domingo, 5 de agosto de 2018

59 - Teófilo de Antioquia (†181) Terceiro Livro a Autólico (Capítulo 12 - 18)


59
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Terceiro Livro a Autólico (Capítulo 12 - 18)



Capítulo XII – Excelência da moral cristã (cont.)
Além disso, sobre a justiça de que a lei fala, vemos que os profetas e os evangelhos estão de acordo, pois todos, portadores de espírito, falaram pelo único Espírito de Deus. Isaias diz o seguinte: “Tirai as maldades de vossas almas, aprendei a fazer o bem, buscai o direito, libertai o oprimido, julgai o órfão e fazei justiça à viúva”. E ainda: “Desata as amarras da iniqüidade, rompe os laços dos contratos violentos, deixa ir os oprimidos em liberdade, rasga todo contrato injusto, reparte o teu pão com o faminto e recolhe em tua casa os mendigos sem teto. Se vês alguém nu, veste-o, e não te afastes com desprezo daqueles que pertencem à tua própria descendência. Então a tua luz brilhará como a aurora, tuas feridas logo serão curadas e tua justiça caminhará diante de ti”. De modo semelhante Jeremias diz: “Parai nos caminhos, olhai e perguntai qual é o caminho do Senhor vosso Deus, o caminho bom; caminhai por ele e encontrareis descanso para vossas almas. Daí sentenças justas, porque essa é a vontade do Senhor vosso Deus”. De modo semelhante também Oséias diz: “Observai o direito e aproximai-vos do Senhor vosso Deus, que firmou o céu e alicerçou a terra”. Joel, outro profeta, de acordo com eles, diz: “Reuni o povo, santificai a assembléia, recebei os anciãos, juntai as crianças que mamam nos peitos; que o esposo saia de seu quarto nupcial e a esposa de seu leito; rogai com insistência ao Senhor vosso Deus, a fim de que ele se compadeça de vós, e ele apagará vossos pecados”. Do mesmo modo Zacarias, outro profeta, diz: “Eis as palavras do Senhor Onipotente: julgai com verdadeira justiça e cada um pratique a misericórdia e a compaixão com o seu próximo; não oprimais a viúva, o órfão e o estrangeiro; não guardeis rancor em vossos corações contra o vosso irmão, diz o Senhor Onipotente”.

Capítulo XIII – Excelência da moral cristã (cont.)
Quanto à pureza, a palavra santa não só nos ensina a não pecar por atos, mas também por pensamento, sequer pensar em nosso coração sobre alguma coisa má ou desejar a mulher alheia, olhando-a com os olhos. Com efeito, Salomão, que foi rei e profeta, diz: “Que teus olhos vejam o que é reto e tuas pálpebras se inclinem para o que é justo; que teus pés só percorram o caminho reto”. E a voz do Evangelho diz ainda mais expressamente sobre a castidade: “Todo aquele que olha a mulher alheia para desejá-la, já cometeu adultério com ela em seu coração. Aquele que se casa com a que foi repudiada por seu marido, comete adultério; e aquele que repudia sua mulher, exceto pelo motivo de fornicação, faz com que ela cometa adultério”. Salomão diz ainda: “Pode alguém carregar fogo em sua veste e não queimar a sua roupa? Ou caminhar sobre brasas e não queimar os pés? Do mesmo modo, quem entra na casa da mulher casada não será inocente”.

Capítulo XIV – Excelência da moral cristã (cont.)
Quanto a não termos benevolência apenas com os de nosso próprio grupo, como pensam alguns, o profeta Isaias diz: “Dizei aos que vos odeiam e abominam: ‘Sois nossos irmãos’, a fim de que seja glorificado o nome do Senhor e seja visto na alegria deles”. E o Evangelho diz: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos caluniam. Com efeito, se amais os que vos amam, que recompensa tendes? Também os salteadores e publicanos fazem isso”. Aos que praticam o bem, ele os ensina a não se glorificar, a fim de não agradarem aos homens: “Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita”. A palavra divina também manda que nos submetamos aos magistrados e autoridades e a orar por eles, a fim de levar uma vida calma e tranqüila. Também nos ensina a dar a todos o que lhes convém. A honra, a quem se deve a honra; o temor, a quem se deve o temor; o tributo, a quem se deve o tributo; e não dever nada a ninguém, mas apenas amar a todos.

Capítulo XV – Acusações precipitadas
Considera, portanto, se aqueles que recebem tais ensinamentos podem viver indiferentemente ou manchar-se com uniões ilegítimas, ou então, o que supera toda impiedade, alimentar-se de carnes humanas. Na verdade, somos proibidos até de assistir aos espetáculos de gladiadores, a fim de não participarmos e não nos tornarmos cúmplices daquelas mortes. Também não devemos ver os outros espetáculos, para que nossos olhos e ouvidos não fiquem impuros ao participar do que ali se canta. De fato, se se fala de antropofagia, ali são devorados os filhos de Tiestis e Tereu; se se fala de adultério, ali se representam tragédias em que não só os homens as cometem, mas também os próprios deuses. Coisas que são contadas em versos melodiosos e não sem honras e prêmios. Longe dos cristãos sequer passar-lhes pelo pensamento fazer essas coisas. Entre eles há temperança, exercita-se a continência, observa-se a monogamia, guarda-se a castidade, aniquila-se a injustiça, arranca-se o pecado pela raiz, medita-se a justiça, cumpre-se a lei, pratica-se a religião, confessa-se a Deus, a verdade decide como árbitro, a graça guarda, a paz protege, a palavra santa dirige, a sabedoria ensina, a vida decide e Deus reina. Poderíamos dizer muito mais coisas sobre o comportamento que se vive entre nós e sobre as justificaçôes de Deus, artífice de toda criatura. Por enquanto, porém, basta o que recordamos, a fim de que tu o saibas, sobretudo pelo que lês até agora e, já que foste estudioso até o presente, o sejas também daqui para frente.

Capítulo XVI – Antiguidade da tradição cristã
Quero agora mostrar-te com mais precisão, com a ajuda de Deus, nossa posição no tempo, para que reconheças que a nossa doutrina não é recente, e nem fabulosa, e sim mais antiga e verdadeira do que todos os poetas e historiadores que escreveram sobre o incerto. Uns, dizendo que o mundo era incriado, terminaram no infinito; outros, que o disseram criado, falaram que já se haviam passado quinze miríades e três e setecentos e cinco anos. Isso é contado por Polônio, o egípcio. Platão, que parece ter sido o mais sábio dos gregos, por quantas tolices não enveredou? Na chamada República encontra-se literalmente: “Se as coisas permaneceram o tempo todo dispostas como estão agora, como se poderia encontrar alguma coisa de novo? É que durante uma miríade de miríades de anos as pessoas não perceberam o tempo e só há mil ou dois mil anos tornaram-se manifestas as primeiras descobertas, umas por Dédalo, outras por Orfeu, e outras por Palamedes”. Dizendo que assim aconteceu, ele mostra que do dilúvio até Dédalo passou-se uma miríade de miríades de anos. Depois de falar longamente de cidades espalhadas pelo mundo, de habitantes e povos, ele confessa que falou de tudo isso por conjectura. De fato, ele diz: “Em todo caso, estrangeiro, se um deus nos prometesse começar de novo as discussões sobre as leis, das palavras agora ditas…” É claro que falou por conjectura e, se falou por conjectura, o conseqüentemente que ele disse não é verdade.

Capítulo XVII – Necessidade da inspiração
Portanto, vale mais tornar-se discípulo da lei divina. O próprio Platão reconheceu o que não é possível aprender de outra maneira que é exato, a não ser que Deus nos ensine pela lei. Além disso, os próprios poetas Homero, Hesíodo e Orfeu não disseram que foram ensinados pela presciência divina? E dizem ainda que no tempo dos historiadores houve adivinhos e conhecedores do futuro e que aqueles que aprenderam com eles escreveram com exatidão. Tanto mais não saberemos nós a verdade, que aprendemos com os santos, profetas, os quais receberam o santo Espírito de Deus? É por isso que todos os profetas disseram coisas que concordavam entre si e anunciaram de antemão o que deveria acontecer para todo o mundo. Com efeito, o cumprimento das coisas anteriormente anunciadas e que agora se realizam pode muito bem ensinar aos estudiosos, ou melhor, aos amantes da verdade, que também são verdade as coisas por eles ditas a respeito dos tempos e situações anteriores ao dilúvio, desde a criação do mundo até hoje, junto com a computação dos anos, demonstrando assim a charlatanice enganadora dos historiadores e que não é verdade o que estes disseram.

Capítulo XVIII – A história do dilúvio
Platão, como dissemos antes, depois de afirmar que houve dilúvio, disse que não atingiu toda a terra, mas só as planícies, e que os que fugiram para as montanhas mais altas se salvaram. Outros dizem que existiram Deucalião e Pirra, que somente estes se salvaram numa arca, e que Deucalião, depois de sair da arca, foi jogando pedras para trás e que dessas pedras nasceram homens. Dizem que é daí que vem o nome “povos” dado à multidão de homens. Outros disseram que Climeno existiu por ocasião do segundo dilúvio. É evidente que aqueles que escreveram essas coisas e assim inutilmente filosofaram sejam miseráveis, totalmente ímpios e néscios. Ao contrário, nosso profeta explicou como aconteceu o dilúvio, sem ter que inventar um Deucalião, ou uma Pirra, ou Climeno, nem que se deu apenas nas planícies e salvando-se somente os que se refugiaram nas montanhas.


·        O que você deseja destacar neste texto?
·        Como este encontro serviu para sua espiritualidade?

Nenhum comentário:

Postar um comentário