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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Terceiro Livro a Autólico (Capítulo 12 - 18)
Capítulo
XII – Excelência da moral cristã (cont.)
Além
disso, sobre a justiça de que a lei fala, vemos que os profetas e os evangelhos
estão de acordo, pois todos, portadores de espírito, falaram pelo único
Espírito de Deus. Isaias diz o seguinte: “Tirai as maldades de vossas almas,
aprendei a fazer o bem, buscai o direito, libertai o oprimido, julgai o órfão e
fazei justiça à viúva”. E ainda: “Desata as amarras da iniqüidade, rompe os
laços dos contratos violentos, deixa ir os oprimidos em liberdade, rasga todo
contrato injusto, reparte o teu pão com o faminto e recolhe em tua casa os
mendigos sem teto. Se vês alguém nu, veste-o, e não te afastes com desprezo
daqueles que pertencem à tua própria descendência. Então a tua luz brilhará
como a aurora, tuas feridas logo serão curadas e tua justiça caminhará diante
de ti”. De modo semelhante Jeremias diz: “Parai nos caminhos, olhai e perguntai
qual é o caminho do Senhor vosso Deus, o caminho bom; caminhai por ele e
encontrareis descanso para vossas almas. Daí sentenças justas, porque essa é a
vontade do Senhor vosso Deus”. De modo semelhante também Oséias diz: “Observai
o direito e aproximai-vos do Senhor vosso Deus, que firmou o céu e alicerçou a
terra”. Joel, outro profeta, de acordo com eles, diz: “Reuni o povo, santificai
a assembléia, recebei os anciãos, juntai as crianças que mamam nos peitos; que
o esposo saia de seu quarto nupcial e a esposa de seu leito; rogai com
insistência ao Senhor vosso Deus, a fim de que ele se compadeça de vós, e ele
apagará vossos pecados”. Do mesmo modo Zacarias, outro profeta, diz: “Eis as
palavras do Senhor Onipotente: julgai com verdadeira justiça e cada um pratique
a misericórdia e a compaixão com o seu próximo; não oprimais a viúva, o órfão e
o estrangeiro; não guardeis rancor em vossos corações contra o vosso irmão, diz
o Senhor Onipotente”.
Capítulo XIII – Excelência da
moral cristã (cont.)
Quanto
à pureza, a palavra santa não só nos ensina a não pecar por atos, mas também
por pensamento, sequer pensar em nosso coração sobre alguma coisa má ou desejar
a mulher alheia, olhando-a com os olhos. Com efeito, Salomão, que foi rei e
profeta, diz: “Que teus olhos vejam o que é reto e tuas pálpebras se inclinem
para o que é justo; que teus pés só percorram o caminho reto”. E a voz do
Evangelho diz ainda mais expressamente sobre a castidade: “Todo aquele que olha
a mulher alheia para desejá-la, já cometeu adultério com ela em seu coração.
Aquele que se casa com a que foi repudiada por seu marido, comete adultério; e
aquele que repudia sua mulher, exceto pelo motivo de fornicação, faz com que
ela cometa adultério”. Salomão diz ainda: “Pode alguém carregar fogo em sua
veste e não queimar a sua roupa? Ou caminhar sobre brasas e não queimar os pés?
Do mesmo modo, quem entra na casa da mulher casada não será inocente”.
Capítulo XIV – Excelência da
moral cristã (cont.)
Quanto
a não termos benevolência apenas com os de nosso próprio grupo, como pensam
alguns, o profeta Isaias diz: “Dizei aos que vos odeiam e abominam: ‘Sois
nossos irmãos’, a fim de que seja glorificado o nome do Senhor e seja visto na
alegria deles”. E o Evangelho diz: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que
vos caluniam. Com efeito, se amais os que vos amam, que recompensa tendes?
Também os salteadores e publicanos fazem isso”. Aos que praticam o bem, ele os
ensina a não se glorificar, a fim de não agradarem aos homens: “Que a tua mão
esquerda não saiba o que faz a tua mão direita”. A palavra divina também manda
que nos submetamos aos magistrados e autoridades e a orar por eles, a fim de
levar uma vida calma e tranqüila. Também nos ensina a dar a todos o que lhes
convém. A honra, a quem se deve a honra; o temor, a quem se deve o temor; o
tributo, a quem se deve o tributo; e não dever nada a ninguém, mas apenas amar
a todos.
Capítulo XV – Acusações
precipitadas
Considera,
portanto, se aqueles que recebem tais ensinamentos podem viver indiferentemente
ou manchar-se com uniões ilegítimas, ou então, o que supera toda impiedade,
alimentar-se de carnes humanas. Na verdade, somos proibidos até de assistir aos
espetáculos de gladiadores, a fim de não participarmos e não nos tornarmos
cúmplices daquelas mortes. Também não devemos ver os outros espetáculos, para
que nossos olhos e ouvidos não fiquem impuros ao participar do que ali se
canta. De fato, se se fala de antropofagia, ali são devorados os filhos de
Tiestis e Tereu; se se fala de adultério, ali se representam tragédias em que
não só os homens as cometem, mas também os próprios deuses. Coisas que são
contadas em versos melodiosos e não sem honras e prêmios. Longe dos cristãos sequer
passar-lhes pelo pensamento fazer essas coisas. Entre eles há temperança,
exercita-se a continência, observa-se a monogamia, guarda-se a castidade,
aniquila-se a injustiça, arranca-se o pecado pela raiz, medita-se a justiça,
cumpre-se a lei, pratica-se a religião, confessa-se a Deus, a verdade decide
como árbitro, a graça guarda, a paz protege, a palavra santa dirige, a
sabedoria ensina, a vida decide e Deus reina. Poderíamos dizer muito mais
coisas sobre o comportamento que se vive entre nós e sobre as justificaçôes de
Deus, artífice de toda criatura. Por enquanto, porém, basta o que recordamos, a
fim de que tu o saibas, sobretudo pelo que lês até agora e, já que foste
estudioso até o presente, o sejas também daqui para frente.
Capítulo XVI – Antiguidade da
tradição cristã
Quero
agora mostrar-te com mais precisão, com a ajuda de Deus, nossa posição no
tempo, para que reconheças que a nossa doutrina não é recente, e nem fabulosa,
e sim mais antiga e verdadeira do que todos os poetas e historiadores que
escreveram sobre o incerto. Uns, dizendo que o mundo era incriado, terminaram
no infinito; outros, que o disseram criado, falaram que já se haviam passado
quinze miríades e três e setecentos e cinco anos. Isso é contado por Polônio, o
egípcio. Platão, que parece ter sido o mais sábio dos gregos, por quantas
tolices não enveredou? Na chamada República encontra-se literalmente: “Se as
coisas permaneceram o tempo todo dispostas como estão agora, como se poderia
encontrar alguma coisa de novo? É que durante uma miríade de miríades de anos
as pessoas não perceberam o tempo e só há mil ou dois mil anos tornaram-se
manifestas as primeiras descobertas, umas por Dédalo, outras por Orfeu, e
outras por Palamedes”. Dizendo que assim aconteceu, ele mostra que do dilúvio
até Dédalo passou-se uma miríade de miríades de anos. Depois de falar
longamente de cidades espalhadas pelo mundo, de habitantes e povos, ele
confessa que falou de tudo isso por conjectura. De fato, ele diz: “Em todo
caso, estrangeiro, se um deus nos prometesse começar de novo as discussões
sobre as leis, das palavras agora ditas…” É claro que falou por conjectura e,
se falou por conjectura, o conseqüentemente que ele disse não é verdade.
Capítulo XVII – Necessidade da
inspiração
Portanto,
vale mais tornar-se discípulo da lei divina. O próprio Platão reconheceu o que
não é possível aprender de outra maneira que é exato, a não ser que Deus nos
ensine pela lei. Além disso, os próprios poetas Homero, Hesíodo e Orfeu não
disseram que foram ensinados pela presciência divina? E dizem ainda que no
tempo dos historiadores houve adivinhos e conhecedores do futuro e que aqueles
que aprenderam com eles escreveram com exatidão. Tanto mais não saberemos nós a
verdade, que aprendemos com os santos, profetas, os quais receberam o santo
Espírito de Deus? É por isso que todos os profetas disseram coisas que
concordavam entre si e anunciaram de antemão o que deveria acontecer para todo
o mundo. Com efeito, o cumprimento das coisas anteriormente anunciadas e que
agora se realizam pode muito bem ensinar aos estudiosos, ou melhor, aos amantes
da verdade, que também são verdade as coisas por eles ditas a respeito dos
tempos e situações anteriores ao dilúvio, desde a criação do mundo até hoje,
junto com a computação dos anos, demonstrando assim a charlatanice enganadora
dos historiadores e que não é verdade o que estes disseram.
Capítulo XVIII – A história do
dilúvio
Platão,
como dissemos antes, depois de afirmar que houve dilúvio, disse que não atingiu
toda a terra, mas só as planícies, e que os que fugiram para as montanhas mais
altas se salvaram. Outros dizem que existiram Deucalião e Pirra, que somente
estes se salvaram numa arca, e que Deucalião, depois de sair da arca, foi
jogando pedras para trás e que dessas pedras nasceram homens. Dizem que é daí que
vem o nome “povos” dado à multidão de homens. Outros disseram que Climeno
existiu por ocasião do segundo dilúvio. É evidente que aqueles que escreveram
essas coisas e assim inutilmente filosofaram sejam miseráveis, totalmente
ímpios e néscios. Ao contrário, nosso profeta explicou como aconteceu o
dilúvio, sem ter que inventar um Deucalião, ou uma Pirra, ou Climeno, nem que
se deu apenas nas planícies e salvando-se somente os que se refugiaram nas
montanhas.
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O que você deseja destacar neste
texto?
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Como este encontro serviu para
sua espiritualidade?
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