segunda-feira, 30 de julho de 2018

58 - Teófilo de Antioquia (†181) Terceiro Livro a Autólico (Capítulo 7 - 11 )



58
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Terceiro Livro a Autólico (Capítulo 7 - 11 )


Capítulo VII – Como levar isso a sério? (cont.)
Com efeito, depois de afirmar a existência dos deuses, em seguida os reduzem a nada. Porque uns afirmaram que se compõem de átomos; outros, que vão dar nos átomos e que eles não têm mais poder do que os homens. Platão, depois de dizer que os deuses existem, quer que eles sejam compostos de matéria. Pitágoras, que se fatigou tanto sobre o problema dos deuses, que viajou de um lado para outro, por fim separa a natureza e diz que é o acaso que rege tudo e que os deuses não se importam em nada com os homens. E o que excogitou o acadêmico Clitômaco para demonstrar o ateísmo! O que falar de Crítias e Protágoras de Abdera, que diz: “Sobre os deuses, não posso dizer se existem, nem manifestar qual seja sua natureza, pois existem muitas coisas que me impedem”. Seria supérfluo citar as teorias do ímpio Evêmero que, atrevendo-se a falar longamente sobre os deuses, termina dizendo que absolutamente não existem, e quer que tudo seja governado pelo puro acaso. Platão, que falou tantas coisas sobre a monarquia de Deus e sobre a alma do homem, afirmando que ela é imortal, depois também não se contradiz, dizendo que as almas emigram para outros homens e que as almas de alguns vão parar até em animais irracionais? Como é que tal doutrina não se mostrará funesta e sacrílega para os que possuem inteligência sã, isto é, que quem foi homem se transforme em lobo, cão, asno ou qualquer outro animal irracional? Encontramos tolices semelhantes naquilo que Pitágoras disse, além de eliminar a providência. Então, em que vamos acreditar? No cômico Filêmon, que diz: “Porque os que honram a Deus têm belas esperanças de salvar-se”, ou nos citados Evêmero, Epicuro, Pitágoras e outros que negam haver religião e destroem a providência? Em todo caso, eis o que Ariston diz sobre Deus e a providência:
“- Coragem! É costume de Deus ajudar aqueles que o merecem e de modo poderoso. De fato, se não existisse uma preeminência estabelecida para os que vivem como se deve, para que serviria a religião?
– Deveria ser assim, mas com muita freqüência vejo aqueles que se decidem viver religiosamente fazê-lo de modo estranho, enquanto os que buscam apenas o próprio interesse levam existência mais honrosa que nós.
– Talvez no presente. Contudo, é preciso olhar mais longe e esperar a transformação de todas as coisas. Esta não será como na opinião funesta e perniciosa à vida, que se fortaleceu entre alguns, segundo a qual tudo é puro ímpeto do acaso e tudo se decide conforme aparece. Sem dúvida, os ímpios julgam que isso traz vantagem para seus próprios interesses. Entretanto, há também uma preeminência para os que vivem santamente e para os ímpios, como convém, um desejo. Porque sem providência não acontece nada”.
Quanto ao que os outros disseram sobre Deus e a providência, e pode-se dizer que são a maioria, pode se ver como suas doutrinas são contraditórias. Uns eliminaram completamente Deus e a providência; outros, ao contrário, admitem Deus e confessam que tudo é governado por uma providência. Portanto, o ouvinte ou leitor inteligente deve prestar acurada atenção ao que se diz, de acordo com Similo: “Comumente se costuma chamar de poetas tanto aqueles que são naturalmente mal dotados e os de excelentes dotes. Dever-se-ia fazer distinção”. A mesma coisa Filêmon: “É insuportável um ouvinte néscio ali sentado. Por sua tolice nunca repreende a si mesmo”. Deve-se, portanto, prestar atenção e compreender o que se diz, examinando anteriormente as afirmações dos filósofos e demais poetas.

Capítulo VIII – Como levar isso a sério? (cont.)
De fato, começam negando a existência dos deuses, depois a confessam e nos contam que eles praticam ações abomináveis. Zeus é o primeiro. Aí estão os poetas que proclamam suas ações em versos melodiosos. Não foi o grande charlatão de Crisipo que mostrou que Hera uniu-se a Zeus por sua impura boca? Para que enumerar as impudicícias da chamada mãe dos deuses, ou de Zeus Lacial, sedento de sangue humano, ou de Atis, o mutilado? Ou aquele Zeus, com o sobrenome de Trágico, que queimou sua própria mão, como dizem, e agora é honrado como deus entre os romanos? Passo em silêncio os templos de Antino e dos outros pretensos deuses. Essas histórias todas são motivo de riso para os homens inteligentes. Na verdade, os que professam tal filosofia são levados ao ateísmo por suas próprias doutrinas, assim como à poligamia e à inversão. Além disso, em seus escritos encontrase a antropofagia, e os primeiros que fizeram tudo isso são os deuses que eles honram.

Capítulo IX – Excelência da moral cristã
Nós, porém, confessamos a Deus, mas um só, o criador, o autor e artífice de todo este mundo, e sabemos que tudo é governado por sua providência, mas somente pela sua. E aprendemos uma lei santa, mas temos como legislador o verdadeiro Deus, que nos ensina a agir justa, religiosa e santamente. Sobre a religião e a piedade ele diz: “Não terás deuses estranhos além de mim. Não fabricarás para ti imagem alguma de tudo o que há acima no céu, nem abaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não os adorarás, nem os servirás, porque eu sou o Senhor teu Deus”. Sobre o agir santamente ele diz: “Honra teu pai e tua mãe, para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra que eu te dou, eu o Senhor Deus”. E sobre a justiça: “Não cometerás adultério. Não matarás. Não roubarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem a sua casa, nem o seu campo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem qualquer animal seu, nem qualquer coisa que pertença ao teu próximo. Não distorcerás o julgamento ao julgar o pobre. Tu te afastarás de toda palavra injusta. Não matarás o inocente e justo. Não absolverás o ímpio, nem aceitarás suborno, pois o suborno cega os olhos dos que vêem e destroem as palavras justas”. O ministro dessa lei santa foi Moisés, também servo de Deus. Foi dada para o mundo inteiro, embora primeiro para os hebreus, também chamados judeus. O rei do Egito os havia reduzido à escravidão, apesar de serem uma descendência justa de homens religiosos e santos, de Abraão, de Isaac e Jacó. Deus, porém, lembrou-se deles e, realizando maravilhas e prodígios por meio de Moisés, libertou-os milagrosamente e os tirou do Egito, conduzindo-os através do assim chamado deserto, e finalmente os estabeleceu na terra de Canaã, que depois foi chamada Judéia, deu-lhes a lei e lhes ensinou tudo isso. Os dez pontos principais dessa grande e admirável lei, que vale para toda a justiça, são os que acabamos de citar.

Capítulo X – Excelência da moral cristã (cont.)
Os judeus residiram no Egito como estrangeiros, pois de raça eram hebreus procedentes da Caldéia. Tendo havido naquele tempo uma fome, tiveram que emigrar para o Egito, a fim de comprar mantimentos e com o tempo aí se estabeleceram. Então aconteceu a eles conforme a predição de Deus. Depois de viverem como forasteiros no Egito durante quatrocentos e trinta anos, quando Moisés os levou para o deserto, Deus lhes ensinou por meio da lei, dizendo: “Não oprimirás o estrangeiro, porque vós conheceis a alma do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito”.

Capítulo XI – Excelência da moral cristã (cont.)
Ora, o povo transgrediu a lei que lhe fora dada. Deus, porém, que é bom e misericordioso, não querendo que perecessem, além de ter-lhes dado a lei, mandou-lhes depois profetas dentre seus irmãos, para que lhes ensinassem e recordassem as coisas da lei e levá-los à penitência para que não pecassem mais. Contudo, como eles se obstinassem em suas más ações, os profetas lhes predisseram que seriam submetidos a todos os remos da terra. E é evidente que isso lhes aconteceu. Portanto, sobre a penitência, o profeta Isaias diz a todos em geral, mas particularmente ao povo: “Buscai o Senhor e, ao encontrá-lo, invocai-o. Quando ele se aproximar de vós, que o ímpio abandone os próprios caminhos e o homem iníquio seus conselhos, e convertam-se ao Senhor seu Deus. Ele se compadecerá e largamente perdoará os vossos pecados”. Ezequiel, outro profeta, diz: “Se o iníquo se converte de todas as iniqüidades que praticou, guarda os meus mandamentos e pratica a minha justiça, viverá com vida e não morrerá; não se lembrará de todas as iniqüidades que praticou, mas viverá pela justiça que praticou, porque eu não quero a morte do iníquo, diz o Senhor, e sim que ele se converta de seu mau caminho e viva”. E Isaías acrescenta: “Convertei-vos, vós que alimentais um desígnio que conduz ao abismo e ao crime, para que vos salveis”. E Jeremias diz: “Convertei-vos ao Senhor vosso Deus, como o vindimador ao seu cesto, e encontrareis misericórdia”. Muitas outras coisas, ou melhor, coisas inumeráveis dizem as santas Escrituras sobre a penitência, pois Deus sempre quer que o gênero humano se converta de todos os seus pecados.

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