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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 23 - 27)
Capítulo XXIII – Retomada de
Gênesis sobre a tentação e queda de Adão e Eva (cont.)
Portanto, Deus fez o homem no sexto
dia, mas sua modelação foi manifestada no sétimo dia, quando fez também o
jardim, para que estivesse em lugar melhor e local excelente. Que isso seja
verdade, a própria experiência o demonstra. Com efeito, como não considerar a
dor que as mulheres sofrem no parto e como logo se esquecem disso, para que se
cumpra a palavra de Deus que o gênero humano cresça e se multiplique? O mesmo
se diga da condenação da serpente: como nos parece odiosa, arrastando-se sobre
o seu próprio ventre e comendo terra, para que também isso seja demonstração do
que antes foi dito.
Capítulo XXIV – Retomada de
Gênesis sobre a tentação e queda de Adão e Eva (cont.)
Deus ainda fez brotar da terra toda
árvore formosa à vista e boa para comer. De fato, no princípio havia apenas o
que foi criado no terceiro dia: plantas, sementes e ervas; mas o que havia no
jardim nasceu com extrema beleza e formosura, pois se diz que era uma plantação
plantada pelo próprio Deus. Quanto ao resto das plantas, no mundo há
semelhantes. Todavia, há duas árvores, a da vida e a da ciência, que não
existem em nenhuma terra, mas somente no jardim do Éden. Que o jardim seja
terra e esteja plantado sobre a terra, a Escritura diz: “E Deus plantou um
jardim em Éden, ao Oriente, e colocou aí o homem, e Deus ainda fez brotar da
terra toda árvore formosa à vista e boa para comer.” Pelas expressões “ainda da
terra” e “para o Oriente”, a divina Escritura claramente nos ensina que o
jardim estava sob o nosso céu, assim como o Oriente e a terra. O que se chama
Éden em hebraico é traduzido por “delícias”. A Escritura indica que de Éden
saía um rio para regar o jardim e que a partir daí se dividia em quatro braços.
Dois deles são o Fison e o Geon, que regam as partes orientais, principalmente
o Geon, que rega toda a terra da Etiópia e que dizem aparecer no Egito com o
nome de Nilo. Quanto aos outros dois rios, os chamados Tigre e Eufrates, são
bem conhecidos entre nós, pois correm perto de nossas regiões. Como dissemos acima, Deus colocou o
homem no jardim, para que o cultivasse e o guardasse, e mandou que ele comesse
de todos os frutos, portanto também da árvore da vida, e mandou que só não
experimentasse da árvore da ciência. E Deus o transportou da terra da qual fora
criado para ojardim, dando-lhe ocasião de progresso, para que crescendo e
chegando a ser perfeito e até declarado deus, subisse então até o céu,
possuindo a imortalidade, pois o homem foi criado como ser intermédio, nem
completamente mortal nem absolutamente imortal, mas capaz de uma e outra coisa,
assim como seu lugar, o jardim, se considerarmos a sua beleza, é lugar
intermédio entre o mundo e o céu. Quando a Escritura diz “trabalhar”, não
dá a entender outro trabalho, mas a observância do mandamento de Deus, a fim de
que o homem, violando-o, não se perca, como efetivamente aconteceu quando se
perdeu pelo pecado.
Capítulo XXV – A desobediência
expulsa o homem do paraíso
A própria árvore da ciência era boa e
bom era também o seu fruto. Não produziu, como pensam alguns, a árvore da
morte, pois o que produziu esta foi a desobediência. De fato, em seu fruto não
havia outra coisa senão ciência, e a ciência é boa, desde que seja usada
devidamente. Acontece que, por sua idade, Adão era uma criança e por isso ainda
não podia receber de modo digno a ciência. Quando uma criança nasce, não pode
imediatamente comer pão, mas primeiro se alimenta de leite e depois, conforme
vai crescendo em idade, usa-se alimento sólido. Algo parecido aconteceu com
Adão. Não foi também por inveja, como pensam alguns, que Deus lhe proibiu comer
da ciência.
Além disso, Deus queria prová-lo, para
ver se era obediente ao seu mandamento, e também queria que o homem
permanecesse o mais tempo possível simples e inocente na idade de criança. Com
efeito, é coisa santa, não só diante de Deus, mas também diante dos homens, que
os filhos se submetam aos pais em simplicidade e inocência. Portanto, se os
filhos devem se submeter aos pais, quanto mais o homem a Deus, Pai do universo?
Além do mais, não é normal que as crianças pequenas tenham pensamentos acima de
sua idade, pois assim como o crescimento em idade acontece ordenadamente, do
mesmo modo o entender e o sentir. Por outro lado, quando uma lei manda
abster-se de algo e não se obedece, é evidente que não é a lei que nos traz o
castigo, mas a transgressão e a desobediência. Com efeito, se um pai manda seu
filho abster-se de certas coisas e ele não obedece à ordem do pai, este o
açoita e castiga; contudo, não é por isso que se dirá que tais coisas são os
açoites, mas que é a desobediência que acarreta o castigo ao desobediente.
Assim, foi a desobediência que acarretou ao primeiro homem ser expulso do
jardim do Éden; não porque a árvore da ciência tivesse alguma coisa de mau, mas
foi por causa de sua desobediência que o homem atraiu trabalho, dor, tristeza e
caiu finalmente sob o poder da morte.
Capítulo XXVI – A desobediência
expulsa o homem do paraíso (cont.)
Também foi um grande beneficio feito
por Deus ao homem que este não permanecesse sempre em pecado, mas, de certo
modo, como se tratasse de um desterro, o expulsou do paraíso, para que pagasse
por tempo determinado a pena de seu pecado e, assim educado, fosse novamente
chamado. Tendo sido o homem formado neste mundo, misteriosamente se escreve no
Gênesis como se ele tivesse sido colocado duas vezes no jardim. A primeira vez
se realizou quando foi aí colocado; a outra se realizaria depois da
ressurreição e do julgamento. Podemos ainda dizer mais. Do mesmo modo
como um vaso que depois de fabricado tem algum defeito, é novamente fundido e
modelado para que fique novo e inteiro, assim acontece com o homem através da
morte: de certo modo se quebra, para que na ressurreição surja sadio, isto é,
sem mancha, justo e imortal. Quanto ao fato de Deus chamar e dizer:
“Adão, onde estás?”, Deus não o fez como se não soubesse, mas, por causa de sua
longanimidade, oferecia ao homem ocasião de penitência e confissão.
Capítulo XXVII – O homem é, por
natureza, mortal ou imortal
Poder-se-á dizer: “O homem não foi
criado mortal por natureza?” De jeito nenhum. “Então foi criado imortal?”
Também não dizemos isso. “Então não foi nada?” Também não dizemos isso. O que
afirmamos é que por natureza não foi feito nem mortal, nem imortal. Porque se,
desde o princípio, o tivesse criado imortal, o teria feito deus; por outro
lado, se o tivesse criado mortal, pareceria que Deus é a causa da morte.
Portanto, não o fez mortal, nem imortal, mas, como dissemos antes, capaz de uma
coisa e de outra. Assim, se o homem se inclinasse para a imortalidade,
guardando o mandamento de Deus, receberia de Deus o galardão da imortalidade e
chegaria a ser deus; mas se se voltasse para as coisas da morte, desobedecendo
a Deus, seria a causa da morte para si mesmo, porque Deus fez o homem livre e
senhor de seus atos. O que o homem atraiu sobre si mesmo por sua negligência e
desobediência, agora Deus o presenteou com isso, através de sua benevolência e
misericórdia, contanto que o homem lhe obedeça. Do mesmo modo como o homem,
desobedecendo, atraiu sobre si a morte, assim também, obedecendo à vontade de
Deus que quer, pode adquirir para si a vida eterna. De fato, Deus nos deu lei e
mandamentos santos, e todo aquele que os cumpre pode salvar-se e, tendo
alcançado a ressurreição, herdar a incorruptibilidade.
·
O que desejo destacar no texto?
·
Como este texto serviu para a
minha espiritualidade?
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