12,49-50), e também: “A palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou” (Jo 14,24), e em outra parte: “Faço como o Pai me ordenou” (Jo 14,31), não fala como se fosse privado de liberdade, ou estivesse desorientado ou esperasse um sinal convencional para empregar tais palavras, mas revela  unidade e indivisibilidade de seu plano com o do Pai. Quanto ao mandamento mencionado acima não se trata de palavra de ordem emitida pelo órgão da voz, anunciando ao Filho, como a subordinado, o que ele teria de fazer, mas entendamos de modo digno de Deus a transmissão da vontade que eternamente o Pai faz ao Filho, à maneira de figura refletida num espelho.

29.  Efetivamente, “o Pai ama o Filho e lhe revela tudo” (Jo 5,20). Por conseguinte, tudo quanto possui o Pai é também do Filho, não, porém, por pequenos acréscimos, mas está presente todo de uma vez. Com efeito, entre os homens, aquele que conhece bem seu ofício, e tem grande experiência devido a um longo exercício, no entanto não pode por si mesmo fazer obra somente de acordo com os princípios do conhecimento que tem em si; quanto àquele que é a Sabedoria de Deus, o Demiurgo da criação, aquele que é sempre perfeito, o sábio que de ninguém aprendeu, o poder de Deus, em quem se acham escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Cl 2,3), não precisa de normas minuciosas, que lhe determinariam forma e medida nas ações.

30.  Tu, talvez, envolvido na vaidade de teus pensamentos, queiras abrir uma escola. Farás com que um se assente no lugar do mestre; e a outro, como aluno inexperiente, porás a seu lado. Consequentemente, com as sucessivas aulas, o discípulo haverá de adquirir a sabedoria e adiantar-se para a perfeição.

31.  Em vista disso, se souberes ao menos ser coerente nos raciocínios, descobrirás que o Filho está sempre aprendendo, e jamais atinge o termo, por ser a Sabedoria infinita do Pai, e ser impossível alcançar o fim do infinito. Por conseguinte, não conceder que o Filho tudo possui desde o começo seria negar que possa atingir a perfeição. Envergonho-me, contudo, dessas cogitações pusilânimes, às quais me deixei levar pela sequência do discurso. Retomemos, portanto, uma exposição mais elevada.

Capítulo 21.

32.  “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Não viu as feições, nem a forma do Pai; de fato, a natureza divina é isenta de composição. Contempla, contudo, semelhante e igual, ou antes a mesma, no Pai e no Filho, a benevolência idêntica à essência. O que significa: “Fez-se obediente” (Fl 2,8) e: “Entregou-o por todos nós” (Rm 8,32)? Significa que provém do Pai a operação benevolente do Filho em favor dos homens. Ouve também a seguinte passagem: “Cristo nos remiu da maldição da Lei” (Gl 3,13); e: “Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8).

33.  Presta cuidadosa atenção nas palavras do Senhor, que, ao instruir-nos sobre o Pai, soube falar com termos autoritários de soberano: “Eu quero, sê purificado” (Mt 8,3); e: “Silêncio! Quieto!”; igualmente: “E eu vos digo”; e ainda: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno” (Mc 4,39; Mc 9,25) etc., a fim de que aprendamos por estas últimas palavras a conhecer nosso Soberano e Autor e através das primeiras, o Pai de nosso Autor e Soberano. Assim, se manifesta inteiramente a verdade da doutrina. Se o Pai cria por meio do Filho, isso não representa imperfeição na atividade criadora do Pai, nem fraqueza na atuação do Filho, mas demonstra a unidade da vontade. Desta forma, a locução por quem atesta a causa principal, mas não deprecia a causa eficiente.

9. Noções bem definidas do Espírito, segundo o ensinamento das Escrituras

Capítulo 22.

34.  Examinemos agora quais as noções geralmente aceitas sobre o Espírito, as que coletamos das Escrituras e as que nos foram transmitidas pela Tradição oral dos Padres. Em primeiro lugar, ao ouvir as denominações do Espírito, não se eleva a mente, não ergue os pensamentos para a mais sublime natureza? Ele recebe os nomes de “Espírito de Deus”, “o Espírito da verdade, que vem do Pai” (Jo 15,26), “Espírito reto”, “Espírito principal” (Sl 50,12-14).

35.  Mas, Espírito Santo é especialmente seu nome próprio, pois ele é o ser mais incorpóreo, inteiramente imaterial e simples. Por esta razão, o próprio Senhor ensinou à samaritana que acreditava necessário adorar a Deus em determinado lugar, que o ser incorpóreo é incircunscrito, dizendo: “Deus é espírito” (Jo 4,24). Por isso, quem ouve falar em Espírito não deve imaginar uma natureza circunscrita, ou sujeita a mudança e alteração, em tudo semelhante a uma criatura.

36.  Mas, quem eleva o pensamento ao ser mais sublime, necessariamente terá em mente uma substância inteligente, de poder infinito, grandeza ilimitada, fora do tempo e dos séculos, em nada ciosa de seus próprios bens. Para ele voltam-se todos os que anseiam pela santificação, para ele se dirigem os anelos dos que vivem segundo a virtude, quantos recebem o refrigério de seu sopro, e são amparados para alcançar o fim adequado a sua natureza.

37.  Aperfeiçoa os outros, enquanto ele mesmo de nada carece. Não é um ser vivo que precise se refazer; ao contrário é provedor (choregón) de vida. Não aumenta progressivamente, mas logo possui a plenitude; é consistente por si mesmo, está em toda a parte. Origem da santificação, luz inteligível, concede por si mesmo certa iluminação a toda faculdade racional, a fim de que descubra a verdade. Inacessível por natureza, faz-se, contudo, inteligível, por bondade. Seu poder enche todas as coisas, mas somente se comunica aos que são dignos, não, porém, numa só medida, mas opera proporcionalmente à fé.

38.  Simples por essência, seu poder, contudo, se manifesta em milagres variados (Hb 2,4). Está presente todo inteiro a cada ser, embora todo inteiro em toda parte. Impassível na partilha, indefectível na comunicação, à semelhança do raio solar, que agracia, como se fosse o único, àquele ao qual está presente, enquanto ilumina a terra, o mar, infiltrando-se também no ar.

39.  De igual modo, o Espírito está presente, como se fosse o único, a cada um dos que são capazes de acolhê-lo; permanece intacto e comunica graça suficiente para todos. Os participantes da graça do Espírito dela usufruem quanto é possível a sua natureza, não, porém, à medida que ele pode transmiti-la.

Capítulo 23.

40.  A íntima união do Espírito com a alma não é uma proximidade local. Como seria possível haver aproximação corporal daquele que é Incorpóreo? Achar-se-ia, ao invés, na renúncia às paixões, que, devido ao amor que a alma dedica à carne, assaltam-na, afastando-a da intimidade com Deus.

41.  Somente podemos nos aproximar do Paráclito, se nos purificarmos da deformidade proveniente dos vícios e recuperarmos a beleza própria da nossa natureza, restituindo assim à imagem do rei, através da purificação, sua primitiva forma. O Paráclito, porém, como um sol, haverá de penetrar nos teus olhos purificados, e mostrar-te em si a Imagem do ser Invisível.

42.  Na feliz contemplação da Imagem, verás a inefável beleza do modelo original (arquétipos). Por meio dele, elevam-se os corações, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem chegam à perfeição. Ele é que, iluminando os que se purificaram de toda mácula, transforma-os em espirituais, através da comunhão com ele. E como os corpos claros e diáfanos, atingidos por um raio luminoso, tornam-se brilhantes e emitem outro fulgor, assim as almas portadoras do Espírito, iluminadas por ele, tornam-se elas também espirituais e propagam a graça.

43.  Daí as consequências: a previsão do futuro, a inteligência dos mistérios, a percepção das coisas ocultas, a distribuição dos carismas, a cidadania celeste, o canto em coro com os anjos, a alegria interminável, a habitação junto de Deus, a semelhança com Deus, enfim o anelo supremo: tornar-se Deus. De fato, estes são respeito do Espírito Santo, para mencionar apenas alguns, os nossos conceitos concernentes a sua grandeza, dignidade e obras, aprendidos das palavras do mesmo Espírito. Vamos agora ao encontro dos contraditores, tentando refutar as objeções extraídas de uma pseudociência e por eles propostas.

10. Contra os que afirmam não ser lícito pôr o Espírito Santo na mesma ordem que o

Pai e o Filho

Capítulo 24.

44.  Não se deve, dizem eles, pôr o Espírito Santo na mesma ordem que o Pai e o Filho, por causa da diferença de natureza e do grau inferior de dignidade. É justo responder com as palavras dos apóstolos: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At 5,29). Se, porém, o Senhor claramente, na instituição do batismo da salvação, ordenou aos discípulos que batizassem todos os povos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19), e não considerou indigna de si a comunhão com este Espírito, quando os adversários afirmam que não se deve colocá-lo na mesma ordem que o Pai e o Filho, como não ver nisso uma aberta oposição ao mandamento de Deus?

45.  Se, ao invés, conforme dizem eles, colocá-lo na mesma ordem não representa estar em comunhão ou união, respondam-nos, então, como julgam lícita sua opinião, e se conhecem maneira mais apropriada de designar a união. Seja como for, se o próprio Senhor não uniu o Espírito Santo a si e ao Pai no batismo, tampouco venham nos acusar de os unir.

46.  Efetivamente, nós nada pensamos, nem afirmamos divergindo dele. Mas, se ali o Espírito se acha unido ao Pai e ao Filho, e se ninguém é tão ousado para assegurar outra coisa, não nos censurem por seguirmos as Escrituras.

Capítulo 25.

47.  Mas, estão prontos os preparativos da guerra contra nós. Os espíritos estão aguçados contra nós, e as línguas caluniadoras lançam suas flechas com maior intensidade do que a empregada ao apedrejar Estêvão aqueles que odiavam os cristãos. Mas, não se escondam! Efetivamente, pretexto para a guerra somos nós, mas na verdade o alvo em mira está mais alto.

48.  Contra nós, de fato, se preparam os mecanismos de guerra e as ciladas, e estimulam-se mutuamente ao esforço de dar cada qual o que possui em experiência e coragem. Mas, é a fé que é combatida. Meta comum de todos os adversários, inimigos da sã doutrina, é abalar o fundamento da fé em Cristo, arrasando, fazendo desaparecer a Tradição apostólica. Por isso, eles, aparentando ser detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os testemunhos orais dos Padres.

49.  Mas não atenuaremos a verdade, nem por temor trairemos nossa aliança. Ora, se o Senhor nos transmitiu como doutrina obrigatória e salvífica que o Espírito Santo está na mesma ordem que o Pai, e eles opinam que assim não é e que importa separá-los, romper esta coordenação, e trasladar o Espírito ao nível de uma natureza servil, não é verdade que eles dão maior importância a sua blasfêmia do que às normas de seu Senhor? Em consequência, rejeitemos qualquer gosto de polêmica, e examinemos juntos o que temos em mãos.

Capítulo 26.

50.  Como somos cristãos? Pela fé, será a resposta. De que maneira seremos salvos? Pela regeneração, pela graça do batismo. Como poderia ser de outra forma? Cientes da salvação operada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, abandonaríamos o modelo de salvação que recebemos? Sem dúvida, seria motivo de profundos gemidos encontrarmo-nos agora mais longe da salvação do que quando acreditamos (Rm 13,11), se agora rejeitarmos o que então aceitamos.

51.  Igual prejuízo seria partir sem batismo, ou receber um batismo falho em algo de tradicional. Relativamente à profissão de fé, entregue na primeira fase da entrada, quando, renunciando aos ídolos, aderimos ao Deus vivo, se alguém não a guarda sempre, e não a segura durante toda a vida, qual sólida salvaguarda faz-se estranho às promessas de Deus, opondo-se ao documento escrito de próprio punho, entregue por ocasião da profissão de fé. Efetivamente, se o batismo é para mim o início da vida e o primeiro dos dias é o da regeneração, consequentemente a palavra mais preciosa é a que foi proferida quando me foi conferida a graça da filiação adotiva.

52.  Poderia trair, seduzido por suas pretendidas razões, esta transmissão (parádosis = tradição) que me introduziu na luz, concedeu-me a graça do conhecimento de Deus, pelo qual, de pecador inimigo fui transformado em filho de Deus?

53.  Bem ao contrário, suplico para mim o dom de partir com esta profissão para junto do Senhor, e a eles, entretanto, exorto-os a conservar uma fé íntegra até o dia de Cristo, a crer que o Espírito é inseparável do Pai e do Filho e a seguir exatamente o ensinamento do batismo, na confissão da fé e na recitação das doxologias.



Jesus Cristo - Senhor

Com efeito, ela sabe proferir o nome que está acima de todo nome, o do Filho, verdadeiro Filho, Deus Unigênito, Poder de Deus, Sabedoria, Verbo. Ademais, devido às múltiplas formas da graça em relação a nós, graça concedida aos suplicantes por bondade, conforme a sua multiforme sabedoria (cf. Ef 3,10), a Escritura designa o Senhor por muitas outras denominações. Ora ela o denomina pastor, ora rei; ora ainda médico, esposo, caminho, porta, fonte, pão, machado, pedra. Estes nomes, porém, não designam a natureza, mas, como já disse, a multíplice energia que ele transmite, por misericórdia para com a sua própria obra, àqueles que a pedem, em suas particulares necessidades. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 17)

 

 

Jesus Cristo – Ovelha

Quanto àqueles, porém, que sob sua autoridade se refugiam, dispostos a partilhar o que têm, e são resignados, Cristo os chama de ovelhas e confessa servir-lhes de pastor, pois elas escutam sua voz, sem prestar atenção em doutrinas estranhas. Declara: “Minhas ovelhas escutam minha voz” (Jo 10,27). SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 17)

 

 

Jesus – Rei e Porta

Ele é rei dos que já alcançaram as culminâncias, e precisam de chefe legítimo. Igualmente, é porta, porque conduz às práticas de zelo, conforme os seus retos mandamentos e ainda apascenta em segurança os que se refugiam no bem do conhecimento (gnósis), por meio da fé que nele depositam. Pois, “quem entrar por mim, entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9). SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 17)

 

 

Jesus – A Pedra

Chama -se, contudo, “pedra” (1Cor 10,4), por ser para os fiéis abrigo forte, inabalável, mais sólido que qualquer fortificação. Nesses casos, quando se chama Cristo de porta ou caminho, usar por quem é preferível e mais expressivo. Como Deus e Filho, possui com o Pai, junto com ele, a mesma glória, porque “ao nome de Jesus, se dobrará todo joelho dos seres celestes, terrestres e dos que vivem sob a terra, e, para glória de Deus Pai, toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2,10-11). SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 17)

 

Jesus – o médico

Por ele, contudo, é que vem às almas toda espécie de auxílio. A cada uma das formas de sua particular solicitude corresponde determinada denominação. Quando se une a uma alma irrepreensível, sem ruga, nem mancha (Ef 5,27), qual virgem pura, recebe o nome de esposo. Quando acolhe uma alma ferida pelos golpes malignos do diabo, e ele a cura da grave doença dos pecados, denomina-se médico. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 18)

 

 

 

 

 

Jesus – o caminho

Igualmente, se damos ao Senhor o nome de caminho, erguemo-nos a uma concepção mais elevada do que a comum. Esta consistiria no contínuo e bem ordenado progresso para a perfeição, por meio das obras justas e da iluminação do conhecimento; de fato, sempre vamos avante, tendendo para o que resta na frente (Fl 3,13), indo ao encontro do fim bem-aventurado, o conhecimento de Deus.  O Senhor o concede, por si mesmo, aos que nele acreditaram. É nosso Senhor realmente ótimo caminho, certo e sem desvios. Conduz ao bem verdadeiro, ao Pai. Conforme ele mesmo disse: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). Por conseguinte, subimos até Deus por meio do Filho. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 18)

 

 

 

Jesus – nosso auxílio

Em seguida, vamos dizer qual é, por sua vez, o conjunto dos bens que provém do Pai pelo Filho. Uma vez que toda natureza na criação visível ou no mundo inteligível precisa da providência de Deus para persistir, o Verbo Criador (Demiurgo), Deus Unigênito, concede auxílio, segundo as necessidades de cada um. Seus benefícios são múltiplos e diversos, conforme as diferenças dos necessitados, adaptados a cada qual de acordo com o que precisam. Ilumina os que se encontram presos às trevas da ignorância; é, por conseguinte, luz verdadeira. Julga, retribuindo dignamente as boas obras; por isso, é justo juiz. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 19)

 

 

Jesus – nos apascenta

Ele tudo faz por seu contato poderoso, agindo por voluntária benevolência. Apascenta, ilumina, nutre, conduz no caminho, cura, ressuscita. Dá existência ao que não existe, e sustenta o que criou. É deste modo que os bens chegam até nós, de Deus, por meio do Filho, que os produz cada qual por si, com rapidez maior do que se possa dizer. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 19)

 

 

Espírito Santo

Mas, Espírito Santo é especialmente seu nome próprio, pois ele é o ser mais incorpóreo, inteiramente imaterial e simples. ...Mas, quem eleva o pensamento ao ser mais sublime, necessariamente terá em mente uma substância inteligente, de poder infinito, grandeza ilimitada, fora do tempo e dos séculos, em nada ciosa de seus próprios bens. Para ele voltam-se todos os que anseiam pela santificação, para ele se dirigem os anelos dos que vivem segundo a virtude, quantos recebem o refrigério de seu sopro, e são amparados para alcançar o fim adequado a sua natureza. Aperfeiçoa os outros, enquanto ele mesmo de nada carece. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 22)

 

 

 

 

 

 

 

Espírito Santo

De igual modo, o Espírito está presente, como se fosse o único, a cada um dos que são capazes de acolhê-lo; permanece intacto e comunica graça suficiente para todos. Os participantes da graça do Espírito dela usufruem quanto é possível a sua natureza, não, porém, à medida que ele pode transmiti-la. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 22)

 

 

Espírito Santo – Santificação

Somente podemos nos aproximar do Paráclito, se nos purificarmos da deformidade proveniente dos vícios e recuperarmos a beleza própria da nossa natureza, restituindo assim à imagem do rei, através da purificação, sua primitiva forma. O Paráclito, porém, como um sol, haverá de penetrar nos teus olhos purificados, e mostrar-te em si a Imagem do ser Invisível.  SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 23)

 

Espírito Santo

Na feliz contemplação da Imagem, verás a inefável beleza do modelo original (arquétipos). Por meio dele, elevam-se os corações, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem chegam à perfeição. Ele é que, iluminando os que se purificaram de toda mácula, transforma-os em espirituais, através da comunhão com ele. E como os corpos claros e diáfanos, atingidos por um raio luminoso, tornam-se brilhantes e emitem outro fulgor, assim as almas portadoras do Espírito, iluminadas por ele, tornam-se elas também espirituais e propagam a graça.  SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 23)

 

Batismo

Como somos cristãos? Pela fé, será a resposta. De que maneira seremos salvos? Pela regeneração, pela graça do batismo. Como poderia ser de outra forma? Cientes da salvação operada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, abandonaríamos o modelo de salvação que recebemos? . SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 26)

 

Batismo

Efetivamente, se o batismo é para mim o início da vida e o primeiro dos dias é o da regeneração, consequentemente a palavra mais preciosa é a que foi proferida quando me foi conferida a graça da filiação adotiva. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA. (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 26)

 

 

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