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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 36- 38)
Capítulo XXXVI – Concordância com
a Sibila
Quanto
à Sibila, que foi profetisa entre os gregos e demais nações, começa a sua
profecia recriminando o gênero humano: “Homens mortais e de carne, que não sois
nada, como vos apressais a vos exaltar, sem olhar para o fim da vida, e não
tremeis,. nem temeis a Deus, que vos vigia, conhecedor altíssimo, que tudo vê,
testemunha de tudo, criador que tudo alimenta, que infundiu em tudo doce alento
e que se fez guia de todos os mortais?
Único
Deus, que impera sozinho, máximo e não criado, onipotente, invisível, e o único
que tudo vê, embora não seja visto por nenhum olho de carne. Com efeito, que
carne pode ver com os olhos o celeste e verdadeiro, o Deus imortal, que habita
no eixo do mundo? Os homens, nascidos mortais, homens apenas em seus ossos,
veias e carnes, não podem olhar de frente sequer os raios do sol.
Reverenciai
àquele que é único, ao guia do mundo, o único que foi para o eterno e desde o
eterno. Nascido de si mesmo, incriado, que tudo domina para sempre, que
distribui julgamento a todos os mortais em luz comum.
Recebereis O justo pagamento do vosso
mau querer, pois deixando de glorificar ao Deus verdadeiro, à fonte perene e de
oferecer-lhe sagradas hecatombes, sacrificastes aos demônios do Hades.
Caminhais
no orgulho e na loucura e, abandonando o caminho direito e reto, vos haveis
desviado e andais errantes entre os espinhos e estacas. Vãos mortais, cessai já
de errar entre sombras através da negra noite escura, abandonai a sombra da
noite e recebei agora a luz. Este é aquele que a todos se manifesta, ele não
erra. Vinde, não sigais a sombra e as trevas para sempre. Olhai: sobre tudo
brilha a doce luz do sol. Conhecei e coloca i sabedoria em vossos peitos:
existe um único Deus que nos envia chuvas, ventos, terremotos e relâmpagos,
fomes, pestes e lutos fúnebres, neve e geada… Para que citar tudo? Ele guia o
céu e domina a terra; unicamente ele existe.”
E
disse contra os que são chamados deuses gerados: “Se todo o gerado se corrompe
inteiramente, Deus não pode ter sido formado dos músculos do homem e de matriz.
Unicamente Deus, porém, se ergue acima de tudo, ele que fez o céu, o sol, as
estrelas e a lua, a terra fértil em frutos, as ondas infladas do ponto, as
altas montanhas e as correntes perenes das fontes.
Ele
criou a incontável multidão de peixes dos rios, alimenta também os répteis, que
se arrastam sobre a terra, e as aves variadas, de voz sonora e gorgeios, com
plumagem dourada, de canto claro, que turbam o ar com suas asas.
Colocou
a multidão de feras selvagens nas florestas da montanha, submeteu a nós mortais
todos os animais e para todos fez um guia por sua mão formado, submetendo ao
homem variedade incompreensível de coisas. De fato, qual carne pode
compreendê-Ias uma a uma? Somente pode conhecê-Ias quem no princípio as fez: o
Imortal, o Criador e Eterno, que habita o éter, que oferece aos bons o bom e
pródigo pagamento, e aos maus e injustos reserva sua cólera e ira, guerra e
peste, dores e lágrimas.
Homens,
por que, inutilmente envaidecidos, vos desenraizais? Envergonhai-vos de elevar
gatos e insetos à condição de deuses! Não é loucura e raiva que tira o
bom-senso, existirem deuses que roubam os pratos e carregam as panelas?
Ao
invés de morar no céu dourado e florido, é visto comido pelo caruncho e coberto
de espessas teias de aranha.
Insensatos,
adorais serpentes, gatos e cães, e cultuais aves, répteis e feras do campo,
estátuas de madeira, imagens manufaturadas e montes de pedras nos caminhos,
quejá é vergonhoso apenas nomear. Esses são deuses enganosos dos homens sem
discernimento, de cuja boca veneno mortal se derrama; aquele Deus, porém, que
tem a vida e a luz imortal e perene derrama sobre os homens prazer mais doce do
que o mel… Somente diante dele deve-se inclinar a fronte, entrando nas sendas
dos séculos piedosos.
Tendo
abandonado tudo isso, essa taça cheia de justiça, vinho puro, abundante, plena
sem mistura alguma, a arrastastes em vossas loucuras, todos loucos de espírito,
e mesmo assim não quereis despertar, reaver mente sensata e conhecer a Deus
rei, aquele que tudo vê. Por isso, virá sobre vós uma chama de fogo abrasador e
sereis queimados em seu ardor para sempre, o dia todo, envergonhados de vossos
ídolos enganosos e inúteis; mas os que honram ao Deus verdadeiro e perene,
herdarão vida para sempre, habitando junto ao jardim florido do paraíso e
comendo o doce pão do céu estrelado.”
É
evidente que isso é verdadeiro, proveitoso, justo e digno de ser amado por
todos os homens; também é evidente que aqueles que praticam o mal serão
necessariamente castigados, conforme mereçam as suas ações.
Capítulo XXXVII – Concordância
com textos poéticos
Alguns
poetas chegaram a falar a mesma coisa, como que emitindo oráculos contra si
mesmos e testemunhando contra aqueles que fazem o mal, dizendo que serão
castigados. Ésquilo diz: “Aquele que faz, também deve sofrer”. Píndaro diz
também: “Pois aquele que fez algo convém que também sofra.” Igualmente
Eurípides: “Suporta o que sofrer, pois fazendo gozaste. É uma lei maltratar o inimigo
se o pegas”. Ele mesmo diz novamente: “Causar danos aos inimigos: creio que
isso é ser homem.” De modo semelhante Arquíloco: “Eu conheço uma grande coisa:
àquele que me fez algum mal, responder com um mal maior.”
Sobre
o fato de que Deus tudo vê e nada lhe é oculto, mas que, sendo misericordioso,
espera pelo momento de julgar, Dioniso diz: “O olho da Justiça olha com rosto
tranqüilo, mas vê tudo ao mesmo tempo.”
Que
deverá haver julgamento e que os malvados se tornarão repentinamente presa dos
males, Ésquilo também o deu a entender, dizendo: “A desgraça chega até os
mortais com pés velozes, conforme o pecado de quem ultrapassa o lícito. Vês
ajustiça silenciosa e invisível para aquele que dorme, que caminha, que se
assenta. Cedo ou tarde, ela te alcança na encruzilhada. Não esconde a noite
para aquele que realiza o mal. Ao fazer alguma coisa de mal, pensa que alguém a
está vendo.” E Simônides também diz: “Não existe desgraça inesperada para os
homens; em pouco tempo Deus transtorna tudo”. De novo Eurípides: “Nunca se deve
considerar como coisa sólida a fortuna do homem mau, nem a felicidade
excessiva, nem a raça dos injustos, pois o tempo, que não nasceu de ninguém,
manifesta as maldades dos homens.” Ainda Eurípides: “A divindade não é sem
inteligência, mas pode distinguir os juramentos falsos e os que a eles se
obrigam.” E Sófocles: “Se agiste mal, também deves sofrer o mal.”
Que Deus examinará todo juramento
injusto e qualquer outro pecado, os poetas quase o disseram, assim como
falaram, querendo ou sem querer, coisas concordes com os profetas sobre a
conflagração do mundo, apesar de serem muito posteriores a estes e de terem
tirado tudo isso da lei e dos profetas.
Capítulo XXXVIII – Concordância
com textos poéticos (cont.)
Não
importa se foram anteriores ou posteriores. O importante é que falaram de
acordo com os profetas. Sobre a conflagração, por exemplo, o profeta Malaquias
predisse: “Eis que chega o dia do Senhor como fornalha ardente e abrasará todos
os ímpios.” E Isaías: “A ira do Senhor virá como granizo que cai com violência
e como água no vale que arrasta tudo.”
Portanto,
a Sibila, os outros profetas, e até os filósofos e poetas falaram claramente
sobre a justiça, sobre o julgamento e o castigo. Falaram também sobre a
providência, que Deus cuida de nós não apenas enquanto vivemos, mas também
depois de mortos, embora o dissessem contra a vontade, convencidos que foram
pela própria verdade. Entre os profetas, Salomão disse sobre os mortos: “A
carne será curada e os ossos serão cuidados.” E o próprio Davi: “Meus ossos
humilhados se regozijarão.” De acordo com eles, disse Tímocles: “Para os
mortos, a misericórdia é o Deus benigno.”
Os
escritores que falaram sobre a multidão dos deuses acabaram por admitir a
unicidade ou monarquia de Deus; aqueles que afirmaram a não-providência, depois
falaram sobre a providência; aqueles que negaram o julgamento, mais tarde o
afirmaram; aqueles que negaram a sensação após à morte, depois a confessaram.
Homero, por exemplo, diz em uma passagem: “A alma, como um sonho, alçou vôo e
partiu.” Em outra passagem: “A alma, saindo dos membros, voou para o Hades.”
Ainda: “Enterra-me quanto antes, pois quero atravessar as portas do Hades.”
Creio
que sabes perfeitamente como falaram os outros autores que leste. Aquele que
busca a sabedoria de Deus e que lhe agrada pela fé, justiça e boas obras entenderá
tudo isso. Com efeito, um dos profetas dos quais falamos, chamado Oséias, diz o
seguinte: “Quem é sábio e conhecerá estas coisas, inteligente e as entenderá?
Porque os caminhos do Senhor são retos e os justos entrarão neles, mas os
ímpios cairão de fraqueza nesses caminhos.”
É preciso que quem ama o saber, aprenda. Portanto,
procura ter conversas mais freqüentes, para que, ouvindo de viva voz, aprendas
com exatidão a verdade.
O que desejo destacar no texto?
Como este texto serviu para a minha espiritualidade?
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