A Espiritualidade
Clássica e a nossa Espiritualidade Cristã
X Retiro de
Contemplação e Espiritualidade
OESI – Ordem Evangélica dos Servos Intercessores
23,
24 e 25 de novembro de 2018
Local:
Casa de Retiro Madre Regina - Petrópolis - RJ
Diretor/facilitador:
irmão Edson Cortasio Sardinha
17h – Sexta-feira
Introdução: O que é Espiritualidade Clássica?
Desejo introduzir este retiro com um texto de Osmar
Ludovico da Silva publicado na Revista Ultimato.
Osmar foi pastor durante trinta anos e hoje dedica-se a dirigir
grupos de formação espiritual. Mora com a esposa, Isabelle, em Lauro de
Freitas, BA, e participa da Igreja Batista de Vilas do Atlântico. É autor de
“Meditatio” e se identifica com a missão integral e a espiritualidade clássica.
“A Reforma aconteceu no século 16. O que podemos aprender dos
primeiros 1500 anos da história da Igreja? Muitos evangélicos esclarecidos
dizem: nada. Antes da Reforma só existiam duas igrejas cristãs: a romana e a
ortodoxa. Lutero e Calvino eram agostinianos e lemos abundantes citações dos
Pais da Igreja nas “Institutas” de Calvino. Precisamos confessar, como
evangélicos, nosso preconceito e orgulho. Até hoje, olhamos com suspeita para
tudo o que aconteceu no seio da Igreja de Cristo anterior à Reforma por
considerar esta contribuição como católico-romana e achar que do catolicismo
não pode vir nada valioso.
Durante os primeiros 1500 anos de história da Igreja, o
Espírito Santo soprou várias vezes.
A espiritualidade clássica engloba a contribuição dos santos
e doutores da igreja nos movimentos da patrística, da monástica e da mística
medieval, isto é, o vento do Espírito anterior à Reforma.
O que se observa hoje é que alguns protestantes se debruçam
sobre este período, a espiritualidade clássica, com o desejo de aprender e
integrar na experiência evangélica aquilo que há de bom.
Evangélicos como Hans Burki, James Houston, Eugene Peterson,
Alister McGrath, Richard Foster, Ricardo Barbosa estão redescobrindo a riqueza
da espiritualidade clássica, como contribuição vital para a igreja de hoje.
Católicos contemporâneos, como Henri Nouwen, Anselm Grun,
Thomas Merton e outros, também buscam resgatar esta tradição. A Comunidade de
Taizé, fundada pelo reformado Irmão Roger, tem alcançado muitos jovens na
Europa e outros países, com sua proposta de reconciliação, integrando o que há
de bom nas tradições ortodoxa, católica e reformada.
É uma falácia achar que a Reforma do século 16, apesar de sua
importância fundamental, é o único e definitivo mover do Espírito Santo na
história da Igreja e que nada de bom aconteceu nos séculos precedentes.
Felizmente, para nós, estes antigos movimentos estão documentados e podemos
aprender com eles.
Alguns esclarecimentos que se fazem importantes acerca da
espiritualidade clássica:
1. Não é um produto. Não é mais uma mercadoria na prateleira
religiosa para um mercado ávido por consumir novidades. Trata-se de um olhar
mais profundo para os conteúdos e a prática da fé cristã, ancorado na
experiência com a Palavra e com o Espírito Santo, para vivermos a vida de
Cristo em nós.
2. Não é uma prática mística, alienante, baseada em técnicas
religiosas que produzem sensações agradáveis e felicidade instantânea. Suas
ênfases no silêncio e na solitude, na meditação e na contemplação não são fins
em si mesmos, mas meios para uma vida de santidade e serviço ao próximo. Com a
“Lectio Divina”, nós evangélicos podemos resgatar uma leitura bíblica com o
coração, com os afetos.
3. Embora a monástica seja malvista pelos evangélicos, é
inegável seu impacto no Ocidente. No terceiro século, após a conversão de
Constantino e de o cristianismo se tornar a religião oficial do império, homens
e mulheres se retiraram em regiões ermas e remotas para orar e ler a Bíblia.
Surgiram os mosteiros e as regras. Ao redor do mosteiro floresceu a civilização
ocidental: a biblioteca gerou a academia, o espaço do sagrado atraiu artistas,
o “ora et labora” desenvolveu tecnologias de cultivo, preparo e conservação de
alimentos.
4. O resgate da espiritualidade clássica não busca resultados,
ou conquistar o mundo; muito menos causar um impacto na igreja. Em vez disso,
se remete ao simples, ao pequeno, ao fraco. Não é para ser “marqueteado”,
sistematizado, explicado, reproduzido. Não busca uma recompensa imediata. Não é
para ganhar nada; é um caminho para aqueles que amam o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, para aqueles que abriram mão do poder e querem simplesmente
crescer na comunhão com Deus, ouvir sua voz e responder com dedicação e
consagração.
A “multiforme” sabedoria de Deus não é uma experiência de
conhecimento que pertence a um indivíduo, a um grupo ou a um movimento. Ela
engloba o patrimônio de revelação de Deus por meio da história da Igreja. Ou
seja, as muitas vezes que o Espírito Santo revitalizou, renovou, corrigiu,
avivou e despertou o povo de Deus de seus desvios e acomodações ao longo dos
séculos e através das nações, nas três confissões cristãs: ortodoxa, romana e
reformada.
Para isto, há que se vencer o preconceito evangélico, que
considera que tudo o que é católico é herético e, ao fazer isto, se autoproclama
dono da verdade. Assim rejeita o Pastor de Hermas, Clemente, Justino, Inácio de
Antioquia, Orígenes, Policarpo, Pacômio, Antão, Bento, Atanásio, Crisóstomo,
Gregório Nazianzeno, Basílio, Agostinho, Bento, Bernardo de Claraval, Francisco
de Assis, Tomás de Aquino, Catarina de Siena, Inácio de Loyola, Savonarola,
João da Cruz, Tereza D’Ávila, Bartolomeu de las Casas, Tereza de Calcutá e
muitos outros. Estou certo de que a leitura dos pais orientais, dos santos
místicos e dos doutores do passado e a apreciação do exemplo de suas vidas
podem contribuir decisivamente para a igreja do século 21.
E, claro, integrando com a contribuição de John Wycliffe, Jan
Huss, Lutero, Calvino, Zwínglio, George Fox, John Bunyan, John Knox, Conde Von
Zinzendorf, John Wesley, Jacob Spener, George Whitefield, Charles Finney,
Jonathan Edwards, D. L. Moddy, William Carey, Hudson Taylor, David Livingstone,
William Booth, Karl Barth, Paul Tillich, Dietrich Bonhoeffer, Martin Luther
King, John Stott, René Padilla, Samuel Escobar e tantos outros.
Sim, sou um reformado evangélico: “Sola Scriptura”, “Sola
Gratia”, “Sola Fide”, “Solus Christus”, “Soli Deo Gloria”. E aberto para
aprender e integrar a espiritualidade clássica em minha experiência cristã.
Aprecio e sou edificado com o que aconteceu em Niceia (325), Monte Cassino
(529), Assis (1223), Wittenberg (1517), Westminster (1647), Azuza Street
(1905), Medellin (1968), Lausanne (1974) e com outros momentos em que o
Espírito soprou na história da Igreja. É importante e promissor este diálogo
entre a Reforma Protestante e a espiritualidade clássica, integrando o que há
de bom nestes movimentos.
E prossigo no meu caminho: na intimidade com o Pai, sob a
direção da Palavra e a inspiração do Espírito Santo; buscando a santidade de
Cristo e, com a Igreja, anunciando o evangelho e servindo aos pobres. “Quando
falho, me arrependo, experimento a graça perdoadora e recomeço”.
Orientações:
Sua presença neste Retiro foi providenciada por Deus. Estávamos orando para
que o Senhor preparasse tudo, inclusive, escolhesse os participantes.
Este retiro é
uma caminhada de silêncio e oração. Em todo o tempo faça o máximo de silêncio e
esteja sempre em oração. Pratique o que você irá aprender.
É importante
total silêncio na Capela e nos corredores.
O silêncio é
necessário por se tratar de um Retiro Contemplação e Espiritualidade e porque
estamos em um convento.
Outra coisa
importante: Você irá atrapalhar muito as orações e as ministrações se chegar
atrasado. Por favor, chegue sempre antes do horário. Só começaremos com sua
presença. Enquanto você não estiver presente, não poderemos começar nenhuma
atividade. Somos um corpo. Como corpo, vamos ser
dirigidos pelo Senhor. Quando chegar a capela ou na sala de estudos, não fique
conversando. Prefira ler ou ficar em silencio orante. Só use o celular dentro
do quarto; mesmo assim, de forma disciplinada. Vamos fazer um jejum de Whatsapp
e facebook?
Vamos
desenvolver nossa vida espiritual em Cristo.
Seja
Bem vindo em Nome de Jesus!
19:30 horas - Sexta-feira
A Espiritualidade
de Antão
A vida consagrada (monástica), como “forma particular de vida
cristã”, nasceu no Egito, no final do século III e primeira metade do IV. Seu
iniciador oficial foi Antão ou Antônio, o egípcio.
Antão era filho de lavradores ricos que cultivavam as férteis
terras do vale do Nilo; falava a língua copta e recebera uma boa educação
cristã. Um dia, enquanto se dirigia à igreja, ia pensando em como os apóstolos
tinham deixado todas as coisas, para seguir Jesus. Ao chegar à igreja, escutou
que estavam cantando o Evangelho do jovem rico: “Se queres ser
perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus.
Depois, vem e segue-me” (Mt 19, 21)
O jovem Antão acolheu esta palavra de Jesus como se fosse dirigida
pessoalmente a ele. Saiu da igreja decidido a fazer aquilo que Jesus lhe pedia.
Tinha, porém, alguns encargos de família. Os pais, falecidos, tinham-no deixado
responsável de uma sua irmã mais nova. Ele a confiou a uma comunidade de moças
que haviam consagrado a Deus sua virgindade.
Antão iniciou uma vida nova, a “vida ascética”. Consiste em viver
só para Deus, esforçando-se por viver sempre na Sua presença, fazendo o bem a
todos e evitando o mal.
Tendo distribuído seus bens, teve que trabalhar para viver e
ajudar os mais pobres. Um ancião deu-lhe algumas instruções. Depois, Antão
buscou a solidão do deserto.
Durante vinte anos, viveu sozinho. Fazia apenas uma refeição por
dia, dormia no chão. Assim adquiriu fama de santo.
As pessoas começaram a procurá-lo, para pedir-lhe conselho. Muitos
seguiram seu exemplo, tornando-se eremitas ou anacoretas (literalmente
“solitários”). Renunciando a tudo, “tornou-se o pai de todos”. Como outro São
Paulo, era tido como indigente e enriquecia a muitos, como não tendo nada e, no
entanto, possuindo tudo (cf. 2Cor 6,10).
O Bispo de Alexandria, Atanásio, escreveu a “Vida de Antônio” (Vita
Antonii). Atanásio apresenta Antão como o protótipo do monge, o homem
unificado que só busca o único necessário: Deus.
Mas Antão teve que lutar contra as tentações que o assaltaram
durante toda a sua vida.
Antão morreu no ano 356, aos 105 anos de idade. A Igreja celebra
sua memória no dia 17 de janeiro.
Três lições podemos tirar da vida de Santo Antão para a nossa
espiritualidade:
1. A busca constante de Deus: estar sempre na Sua presença.
2. A perseverança numa vida reta, mediante a prática do Exame de
Consciência.
3. A luta constante contra o mal, em todas suas formas: o demônio, o
mundo e “a carne”.
20h – Sexta-feira
Cronologia da Vida de Francisco
de Assis
1181/82: Nasce em Assis. Batizado com o nome de
Giovanni di Pietro (pai) di Bernardone (avô). Mudado para Francisco.
1202: Guerra entre Perúsia e Assis. Assis vencida em
Collestrada. Francisco, com 20 anos, passa um ano preso em Perúsia. Resgatado
pelo pai, devido à doença. Nesse tempo parece que a família de Clara está
refugiada em Perúsia; ela com 8/9 anos de idade.
1204: Longa doença.
1204/05: Parte para a guerra da Apúlia, no sul.
Volta após visão e mensagem de Espoleto. Começo da conversão gradual. Em junho
de 1205 morre o guerreiro Gautier de Brienne, chefe das expedições no Sul.
1205: Mensagem do crucifixo de São Damião. Conflito
com o pai.
1206: Janeiro-fevereiro: questão perante o
bispo Dom Guido II.
Março-junho: em Gúbio, perto de Assis,
cuida dos leprosos.
Provavelmente em julho: volta a Assis.
Veste-se de eremita e começa a reparação da capela de São Damião.
1208: Trabalha na reparação de São Damião, São Pedro
e Santa Maria dos Anjos ou Porciúncula.
1208: 24 de fevereiro: ouve o Evangelho da missa de
São Matias, na Porciúncula, sobre a missão apostólica. Muda as vestes de
eremita e passa a usar as de pregador ambulante, descalço. Início da pregação
apostólica. Aqui propriamente começa o estilo de vida franciscana, apostólica,
de presença.
16 de abril: recebe em sua companhia os
irmãos Bernardo de Quintavalle e Pedro Cattani. No dia 23, recebe o irmão
Egídio na Porciúncula.
Março-junho: a primeira missão.
Francisco e Egídio vão à marca de Ancona no litoral adriático. Recebe mais três
companheiros, inclusive Filipe (Longo).
Em setembro e março: segunda missão. Os
sete vão a Poggiosbustone no vale de Rieti. Depois de ter-se certificado do
perdão dos pecados e do futuro crescimento da Ordem, Francisco envia os seis, e
mais um que lhes agregara, para a terceira missão, dois a dois. Bernardo e
Egídio vão à Florença.
1209: Os oito voltam à Porciúncula. Ajuntam-se-lhes
outros quatro.
Março-junho: Francisco escreve breve
Regra e vai a Roma com os onze. Obtém a aprovação do Papa Inocêncio III, só
oralmente. Seria esta a primeira Regra, perdida. Na volta passam por Orte e se
estabelecem em Rivotorto perto de Assis, num rancho abandonado.
1209 ou 1210: Os frades mudam-se para a
Porciúncula, depois que um camponês toma o rancho para estábulo de seu burro.
Possível começo da Ordem Terceira
Secular. A Porciúncula era dos beneditinos cluniacenses que a emprestaram a
Francisco. Torna-se o berço da nova Ordem.
1211: Junho-setembro: Francisco vai à Damácia e
retorna.
1212: Março: na noite do domingo de Ramos, a nobre
jovem Clara di Favarone foge de casa e é recebida na Porciúncula. Talvez em
maio fica alguns dias no mosteiro de São Paulo e algumas semanas no mosteiro
beneditino de Panzo (perto de Assis) e por fim recolhe-se a São Damião, onde
fica até a sua morte, em 1253. Segue-a a irmã Inês, 16 dias depois.
1213 ou 1214/15: Francisco pretende ir em missão a
Marrocos, entre os muçulmanos, mas chega apenas à Espanha, onde adoece
gravemente, retornando logo à Itália. Tomás de Celano ‘agradece a Deus esta
doença’, porque com a volta de Francisco, é recebido na Ordem.
1216: Junho-setembro: Francisco obtém do sucessor de
Inocëncio III, o Papa Honório III, em Perúsia, a indulgência da Porciúncula.
1217: 5 de maio: capítulo geral de Pentecostes na
Porciúncula. Primeira missão para além dos Alpes e ultramarina. Instituição de
províncias. Frei Egídio vai para Túnis. Frei Elias para a Síria. Francisco
pretende viajar para a França, mas o Cardeal Hugolino, legado papal na Toscana,
encontra-o em Florença e o convence a permanecer na Itália.
1219: 26 de maio: capítulo geral de Pentecostes.
Grandes missões no exterior: Alemanha, Hungria, Espanha, Marrocos, França. Em
junho, Francisco vai de navio de Ancona para o Oriente, a exemplo dos outros.
Os que vão à França, interrogados se são
albigenses, respondem afirmativamente, não sabendo que albigenses são
denominados os hereges cátaros (puros) do Sul da França. O bispo de Paris e
lentes da Universidade, examinando a sua Regra, constatam que a mesma é
católica e evangélica. Dirigem-se, porém, ao Papa, pedindo informações. Este
declara-os católicos e com Regra aprovada pela Santa Sé.
Para a Alemanha viajam cerca de 60. Do
alemão conhecem apenas a palavra ‘Ya’ (Ja) – sim. Perguntados se querem comida
ou hospedagem, respondem: ‘Ya’. Perguntados se são hereges lombardos (pobres da
Lombardia = Valdenses) e se vêm espalhar seus erros, também respondem: ‘Ya’.
Presos, surrados, despidos,
ridicularizados, sofrem como cães. Vendo que não podem produzir frutos na
Alemanha, voltam para a Itália. Começam daí por diante a julgar tão cruel a
Alemanha que só pelo desejo do martírio voltariam outra vez para lá.
Na Hungria também os missionários sofrem
os maiores vexames. Quando vão pelos campos, os pastores atiçam os cães contra
eles e dão-lhes cacetadas. Pensando que querem sua roupa, dão-lhes as túnicas
exteriores. Depois as vestes internas… Acabam voltando para a Itália.
Os que vão para Marrocos, são
martirizados e depois canonizados como os promártires franciscanos (Beraldo,
Pedro, Acúrsio, Adjuto, Otão: 1220). Movido por esse fato, Santo Antônio, então
cônego regular de Coimbra com o nome de Fernando, pede ingresso na Ordem
Franciscana.
1219: Setembro-dezembro: Francisco vai ao
acampamento do Sultão do Egito, Melek-el-Kamel (1218-38), e tem ‘entrevista’
com ele. A 5 de novembro, o exército dos cruzados toma Damieta, perto de
Alexandria, no Egito. Francisco tem pouco resultado junto ao Sultão. Escreve o
cronista que, ao chegar, é maltratado. Ignorando a língua dos turcos, apenas
diz: ‘Soldan, Soldan’. Então é levado à sua presença e depois reconduzido por
homens amados para junto dos exércitos que cercam Damieta.
1220: Francisco viaja para São João D´Acre (Accon),
onde há uma fortaleza dos cruzados, e vai à Terra Santa. Na sua ausência,
Francisco deixa dois ‘vigários’, que, porém, começam a introduzir novidades na
Ordem, instituindo novos dias de jejum e abstinência, além dos já marcados. Um
frade, encarregado das clarissas, pede privilégios ao Papa em favor delas,
contra a vontade do santo, que prefere ‘vencer pela humildade mais que pelo
poder da lei’. Outro, subtraindo-se à Ordem, pretende fundar uma nova Ordem,
para leprosos de ambos os sexos.
1220: Março-setembro: alarmado pelas notícias que um
frade leva ao Oriente, retorna à Itália, desembarcando em Veneza. Nessa
ocasião, o Cardeal Hugolino é nomeado protetor da Ordem.
1220: Francisco entrega o governo da Ordem a Frei
Pedro Cattani, como seu vigário.
1221: Março: morre Frei Pedro Cattani.
Maio: capítulo geral de Pentecostes.
Frei Elias de Cortona é eleito vigário em substituição ao falecido. Francisco
apresenta a segunda Regra (não bulada ou não aprovada por bula papal), que Frei
Cesário de Espira, versado em Sagrada Escritura, adornou com muitos textos
bíblicos.
Aprovada a Regra da Ordem Terceira
Secular pelo papa Honório II.
1221/1222: Francisco faz uma viagem de
pregação ao Sul da Itália.
1222: 15 de agosto: Festa de Assunção. Francisco
prega em Bolonha (sede de estudos jurídicos). Suas palavras visam mais
‘extinguir inimizades e reformar os pactos de paz’, conforme relata um ouvinte.
‘Muitas facções de nobres, entre os quais existia velha inimizade, com
derramamento de sangue, foram levadas a pacificação’.
1223: Fonte Colombo, Francisco redige a 3ª Regra,
que é discutida no capítulo geral de junho. A discussão continua em Roma, e em
outubro Francisco se dirige ao Papa para pedir a aprovação.
29 de novembro: Honório III aprova, com
bula papal, a Regra definitiva, ainda hoje em vigor. O texto original
conserva-se como relíquia no Sacro Convento de Assis. Provavelmente houve
colaboração dos frades e do representante da Santa Sé.
24/25 de dezembro: na noite de Natal,
Francisco celebra a festa em Greccio, junto a um presépio.
1224: 2 de junho: segue uma missão de frades para a
Inglaterra. Bem sucedida.
Em fim de julho ou início de agosto, o
vigário da Ordem, Frei Elias é advertido (sonho, ou visão?), que Francisco terá
ainda dois anos de vida.
15 de agosto a 29 de setembro:
Francisco, com Frei Leão e Frei Rufino, passa no Alverne, preparando-se com uma
quaresma de oração e jejum para a festa de São Miguel Arcanjo.
Em setembro, tem a visão do Serafim
alado e recebe os estigmas.
Em outubro ou início de novembro,
Francisco retorna à Porciúncula, via Borgo Santo Sepulcro, Monte Casele e
Cidade de Castello.
1224: ou 1225, dezembro-fevereiro: cavalgando um
jumento, Francisco faz um giro de pregações pela Úmbria e Marcas (Ancona).
1225: Março: visita Clara em São Damião. Suas vistas
pioram muito, então. Ele pretende ficar ali numa cela, ou na casa do capelão,
mas, cedendo aos pedidos do vigário da Ordem, Frei Elias, consente em receber
tratamento médico: a estação é muito fria, e o tratamento é transferido.
Abril ou maio: ainda em São Damião,
Francisco recebe tratamento, mas não melhora. Recebe a promessa da vida eterna.
Depois de uma noite dolorosa, atormentado pela dor e por ratos, compõe o
Cântico do Irmão Sol. Junto a Santa Clara.
Junho: acrescenta uma estrofe ao Cântico
do Irmão Sol, comemorando a reconciliação entre o bispo e o podestá de Assis.
Inícios de julho: acolhido em Rieti pelo
Cardeal Hugolino e pela corte papal para submeter-se ao tratamento dos médicos
da corte pontifícia. Vai a Fonte Colombo para tratamento, sob insistência do
Cardeal Hugolino, mas o difere, devido à ausência do Frei Elias.
Julho ou agosto: em Fonte Colombo, o
médico cauteriza as têmporas de Francisco, mas com pouco resultado.
Setembro: Francisco vai a S. Fabiano,
perto de Rieti (Floresta), para ser tratado por outro médico, que opera sua
vista. Restaura então a vinha do pobre p[adre, danificada por visitantes de
Francisco.
1226: Francisco vive ora em Rieti, ora em Fonte Colombo.
Abril: vai a Sena para outro tratamento.
Maio ou junho: volta à Porciúncula, via
Cortona.
Julho-agosto: no calor do verão é levado
para Bagnara, nas colinas perto de Nocera.
Fim de agosto ou início de setembro:
piorando de saúde, é levado, via Nottiano, para o palácio do bispo de Assis. D.
Guido acha-se ausente, em peregrinação ao Santuário de São Miguel, cuja festa
se celebra no dia 29, no monte Gargano.
Sentindo iminente a morte, pede para ser
levado para a Porciúncula. Chegado à planície, lança sua bênção sobre Assis.
Nos últimos dias de vida, dita o Testamento, autotestemunho de incalculável
valor para a vida e os propósitos de homem tão singular.
Com a proximidade da morte, pede que o
deitem nu no chão. Depois aceita emprestado o hábito que o guardião lhe dá. Faz
ler o Evangelho da Última Ceia e abençoa os filhos seus, presentes e futuros.
1226: 3 de outubro, à tarde: Francisco cantando
‘mortem suscepit’ (morreu cantando). No domingo seguinte, 4 de outubro, é
sepultado na igreja de São Jorge, na cidade de Assis, mas o cortejo fúnebre
passa antes pelo mosteiro de São Damião, para a despedida de Clara.
1228: 16 de julho: Francisco é canonizado. Relíquias
trasladadas para a nova basílica, em construção, em 25 de maio de 1230.
8:30h - Sábado
A Espiritualidade de Macário do
Egito
Macário do
Egito (ca. 300 – 391 d.C.) foi um monge cristão egípcio e um eremita.
Ele também é conhecido como Macário, o Velho, Macário, o
Grande e Luz do Deserto.
Macário nasceu
no Alto Egito. Uma antiga tradição afirma que o seu nascimento ocorreu no
vilarejo de Shabsheer (Shanshour), em Al Minufiyah, por volta de
300 d.C.
Algum tempo
antes de iniciar sua vida ascética, Macário ganhava a vida
contrabandeando natrão[1] nas
redondezas de Nítria, uma vocação que o ensinou como sobreviver e como
viajar através da vastidão desolada da região.
Ainda jovem,
Macário foi forçado a se casar contra a sua vontade. Assim, ele fingiu estar
doente e pediu aos seus pais a permissão para ir até as regiões selvagens para
relaxar. Quando retornou, ele descobriu que sua esposa tinha morrido e, logo em
seguida, seus pais também partiram. Macário então distribuiu todo seu dinheiro
entre os pobres e necessitados.
Admirando suas
virtudes, o povo da vila acabou levando-o até o bispo de Ashmoun, que
o ordenou presbítero.
Um tempo depois,
uma mulher grávida o acusou de tê-la atacado. Macário não tentou se defender e
aceitou a acusação em silêncio. Porém, quando o parto se aproximou, o trabalho
de parto ficou muito difícil. Ela não conseguiu dar à luz até que confessou que
Macário era inocente. Uma multidão então clamou por sua inocência, mas ele
preferiu fugir para o deserto da Nítria (Wadi El Natrun) para escapar
todas as glórias do mundo.
Por um breve
período, Macário foi banido para uma ilha
no Nilo pelo imperador Valente, juntamente com São
Macário de Alexandria, por conta de uma disputa sobre o credo de Niceia.
Ao retornar, no dia 4 de abril, eles foram recebidos por uma multidão de monges
do deserto da Nítria, alegadamente cinquenta mil, entre os quais São
Pichoi e São João Anão.
Macário do Egito
fundou um mosteiro que ainda hoje tem o seu nome, o Mosteiro de São Macário, o
Grande, que vem continuamente sendo habitado por monges desde a sua fundação,
no século IV d.C. Hoje o mosteiro pertence à Igreja Ortodoxa Copta.
Todo o deserto
da Nítria é, às vezes, chamado de “Deserto de Macário”, pois ele foi o monge
pioneiro na região. As ruínas de diversos mosteiros na região quase confirma a
tradição local de que os claustros de Macário eram iguais, em número,
aos dias do ano.
Macário morreu
no ano de 391 d.C. Após sua morte, os nativos da vila de Shabsheer roubaram seu
corpo e construíram uma grande igreja para ele na vila. Durante o papado
do Papa Miguel V de Alexandria, as relíquias de Macário foram trazidas de
volta ao deserto da Nítria.
Hoje em dia, o
corpo de Macário encontra-se em seu mosteiro, o Mosteiro de São
Macário, o Grande, em Scetes, no Egito.
Teologia
de Macários
Os
ensinamentos de Macário são caracterizados por uma forte ênfase pneumática que
inter-relaciona o trabalho de salvação de Jesus Cristo (como o 'Espírito de
Cristo') com as obras sobrenaturais do Espírito Santo.
Esta
iniciativa 'pneumática' nas "homílias espirituais" é geralmente chamada
de mística e, assim, é uma forma de pensamento espiritual que tem encantado os
místicos cristãos de todas as eras, ainda que, por outro lado, em sua
antropologia e soteriologia, ele frequentemente se aproxime do ponto de vista
de Santo Agostinho.
O
debate sobre os “presentes extraordinários” do Espírito Santo na era
pós-apostólica é dado apoio textual pelas homilias de Macário que defendem uma
afirmação destes na forma de curas, visões e exorcismos. As homilias de Macário
influenciaram, portanto, os grupos pietistas que vão dos franciscanos
espirituais até à prática monástica ortodoxa de John Wesley, e à Cristandade
carismática atual.
Macário foi claro em afirmar que a
theosis, ou santificação, era obra do Espírito Santo, que adentrava os crentes
no batismo. Sua obra foi a precursora dos escritos de Agostinho, mais
populares, contra Pelágio.
PALAVRAS DE MACÁRIO
Antes de mais nada devemos pedir a Deus, com o esforço do coração e com
fé, que nos conceda encontrar a sua riqueza, o verdadeiro tesouro de Cristo nos
nossos corações, com a potência e a energia do Espírito. E, tendo encontrado
vantagem para nós mesmos, tendo encontrado a salvação e a vida eterna, isto é,
o Senhor, poderemos também ser úteis aos outros, naquilo que é possível e
naquilo que se refere a nós, oferecendo toda boa palavra espiritual extraída do
tesouro interior do Cristo e narrando os mistérios celestes.
À bondade do Pai agrada vir morar em todo homem que crê e o invoca. “Quem
me ama, está dito, será amado pelo meu Pai e também eu o amarei e me
manifestarei a ele. … Se alguém me ama guardará a minha palavra e o meu Pai o
amará e nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14, 21.23).
Assim quis a infinita bondade do Pai, assim
agradou ao amor de Cristo, que está acima de todo nosso pensamento, assim
prometeu a inefável bondade do Espírito.
Se alguém está privado da veste divina e celeste, isto é, da potência do
Espírito, como está escrito: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não lhe
pertence” (Rm 8,9), chore e invoque o Senhor para receber do céu a veste
espiritual e recobrir a alma despojada da energia divina, pois quem não endossa
a veste do Espírito está envolvido pela grande vergonha da baixeza das paixões.
O primeiro homem, ao ver-se nu, sentiu vergonha, tamanha é a desonra
ligada à nudez. Portanto, se a nudez do corpo provoca tamanha vergonha, muito
mais a alma que está desnuda da potência divina e que não está revestida da
veste inefável, incorruptível e espiritual, que na verdade é o próprio Senhor
Jesus Cristo, está envolvida de vergonha ainda maior e pela desonra das
paixões.
Portanto, peçamos a Deus e supliquemos que nos revista do manto da
salvação, o Senhor nosso Jesus Cristo, a luz inefável. As almas que são
revestidas dele não serão desnudadas para a eternidade.
Se o Senhor, vindo à terra assumiu o cuidado dos corpos corruptíveis,
muito mais terá cuidado da alma imortal, feita à sua imagem.
Creiamos, portanto, e acheguemo-nos dele em verdade, para que logo se
realize a cura em nós. Ele prometeu dar o Espírito Santo àqueles que lho
pedirem (cf. Lc 11,13), de abrir àqueles que baterem, de deixar-se encontrar
por aqueles que o procurarem (cf. Mt 7,7) e não mentir naquilo que prometeu.
A ele a glória e o poder pelos séculos. Amém. Glória à inefável
misericórdia da Santa Trindade.
Aqueles que foram feitos dignos de se tornarem filhos de Deus e de
renascer do alto, do Espírito Santo, e que trazem em si mesmos o Cristo que os
ilumina e lhes doa repouso, são guiados pelo Espírito em múltiplos e diversos
modos e, invisivelmente no seu coração, no repouso do espírito, são movidos
pela graça.
Homilia de Macário
Entregarmo-nos totalmente a Ele
Como é possível que, apesar de tais encorajamentos e tais promessas da
parte do Senhor, nosEnviar recusemos a entregar-nos a Ele totalmente e sem
reservas, a renunciarmos a todas as coisas e mesmo à nossa própria vida, em
conformidade com o Evangelho (Lc 14,26), para amarmos apenas a Ele, e mais
ninguém a não ser Ele?
Considera tudo o que foi feito para nós: que glória nos foi dada, que
planos com vista à história da salvação fez o Senhor desde os pais e os
profetas, que promessas, que exortações, que compaixão da parte do Mestre desde
as origens! No fim, manifestou a Sua indizível benevolência para connosco ao
vir habitar connosco e ao morrer na cruz para nos converter e nos trazer à
vida. E nós não abandonamos as nossas próprias vontades, o nosso amor ao mundo,
as nossas predisposições e os nossos maus hábitos, aparecendo nisso como homens
de pouca fé, ou mesmo sem fé nenhuma. […]
E contudo, vede como, apesar de tudo isso, Deus Se mostra cheio de uma
doce bondade. Ele protege-nos e cuida de nós invisivelmente; apesar das nossas
faltas, não nos abandona definitivamente à maldade e às ilusões do mundo; na
Sua grande paciência, impede-nos de perecer e vigia de longe o momento em que
voltaremos para Ele.
A Parábola de Macário e o Crânio
do Deserto.
"Um dia andando pelo deserto, eu encontrei o crânio de um homem
morto repousando no chão. Como eu estava movendo-o com minha vara, o crânio
falou comigo. E então indaguei 'Quem é você?' o crânio respondeu 'Eu era um
sumo sacerdote dos ídolos e dos pagãos que habitaram neste lugar, mas você é
Macário, o portador do Espírito. Sempre que tens piedade dos que estão em
tormento, e reza por eles, eles sentem um pouco de alívio e descanso'
O Ancião
disse-lhe: 'O que é este alívio, e qual é este tormento? Ele disse-lhe: 'Assim
como o céu é distante da terra, tão grande é o fogo embaixo de nós; estamos nós
mesmos em pé no meio do fogo, desde os pés até a cabeça. Não é possível ver
qualquer um face a face, mas a face de um é fixada à parte de trás do outro. No
entanto, quando vocês oram por nós, cada um de nós pode ver o rosto do outro um
pouco. Este é o nosso refúgio.' O velho homem em lágrimas disse: 'Ai de mim o
dia em que este homem nasceu!' Ele disse ao crânio, 'Existem punições que são
mais dolorosas do que essa? O crânio disse-lhe: 'Há uma punição mais grave
abaixo de nós.' O Ancião disse: 'Quem são as pessoas lá embaixo?' O crânio
disse-lhe: “Nós recebemos um pouco de misericórdia uma vez que não conhecemos a
Deus, mas aqueles que conheceram e O negaram, caíram abaixo de nós' Então, pegando o crânio, Macário o
enterrou."
9:30h - Sábado
A Espiritualidade e Origem da
Lectio Divina
A
Lectio Divina tem uma história de pelo menos 2.500 anos. No Antigo Testamento o
povo de Israel orava a Palavra e usava a Palavra para orar. No livro de Neemias
8. 2-10 diz que o povo se reuniu para ouvir Neemias ler o livro desde a manhã
até ao meio dia. Todo o povo ouvia atentamente a leitura do livro da Lei. Este
texto tão antigo é o precursor da lectio.
E
isso durou durante gerações. Todos os Padres da Igreja tanto no Oriente como no
Ocidente praticavam esse método e encorajavam os fiéis a fazerem o mesmo em
suas casas.
Os
monges fizeram da Lectio o centro de suas vidas. Santo Antão séc II, sabia a
Escritura de cor. Para São Pacomio, São Basílio e São Jerônimo era o “alimento
celestial”, “pão descido do céu”. São Cipriano escrevia a respeito da Bíblia:
“tendes sempre a Lectio Divina entre as mãos”. São Bento na Regra no cap IV diz
: "ouvir de boa vontade as santas leituras e dar-se frequentemente à
oração…"
O
Método da Lectio nasceu no século XII com o monge Guigo que percebeu que lendo
o texto bíblico era possível reler o passado à luz do presente, trazendo uma
grande contribuição para o futuro.
Guigo
sentia que a Palavra de Deus comprometia e que o conjunto dos livros que formam
a Bíblia era tido dentro de uma unidade. Dentro dessa unidade, percebia que
estavam presentes três níveis de compreensão: literário, histórico e o
teológico. Cada um tem sua especificidade, o primeiro está mais próximo do
texto, o segundo leva mais em consideração a situação histórica em que o texto
foi escrito e o terceiro está diretamente relacionado com a mensagem de Deus.
Orígenes
(184-253) é o grande idealizador do termo Lectio Divina. Muitos traduzem Lectio
Divina por leitura divina, outros por leitura orante. O que nos importa é o
valor que esse método tem para nossa vida.
A
Lectio Divina é resultado da prática da leitura que os cristãos faziam e fazem
da Bíblia. Essa prática usada pelos cristãos, já é um resquício da tradição das
comunidades do Antigo Testamento. As comunidades liam os textos bíblicos que
eram passados de geração em geração.
A
grande contribuição de Guigo foi a de sistematizar os passos da Lectio Divina.
Ele sugere que sejam seguidos quatro passos. O termo utilizado para cada
momento é degrau.
Com
o intuito de partilhar a forma como compreender melhor o texto bíblico,
resolveu escrever um livrinho no qual intitulou "A Escada dos
Monges". Escreve para outro monge dizendo: "certo dia, durante o
trabalho manual, quando estava refletindo sobre a atividade do espírito humano,
de repente se apresentou à minha mente, a escada dos quatro degraus
espirituais: a leitura, a meditação, a oração e a contemplação. Essa é a escada
dos monges, pela qual eles sobem da terra ao céu. É verdade, a escada tem
poucos degraus, mas ela é de uma altura tão imensa e inacreditável que,
enquanto a sua extremidade inferior se apoia na terra, a parte superior penetra
nas nuvens e investiga os segredos do céu".
E
diz mais: "A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com espírito
atento. A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da
própria razão, procura o conhecimento da verdade oculta. A oração é o impulso
fervoroso do coração para Deus, pedindo que afaste os males e conceda as coisas
boas. A contemplação é uma elevação da mente sobre si mesma que, suspensa em
Deus, saboreia as alegrias da doçura eterna".
A
Lectio Divina supõe alguns princípios: a unidade da Escritura, atualidade ou
encarnação da Palavra e a Fé em Jesus Cristo, vivo na Comunidade.
Os
quatro degraus pedem que o leitor fique atento à:
1º - Leitura:
A
leitura é o primeiro passo, ou degrau da Leitura Orante da Bíblia. Ler na
Bíblia, reler, tornar a ler, cada vez mais, conhecer bem o que está escrito,
até assimilar o próprio texto; respeitar o texto tal como ele é, sem
interpretações precipitadas, sem achar que já conhece esse texto. A Sagrada
Escritura é como uma fonte de água. A cada instante brota uma água nova que não
é a mesma água do segundo anterior. É como um copo de água que você bebe. Só se
bebe aquele copo d’água uma vez na vida. Assim cremos que seja a Palavra de
Deus é sempre nova e atual. Ao ler o texto da Escritura, fazê-lo com o respeito
de quem se encontra pela primeira vez. Estar atento para as palavras, as
repetições, o jeito como está escrito, quem aparece no texto, em que lugar, o
que fazem, o que falam... Muitas vezes precisaremos lançar mão de algum
subsídio que ajude a entender o texto e o seu contexto histórico/social; usar
estudos, dicionários bíblicos, livros, a ciência, a teologia e outros meios. De
acordo com Dt 30.14 -“A Palavra está muito perto de ti: na tua boca” - é chegar
perto da Palavra de Deus; a Palavra está na boca. Aqui descobrimos o que o texto
diz em si mesmo.
2º - Meditação:
A
meditação é o segundo degrau. Depois de ouvir e ler a Sagrada Escritura, de
assimilá-la criativa e ativamente, vamos usar a imaginação, palavras, a
repetição mental ou oral de uma palavra, uma frase, um versículo. Repetir de
memória, com a boca, o que foi lido e compreendido. Vamos ruminar até que, da
boca e da cabeça, passe para o coração. Já não é mais só o que o texto diz, mas
o que esta palavra está dizendo hoje, o que me diz concretamente dentro da
realidade em que estamos vivendo. O que Deus falou no passado e o que está
falando hoje, através deste texto? É uma forma simples de meditação, um jeito
de saborear o texto com cores e cheiros de hoje, da nossa realidade. “A Palavra
está muito perto de ti: na tua boca e no teu coração”. Questionamentos: O que o
texto me diz? (Ruminar, trazer o texto para a própria vida e a realidade
pessoal e social.)
3º - Oração:
A
meditação nos faz subir o terceiro degrau. A leitura e meditação se transformam
em um encontro mais direto, íntimo e pessoal com Deus. Entramos em diálogo, em
comunhão amorosa com Deus. Respondemos a Deus, pedimos que nos ajude a praticar
o que a sua Palavra nos pede. O texto bíblico e a realidade de hoje nos motivam
a orar. O terceiro passo é a oração pessoal que pode desabrochar em oração
comunitária, expressão espontânea de nossas convicções e sentimentos mais
profundos. “A Palavra está muito perto de ti: ... no teu coração”. (orar –
suplicar, louvar, dialogar com Deus, orar com um salmo...)
4º - Contemplação:
Contemplar
não é algo intelectual, que se passa na cabeça, mas é um agir novo que envolve
todo nosso ser. É contemplativa a pessoa que tem o “jeito novo” de ser, viver,
ver e assumir a vida, conforme o projeto daquele que é o nosso único Mestre e
que nos diz: “Vocês são todos irmãos” (Mt 23,8). A Leitura Orante se torna uma
atitude continuada no dia-a-dia por uma ação transformadora – pessoal,
comunitária, social, mundial. Resumindo. A leitura responde a pergunta: O que
diz o texto? A meditação responde: O que diz o texto para mim, para nós? A
oração responde: O que o texto me faz dizer a Deus? E a contemplação ajuda a
responder: Estou pronto para nova missão? Os quatro degraus seguem um dinamismo
onde a cada momento o leitor da Bíblia é convidado a recomeçar todo o processo.
10:30h - Sábado
Exercícios Espirituais
1.
Invocação: Invocar o Espírito Santo
2. Leitura: Leia com calma o texto bíblico:
Lucas 10.38-42
3. Silêncio
e Contemplação:
Faça um silêncio lembrando o que leu.
4. Imaginação: Imagine a cena que você acabou
de ler.
5. Lectio:
O que o texto diz?
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6. Meditatio: O que o texto me diz? Quais as lições
aplico para minha vida?
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7. Oratio:
O que digo a Deus? Escreve sua oração a partir do texto refletido.
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8. Memorizar: Escolher uma frase como resumo
de tudo e memorizar.
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14 horas – Sábado
A Espiritualidade de Basílio Magno
Leia
o texto em grupo e depois discuta os pontos que mais lhe chamou a atenção.
Bispo,
Confessor e Doutor da Igreja, recebeu o título de Pai dos monges do Oriente,
assim como Bento é considerado o Patriarca dos monges do Ocidente.
Basílio de Cesaréia da Capadócia, na Ásia Menor, é de uma
família de santos. Sua avó paterna foi Santa Macrina, a Antiga, que confessou a
fé em Jesus Cristo durante a perseguição de Maximiano Galério. Seus pais foram
Basílio, o Velho, e Santa Emília, filha de um mártir. De seus nove irmãos, mais
três foram elevados à honra dos altares: Santa Macrina, a Jovem, Gregório de
Nissa e Pedro de Sebaste. Basílio, seu irmão Gregório de Nissa e seu amigo
Gregório Nazianzeno formam o trio chamado “os três capadocianos”.
Basílio nasceu em Cesaréia no final do ano 329. Seu pai era
advogado e professor, vinha de família rica e considerada latifundiária, da
região do Ponto. Sua mãe era de família nobre da Capadócia. O menino foi
entregue aos cuidados da avó Macrina, para a primeira educação. Afirmará ele
depois: “Nunca mais olvidei as fortes impressões que faziam à minha alma ainda
tenra as palavras e os exemplos dessa santa mulher”. Para defender-se da
acusação de heterodoxia, afirmará: “Jamais traí a fé. Como a recebi ainda
menino sobre os joelhos de minha avó Macrina, assim a prego e assim a ensinarei
até o meu último alento”.
Basílio estudou inicialmente com o pai, depois em Cesaréia,
Constantinopla e Atenas. Nas duas últimas, teve como condiscípulo Gregório
Nazianzeno, a quem se uniu em estreita amizade, e a quem devemos muitos dados
de sua vida.
Cristão não só de nome, mas de fato
Gregório atesta no panegírico (discurso publico em louvor a
alguém) de seu amigo: “Ambos tínhamos as mesmas aspirações; íamos atrás do
mesmo tesouro, a virtude. Só conhecíamos dois caminhos: o da igreja e o das
escolas públicas. Não tínhamos nenhuma ligação com os estudantes que se
mostravam grosseiros, impudentes ou desprezavam a religião, e evitávamos os que
tinham conversas que poderiam nos ser prejudiciais. Tínhamo-nos persuadido de
que era ilusão mesclar-se com os pecadores sob pretexto de procurar
convertê-los, e deveríamos temer sempre que nos comunicassem seu veneno. Nossa
santificação era nosso grande objetivo, e o de sermos chamados e sermos
efetivamente cristãos. Nisso fazíamos consistir toda nossa glória”.(1)
Mundanismo, vanglória e sua conversão
Em Cesaréia passou por uma “conversão”. Embora tivesse
sempre levado vida muito regular, procurando sempre a vontade de Deus, os
aplausos e louvores que recebia eram tantos que, segundo seu irmão Gregório de
Nissa, isso deixou traços de mundanismo e auto-suficiência no jovem professor,
que sentiu a vertigem da vanglória. Mas em casa, vendo o exemplo de sua irmã
Macrina, que levava a vida austera de virgem consagrada, impressionou-se:
“Comecei a despertar como de um sonho profundo, a abrir os olhos, a ver a
verdadeira luz do Evangelho e a reconhecer a vaidade da sabedoria humana”. Só
então, conforme costume da época, foi batizado e recebeu a ordem sacra de
Leitor. Resolveu então vender tudo o que tinha, dando o produto aos pobres, e
fazer-se monge.
Ordenador
e legislador do monacato no Oriente
Desejava fazer tudo da melhor maneira possível. Resolveu
então viajar pela Síria, Mesopotâmia e Egito para visitar os vários cenobitas
desses lugares a fim de adquirir um conhecimento profundo dos deveres do gênero
de vida que tinha adotado. É preciso notar que a vida religiosa em comum dava
seus primeiros passos e ainda não havia aparecido quem a ordenasse, como fez
depois Bento no Ocidente.
Se a impureza de corpo chocava Basílio, muito mais a de
alma. Por isso era implacável contra toda heresia ou doutrina dúbia.
Voltando a Cesaréia, recomeçou a colaborar com o bispo local
Dianey, a quem muito admirava. Mas, como este entrou numa espécie de acordo com
os arianos, rompeu com ele e retirou-se para o reino do Ponto, onde já se
haviam fixado sua mãe e irmã. Elas tinham fundado um convento feminino às
margens do Íris. Na margem oposta Basílio fundou um convento masculino, que
dirigiu durante quatro anos. Nele ingressaram também seu amigo Gregório
Nazianzeno e seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro de Sebaste.
O governo que Basílio exercia no mosteiro era muito suave,
todo ele de exemplo mais do que de palavras. Sua doçura e paciência eram a toda
prova. Os monges levantavam-se antes do despontar do dia, para louvar a Deus
com a oração e canto de salmos. Liam os Livros Sagrados e alternavam a oração
com o estudo, dedicando-se, nos tempos livres, ao trabalho manual. De quando em
quando Basílio os reunia para ouvir suas dúvidas ou propostas, e os orientava
no caminho da perfeição. Surgiu assim sua obra Regras Maiores e Menores, suma
de catequese monacal, indispensável no desenvolvimento da vida cenobítica
(monges em comunidade). Graças a Basílio Magno, a vida em comunidade iria
afinal firmar-se no cristianismo, dando base ao movimento monacal que forjou
depois a Idade Média. “Se [Basílio] não criou o monaquismo oriental,
infundiu-lhe uma vida nova quando se achava ameaçado de um grande perigo: o de
tornar-se uma sociedade de trabalhadores que rezam, ou de rezadores que se
matam à força de penitências”.(2) Em todo caso, ficou ele conhecido como o pai
do monasticismo do Oriente, como Bento o é do Ocidente.
Sua
firmeza contra os arianos e a “Basilíada”
Em 370, ficando vacante a diocese, o povo de Cesaréia
escolheu Basílio para preenchê-la. “A notícia dessa escolha provocou uma
satisfação extraordinária em Santo Atanásio, e ele anunciou a partir daí as
vitórias que Basílio alcançaria sobre a heresia reinante”.(3) Com efeito,
protegidos pelo imperador, uma minoria de bispos sufragâneos de Basílio,
adeptos do arianismo (não criam que Jesus era Deus), deram-lhe muito trabalho.
Mas, com anos de tacto, “temperando sua correção com a consideração e sua
gentileza com a firmeza”, no dizer de Gregório Nazianzeno, conseguiu vencer
seus oponentes.
Para socorrer as misérias materiais de uma cidade grande
como Cesaréia, Basílio nela fundou, em grande terreno que lhe fora dado pelo
imperador, uma verdadeira cidade da caridade, que passou a ser conhecida como
“Basilíada”. Diz Gregório que essa obra “pode ser contada entre as maravilhas
do mundo, tal é o grande número de pobres e de doentes que ali são recebidos,
tanto são admiráveis a ordem e o asseio com os quais trata-se das diversas
necessidades dos infelizes”. O conjunto tinha hospital, albergue e escola para
jovens. Homens e mulheres tinham pavilhões separados. Amplos jardins os
dividiam, e no centro estava espaçosa igreja.
Moeda
da época do Imperador Valente
O Imperador Valente era de um temperamento muito violento, e
para evitar um choque na execução dos decretos de exílio dos bispos ortodoxos, quis ele mesmo visitar as várias cidades do Império. Mas
em Cesaréia, dada a grande personalidade de Basílio, quis preparar o terreno.
Mandou então que alguns bispos arianos fossem conversar com Basílio, para ver
se conseguiam levá-lo a aderir à heresia. Este não só não quis ouvi-los, mas os
excomungou.
O prefeito Modesto chamou então o bispo recalcitrante. Com
boas palavras, tentou induzi-lo a aceitar a heresia ariana. Como Basílio nem
lhe desse ouvidos, ameaçou-o gradativamente com confiscação de bens, exílio,
tormentos e morte. Gregório, que estava presente, descreve a cena:
— Ameaçai-me de qualquer outra coisa, porque nada disso me
impressiona,” respondeu-lhe Basílio.
— Que dizes!?
— Aquele que nada tem, está a coberto do confisco. Não tenho
senão alguns livros e os trapos que visto; imagino que não sois zeloso de m’os
tirar. Quanto ao exílio, não vos será fácil condenar-me: é o Céu, e não o país
em que habito que eu considero minha pátria. Eu temo pouco os tormentos. Meu
corpo está num tal estado de magreza e de fraqueza, que não poderá sofrer por
muito tempo. O primeiro golpe terminará minha vida e minhas penas. Temo ainda
menos a morte, que me parece um favor. Ela me reunirá mais cedo ao meu Criador,
por Quem somente vivo.
O imperador não teve êxito maior. Por isso resolveu
entregar-lhe logo a ordem de exílio. Mas a Providência velava. Essa noite mesmo
o príncipe imperial Valentiniano Gálata, de seis anos, foi acometido por uma
febre tão violenta, que os médicos se confessaram impotentes para qualquer
coisa. A imperatriz fez notar ao marido que isso era uma justa punição por ter
exilado o Bispo, e insistiu em que o chamasse para curar o filho. Basílio ainda
não tinha partido. Mal chegou ao palácio, o menino começou a melhorar. Afirmou
ao imperador que o menino sararia, contanto que ele prometesse educá-lo na
verdadeira religião, a católica. A condição tendo sido aceita, o Bispo orou
junto ao leito do menino, que ficou instantaneamente curado.
Entretanto, pressionado pelos bispos arianos, Valente não
manteve sua palavra. Pelo contrário, fez batizar logo o menino por um dos
bispos hereges. O menino teve uma imediata recaída e morreu pouco depois.
O terrível golpe não converteu o imperador, que condenou
novamente Basílio ao exílio. Quando lhe trouxeram a ordem para assinar, a haste
de bambu que lhe servia de caneta quebrou-se em sua mão. Outra haste foi
trazida, e teve o mesmo fim. Uma terceira também quebrou-se. Quando Valente fez
vir uma quarta, seu braço foi tomado de tremor e de uma agitação
extraordinária. Apavorado, ele rasgou a ordem e deixou o arcebispo em paz.
Basílio, declarado “Magno” e “Doutor da Igreja”, faleceu no
dia 1º de janeiro de 379.(4)
16 horas –
Sábado
Os monges
do Oriente, Espiritualidade Bizantina e Temas da Espiritualidade do Deserto
Os Monges do
mundo grego, sírio e palestino souberam entre os séculos V e VIII desenvolver
uma espiritualidade mística e contemplativa profunda, posteriormente entre os
séculos XIII e XIV, apotegmas¹ e obras de nomes como Evágrio Pôntico, João
Clímaco, Simeão o Novo Teólogo, Nicéforo, Gregório o Sinaíta, Pacômio, Teodoro
Estudita, Marcos o Eremita, e Elias o Écdico estavam espalhadas por quase todo
o oriente cristão.
A herança da
reflexão ascética de Santo Antão e de outros Padres do Deserto no oriente não
se limitou aos mosteiros, mais também há grandes teólogos, vários deles
numerados entre os “Padres da Igreja” assim como muitos outros autores
bizantinos. Os escritos destes homens foram muitos influentes na Igreja do
oriente, a contribuição deles em especial a preeminência da Escola Sinaítica
que desenvolve-se notavelmente nos séculos VI e VII principalmente quanto
hesicasmo, método de oração fundamentado na repetição infinita e na apropriação
interior do nome de Jesus. Técnica que com os monges do Monte Athos será
profundamente transmitida à Igreja durante o Império Bizantino. A Salmodia e o
uso das Escrituras foram grandes expressões da vida dos Padres do Deserto e dos
monges orientais.
O Monaquismo
ocidental tomou um rumo próprio e diferente como espiritualidade monástica
quando comparado com os autores místicos do oriente e a espiritualidade
bizantina, as abadias ocidentais tomaram das regras desenvolvidas por Santo
Agostinho e São Bento uma enorme difusão ao longo dos séculos, a
espiritualidade destas escolas oscilou no ocidente, mas apesar dos momentos em
que passou a espiritualidade ocidental, soube preservar uma teologia Ascética
rica e abertamente conciliável quando alinhada com a profunda oração, humildade
e ascetismo dos Padres monacais do oriente.
Os teóricos da
oração, os grandes hesicastas e mestres na Ascese² no oriente, não são tão
conhecidos no Ocidente, talvez porque suas obras ou sentenças foram tardiamente
inseridas na literatura ocidental através de tratados e antologias traduzidas
ou copiladas em raríssimas edições durante a Idade Média.
A tradição
monástica oriental floresceu a vida de muitos cristãos por anos e ainda hoje
alimenta a vida das Igrejas orientais Sui Juris em comunhão
com o Papa ou as Igrejas ortodoxas separadas. Caminhos, exercícios, formulas e
métodos penduraram anos de dedicação na mente e intelecto de homens e correntes
de espiritualidade, “A oração do coração” ou “Oração pura, sem distração”, “A
invocação do nome de Jesus” junto à clássica frase “Senhor Jesus Cristo, Filho
de Deus, tende piedade de mim”. Também ocupou e teve adesão de místicos no
ocidente e influencia nas técnicas jaculatórias. Sem falar na “Lembrança de
Deus” ou “Recordação de Deus” oriunda de São Basílio que ocupou a muitos monges
do oriente, são os sinais e expressões visíveis da riqueza da espiritualidade
oriental.
No século XVII
fora publicada uma obra que se tornara clássica para a vida e oração das
Igrejas do oriente a “Filocalia” que veio a reunir diversos autores, textos e
sentenças espirituais dos Padres da Igreja e monges bizantinos. Trago abaixo
citações desta obra que fora traduzida também para a língua portuguesa e tem
obtido um verdadeiro interesse do Ocidente nos últimos séculos.
Não poderias
possuir a oração pura, estando perturbado com coisas materiais e agitado por
inquietações contínuas, pois a oração é abandono dos pensamentos”. (p. 23, nº
70 Evángrio Pôntico).
Nossa oração não
deve começar por nenhuma convenção nem hábito: atitude corporal, silêncio,
genuflexão. Devemos vigiar com atenciosa sobriedade o nosso espírito, esperando
o momento em que Deus se apresente, visite a alma através de todas as
passagens, atalhos e sentidos. Só é preciso calar-se, gritar e orar com
clamores, quando o espírito está solidamente ligado a Deus. A alma deve
despojar-se inteiramente, para a súplica e o amor de Cristo, sem distração, nem
divagação de pensamentos”. (p. 31, Macário, o Grande).
Se, portanto,
começarmos a cumprir com fervor dos mandamentos de Deus, a graça logo iluminará
nossos sentidos com um sentimento muito profundo; consumirá, por assim dizer,
nossos pensamentos, suavizará nosso coração pela paz de uma inexprimível
amizade, e dar-nos-á a disposição para pensar coisas espirituais e não mais
carnais. É o que acontece continuamente com os que se aproximam da perfeição e
guardam no coração, ininterrupta, a lembrança de Jesus.” (p. 47, Diádoco
de Fótico).
A lembrança de
Deus é um labor do coração, suportado pela fé. Quem quer que esqueça Deus,
torna-se amigo da paixão e insensível.” (p. 52, nº 122, Marcos, o
Eremita).
O coração de
quem examina a própria alma a todo instante goza das revelações. Quem recolhe a
contemplação no interior de si mesmo, contempla o brilho do Espírito; quem
desprezou a dissipação, contempla o seu Senhor dentro do próprio coração”. (p.
59, Issac de Nínive (S. Isaac, o Sírio).
Citações de
nomes que podem ser desconhecidos para os ouvidos de milhares de ocidentais e
até bons cristãos, no entanto a vida e obra destes homens contribuíram
fortemente com a espiritualidade cristã. O estudo e a reflexão de suas obras
são uteis aos cristãos que desejam deparar-se com uma ortodoxa espiritualidade
nascida no seio da Igreja cristã primitiva.
Temas
da Espiritualidade do Deserto
Fuge (foge): em sentido negativo, fugir, deixar a
cidade, deixar as futilidades, deixar as paixões, deixar aquilo que afasta de
Deus, fugir do que arrasta para o pecado (pecado é hamartia – errar o alvo, o
esquecimento do Ser; ao contrário de anamnesis – “fazei anaminesis de mim”). “O
mundo é o mundo do esquecimento” (Marcos, o Eremita). O mundo é de morte, pois
“jaz no maligno”. Em sentido positivo,
fuga é fugir para Deus e para tudo o que leva a Ele, “fugir para o Alguém,
fugir para o Único, fugir unificado para o único Um”. Sair do mundo e o mundo
sair de dentro de ti. Sentido psicológico e sociológico: fuga como necessidade
vital do ser humano. Fuga da opressão, das relações senhor/escravo (fuga do
Egito), das competições hierárquicas, da necessidade de “status”. Fugir para
evitar os males psicossomáticos. “Fugir para fora do mundo para Alguém que não
é deste mundo, para se perceber que o mundo não tem em si seu sentido e fim”
(Arsênio). Fuga implica em movimento, saída. Figuras bíblicas: Abraão, Jacó, os
israelitas, Elias, João Batista, Jesus, Paulo. Jesus “fugiu dos céus, dos seus
pais, dos seus perseguidores, dos seus aduladores, do mundo e dos seus
discípulos”.
Tace (cala-te): “quem domina a língua domina o
corpo” (Tiago). “De toda palavra ociosa que o homem disser dela dará conta no
dia do juízo”, “a boca fala do que está cheio o coração”, “pela tua palavra
será justificado ou condenado”, “o que sai da boca é que torna alguém impuro”
(Jesus). “Não é preciso fazer silêncio, pois ele já existe”. “Derrubar uma
árvore faz mais barulho do que o crescimento de toda uma floresta”. Calar-se
para ouvir a Deus. Calar-se para ser capaz de Deus. Calar porque Deus habita no
silêncio. “O Senhor está no seu Santo Templo, cale-se diante d’Ele toda terra”
(Hc 2.20). “O julgar pode ser uma inconsciente autoprojeção sobre o outro”.
“Quando ninguém lhe parece impuro, então te tornaste puro” (Isaac o Sírio). “A
oração surge do silêncio e ao silêncio retorna”. “Tua palavra surge do silêncio
e ao silêncio retornará”. “Que teu verbo venha de Deus e retorne para Deus”. Os
perigos do muito falar (Anselm Grun): a curiosidade, pois leva a falar demais
dos outros. “Um monge nunca deve andar atrás de saber como é este ou aquele;
tais perguntas apenas o afastam da oração e levam às calúnias e às conversas
vãs; por isso, o melhor é calar-se inteiramente” (Apo 996). O julgamento.
“Quando dois irmãos marcavam para conversar, Satanás enviava para aquele local
o demônio da maledicência”. A vaidade. “A tagarelice é o trono da vanglória,
onde ela senta-se em juízo sobre si mesma e toca o trombone sobre si para o
mundo inteiro” (São João Clímaco). A dispersão interior. “Assim como as portas
do banho quando ficam sempre abertas rapidamente deixam o calor escoar-se de
dentro para fora, assim também quem muito fala, mesmo que fale coisas boas,
deixa sua lembrança fugir pelo portão da sua voz” (Diádoco). “Assim como para
comer carne é preciso matar, é impossível falar muito, mesmo sobre coisas boas
sem tocar as ruins” (S. Bento). “Às vezes, deformamos uma coisa ao falar muito
a respeito dela” (H. Nouwen). Cuidado
com o silêncio doentio: “o que torna os mortos tão pesados é o peso das
palavras que não souberam dizer”. Pela terapia, “faça sair o veneno da goela da
serpente”. “Que teu silêncio não seja irresponsável”.
Quiesce (tranquiliza-te): repouso,
descanso, paz, hesychia, shalom. É a paz interior decorrente do casamento da
alma com Deus. “Encontra a paz interior e uma multidão será salva ao teu lado”
(Serafim). “Um ser de paz comunica sua calma ao mundo inteiro”. “O verdadeiro homem espiritual não é o homem
poderoso, e sim o homem manso”. “Deus busca entre os homens um lugar para o seu
repouso”. “Deus não pode repousar em um coração agitado”. “E vindo, ele
evangelizou a paz, a vós que estáveis longe e aos que estavam perto” (Ef 2.17).
“Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz” (Tg
3.18). Jesus é o nosso Shabbat, daí, fugimos para estar com Ele e n’Ele. “Todo
trabalho deve conduzir ao descanso” (Leloup). “Não trabalhar um dia é tão
mandamento quanto não roubar ou adulterar”. “Fiz sossegar a minha alma” (Sl
131.1-2). “Não andeis preocupados por coisa alguma” (Jesus). “Colocai toda sua
ansiedade sobre Deus” (Paulo). “A principal obra da hesychia (sossego da alma)
é a ameriminia (despreocupação) perfeita de todas as coisas, razoáveis ou não”
(João Clímaco). “Quem abre a porta às preocupações razoáveis, abre também às
que não são”. A quietude interior é um estado de alma que não sofre nenhuma
partilha: ou é total, ou não existe. “Um pequeno cisco atrapalha a visão, uma
pequena preocupação faz a alma perder a paz”. Eliminar a preocupação passa pelo
contentamento: “deseja tudo o que tens e tens tudo o que desejas”. “Não está em
paz quem se compara com os outros”. “Onde há inveja, não há paz”. “Só os
humildes vivem em paz”. “Só vive em paz quem se coloca como último de todos e
servo dos demais”. Acima de tudo, a paz não é algo que se conquista, mas um dom
recebido: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a
dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize (Jo 14.27).
Tratamento (terapeia) das paixões (pathos). A contemplação
de si faz com que os padres dos desertos fossem os primeiros psicólogos. “Vou
para o deserto para poupar o mundo de mim mesmo”. O ser humano em estado
patológico identificado nos logismoi (pensamentos): gastrimargia (gula);
philarguia (avareza); porneia (obsessão sexual); orgè (cólera, patologia do
irascível); lupè (tristeza, melancolia, sentir-se um lixo); acedia (perda de
entusiasmo pela vida espiritual, depressão, impulso de morte, tudo foi inútil,
demônio do meio dia); kenodoxia (inflação do ego, vanglória); uperèphania
(orgulho). O objetivo é alcançar um estado de “apathea” (ausência de paixões =
patologias). Evágrio Pôntico escreveu sobre esse tema no Oriente, e foi trazido
ao Ocidente por João Cassiano, em que a “apathea” foi traduzida por “puritas
cordis” (pureza de coração).
Ascética: exercício, batalha, luta, renúncia,
“usufruir o máximo do mínimo” (palavras, natureza, alimentação, bens, etc). “A
verdadeira ascese consiste em saborear” (Anselm Grün). “Portanto, para alcançar
a pureza de coração e o amor, é necessário que façamos tudo quanto realizamos
por meio das obras ascéticas; pois elas são os instrumentos que podem libertar
nosso coração de todas as paixões prejudiciais que nos atrapalham no progresso
para a plenitude do amor. Assim, nós praticamos o jejum, as vigílias noturnas,
o recolhimento, a meditação nas Sagradas Escrituras, etc., por almejarmos a
pureza de coração, que consiste no amor. Assim, o que quer que façamos, devemos
fazê-lo a fim de tornar-nos verdadeiramente amantes. É por isso que o amor é
normativo em tudo. Atingi-lo é a finalidade de nosso agir...” (João Cassiano)
“Se a humanidade não assumir uma postura ascética diante da existência, corre o
risco de destruir o mundo” (dimensão ecológica, L. Boff). Mas também há a
advertência contra a ascese exagerada, o que não era incomum: “Há alguns que
desgastaram seus corpos por meio da penitência. Mas por ter-lhes faltado o
discernimento, acabaram se afastando de Deus” (Antão, Apot 8).
Caridade: “ter o mínimo para que possa dividir o
máximo com o meu próximo”.
Theosis: deificação; divinização do ser; Cristo
vivendo em si (Gl 2.20); divinos por coparticipação (2 Pe 1.4); tornar-se
semelhante a Ele (I Jo 3.2), é o objetivo de Deus na vida dos eleitos (Rm
8.29). Salvação é participação na natureza divina. “Deus se fez homem para que
o homem pudesse se tornar deus” (Atanásio de Alexandria). Deus realiza estes
atos na vida dos fiéis, na concepção oriental, por intermédio principalmente
dos sacramentos, que em princípio, não tinham um número limitado, pois em
Cristo, toda a realidade é sacramental. Sacramento é o meio natural pelo qual a
graça sobrenatural de Deus se revela, ou o meio visível pelo qual a graça
invisível se manifesta. Exemplos de sacramentos: a natureza (Sl 19.1); a
eucaristia (1 Co 10.16); a Palavra (Ef 5.15); a oração (Tiago 5.14); a
congregação (Mt 18.20).
Fonte:
http://contemplarlaic.blogspot.com.br
https://www.veritatis.com.br/monges-oriente/
A espiritualidade Beneditina e o Prazer
em Viver
Anselm
Grün
«Quem
é o homem que tem prazer na vida?» São Bento tenciona mostrar, na sua Regra, um
caminho para a vida. Como é que a vida dá resultado? Como podemos ganhar prazer
na vida?
Esta
questão move hoje muitas pessoas. A nossa cultura virada para o divertimento
não pretende mais nada do que viver e viver depressa e de preferência com
condições agradáveis. Mas a resposta que as pessoas dão hoje à questão da vida
é frequentemente uma fraca ajuda para viver realmente. A vida gasta-se depressa
quando queremos ter tudo de imediato. E torna-se a qualquer momento demasiado
barata, quando tudo é de fácil acesso. A fixação em nos divertirmos arruína o
divertimento. Ele torna-se vazio e, com o tempo, aborrecido. Ele não preenche o
desejo dos homens. O homem torna-se objeto de animação.
São
Bento dá a resposta à questão do prazer de viver com o versículo de um salmo:
«Se queres ter uma vida verdadeira e eterna, guarda a tua língua do mal e os
teus lábios das palavras mentirosas! Desvia-te do mal e faz o bem; procura a
paz e segue-a! Se fizerdes isso, os meus olhos olharão para vós e os meus
ouvidos ouvirão as vossas preces; e antes de chamarem por mim, digo-vos Eu:
olhai, Eu estou aqui».
O
prazer de viver não significa apenas a procura da satisfação pessoal. Para
experimentar o prazer de viver, eu preciso de disciplina. Eu tenho de aprender
a arte da vida. E ela implica ter contenção nas palavras, na língua. A língua
corresponde aqui a cada declaração que se faz.
Jesus
diz: «Nada do que vem de fora para o Homem o pode tornar impuro; só aquilo que
sai do Homem é que o torna impuro» (Mc 7,15). Temos de prestar atenção ao que
está em nós. Não devemos deixá-lo à solta. É preciso lutar para transformar o
nosso interior, para que aquilo que nós dizemos e fazemos sirva a vida em vez
de a destruir.
Quem
procura a vida deve evitar o mal, afastar-se dos maus e fazer o bem. O mal
prejudica a vida, uma vez que possui o homem. Mal é tudo o que é
despropositado, contrário à natureza, destrutivo e desconcertante. Disso o
homem deve afastar-se. Em latim diz-se: «deverte a malo» Trata-se de
retrocesso, afastamento e abandono. É condição para nos virarmos para o bem e
para o realizarmos. Não na medida em que eu procuro continuamente aquilo que me
faz bem, mas na medida em que eu faço o bem, experimento a vida. Na realização
do bem torno-me vivo. E, nesse caso, a vida floresce em mim.
São
Bento vê outro pressuposto para procurar e perseguir a paz (sequere, em latim).
O monge deve procurar em todo o lado a presença da paz. O que é que está ao
serviço da paz? Estou em paz comigo mesmo, com a criação, com as pessoas? Que
recompensa tenho eu por espalhar a paz?
O
monge deve estar atento a tudo o que conduza à paz. Quando ele espalha a paz à
sua volta, então experimenta a vida. Ele semeia a paz neste mundo. A sua vida
torna-se importante para este mundo. Então - como diz São Bento - sentirá à sua
volta a presença amorosa e tranquilizadora de Deus. A resposta de Deus com a
sua proximidade purificadora e tranquilizadora será para ele uma experiência
real de vida. Rodeado pelo amor de Deus, terá prazer na vida.
São
Bento encerra o seu convite para a arte da vida com esta frase: «Querido irmão,
o que nos poderá dar mais satisfação do que a palavra de Deus, que nos convida?
Vede: na sua bondade, Deus mostra-nos o caminho da vida».
Hoje
em dia, há um grande desejo de viver, sobretudo por parte dos jovens. Eles
querem experimentar a vida a todo o custo. Mas, muitas vezes, confundem vida
com vivência. Eles pensam que o recheio da vida está no fato de terem muitas
vivências. São Bento remete-nos para o Senhor que nos mostra o caminho da vida
e o caminho para a vida. O evangelista Lucas descreveu Jesus como o líder e o
instigador da vida. Ele precede-nos no caminho da vida. Se o seguirmos,
experimentamos o que a vida é na realidade.
São
Bento escolhe aqui, de novo, a palavra «dulcis = doce». Significa sempre a
experiência interior, na tradição espiritual. A palavra do Senhor deixa-nos um
gosto doce e agradável. Quem recebe em si a palavra de Deus, experimenta um
novo sabor na vida. Tudo é doce.
A
vida não está dependente da quantidade das vivências, mas da sua qualidade. A
arte da vida implica viver cada momento, estar atento a si próprio, estar em
sintonia consigo e com o mundo, compreender com todos os sentidos. Quando estou
de posse dos meus sentidos, experimento tudo o que vem ter comigo de uma forma
intensa. Então vejo em tudo o segredo, vejo em todas as coisas o Deus
invisível. Quando ouço plenamente, ouço o que é inaudível.
A
vida não é, antes de mais, consumir, mas percecionar (perceber ou conhecer através dos sentidos),
sentir, provar e saborear. Não é a quantidade de coisas que eu tomo para mim
que decidem se eu vivo realmente, mas o modo como eu perceciono e experimento
aquilo que me é oferecido. Tem a ver, sobretudo, com a intensidade da vida. E
essa precisa de sossego, serenidade, liberdade, admiração, entrega àquilo que
verdadeiramente é importante.
Logo
no prólogo, São Bento remete-nos para a palavra da Sagrada Escritura, para nos
mostrar o caminho da vida. Juntamente com os salmos, ele cita as palavras que
encerram o Sermão da Montanha, como sendo o verdadeiro caminho da vida: «Todo
aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática pode comparar-se ao
homem sensato que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu muita chuva, vieram
as cheias e os ventos sopraram com força contra aquela casa. Mas ela não caiu,
porque os seus alicerces estavam assentes na rocha» (Mt 7,24).
São
Bento está convencido de que a palavra de Jesus nos abre o caminho para a vida.
A Igreja primitiva via no Sermão da Montanha um resumo dos ensinamentos de
Jesus. Quem segue o Sermão da Montanha encontra a verdadeira vida. O Sermão da
Montanha é uma interpretação do Pai-Nosso. O Pai-Nosso está precisamente no
centro do Sermão da Montanha. E os parágrafos do Sermão correspondem às preces
do Pai-nosso.
O
novo comportamento, que Jesus nos põe diante dos olhos, nasce da oração. Jesus
não apresenta nenhuns princípios morais. Ele mostra-nos como a pessoa pode
viver muito mais quando vive a partir da experiência da oração. O comportamento
brota da oração. E, por sua vez, a nossa oração não é algo sem compromisso.
Arrasta para novas formas de comportamento. A expressão beneditina «ora et
labora» tem o seu fundamento no Sermão da Montanha. No Pai-Nosso ficamos a
saber que somos filhas e filhos de Deus. Enquanto filhas e filhos de Deus
lidaremos de forma diferente com as nossas necessidades e com as nossas
emoções. No Sermão da Montanha, Jesus dá-nos conselhos para uma vida que sara
as feridas que dilaceram a sociedade. Para São Bento, o Sermão da Montanha é o
caminho para uma convivência pacífica em sociedade. É a fonte da paz para este
mundo. A parábola da casa na rocha é utilizada num sermão de João Crisóstomo,
como prova da sua tese: «Ninguém te pode magoar a não ser tu mesmo.» Aquele que
constrói a sua casa na rocha não pode ser prejudicado pelas tormentas
interiores e exteriores. As tormentas de emoções que correm para ele não o
magoam. As pessoas que lutam contra ele, que o difamam, que intrigam contra
ele, não têm qualquer poder sobre ele. A sua casa permanece de pé. O seu
fundamento não está em ser amado pelos homens, mas por Cristo. Numa comunidade
acabamos sempre por ser magoados. Aí, temos por vezes a sensação de que estamos
num pântano de emoções, numa maré de agressões reprimidas e de necessidades
oprimidas. Muitos sucumbem a esta maré. Jesus está convencido de que as
tormentas e marés não nos podem fazer mal se nós tivermos construído a nossa
casa na rocha das suas palavras. As emoções que correm para nós, remetem-nos
sempre para o fundamento da nossa vida. Elas desafiam-nos a ver o nosso
fundamento, não nos sentimentos nem nas relações, nem nas estruturas ou no
desempenho, mas em Deus. Só então sobreviveremos, sem danos, à maré cheia. Com
a parábola da casa construída na rocha, São Bento remete-nos para o verdadeiro
fundamento da nossa vida. É o próprio Cristo. Quando construímos a nossa casa
em Cristo, encontramos o caminho para a verdadeira vida, então aprendemos a ter
prazer na vida, sempre e em todo o lado, mesmo nas tormentas que nos assaltam,
mesmo nas marés de emoções que se abatem sobre nós diariamente.
Cristo,
como fundamento da casa da nossa vida, oferece-nos segurança e liberdade, tranquilidade
e serenidade, em todos os contratempos da vida.
Uma
condição decisiva para experimentarmos realmente a vida é que não nos magoemos
continuamente. Há muitos que tornam a sua vida difícil, porque se deixam sempre
magoar ou porque se magoam a si mesmos. Eles desvalorizam-se, sentenciam-se,
culpabilizam-se, procuram em si mesmos a razão de cada conflito que acontece.
Ou então deixam-se magoar pelos outros, permitindo que tenham demasiado poder
sobre eles. Tornam-se completamente dependentes das doações de uma pessoa. Quando
vejo numa outra pessoa a minha salvação ou a minha cura estou a magoar-me a mim
mesmo. Pois nenhuma pessoa pode corresponder a estas expectativas. Apenas
Cristo é o meu Salvador e em mais ninguém eu devo projetar as minhas
esperanças. João Crisóstomo pensa que não são as pessoas que nos magoam mas a
ideia que fazemos delas. Quando eu identifico uma pessoa com uma imagem
arquetípica, como por exemplo com a imagem do salvador, do purificador, do
auxiliador, tenho uma representação falsa dessa pessoa. Vejo nela coisas que só
pertencem a Deus. Com esta visão quase religiosa das pessoas, acabo por me
magoar. Pois as pessoas nunca corresponderão às minhas imagens, à ideia que eu
faço delas. Jesus convida-nos a vermo-nos corretamente e a vermos os outros
corretamente. Mas só me posso ver corretamente, a mim e aos outros, quando
tenho o meu fundamento em Cristo, quando coloco toda a minha esperança em
Cristo e espero dele purificação e vida.
São
Bento não deseja impor nada duro e difícil aos monges. Quando a vida numa
comunidade monástica parece por vezes dura, então ele encoraja: «Não te deixes
perturbar pelo medo e não fujas do caminho da purificação; no início ele pode
parecer estreito. Mas quem progride na vida monástica e na fé, verá o seu
coração tornar-se largo, enquanto percorre o caminho dos mandamentos de Deus na
alegria indizível do amor».
O
caminho da purificação, no qual nos tornamos puros e completos, está em conformidade
com «o caminho estreito» de que falava Jesus (Mt 7,13). O caminho largo é o
caminho que todos percorrem. O caminho estreito é o caminho em que eu vivo
todas as minhas vocações pessoais, em que vou crescendo na imagem que Deus
pensou para mim. Para encontrar o meu próprio caminho tenho de atravessar a
porta estreita que me foi destinada para chegar à plenitude.
Franz
Kafka conta a história de um homem que queria atravessar os portões de um
castelo. Mas o porteiro impedia-o. Ele esperou diante da porta até ficar velho
e doente. Quando estava a morrer, o porteiro fechou o portão dizendo: «Este
portão era destinado só a ti.»
Há
muitas pessoas que, durante toda a sua vida, não atravessam a porta que as
conduz à vida. Preferem outras. Ou então têm medo de atravessar a porta
estreita. Elas receiam os esforços, o ter de incomodar o porteiro até que ele
as deixe passar. A porta estreita não é a porta do trabalho, mas a porta que
está destinada só para mim. Para atravessar esta porta preciso de me desfazer das
ilusões que fiz de mim. O caminho espiritual, como São Bento o entende,
liberta-me de todo o lastro que eu transporto comigo, para poder entrar pela
porta estreita para o caminho da purificação, o caminho que me conduz à pureza,
o caminho no qual eu me tomo eu próprio. Este caminho conduz-me à plenitude.
São
Bento adota a imagem do coração grande dos Padres da Igreja. Ambrósio pensa que
apenas o coração grande oferece espaço a Deus para lá morar. E Cassiano está
convencido de que apenas um coração grande pode alcançar a serenidade e
encontrar a paz interior. A pessoa com um coração pequeno toma-se cobarde e
impaciente. Quando a cascata de agressões e depressões correm para o coração
pequeno, ele é inundado por elas. Quando o coração se tornou grande através do
amor, as marés de emoções rapidamente fenecem nele. Só um coração grande pode
experimentar a abundância da vida. Um coração pequeno é demasiado estreito para
a riqueza da vida. Fechar-se-á com medo das normas de conduta, em vez de se
entregar à vida. Santo Agostinho fala do amor e da alegria que toma o coração
grande. São Bento encontrou a expressão do coração grande certamente no Salmo
119,32. São Bento gosta deste salmo. Quem reflete sobre os mandamentos de Deus,
quem medita no amor de Deus, verá que o seu coração se torna grande. Quem
realmente experimentou Deus, recebe um coração grande. O coração grande é sinal
de verdadeira espiritualidade. A grandeza de São Bento seria hoje benéfica para
a nossa Igreja.
As
pessoas espirituais são sempre grandes pessoas. Elas pensam no modo como devem
continuar o caminho da humanidade, nas questões mais importantes do nosso tempo
e em como podemos responder-lhes, em sintonia com Cristo. Um coração grande é
terreno fecundo para discussões. Trata-se da vida, do essencial. De que forma é
que a vida vale a pena? Como podemos viver no mundo uns com os outros em clima
de dignidade e atenção? De que bagagem necessitamos para percorrer o caminho do
terceiro milênio? O coração grande é uma condição para a experiência da vida
verdadeira. A outra marca é a alegria indizível do amor. Em latim está escrito:
«inenarrabili dilectionis dulcedine = a indescritível doçura do amor» O amor
tem um gosto doce. Em alemão a palavra doce (süß) perdeu o seu sentido.
«Dulcedo» é para os latinos o mesmo que amor. O amor é doce. Tem um sabor doce.
Os latinos sabiam que o amor ao homem empresta outro sabor, ao contrário do
ódio que faz o homem amargo. Para os latinos, a sabedoria está no sabor
(Sapientia). Quem saboreia a essência, é sábio. Quem ama sente um sabor doce e
agradável, um sabor amoroso. Quem ama saboreia a vida. Na tradição espiritual,
a «dulcedo Dei = A doçura de Deus» desempenha um papel importante.
A
experiência de Deus deixa no homem um sabor doce. A «dulcedo Dei» relaciona-se
sempre com a experiência interior de Deus nos próprios corações. Deus não é o
sentimento. Mas deixa os seus vestígios no sentimento. Não conseguimos ver
Deus, mas podemos saboreá-lo. O sabor doce é a experiência mais profunda de
Deus que nos é possível. Para o papa São Gregório Magno, a doçura interior é
fruto da contemplação. Ele diz que a alma não existe sem alegria. A alegria
indestrutível é a alegria espiritual. Na contemplação, a alma é penetrada por
uma doçura inenarrável. São Bento entende esta doçura i da experiência de Deus,
quando se refere à inenarrável «dulcedo» do amor.
Os
Padres da Igreja veem a transformação da água salgada em água doce como uma
imagem da ação de Jesus Cristo (cf. Ex 15,22-25). O tronco que Moisés atira à
água salgada é para os Padres da Igreja um símbolo da cruz. Cristo transformou
toda a amargura deste mundo em doçura. Na cruz, Cristo amou-nos até à
perfeição. Este amor que tudo abrange transforma a nossa amargura num gosto
doce e agradável. Através do encontro com Cristo, o nosso sentimento de vida
transforma-se. Os sentimentos venenosos dissolvem-se. A vida não tem sempre um
sabor amargo, mas doce.
Santo
Agostinho encontrou esta experiência no versículo do salmo «Quam magna
multitudo dulcedinis tuae, domine [Quão grande é a tua doçura, Senhor]» (Salmo
31[30],20 segundo a tradução da Vulgata). Este doce sabor da vida já não pode
ser expresso em palavras. Mas todo o nosso desejo vai na direção deste doce
sabor do amor. É aí que reside a vida. O caminho para esta glória do amor
passa, para São Bento, pelos mandamentos de Deus, pelas instruções do Senhor.
Mas não é um caminho penoso, é um passeio. Quem saboreou a vida, percorre
calmamente o seu caminho, tudo lhe vai ter à mão. Para as muitas promessas de
qualidade de vida e de abundância, que hoje encontramos por todo o lado, São
Bento podia mostrar-nos um caminho realizável para preenchermos o nosso desejo
de viver. Não é um caminho rápido e barato, mas um caminho que no início custa
algum esforço. Pois, neste caminho, temos de abandonar muitas ilusões. Temos de
aprender aquilo que é realmente vida. A vida é a capacidade de estar totalmente
em cada momento, é viver intensivamente. E viver está na grandeza do coração e
na doçura do amor. A vida tem sabor. Com um coração grande posso experimentar a
grandeza e a liberdade da vida. Mas o caminho para esta grandeza do coração
atravessa a estreiteza da ordem e da renúncia. Para poder saborear, tenho de
aprender a renunciar. Para me tornar grande, tenho de atravessar a estreiteza.
Só em alguém que está preparado para se ligar a uma comunidade concreta - seja
uma comunidade monástica limitada, seja o casamento e a família - é que o
coração se torna grande.
A
verdadeira qualidade de vida está em experimentar a grandeza do coração no meio
da pequenez do dia a dia. Quando eu percorro os conflitos diários e a pequenez
que me rodeia, com este grande coração, torno-me vivo e livre. E ninguém me
pode tirar essa grandeza da vida.
Anselm Grün In.
Bento de Núrsia - Mestre da espiritualidade, ed. Paulinas
20 horas – Sábado
Cronologia da Vida de Clara
1193-1194 -
Nascimento de Clara Offreduccio de Favarone, emAssis
1198 -A Família de Clara se refugia no Castelo de Cocorano.
1203-1205 Exílio em Perugia, juntamente com outras famílias nobres que combatem contra o município de Assis
1210 – Clara assiste às pregações de Francisco
1212 - Noite de Domingo de Ramos, Consagração de Clara na Porciúncula (Santa Maria dos Anjos). Breve período junto às beneditinas. Fixação definitiva em São Damião.
1214 – Irmã Balvina, companheira de Clara, funda uma comunidade de damianitas em Spello.
1215 – Clara recebe o título de Abadessa.
1216 – Obtém do Papa o privilégio da máxima pobreza.
1218-1219 Clara e as suas irmãs recebem a Constituição do Cardeal Hugolino com a Regra de São Bento. Algumas damianitas emigram para Sena, Luca, Florença, onde Inês, irmã de Clara, torna-se Abadessa.
1220 – Segundo a Tradição, tem lugar a fundação de Reims, o primeiro mosteiro de França.
1224 - Início da doença de Clara.
1227 – O Papa confirma a assistência dos frades para as irmãs de São Damião.
1228 – Primeira comunidade de diamianitas na Espanha: Pamplona. Na Itália existem, pelo menos, 24 comunidades. O Papa visita Clara em São Damião.
1234 – Santa Inês, filha do rei da Boêmia, funda um convento em Praga e lá vive. Primeira carta de Clara a Inês.
1238 - Um convento de damianitas na Eslovênia: Trnava.
1240 – Sarracenos em São Damião: proteção milagrosa da comunidade.
1241 – (22 de junho) Pela oração das irmãs, a cidade de Assis foi libertada do cerco dos exércitos do imperador.
1242 – A beata Cunegundes funda um mosteiro em Olomuc, Moravia.
1245 – A beata Salomé funda um mosteiro na Polônia, em Zawichost.
1247 – Regra de Inocêncio IV: as damianitas são associadas à Ordem Franciscana e deixam a Regra de São Bento.
1253 – IV e última carta conhecida de Clara para Inês de Praga.
1253 – O Papa visita Clara e aprova a sua Regra.
No dia 11 de agosto morre Clara.
1253 – (novembro) Morte de Santa Inês de Assis (irmã de Clara)
1255 – Canonização de Santa Clara. Celano escreve a sua biografia (Vida).
1260 – Traslado do corpo de Clara e transferência da comunidade de São Damião para o atual mosteiro de Santa Clara de Assis.
1263 – Regra de Urbano IV. A Ordem de São Damião toma o nome de Ordem de Santa Clara
1198 -A Família de Clara se refugia no Castelo de Cocorano.
1203-1205 Exílio em Perugia, juntamente com outras famílias nobres que combatem contra o município de Assis
1210 – Clara assiste às pregações de Francisco
1212 - Noite de Domingo de Ramos, Consagração de Clara na Porciúncula (Santa Maria dos Anjos). Breve período junto às beneditinas. Fixação definitiva em São Damião.
1214 – Irmã Balvina, companheira de Clara, funda uma comunidade de damianitas em Spello.
1215 – Clara recebe o título de Abadessa.
1216 – Obtém do Papa o privilégio da máxima pobreza.
1218-1219 Clara e as suas irmãs recebem a Constituição do Cardeal Hugolino com a Regra de São Bento. Algumas damianitas emigram para Sena, Luca, Florença, onde Inês, irmã de Clara, torna-se Abadessa.
1220 – Segundo a Tradição, tem lugar a fundação de Reims, o primeiro mosteiro de França.
1224 - Início da doença de Clara.
1227 – O Papa confirma a assistência dos frades para as irmãs de São Damião.
1228 – Primeira comunidade de diamianitas na Espanha: Pamplona. Na Itália existem, pelo menos, 24 comunidades. O Papa visita Clara em São Damião.
1234 – Santa Inês, filha do rei da Boêmia, funda um convento em Praga e lá vive. Primeira carta de Clara a Inês.
1238 - Um convento de damianitas na Eslovênia: Trnava.
1240 – Sarracenos em São Damião: proteção milagrosa da comunidade.
1241 – (22 de junho) Pela oração das irmãs, a cidade de Assis foi libertada do cerco dos exércitos do imperador.
1242 – A beata Cunegundes funda um mosteiro em Olomuc, Moravia.
1245 – A beata Salomé funda um mosteiro na Polônia, em Zawichost.
1247 – Regra de Inocêncio IV: as damianitas são associadas à Ordem Franciscana e deixam a Regra de São Bento.
1253 – IV e última carta conhecida de Clara para Inês de Praga.
1253 – O Papa visita Clara e aprova a sua Regra.
No dia 11 de agosto morre Clara.
1253 – (novembro) Morte de Santa Inês de Assis (irmã de Clara)
1255 – Canonização de Santa Clara. Celano escreve a sua biografia (Vida).
1260 – Traslado do corpo de Clara e transferência da comunidade de São Damião para o atual mosteiro de Santa Clara de Assis.
1263 – Regra de Urbano IV. A Ordem de São Damião toma o nome de Ordem de Santa Clara
Amém
8:45h – Domingo
Figuras da Mística no Cristianismo Antigo, Medieval e Moderno
A história do
Cristianismo, de mais de vinte séculos, apresenta uma imensa riqueza de figuras
protagônicas que viveram a experiência mística em suas vidas. Desde os
primeiros tempos do Cristianismo, podemos encontrar homens e mulheres cujas
vidas foram reconfiguradas pela experiência de gozosa união com o Deus de Jesus
Cristo, do qual não hesitaram em dar testemunho inclusive com suas vidas.
A palavra mística
não se encontra nem no NT nem nos Padres Apostólicos e aparece pela primeira
vez ao longo do século III. Por outra parte, a figura de Jesus presente nos
Evangelhos, sobretudo nos Sinóticos, coincide mais com a de um profeta do Reino
de Deus do que com a de um visionário. Os sinóticos parecem acentuar as
condições morais e as virtudes que preparam a vinda do Reino. A mesma “visão de
Deus” será atribuída, no Sermão da montanha, aos “puros de coração”.
Diferentemente de
outras religiões, o Cristianismo nunca equiparou seu ideal de santidade,
sobretudo ou principalmente, com o atingimento dos estados místicos. Nem
tampouco encorajou a busca de tais estados por si mesmos. No entanto, se vamos
buscar em suas origens, vamos encontrar aí uma experiência religiosa forte, uma
experiência mística, enfim. Foi um impulso místico que inegavelmente propalou
aquilo que inicialmente era visto como um movimento a mais dentro da
globalidade sinagogal e foi ganhando dimensões universais. Certamente a
profundidade mística do novo caminho proposto por Jesus de Nazaré, iluminado
por sua morte e ressurreição, determinou muito de seu desenvolvimento
posterior. [1]
As cartas de Paulo
de Tarso – anteriores inclusive ao Evangelho, que testemunham o surgimento das
primeiras comunidades cristãs – desenvolvem a idéia da vida no Espírito
(2 Cor 3,18). O principal dom do Espírito, no entendimento de Paulo,
consiste na “gnose”, aquele insight que faz penetrar no interior do mistério de Cristo, e capacita o
crente a entender as Escrituras em um sentido mais profundo, revelado. Este insight, que mergulha no interior do
sentido escondido das escrituras, leva à interpretação alexandrina do termo
místico discutido abaixo (cf. DUPRÉ, 1987, p.251).
Figuras da mística no cristianismo antigo
Na Antiguidade
clássica, quando o Cristianismo já havia rompido com a sinagoga e feito suas
primeiras sínteses com o mundo grego, há algumas figuras que se destacam não
apenas pela profundidade de sua experiência mística como pela reflexão acurada
que sobre ela fizeram. Assim, também aqueles que abriram novos continentes na
história da experiência mística cristã.
Orígenes é um desses. Figura de primeira grandeza nos primeiros séculos da vida
da Igreja, compara a vida espiritual ao êxodo dos judeus através do deserto do
Egito. Havendo deixado para trás os ídolos pagãos do vício, a alma cruza
o mar vermelho num novo batismo de conversão. Passa perto das águas
amargas da tentação e das visões distorcidas da utopia até que, totalmente
purgada e iluminada, alcança Terah, o lugar da união com Deus. Seu
comentário também apresenta a primeira teologia da imagem que foi desenvolvida:
a alma É uma imagem de Deus porque abriga a imagem primal de Deus, que é a
Palavra divina. Da mesma forma pela qual essa palavra é uma imagem do Pai
através de sua presença frente a ele, a alma é uma imagem através da presença
da palavra que nela habita, isto é, através de sua (ao menos parcial)
identidade com ela. Todo este processo místico vem a consistir numa
conversão à imagem, isto é, numa conversão a uma sempre maior identidade com a
Palavra íntima. O lugar privilegiado que Orígenes dá ao amor será o
elemento que vai distinguir a teologia de Orígenes da filosofia neoplatônica.
Gregório de
Nissa e Evagrio Pontico tem uma trajetória derivada da
de Orígenes. O primeiro descreve a vida mística como um processo de gnose
iniciado por um Eros divino, que resulta na plenificação do desejo natural da
alma para com Deus, de quem ela carrega a imagem. Ainda que aparentada a
Deus desde o começo, a ascensão mística da alma é um lento e doloroso processo
que termina em um não conhecimento obscuro – a noite mística do amor.
Essa teologia da escuridão, ou “teologia negativa”, seria desenvolvida até os
seus extremos limites por um misterioso sírio que escreveu em grego no sexto
século e que se apresentou a si mesmo como o Dionísio a quem Paulo converteu no
Areópago. Neoplatônico como nenhum teólogo cristão jamais ousou ser, ele
identificou Deus como o Uno não nomeável. (…) Através da constante negação, a
alma ultrapassa o mundo criado, que previne a mente de alcançar seu último
destino. A Teologia Mística de Dionísio é mais extática do que
introspectiva em seu conceito: a alma pode alcançar sua vocação de união com
Deus somente perdendo-se a si mesma nos recessos da divina superessência.
A este respeito, ele difere do misticismo ocidental, o qual influenciou tão
profundamente.
O segundo – Evagrio
– busca a vida monástica e, como tal, sua aproximação do deserto se dá por
etapas. Progride até ficar em completa solidão, dedicado apenas a
contemplação. Para Evagrio a ascensão espiritual consiste em contemplar
Deus em si mesmo, de modo que se vê Deus como num espelho. O caminho consiste
em despojar-se dos pensamentos apaixonados, depois, mesmo dos pensamentos
simples, até a completa nudez de imagens e conceitos.
Da mesma forma, não
se pode esquecer a importância da mística cristã oriental. O oriente
cristão foi pródigo em práticas importantes que tiveram seu impacto inclusive
no Ocidente. Como, por exemplo, a prece do coração, a oração de Jesus, o
hesicasmo, que tem sua origem em Santo Antão, monge do deserto e pai do
monarquismo oriental.
Antão, Dionísio,
Máximo o Confessor, Pacômio, Serafim de Sarov, entre outros, são grandes figuras místicas que marcaram a história
do Cristianismo e mostram uma forma de vivê-lo que é muito mais centrada na
espiritualidade do que na reflexão intelectual e na ação, como algumas vezes o
foi a mística ocidental.
Agostinho, no século IV, abre uma nova e decisiva etapa na mística cristã.
Descreveu a divina imagem antes em termos psicológicos, usando os termos das
três potencias da alma – memória, inteligência e vontade – para explicar sua
percepção da experiência de Deus. Deus permanece presente à alma ao mesmo
tempo como origem e como meta suprema. A presença de Deus neste reino
interior convida a alma a voltar-se para dentro e converter a semelhança
extática em uma união extática. (…) A alma vai sendo então gradualmente unida a
Deus. Até hoje Agostinho é considerado o pai da mística contemplativa que se
eleva para abismar-se na verdade de Deus e que, ao mesmo tempo, se dá no
coração. Foi alguém que uniu a genialidade intelectual à profundidade mística
profunda.
Figuras da Mística na Idade Média
A Idade Média foi
de uma riqueza impressionante em termos de mística.
No século XII Bernardo de Claraval, ainda muito jovem, decide ser monge
da Ordem dos Cistercienses – novo ramo da antiga Ordem de São Bento (os
beneditinos). Contemporâneo de Pedro Abelardo (1079-1142), bebe sua formação na
Bíblia e nos Padres da Igreja. Para Bernardo, a aquisição dos elementos da
doutrina cristã não deveria acontecer racionalmente, por meio do método
dialético, mas através de uma experiência imediata com Deus, isto é, através de
uma experiência mística. A experiência era baseada na fé e essa era entendida
como antecipação da vontade. A mística de Bernardo não foi desenvolvida em
tratados, antes ela se espalha pelos seus sermões. Trata-se de um misticismo de
amor, que tem no Cântico dos Cânticos a fonte inesgotável que irriga sua teologia e que é combinada com
a linguagem poética na qual formula seu pensamento. A experiência mística, para
Bernardo de Claraval, é, portanto, a união amorosa entre a alma e Deus.
Master Eckhart – místico ousado, posto mesmo em suspeita pela hierarquia
eclesiástica – experimenta e afirma que Deus é ser e ser no sentido estrito
apenas Deus é. Para Eckhart, a criatura qua não existe. (…) Assim, Deus é
totalmente imanente na criatura como sua própria essência, ainda que totalmente
transcendendo-a como o único ser (…) Apenas a auto expressão ilimitada de Deus
em sua eterna Palavra (o Filho) é sua perfeita imagem (…) A mente (…) atualiza
plenamente esta imanência (…) Antes que presença, Eckhart fala de identidade
(…) O ser da alma é gerado em um eterno agora com (na verdade, dentro de) a
divina Palavra. (…) Na verdade a alma espiritual não mais prepara um lugar para Deus, pois “Deus é ele
mesmo o lugar onde Ele trabalha” (DUPRÉ, 1987, p.253). Teve muitos seguidores,
dos quais um dos mais ilustres foi Johannes Tauler. Durante sua juventude como monge dominicano, Tauler manteve
estreito contato com Mestre Eckhart, cuja atividade foi intensa em Estrasburgo
entre os anos 1313 e 1326. A teologia mística de Tauler tem como suporte
a mística Eckhartiana centrada na noção do grunt, a fusão do humano em Deus.
Difere desse, entretanto, no acento menor sobre as explorações
filosófico-teológicas de temáticas como a divina natureza. E mantém certa
originalidade em relação à mística Eckhartiana por enraizá-la na vida da
Igreja, sobretudo em sua dinâmica sacramental. Entendeu o seguimento de
Cristo como processo que abarca uma experiência mística de abandono por Deus
que, embora estranha a Eckhart, pode ser encontrada em outros místicos
medievais, sobretudo mulheres.
Outra mística muito
influenciada por Eckhart foi Marguerite Porete, que viveu entre a segunda metade do século XIII e início do
século XIV. Pertenceu ao Movimento Beguinal, que se desenvolveu como
alternativa de vida religiosa leiga na Renânia e Países Baixos. A única obra de
sua autoria que conhecemos – O Espelho das almas
simples – é uma alegoria mística sobre o
caminho que conduz a alma à união perfeita com seu Criador e Senhor e
estrutura-se como um diálogo em que os principais interlocutores são Amor,
Razão e a Alma aniquilada personificados. Seu grande tema é o aniquilamento,
descrito como o estado em que as almas simples adquirem a mais plena liberdade
e o saber mais alto. De Deus, recebe mais saber do que o contido nas
escrituras, mais compreensão do que a que está no alcance, capacidade ou no
trabalho humano de alguma criatura. A alma, sendo nada, possui tudo e não
possui nada, vê tudo e não vê nada, sabe tudo e não sabe nada. Marguerite
Porete foi condenada à fogueira por heresia.
Hildegard de Bingen inaugura um outro tipo de mística, que faz fronteira bem próxima
com a ciência. Sua mística combinava percepções sensoriais de várias espécies
com um conteúdo alegórico-teológico intenso e profundo. Suas visões lhe surgiam
em plena consciência desperta, vendo-as através de seus sentidos espirituais
enquanto permanecia de posse de seus sentidos corporais, e também eram-lhe
causa de sofrimento ou exaustão físicos, muito agravados quando ela se recusava
ou tardava a colocá-las por escrito. A obra mística de Hildegard se constrói a
partir de suas visões: primeiro, são descritas e, depois, interpretadas.
Trata-se de visões cosmológicas, nas quais se assiste à Criação e ao fim dos tempos.
A ambivalência própria do símbolo e a polivalência significativa estreitam-se
na interpretação, sempre conforme a teologia cristã, mas, nas descrições, sua
intensidade e riqueza ficam patentes.
O maior nome da
mística medieval é, sem dúvida, Francisco de Assis. É ele o primeiro a explicitar a ligação entre mística e conduta
moral. Sua mística tem como centro a pobreza – a quem ele chama de Dama e com
quem diz estar desposado – e o serviço aos pobres. Abandona também o estilo de
Igreja organizada fortemente na sua hierarquização piramidal para se
tornar frater, irmão de todos, sem nenhum título hierárquico. Francisco construirá
toda uma fraternidade com os pobres, vivendo com eles e como eles.
Estabelecerá com os últimos da terra uma comunhão que não é só de ajuda
material, mas de sentidos: “(…) toca-os, beija-os, come com eles da mesma
panela, sente a sua pele (…)” (cf. a proximidade sensorial de Francisco dos
pobres 2Celano 85. Ver também comentário em BOFF, 1988, p.142). E seu
caminho autenticamente pascal, já que passa por uma ascese crucificante que de
tudo se despoja chegando à nudez mais radical em comunhão com o Crucificado,
recebe como graça uma dilatação interior que lhe permite comungar em maior
profundidade com a beleza do mundo até sentir-se em comunhão com o universo
inteiro. Disso dão testemunho alguns de seus escritos, como o Cântico do
Irmão Sol.
Por volta do século
XIV, o mundo ocidental mergulhou em um período de crise econômica, demográfica
e de valores. O clero católico havia enriquecido e mostrava costumes
dissolutos. Nos Países Baixos, surgiram grupos de homens e mulheres que viviam
em recolhimento e praticavam a pobreza, a humildade, a obediência e a
abnegação. Tinham o objetivo de reformar a Igreja oficial com sua vida e
seu ensino.
Essas atitudes
deram início ao movimento chamado Devotio Moderna que se espalhou por toda a Europa Ocidental e cuja obra de
referência é um pequeno livro chamado A Imitação de Cristo. A obra destinava-se
a todos, sem exceção, mas principalmente àqueles desejosos de transformar e
santificar o seu quotidiano.
Figuras da Mística na Época Moderna
A Idade
Moderna, com seu movimento de secularização e autonomia do ser humano em
relação ao mundo teocêntrico da Idade Média, produziu, no entanto, grandes
místicos. Em primeiro lugar estariam os do Siglo de Oro espanhol: João da
Cruz e Teresa de Ávila.
Juan de
La Cruz nasceu Juan de Yepes
Alvarez em 1542, em Fontiveros, Espanha. Oriundo de uma família de aristocratas
empobrecidos, ingressa na Ordem Carmelita aos 21 anos, certamente impulsionado
pelos ideais de solidão e contemplação absoluta dos primeiros eremitas
fundadores da ordem.
Sua mística
tem como uma das categorias centrais a noite escura, a qual, em clara
contraposição à metáfora da luz, tantas vezes relacionada ao insight cognitivo
que emancipa o humano das trevas da ignorância, fala da negação das
possibilidades de conhecimento que é assumida como método para uma experiência
que não é nem sensível nem inteligível, não sendo catalogável pelo nosso
sistema de cognição. Apóstolo do absoluto desprendimento e do absoluto amor,
João da Cruz conjuga essas duas características em uma mística que se encontra
na esfera da passividade, onde a dicção mística assume-se feminina, discurso
apaixonado de quem experimenta o pathos da Presença divina.
Teresa
de Ávila foi a primeira mulher a
receber o título de doutora da igreja, por decreto de Paulo VI. Ao lado de João
da Cruz, foi a reformadora da Ordem do Carmo, fundando as Carmelitas Descalças,
mais próximas do ideal místico contemplativo que originalmente orientava a
Ordem. Há em Teresa uma profunda consciência de que o corpo é essencial não
apenas para a experiência mística, mas para a própria espiritualidade cristã.
Em sua autobiografia, Teresa defende firmemente a valorização do corpo contra
teorias platonizantes que pregavam uma espiritualidade etérea,
diz-nos a Santa: “(…) nós não somos anjos, ao contrário, temos corpo. Querer
fazer-nos anjos estando na terra (…) é desatino. Ao contrário, é preciso ter
apoio, o pensamento, para a vida normal. (…) em tempo de secura, é muito bom
amigo Cristo, porque o vemos Homem, e o vemos com fraquezas e tormentos, e faz
companhia” (JESUS, 1997, p.203-4). Essa consciência do corpo como lócus onde a
experiência mística se dá aparece tanto em sua prosa, notavelmente na
autobiografia Vida, como em sua lírica, que se destaca pelo pathos que
a atravessa. Esses são versos que impressionam pelo erotismo místico, pois são,
como a própria Teresa o confessa em um de seus poemas, “nacidos del fuego del
amor de Dios que em sí tenía”.
Contemporâneo
dos dois místicos acima citados, Iñigo López, posteriormente
Inácio de Loyola, inaugurou uma mística mais sintonizada com a modernidade e
seu novo estilo de vida. Como cortesão, levou até os 26 anos vida de
vaidades e mundanidade. Foi em uma batalha contra os franceses, em Pamplona, no
ano de 1521, que uma bala de canhão atingiu-lhe gravemente uma das pernas e ele
foi obrigado a recolher-se ao castelo de Loyola, onde viviam seu irmão e sua
cunhada, pessoa muito religiosa. Durante a longa convalescença, como não
houvesse livros de cavalaria que o entretivessem, começou a ler a Vita
Christi do cartuxo Ludolfo de Saxônia e a Legenda Áurea sobre
a vida dos santos.
Uma vez
curado, depôs suas armas de cavaleiro e vestiu o burel de peregrino, passando a
andar pelos caminhos da Espanha em penitência e oração, e analisando e
refletindo sobre as experiências que Deus lhe fazia viver. Em suas andanças
teve experiências luminosas e também passou por longos períodos de trevas e
aflição. Isso lhe deu grande conhecimento sobre a vida no Espírito e
passou a anotar suas experiências e sistematizá-las, a fim de que servissem a
outros. Assim nasceram as primeiras meditações do famoso livro que
escreverá e que se chamará Exercícios Espirituais, um dos mais
importantes livros de espiritualidade do ocidente cristão, que será um
instrumento de formação de muitos e muitas que desejam crescer na vida
espiritual. Fundou a Companhia de Jesus, ordem missionária que presta
especial obediência ao Papa para o maior serviço de Deus e das almas.
Ângelus
Silesius nasceu na Polônia, em
1624, dentro de uma tradicional família luterana, tendo como nome de batismo
Johannes Scheffer. O pseudônimo veio depois, com a conversão ao catolicismo (em
1653, aos 28 anos), e faz referência à Silésia, sua terra natal. Em 1653, em
circunstâncias não muito claras, Scheffer converte-se ao catolicismo, começando
a escrever sua grande e única obra mística O Peregrino Querubínico.
Pertencendo à mesma tradição apofática de Eckhart, as imagens desérticas
comparecem nos poemas de Silesius como figuras de uma necessária aporia: a
necessidade de ir além Deus, ultrapassando toda forma de relação objetal entre
um eu humano e um Tu divino.
Aparecem, a
partir daí, não tanto grandes figuras individuais místicas, mas correntes
espirituais destinadas a ajudar as pessoas a crescer na sua relação com Deus,
como a “Introdução à vida devota” de São Francisco de Sales e
outras.
Os séculos
XVII e XVIII na França conheceram algumas figuras místicas um tanto atípicas,
mas cuja contribuição à história mesma do cristianismo, não se pode ignorar.
Blaise
Pascal nasceu em Clermont-Ferrand,
França, em 1623. O talento precoce para as ciências físicas levou a
família a Paris, onde ele se consagra ao estudo da matemática, notabilizando-se
nessa ciência para a qual deu notável contribuição. Convertido ao jansenismo,
desenvolve enorme fervor religioso. Na sequência de uma experiência mística, em
finais de 1654, faz a sua “segunda conversão” e abandona as ciências para se
dedicar exclusivamente à filosofia e à teologia, num período marcado pelo
conflito entre jansenistas e jesuítas. Recolhe-se posteriormente à abadia de
Port-Royal-des-Champs, centro do jansenismo. Grande crítico de Descartes,
Pascal desenvolve uma mística do coração, sendo sua a célebre frase “O coração
tem razões que a própria razão desconhece.” Sua visão jansenista faz com que
sua mística seja muito impregnada de um rigorismo moral que o faz ser marcado
por uma obsessão da culpa e da condenação. Moderno, Pascal é herdeiro de
Agostinho quanto à mística e também ao rigor moral, além de fazer da ciência
parte integrante de sua mística.
Jean
Joseph Surin nasceu em 1600 e
morreu em 1665. Era jesuíta e um grande diretor espiritual. De
temperamento obsessivo, a vida espiritual o consumia. Sua missão de ser
exorcista no convento das ursulinas de Ludun, atormentadas pelo demônio, tanto
o afetou que o fez oferecer-se a si mesmo para ser possuído pelo demônio a fim
de expiar os crimes terríveis que ali se cometiam por sua maléfica ação. Foi
assim atormentado até o fim de sua vida, mergulhando em profundas desolações e
vivendo em uma tênue fronteira entre a mística e a loucura. Quando pregava, no
entanto, Deus falava por sua boca. Nos últimos anos de sua vida viveu
verdadeira santidade, permanecendo absorvido na abundância das divinas
comunicações.
Além
disso, ainda no século XVII, surgiu na França uma devoção particular que
teve origem nas experiências de uma mística: Margarida Maria
Alacocque, uma religiosa da Ordem da Visitação. Ela recebeu
grandes revelações por parte de Jesus Cristo, que lhe mostrou os segredos de
seu coração e a incumbiu de propagar esta devoção ao Coração de Jesus pelo
mundo inteiro. Esta devoção propagou-se rapidamente, recebendo apoio de papas e
bispos e também o ativo suporte da Companhia de Jesus, que ajudou a divulgá-la
e praticá-la.
Fonte: Maria Clara
Bingemer – PUC-Rio, Brasil. In: http://theologicalatinoamericana.com/
[1]
O natrão era uma das substâncias
utilizadas pelos antigos egípcios nos processos de mumificação; na verdade o
natrão era composto por carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, sal e sulfato
de sódio - no qual as múmias ficavam imersas por durante 70 dias; a substância
natural era encontrada em várias regiões do país. Seu uso, neste fim,
destinava-se à desidratação das células e combate às bactérias. Na antiguidade
egípcia seu uso também era o de alvejante para roupas brancas, e misturado com
argila formava um tipo de sabão, com uso no preparo da lã.
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