domingo, 11 de novembro de 2018

72 - Irineu de Lyon (130-202) Demonstração da Pregação Apostólica (Cap. 64 - 72)


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72
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Irineu de Lyon (130-202)
Demonstração da Pregação Apostólica (Cap. 64 - 72)


O Reino eterno
64. Davi disse que o Cristo nasceria da sua posteridade: “Por causa de Davi, teu servo, não rejeites a face do teu messias. Iahweh jurou a Davi uma verdade que jamais desmentirá: ‘É um fruto do teu ventre que eu porei em teu trono’”. Mas nenhum filho de Davi reinou “para sempre”, nem o seu reino durou até a eternidade, porque foi destruído; indica, portanto, um rei nascido de Davi, isto é, o Cristo. Todos esses textos relacionados com a sua vinda no corpo, a estirpe e o lugar do nascimento, dizem claramente que os homens não devem procurar o nascimento do Filho de Deus entre os gentios ou em outro lugar, mas em Belém da Judeia, na descendência de Abraão e de Davi.

A entrada em Jerusalém
65. Como fez a sua entrada em Jerusalém, a capital da Palestina, onde era a sua morada e o Templo de Deus, disse Isaías: “Dizei à Filha (cidade) de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta”. Entrou em Jerusalém sentado em um jumento, filho de asno, enquanto a multidão estendia os seus mantos para que passasse em cima. “Filha de Sião” é o nome dado a Jerusalém.
66. Os profetas anunciavam, então, que o Filho de Deus nasceria, como e onde nasceria, e quem é o Cristo, o único rei eterno. Tendo ainda predito que, uma vez feito homem, havia de curar os que curou, de ressuscitar os mortos que ressuscitou, que seria odiado, desprezado, torturado, morto mediante a crucifixão, como foi odiado, desprezado e morto.

Os milagres de Jesus
67. Falemos agora das curas. Disse Isaías: “E no entanto, eram nossos sofrimentos que ele levava sobre si, nossas dores que ele carregava”, isto é, “carregará” e “levará”. Às vezes, o Espírito Santo narra nos profetas como acontecimentos passados, mas que acontecerão no futuro. Isso acontece porque, em Deus, o que está estabelecido, determinado e destinado a existir já é considerado como existente, e o Espírito se expressa tendo em conta o tempo em que se realiza a profecia. Nesses termos, recorda os distintos modos de cura: “Naquele dia, os surdos ouvirão o que se lê, e os olhos dos cegos, livres da escuridão e das trevas, tornarão a ver”. E ainda: “Fortalecei as mãos abatidas, revigorai os joelhos cambaleantes. Dizei aos corações conturbados: ‘Sede fortes, não temais. Eis que vosso Deus vem para vingar-vos, trazendo a recompensa divina. Ele vem para vos salvar’. Então se abrirão os olhos dos cegos, e os ouvidos dos surdos se desobstruirão. Então o coxo saltará como o cervo, e a língua do mudo cantará canções alegres”. Da ressurreição dos mortos disse: “Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão”. Por essas obras, o Filho de Deus seria acreditado.

A Paixão de Cristo
68. Isaías disse que [o Cristo] devia ser desprezado, torturado e, por fim, morto: “Eis que meu Servo prosperará, ele se elevará, será exaltado, será posto nas alturas. Exatamente como multidões ficaram pasmadas à vista dele – pois ele não tinha mais figura humana e sua aparência não era mais a de homem – assim, agora nações numerosas ficarão estupefatas a seu respeito, reis permanecerão silenciosos ao verem coisas que não lhes haviam sido contadas, e ao tomarem consciência de coisas que não tinham ouvido. Quem acreditou naquilo que ouvimos, e a quem se revelou o braço de Iahweh? Ele cresceu diante dele como renovo, como raiz em terra árida; não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar, nem formosura capaz de nos deleitar.
Era desprezado e abandonado pelos homens, homem sujeito à dor, familiarizado com o sofrimento, como pessoa de quem todos escondem o rosto; desprezado, não fazíamos caso nenhum dele. E no entanto, eram nossos sofrimentos que ele levava sobre si, nossas dores que ele carregava. Mas nós o tínhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre ele, sim, por suas feridas fomos curados”. Essas expressões anunciam as suas torturas, como disse também Davi: “Eu fui torturado”. Davi jamais foi torturado, mas sim o Cristo, quando foi ordenada a sua crucifixão. Ainda, o Verbo disse através de Isaías: “Ofereci o dorso aos que me feriam e as faces aos que me arrancavam os fios da barba; não ocultei o rosto às injúrias e aos escarros”. O profeta Jeremias repete a mesma coisa nestes termos: “Que dê sua face a quem o fere e se sacie de opróbrios”. Tudo isso sofreu o Cristo.
69. Isaías vai mais além: “Mas ele foi trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre ele, sim, por suas feridas fomos curados. Todos nós como ovelhas andávamos errantes, seguindo cada um o seu próprio caminho, mas Iahweh fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós”. É claro que, pela vontade do Pai, lhe ocorreram tais coisas
em vista da nossa salvação. Então prossegue: “Foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro; como ovelha que permanece muda na presença dos tosquiadores ele não abriu a boca”. Desse modo, declara aceitar livremente a morte. Mas quando o profeta diz que “na humilhação o seu juízo foi eliminado”, fala de seu humilde aspecto externo: segundo o seu aspecto sem honra foi pronunciada a sentença; e, proferida a sentença, conduz alguns à salvação, outros às penas da perdição. Existe, de fato, o que é tomado por uma pessoa, e o que é tomado para uma pessoa. Assim é a sentença: por alguns é sofrida, e esses a tomam sobre si mesmos como própria condenação; para outros, foi eliminada e se salvam. Sofreram sobre si mesmos a sentença aqueles que o crucificaram e, tendo-se comportado assim, não creem nele, pois pela sentença que sofreram serão condenados à perdição com os tormentos; a sentença foi eliminada para aqueles que creem nele e não são mais sujeitos; a sentença, que virá com o fogo, será o extermínio dos incrédulos no fim deste mundo.

O indescritível início
70. Em seguida disse: “Quem narrará o seu nascimento?” Isso foi dito para nos alertar, a fim de que não o desprezássemos como um homem insignificante e de pouco valor por causa dos adversários e das dores de sua paixão. Aquele que sofreu tudo isso possui uma origem inefável. De fato, por “nascimento” se entende a sua origem, ou seja, o seu Pai inefável e indescritível. Reconhece, pois, que essa é a origem daquele que suportou essa paixão, e não o desprezes pela paixão que intencionalmente sofreu por ti. Mas teme-o por sua origem.
A vida à sombra de seu corpo
71. Disse Jeremias, em outra passagem: “O sopro de nossas narinas, o ungido de Iahweh, foi preso nas suas fossas; dele dizíamos: ‘À sua sombra viveremos entre as nações’”. A Escritura diz que Cristo, embora sendo Espírito divino, devia fazer-se homem, submetido ao sofrimento, e revela, de certo modo, surpresa e temor diante da paixão que devia sofrer. Ele, “por cuja sombra foi dito que viveríamos”. “Sombra” significa o seu corpo, porque, como a sombra é criada por um corpo, assim o corpo de Cristo foi criado pelo seu Espírito. Mas a palavra “sombra” significa também a humilhação do seu corpo e a facilidade de ser humilhado. De fato, como a sombra dos corpos erguidos se projeta no solo e é pisada pelos pés, assim o corpo de Cristo, jogado por terra na Paixão, foi, por assim dizer, pisado pelos pés. Chama “sombra” o corpo de Cristo porque se tornou sombra da glória do Espírito que velava. Frequentemente, quando o Senhor passava ao longo do caminho, eram colocadas pessoas com diversas doenças, e aqueles que alcançavam a sua sombra eram curados.

A morte do justo
72. O mesmo profeta se exprimiu sobre a paixão de Cristo do seguinte modo: “O justo perece e ninguém se incomoda; os homens piedosos são ceifados, sem que ninguém tome conhecimento. Sim, o justo foi ceifado, vítima da maldade, mas ele alcançará a paz”. Qual outro é “justo” além do Filho de Deus, que torna perfeitamente justos aqueles que nele creem, e que, como ele, são perseguidos e mortos? Quando diz: “a sua sepultura será paz”, narra como foi morto para a nossa salvação, que está na paz da salvação, e que, com a sua morte, “aqueles que eram seus adversários e inimigos”, crendo concordemente nele, estarão em paz entre eles, dando e recebendo sinais de amizade por sua fé comum nele. Uma vez morto e ressuscitado, devia permanecer imortal, como disse o profeta: “Ele te pediu a vida, e tu lhe concedeste dias sem fim para
sempre”. Por que diz “te pediu a vida” se devia morrer? Era para proclamar a sua ressurreição dos mortos e, ressuscitado dos mortos, ser imortal; então, recebeu a “vida” para ressurgir, e “longos dias para sempre, sem fim” para ser incorruptível.

O que você deseja destacar no texto?
Como ele serviu para sua espiritualidade?




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