segunda-feira, 3 de setembro de 2018

63 - São Irineu de Lyon (130-202) - Biografia.


Santo Irineu de Lyon
63
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Irineu de Lyon (130-202)
Biografia de São Irineu


Irineu nasceu em Esmirna (hoje Izmir, na Turquia) por volta do ano 135-140, onde ainda jovem frequentou a escola do Bispo Policarpo, este por sua vez discípulo do apóstolo João. Inclusive sendo ordenado pelo mesmo São Policarpo, que o enviou para a Gália, atual França.
Em Gália trabalhou ao lado de Fotino, o primeiro bispo de Lyon. E certamente essa transferência coincidiu com os primeiros desenvolvimentos da comunidade cristã de Lyon.
Precisamente no ano de 175, Irineu foi enviado para Roma, portando uma carta da comunidade de Lyon ao Bispo da época, chamado Eleutério para tratar da seita dos montanistas. Esta missão romana de Irineu, subtraiu à perseguição de Marco Aurélio, que causou pelo menos quarenta e oito mártires, entre os quais o próprio Bispo de Lyon, Potino, que, com noventa anos, faleceu por maus tratos no cárcere. Assim, com o seu regresso, Irineu foi eleito Bispo da cidade de Lyon, que se concluiu por volta de 202-203, talvez com o martírio.
Nesse cargo ele permaneceu vinte e cinco anos. Ocupou-se da evangelização e combateu, principalmente, a heresia dos gnósticos, além das outras que proliferavam nesses primeiros tempos. Obteve êxito, junto ao papa Vitor I, na questão da comemoração da festa da Páscoa, quando lhe pediu que atuasse com moderação para manter a união entre a Igreja do Ocidente e a do Oriente.
Era muito culto e letrado em várias línguas, e como escritor, buscava uma dupla finalidade: defender a verdadeira doutrina contra os ataques heréticos, e expor com clareza a verdade da fé.
Correspondem exatamente a estas finalidades as duas obras que dele permanecem: os cinco livros Contra as Heresias, e a Exposição da pregação apostólica (que se pode também chamar o mais antigo “catecismo da doutrina cristã”).
A sua obra escrita mais importante foi o tratado “Contra as heresias”, onde trata da falsa gnose, e depois, de todas as outras heresias da época. O texto grego foi perdido, mas existem as traduções latina, armênia e siríaca. Importante não só do lado teológico, onde expôs já pronta a teoria sobre a autoridade doutrinal da Igreja, mas ainda do lado histórico, pois documentou e nos apresentou um quadro vivo das batalhas e lutas de então.
Mais tarde, um outro tratado, chamado “Demonstração da pregação apostólica”, foi encontrado inteiro, numa tradução armênia. Além de vários fragmentos de outras obras, cartas, discursos e pequenos tratados.
A Igreja do século II estava ameaçada pela chamada gnose, uma doutrina que afirmava que a fé ensinada na Igreja seria apenas um simbolismo para os simples, que não são capazes de compreender coisas difíceis; ao contrário, os idosos, os intelectuais chamavam-se gnósticos porque teriam compreendido o que está por detrás destes símbolos, e assim teriam formado um cristianismo elitista, intelectualista. Obviamente este cristianismo intelectualista fragmentava-se cada vez mais em diversas correntes com pensamentos muitas vezes estranhos e extravagantes, mas para muitos era atraente.
Irineu combateu eficazmente o gnosticismo em suas obras.
O Evangelho pregado pelo Bispo Irineu é o mesmo que recebeu de Policarpo, Bispo de Esmirna, e o Evangelho de Policarpo remonta ao apóstolo João, do qual Policarpo era discípulo. E assim o verdadeiro ensinamento não é o que foi inventado pelos intelectuais além da fé simples da Igreja. O verdadeiro Evangelho é o que foi transmitido pelos Bispos que o receberam numa sucessão ininterrupta dos Apóstolos.
            Eles outra coisa não ensinaram senão precisamente esta fé simples, que é também a verdadeira profundidade da revelação de Deus. Assim diz-nos Irineu: “Não há uma doutrina secreta por detrás do Credo comum da Igreja. Não existe um cristianismo superior para intelectuais. A fé publicamente confessada pela Igreja é a fé comum de todos. Só esta fé é apostólica, vem dos Apóstolos, isto é, de Jesus e de Deus”. (Adv. Haer.3, 3, 3-4).
Irineu morreu como mártir no dia 28 de junho de 202, em Lyon

Obras Teológicas de Irineu
Irineu é tido como o fundador da teologia cristã, por ter tratado de grande quantidade de temas cristãos, alguns dos quais receberam dele a primeira elaboração. Irineu é um homem de síntese, o primeiro teólogo dogmático, mesmo sem ser especulativo.
Ireneu escreveu em grego a sua obra, que lhe assegurou lugar de prestígio excepcional na literatura cristã devido, não só, às questões religiosas controversas de importância capital que abordou, bem como por mostrar o testemunho de um contemporâneo das primeiras gerações cristãs. Nada do que escreveu chegou a nós no texto original, mas muitos fragmentos existem e citações em escritores posteriores como Hipólito de Roma e Eusébio de Cesareia.
Duas de suas principais obras chegaram até aos dias de hoje em suas versões latinas e arménias: a primeira é a "Exposição e refutação do pretenso conhecimento", em português conhecida como Contra Heresias por ser frequentemente conhecida e citada pelo seu nome latino de Adversus haereses.
É uma obra para combater o gnosticismo. Em seus cinco livros, expõe de início as doutrinas gnósticas, com referências às suas distintas seitas e escolas nascidas nas comunidades cristãs. Ao refutar as versões mais importantes (de Valentim, de Basílides e de Marcião de Sinope) Ireneu frequentemente opõe a elas a verdadeira doutrina da Igreja da sua época, dando-nos, deste modo - pelo seu recurso à razão, à doutrina da Igreja e à Bíblia -, testemunhos indirectos e directos relevantes acerca do que então era tido como a doutrina eclesiástica. Aborda, ainda, passagens muito comentadas pelos teólogos que dizem respeito ao Evangelho segundo João, à Eucaristia e à primazia da Igreja Romana. Ireneu termina esta obra defendendo a ressurreição da carne, escândalo máximo para os gnósticos. Dos originais restaram fragmentos, e há traduções latinas e armênias.
No livro I, Ireneu fala sobre os valentianos e seus precursores, cujas raízes vão até Simão Mago. No segundo livro, ele tenta provar que o valentianismo não tem mérito algum em suas doutrinas. Já no terceiro livro, Ireneu propõe que essas doutrinas são falsas com base em evidências obtidas dos Evangelhos. No livro quarto, Ireneu reforça a união do Antigo Testamento e os Evangelhos ao mesmo tempo que fornece um conjunto de ditos de Jesus. No último livro, ele se concentra em mais ditos de Jesus e também em cartas de Paulo de Tarso.
Até a descoberta, em 1945, da chamada Biblioteca de Nag Hammadi, esta obra de Ireneu era a melhor descrição das correntes gnosticas do início da era cristã. De acordo com alguns estudiosos bíblicos, os achados de Nag Hammadi demonstraram que as descrições de Ireneu sobre o gnosticismo são muito incorretas e polêmicas em sua natureza. Embora correto em alguns detalhes sobre as crenças dos diversos grupos, o principal objetivo de Ireneu era advertir os cristãos contra o gnosticismo em vez de descrever corretamente suas crenças. Ele descreveu os grupos gnósticos como libertinos, por exemplo, quando algumas de suas próprias obras advogavam a castidade com mais fervor do que as ortodoxas. Porém, pelo menos um estudioso, Rodney Stark, alega que a mesma Biblioteca de Nag Hammadi prova que Ireneu estava correto.
Parece que a crítica de Ireneu contra os gnósticos era exagerada, o que provocou sua rejeição pelos estudiosos por um longo tempo. Como exemplo, ele escreveu:
Eles declaram que Judas, o traidor, era perfeitamente familiar com estas coisas e que, ele, sozinho, sabendo da verdade como ninguém mais, realizou o mistério da traição. Através dele todas as coisas foram então atiradas em confusão. Eles então produziram uma história fictícia deste tipo, que chamaram de Evangelho de Judas.
Estas alegações se mostraram verdadeiras no texto do Evangelho de Judas, onde Jesus pediu a Judas o traísse. Sobre as incorreções de Ireneu sobre as libertinagens sexuais entre os gnósticos, é claro que eles não eram um grupo coeso, mas um conjunto de seitas. Alguns eram realmente libertinos, considerando a existência corporal como sem nenhum sentido. Outros, pelo mesmo motivo, prezavam a castidade ainda mais fortemente que a cristandade, chegando ao ponto de banir o casamento e toda atividade sexual.
A sua segunda obra é a "Exposição ou Prova do Ensinamento Apostólico", breve texto, cujo conteúdo corresponde na perfeição ao seu título. Há dela uma muito antiga tradução, literal, em armênio descoberta em 1904. Ireneu não quer nela refutar as heresias, mas confirmar aos fiéis a exposição da doutrina cristã, sobretudo ao demonstrar a verdade do Evangelho por meio de profecias do Velho Testamento. Embora não contenha nada do que já não tenha sido dito em Adversus haereses, é um documento de grande interesse e magnífico testemunho da fé profunda e viva de Ireneu.
Do restante da sua obra seguinte, apenas existem fragmentos espalhados. Muitos só se conhecem por menção a eles feita por outros escritores. São eles:
·         um tratado contra os gregos, intitulado "Sobre o Conhecimento", mencionado por Eusébio de Cesareia
·         um documento dirigido ao sacerdote romano Florinus "Sobre a Monarquia, ou como Deus não é a causa do Mal" com fragmento na "História Eclesiástica" de Eusébio
·         um documento "Sobre Ogdoad", provavelmente contra a Ogdóade do gnóstico Valetim escrito para o mesmo supra-citado sacerdote Florinus, que aderira à seita dos valentianos do qual há fragmento em Eusébio
·         um tratado sobre o cisma dirigido a Blastus (mencionado por Eusébio)
·         uma carta ao papa Vítor I contra o sacerdote romano Florinus (fragmento em siríaco)
·         outra carta ao mesmo papa sobre a controvérsia pascal (da qual há trechos em Eusébio)
·         cartas a vários correspondentes sobre o mesmo tema (mencionadas por Eusébio; fragmento preservado em siríaco)
·         um livro com numerosos discursos, provavelmente uma coleção de homilias (mencionado por Eusébio).

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