segunda-feira, 16 de julho de 2018

56 - Teófilo de Antioquia (†181) Segundo Livro a Autólico (Capítulo 36- 38)


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56
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 36- 38)

Capítulo XXXVI – Concordância com a Sibila
Quanto à Sibila, que foi profetisa entre os gregos e demais nações, começa a sua profecia recriminando o gênero humano: “Homens mortais e de carne, que não sois nada, como vos apressais a vos exaltar, sem olhar para o fim da vida, e não tremeis,. nem temeis a Deus, que vos vigia, conhecedor altíssimo, que tudo vê, testemunha de tudo, criador que tudo alimenta, que infundiu em tudo doce alento e que se fez guia de todos os mortais?
Único Deus, que impera sozinho, máximo e não criado, onipotente, invisível, e o único que tudo vê, embora não seja visto por nenhum olho de carne. Com efeito, que carne pode ver com os olhos o celeste e verdadeiro, o Deus imortal, que habita no eixo do mundo? Os homens, nascidos mortais, homens apenas em seus ossos, veias e carnes, não podem olhar de frente sequer os raios do sol.
Reverenciai àquele que é único, ao guia do mundo, o único que foi para o eterno e desde o eterno. Nascido de si mesmo, incriado, que tudo domina para sempre, que distribui julgamento a todos os mortais em luz comum.
Recebereis O justo pagamento do vosso mau querer, pois deixando de glorificar ao Deus verdadeiro, à fonte perene e de oferecer-lhe sagradas hecatombes, sacrificastes aos demônios do Hades.
Caminhais no orgulho e na loucura e, abandonando o caminho direito e reto, vos haveis desviado e andais errantes entre os espinhos e estacas. Vãos mortais, cessai já de errar entre sombras através da negra noite escura, abandonai a sombra da noite e recebei agora a luz. Este é aquele que a todos se manifesta, ele não erra. Vinde, não sigais a sombra e as trevas para sempre. Olhai: sobre tudo brilha a doce luz do sol. Conhecei e coloca i sabedoria em vossos peitos: existe um único Deus que nos envia chuvas, ventos, terremotos e relâmpagos, fomes, pestes e lutos fúnebres, neve e geada… Para que citar tudo? Ele guia o céu e domina a terra; unicamente ele existe.”
E disse contra os que são chamados deuses gerados: “Se todo o gerado se corrompe inteiramente, Deus não pode ter sido formado dos músculos do homem e de matriz. Unicamente Deus, porém, se ergue acima de tudo, ele que fez o céu, o sol, as estrelas e a lua, a terra fértil em frutos, as ondas infladas do ponto, as altas montanhas e as correntes perenes das fontes.
Ele criou a incontável multidão de peixes dos rios, alimenta também os répteis, que se arrastam sobre a terra, e as aves variadas, de voz sonora e gorgeios, com plumagem dourada, de canto claro, que turbam o ar com suas asas.
Colocou a multidão de feras selvagens nas florestas da montanha, submeteu a nós mortais todos os animais e para todos fez um guia por sua mão formado, submetendo ao homem variedade incompreensível de coisas. De fato, qual carne pode compreendê-Ias uma a uma? Somente pode conhecê-Ias quem no princípio as fez: o Imortal, o Criador e Eterno, que habita o éter, que oferece aos bons o bom e pródigo pagamento, e aos maus e injustos reserva sua cólera e ira, guerra e peste, dores e lágrimas.
Homens, por que, inutilmente envaidecidos, vos desenraizais? Envergonhai-vos de elevar gatos e insetos à condição de deuses! Não é loucura e raiva que tira o bom-senso, existirem deuses que roubam os pratos e carregam as panelas?
Ao invés de morar no céu dourado e florido, é visto comido pelo caruncho e coberto de espessas teias de aranha.
Insensatos, adorais serpentes, gatos e cães, e cultuais aves, répteis e feras do campo, estátuas de madeira, imagens manufaturadas e montes de pedras nos caminhos, quejá é vergonhoso apenas nomear. Esses são deuses enganosos dos homens sem discernimento, de cuja boca veneno mortal se derrama; aquele Deus, porém, que tem a vida e a luz imortal e perene derrama sobre os homens prazer mais doce do que o mel… Somente diante dele deve-se inclinar a fronte, entrando nas sendas dos séculos piedosos.
Tendo abandonado tudo isso, essa taça cheia de justiça, vinho puro, abundante, plena sem mistura alguma, a arrastastes em vossas loucuras, todos loucos de espírito, e mesmo assim não quereis despertar, reaver mente sensata e conhecer a Deus rei, aquele que tudo vê. Por isso, virá sobre vós uma chama de fogo abrasador e sereis queimados em seu ardor para sempre, o dia todo, envergonhados de vossos ídolos enganosos e inúteis; mas os que honram ao Deus verdadeiro e perene, herdarão vida para sempre, habitando junto ao jardim florido do paraíso e comendo o doce pão do céu estrelado.”
É evidente que isso é verdadeiro, proveitoso, justo e digno de ser amado por todos os homens; também é evidente que aqueles que praticam o mal serão necessariamente castigados, conforme mereçam as suas ações.

Capítulo XXXVII – Concordância com textos poéticos
Alguns poetas chegaram a falar a mesma coisa, como que emitindo oráculos contra si mesmos e testemunhando contra aqueles que fazem o mal, dizendo que serão castigados. Ésquilo diz: “Aquele que faz, também deve sofrer”. Píndaro diz também: “Pois aquele que fez algo convém que também sofra.” Igualmente Eurípides: “Suporta o que sofrer, pois fazendo gozaste. É uma lei maltratar o inimigo se o pegas”. Ele mesmo diz novamente: “Causar danos aos inimigos: creio que isso é ser homem.” De modo semelhante Arquíloco: “Eu conheço uma grande coisa: àquele que me fez algum mal, responder com um mal maior.”
Sobre o fato de que Deus tudo vê e nada lhe é oculto, mas que, sendo misericordioso, espera pelo momento de julgar, Dioniso diz: “O olho da Justiça olha com rosto tranqüilo, mas vê tudo ao mesmo tempo.”
Que deverá haver julgamento e que os malvados se tornarão repentinamente presa dos males, Ésquilo também o deu a entender, dizendo: “A desgraça chega até os mortais com pés velozes, conforme o pecado de quem ultrapassa o lícito. Vês ajustiça silenciosa e invisível para aquele que dorme, que caminha, que se assenta. Cedo ou tarde, ela te alcança na encruzilhada. Não esconde a noite para aquele que realiza o mal. Ao fazer alguma coisa de mal, pensa que alguém a está vendo.” E Simônides também diz: “Não existe desgraça inesperada para os homens; em pouco tempo Deus transtorna tudo”. De novo Eurípides: “Nunca se deve considerar como coisa sólida a fortuna do homem mau, nem a felicidade excessiva, nem a raça dos injustos, pois o tempo, que não nasceu de ninguém, manifesta as maldades dos homens.” Ainda Eurípides: “A divindade não é sem inteligência, mas pode distinguir os juramentos falsos e os que a eles se obrigam.” E Sófocles: “Se agiste mal, também deves sofrer o mal.”
Que Deus examinará todo juramento injusto e qualquer outro pecado, os poetas quase o disseram, assim como falaram, querendo ou sem querer, coisas concordes com os profetas sobre a conflagração do mundo, apesar de serem muito posteriores a estes e de terem tirado tudo isso da lei e dos profetas.

Capítulo XXXVIII – Concordância com textos poéticos (cont.)
Não importa se foram anteriores ou posteriores. O importante é que falaram de acordo com os profetas. Sobre a conflagração, por exemplo, o profeta Malaquias predisse: “Eis que chega o dia do Senhor como fornalha ardente e abrasará todos os ímpios.” E Isaías: “A ira do Senhor virá como granizo que cai com violência e como água no vale que arrasta tudo.”
Portanto, a Sibila, os outros profetas, e até os filósofos e poetas falaram claramente sobre a justiça, sobre o julgamento e o castigo. Falaram também sobre a providência, que Deus cuida de nós não apenas enquanto vivemos, mas também depois de mortos, embora o dissessem contra a vontade, convencidos que foram pela própria verdade. Entre os profetas, Salomão disse sobre os mortos: “A carne será curada e os ossos serão cuidados.” E o próprio Davi: “Meus ossos humilhados se regozijarão.” De acordo com eles, disse Tímocles: “Para os mortos, a misericórdia é o Deus benigno.”
Os escritores que falaram sobre a multidão dos deuses acabaram por admitir a unicidade ou monarquia de Deus; aqueles que afirmaram a não-providência, depois falaram sobre a providência; aqueles que negaram o julgamento, mais tarde o afirmaram; aqueles que negaram a sensação após à morte, depois a confessaram. Homero, por exemplo, diz em uma passagem: “A alma, como um sonho, alçou vôo e partiu.” Em outra passagem: “A alma, saindo dos membros, voou para o Hades.” Ainda: “Enterra-me quanto antes, pois quero atravessar as portas do Hades.”
Creio que sabes perfeitamente como falaram os outros autores que leste. Aquele que busca a sabedoria de Deus e que lhe agrada pela fé, justiça e boas obras entenderá tudo isso. Com efeito, um dos profetas dos quais falamos, chamado Oséias, diz o seguinte: “Quem é sábio e conhecerá estas coisas, inteligente e as entenderá? Porque os caminhos do Senhor são retos e os justos entrarão neles, mas os ímpios cairão de fraqueza nesses caminhos.”
É preciso que quem ama o saber, aprenda. Portanto, procura ter conversas mais freqüentes, para que, ouvindo de viva voz, aprendas com exatidão a verdade.
O que desejo destacar no texto?
Como este texto serviu para a minha espiritualidade?


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