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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Irineu
de Lyon (130-202)
Biografia de São Irineu
Irineu nasceu em Esmirna
(hoje Izmir, na Turquia) por volta do ano 135-140, onde ainda jovem frequentou
a escola do Bispo Policarpo, este por sua vez discípulo do apóstolo João.
Inclusive sendo ordenado pelo mesmo São Policarpo, que o enviou para a Gália,
atual França.
Em Gália trabalhou ao lado
de Fotino, o primeiro bispo de Lyon. E certamente essa transferência coincidiu
com os primeiros desenvolvimentos da comunidade cristã de Lyon.
Precisamente no ano de 175,
Irineu foi enviado para Roma, portando uma carta da comunidade de Lyon ao Bispo
da época, chamado Eleutério para tratar da seita dos montanistas. Esta missão
romana de Irineu, subtraiu à perseguição de Marco Aurélio, que causou pelo
menos quarenta e oito mártires, entre os quais o próprio Bispo de Lyon, Potino,
que, com noventa anos, faleceu por maus tratos no cárcere. Assim, com o seu
regresso, Irineu foi eleito Bispo da cidade de Lyon, que se concluiu por volta
de 202-203, talvez com o martírio.
Nesse
cargo ele permaneceu vinte e cinco anos. Ocupou-se da evangelização e combateu,
principalmente, a heresia dos gnósticos, além das outras que proliferavam
nesses primeiros tempos. Obteve êxito, junto ao papa Vitor I, na questão da
comemoração da festa da Páscoa, quando lhe pediu que atuasse com moderação para
manter a união entre a Igreja do Ocidente e a do Oriente.
Era muito culto e letrado em várias línguas,
e como escritor, buscava uma dupla finalidade: defender a verdadeira doutrina
contra os ataques heréticos, e expor com clareza a verdade da fé.
Correspondem exatamente a estas
finalidades as duas obras que dele permanecem: os cinco livros Contra as
Heresias, e a Exposição da pregação apostólica (que se pode também chamar o
mais antigo “catecismo da doutrina cristã”).
A sua
obra escrita mais importante foi o tratado “Contra as heresias”, onde trata da
falsa gnose, e depois, de todas as outras heresias da época. O texto grego foi
perdido, mas existem as traduções latina, armênia e siríaca. Importante não só
do lado teológico, onde expôs já pronta a teoria sobre a autoridade doutrinal
da Igreja, mas ainda do lado histórico, pois documentou e nos apresentou um
quadro vivo das batalhas e lutas de então.
Mais
tarde, um outro tratado, chamado “Demonstração da pregação apostólica”, foi
encontrado inteiro, numa tradução armênia. Além de vários fragmentos de outras
obras, cartas, discursos e pequenos tratados.
A Igreja do século II
estava ameaçada pela chamada gnose, uma doutrina que afirmava que a fé ensinada
na Igreja seria apenas um simbolismo para os simples, que não são capazes de
compreender coisas difíceis; ao contrário, os idosos, os intelectuais
chamavam-se gnósticos porque teriam compreendido o que está por detrás destes
símbolos, e assim teriam formado um cristianismo elitista, intelectualista.
Obviamente este cristianismo intelectualista fragmentava-se cada vez mais em
diversas correntes com pensamentos muitas vezes estranhos e extravagantes, mas
para muitos era atraente.
Irineu combateu eficazmente
o gnosticismo em suas obras.
O Evangelho pregado pelo
Bispo Irineu é o mesmo que recebeu de Policarpo, Bispo de Esmirna, e o
Evangelho de Policarpo remonta ao apóstolo João, do qual Policarpo era
discípulo. E assim o verdadeiro ensinamento não é o que foi inventado pelos
intelectuais além da fé simples da Igreja. O verdadeiro Evangelho é o que foi
transmitido pelos Bispos que o receberam numa sucessão ininterrupta dos
Apóstolos.
Eles outra coisa não ensinaram senão
precisamente esta fé simples, que é também a verdadeira profundidade da
revelação de Deus. Assim diz-nos Irineu: “Não há uma doutrina secreta por
detrás do Credo comum da Igreja. Não existe um cristianismo superior para
intelectuais. A fé publicamente confessada pela Igreja é a fé comum de todos.
Só esta fé é apostólica, vem dos Apóstolos, isto é, de Jesus e de Deus”. (Adv.
Haer.3, 3, 3-4).
Irineu
morreu como mártir no dia 28 de junho de 202, em Lyon
Obras Teológicas de Irineu
Irineu
é tido como o fundador da teologia cristã, por ter tratado de grande quantidade
de temas cristãos, alguns dos quais receberam dele a primeira elaboração. Irineu
é um homem de síntese, o primeiro teólogo dogmático, mesmo sem ser
especulativo.
Ireneu escreveu
em grego a sua
obra, que lhe assegurou lugar de prestígio excepcional na literatura cristã
devido, não só, às questões religiosas controversas de importância capital que
abordou, bem como por mostrar o testemunho de um contemporâneo das primeiras
gerações cristãs. Nada do que escreveu chegou a nós no texto original, mas
muitos fragmentos existem e citações em escritores posteriores como Hipólito
de Roma e Eusébio
de Cesareia.
Duas de suas
principais obras chegaram até aos dias de hoje em suas versões latinas e
arménias: a primeira é a "Exposição e refutação do pretenso
conhecimento", em português conhecida como Contra Heresias por ser
frequentemente conhecida e citada pelo seu nome latino de Adversus
haereses.
É uma obra para
combater o gnosticismo. Em seus cinco
livros, expõe de início as doutrinas gnósticas, com referências às suas
distintas seitas e escolas nascidas nas comunidades cristãs. Ao refutar as
versões mais importantes (de Valentim, de Basílides e
de Marcião de Sinope) Ireneu frequentemente opõe a
elas a verdadeira doutrina da Igreja da sua época, dando-nos, deste modo - pelo
seu recurso à razão, à doutrina da Igreja e à Bíblia -, testemunhos indirectos
e directos relevantes acerca do que então era tido como a doutrina
eclesiástica. Aborda, ainda, passagens muito comentadas pelos teólogos que
dizem respeito ao Evangelho
segundo João,
à Eucaristia e à
primazia da Igreja Romana. Ireneu termina esta obra defendendo a ressurreição
da carne, escândalo máximo para os gnósticos. Dos originais restaram
fragmentos, e há traduções latinas e armênias.
No livro I,
Ireneu fala sobre os valentianos e seus precursores, cujas raízes vão
até Simão
Mago.
No segundo livro, ele tenta provar que o valentianismo não tem mérito algum em
suas doutrinas. Já no terceiro livro, Ireneu propõe que essas doutrinas são
falsas com base em evidências obtidas dos Evangelhos. No livro
quarto, Ireneu reforça a união do Antigo
Testamento e
os Evangelhos ao mesmo tempo que fornece um conjunto de ditos de Jesus. No último livro,
ele se concentra em mais ditos de Jesus e também em cartas de Paulo de Tarso.
Até a
descoberta, em 1945, da chamada Biblioteca de Nag Hammadi, esta obra de
Ireneu era a melhor descrição das correntes gnosticas do início da era cristã.
De acordo com alguns estudiosos bíblicos, os achados de Nag Hammadi
demonstraram que as descrições de Ireneu sobre o gnosticismo são muito
incorretas e polêmicas em sua natureza. Embora correto em alguns detalhes
sobre as crenças dos diversos grupos, o principal objetivo de Ireneu era
advertir os cristãos contra o gnosticismo em vez de descrever corretamente suas
crenças. Ele descreveu os grupos gnósticos como libertinos, por exemplo, quando
algumas de suas próprias obras advogavam a castidade com mais
fervor do que as ortodoxas. Porém,
pelo menos um estudioso, Rodney Stark, alega que a
mesma Biblioteca de Nag Hammadi prova que Ireneu estava correto.
Parece que a crítica de Ireneu contra os
gnósticos era exagerada, o que provocou sua rejeição pelos estudiosos por um
longo tempo. Como exemplo, ele escreveu:
“
|
Eles declaram que Judas, o traidor,
era perfeitamente familiar com estas coisas e que, ele, sozinho, sabendo da
verdade como ninguém mais, realizou o mistério da traição. Através dele todas
as coisas foram então atiradas em confusão. Eles então produziram uma
história fictícia deste tipo, que chamaram de Evangelho
de Judas.
|
”
|
Estas alegações
se mostraram verdadeiras no texto do Evangelho de Judas, onde Jesus pediu
a Judas o traísse.
Sobre as incorreções de Ireneu sobre as libertinagens sexuais entre os
gnósticos, é claro que eles não eram um grupo coeso, mas um conjunto de seitas.
Alguns eram realmente libertinos, considerando a existência corporal como sem
nenhum sentido. Outros, pelo mesmo motivo, prezavam a castidade ainda mais
fortemente que a cristandade, chegando ao ponto de banir o casamento e toda
atividade sexual.
A sua segunda obra é a "Exposição
ou Prova do Ensinamento Apostólico", breve texto, cujo conteúdo
corresponde na perfeição ao seu título. Há dela uma muito antiga tradução,
literal, em armênio descoberta
em 1904. Ireneu não quer nela refutar as heresias, mas confirmar aos fiéis a
exposição da doutrina cristã, sobretudo ao demonstrar a verdade do Evangelho
por meio de profecias do Velho Testamento. Embora não contenha nada do que já
não tenha sido dito em Adversus haereses, é um documento de grande
interesse e magnífico testemunho da fé profunda e viva de Ireneu.
Do restante da
sua obra seguinte, apenas existem fragmentos espalhados. Muitos só se conhecem
por menção a eles feita por outros escritores. São eles:
·
um
tratado contra os gregos, intitulado "Sobre o Conhecimento",
mencionado por Eusébio
de Cesareia
·
um
documento dirigido ao sacerdote romano Florinus "Sobre a Monarquia, ou
como Deus não é a causa do Mal" com fragmento na "História
Eclesiástica" de Eusébio
·
um
documento "Sobre Ogdoad", provavelmente contra a Ogdóade do
gnóstico Valetim escrito para o mesmo supra-citado
sacerdote Florinus, que aderira à seita dos valentianos do
qual há fragmento em Eusébio
·
um
tratado sobre o cisma dirigido a Blastus (mencionado por Eusébio)
·
outra
carta ao mesmo papa sobre a controvérsia pascal (da qual há trechos em Eusébio)
·
cartas
a vários correspondentes sobre o mesmo tema (mencionadas por Eusébio; fragmento
preservado em siríaco)
O que você
deseja destacar no texto?
Como este estudo
serviu para sua espiritualidade?
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