segunda-feira, 19 de novembro de 2018

73 - Irineu de Lyon (130-202) Demonstração da Pregação Apostólica (Cap. 73 - 87)


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73
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Irineu de Lyon (130-202)
Demonstração da Pregação Apostólica (Cap. 73 - 87)

Morte e ressurreição
73. Davi tratou assim da morte e da ressurreição de Cristo: “Eu me deito e logo adormeço. Desperto, pois é Iahweh quem me sustenta”. Davi não disse isso de si próprio, porque não ressuscitou depois da morte; mas o Espírito de Cristo, que assim falou pelos profetas, disse pela boca de Davi: “Eu me deito e logo adormeço. Desperto, pois é Iahweh quem me sustenta”. Define a morte como “sono”, porque ressuscitou.

Anúncio da Paixão
74. Com relação à Paixão, disse Davi: “Por que as nações se amotinam e os povos planejam em vão? Os reis da terra se insurgem e, unidos, os príncipes enfrentam Iahweh e seu Messias”. De fato, Herodes, o rei dos judeus, e Pôncio Pilatos, procurador de Cláudio César, se reuniram e condenaram o Cristo a ser crucificado. Herodes, de fato, temia perder o seu reino, como se ele devesse ser um rei terreno, e Pilatos foi constrangido contra a sua vontade por Herodes e pelos judeus, que o forçaram a condená-lo à morte, pelo fato de que não fazer isso seria considerado contra César, libertando um homem ao qual foi dado o título de rei.
75. A propósito da Paixão, disse ainda o mesmo profeta: “Tu, porém, rejeitaste e desprezaste, ficaste indignado com teu ungido. Renegaste a aliança com teu servo, até o chão profanaste sua coroa. Fizeste brechas em seus muros todos, e arruinaste sua fortaleza; todos os que passam no caminho o pilharam, tornou-se opróbrio para seus vizinhos. Exaltaste a direita dos seus opressores, alegraste seus inimigos todos; quebraste sua espada contra a rocha, não o sustentaste no combate. Removeste seu cetro de esplendor, e derrubaste seu trono por terra; encurtaste os dias da sua juventude e o cobriste de vergonha”. O profeta afirma abertamente que o Cristo devia sofrer tudo isso e que tal era a vontade do Pai. Pela vontade do Pai, de fato, o Cristo sofreu a Paixão.


A captura de Jesus
76. Zacarias assim se expressou: “Espada, levanta-te contra o meu pastor e contra o homem, meu companheiro. Fere o pastor, e as ovelhas sejam dispersadas!”. E isso aconteceu quando o Cristo foi capturado pelos judeus. Então, todos os discípulos o abandonaram por medo de perecer com ele, porque eles não acreditaram firmemente
nele até que o vissem ressuscitado dos mortos.
77. Também se disse, dentre os doze profetas: “Prisioneiro, o apresentaram como um presente”. Pôncio Pilatos era procurador da Judeia e alimentava então um profundo rancor contra Herodes, rei dos judeus. Precisamente por causa dessa situação, Pilatos mandou o Cristo, a quem o haviam enviado, atado a Herodes com o pedido de que o interrogasse para confirmar o que queria fazer com ele. Desse modo, Cristo se converteu em bom pretexto para Pilatos reconciliar-se com o rei.
78. Em Jeremias, ele anuncia a morte e a descida aos infernos, nestes termos: “O Senhor, o Santo de Israel, se recordou dos seus mortos, que no passado dormiram no pó da terra, desceu a eles para anunciar a Boa-Nova da salvação e libertá-los”. Aqui indica os motivos da sua morte; a descida aos infernos era a salvação dos defuntos.
79. Novamente, a propósito da cruz, disse Isaías: “Todos os dias estendi as mãos a um povo rebelde”. Assim prefigurava a cruz. E ainda mais claramente Davi: “Cercam-me cães numerosos, um bando de malfeitores me envolve, como para retalhar minhas mãos e meus pés”. E novamente: “Meu coração está como cera, derretendo-se dentro de mim”. E ainda: “Salva minha vida da espada, e prega a minha carne, pois uma corja de marginais se levantou contra mim”. Nessas passagens se mostra de modo luminoso a sua crucifixão. Moisés disse a mesma coisa ao povo: “Tua vida penderá à tua frente por um fio; ficarás apavorado noite e dia, e não acreditarás mais na vida”.
80. Continua Davi: “Eles me olham, me observam, repartem entre si as minhas roupas, sobre minha túnica tiram a sorte”. Quando o crucificaram, os soldados dividiram as roupas segundo o seu costume: “Os soldados, quando crucificaram Jesus, tomaram suas roupas e repartiram em quatro partes, uma para cada soldado, e a túnica. Ora, a túnica era sem costura, tecida como uma só peça, de alto a baixo. Disseram entre si: ‘Não rasguemos, mas tiremos a sorte, para ver com quem ficará’”.
81. O profeta Jeremias acrescenta: “E tomaram as trinta moedas de prata, o preço do Precioso, daquele que os filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo campo do Oleiro, conforme o Senhor me ordenara”. De fato, Judas, um dos discípulos de Jesus, tendo-se comprometido com os judeus, tendo selado com eles um pacto – sabia, de fato, que queriam matá-lo – e porque havia sido repreendido por Ele, aceitou as trinta moedas do país, e lhes entregou o Cristo. Em seguida, com remorso pelo que havia feito, jogou o dinheiro aos pés dos chefes dos judeus e se suicidou. Porém, esses não acharam conveniente devolver o dinheiro ao tesouro, porque era preço de sangue, e com ele compraram o campo que pertencia a um oleiro, para lá enterrar os estrangeiros.
82. Depois de ter sido crucificado, quando pediu de beber, lhe deram vinagre misturado com fel. Também isso foi predito por Davi: “Como alimento, deram-me fel, e na minha sede, serviram-me vinagre”.
83. Eis como Davi falou da ascensão ao céu depois da ressurreição dos mortos: “Os carros de Deus são milhares de miríades; o Senhor veio de Sião para o santuário. Subistes às alturas, para pôr fim à escravidão; tomou e deu dons aos homens”. Davi relaciona “escravidão” à destruição do poder dos anjos rebeldes. Fez conhecer o lugar de onde subiria da terra ao céu, dizendo: “o Senhor vem de Sião para o santuário, subistes às alturas”. De fato, no monte das Oliveiras, de frente a Jerusalém, depois da ressurreição dos mortos, [Jesus] reuniu os discípulos e, depois de tê-los instruído sobre o Reino dos Céus, foi elevado sobre os seus olhos, e eles viram como o acolhiam os céus abertos.
84. Davi repetiu a mesma coisa: “Levantai, ó portas, os vossos frontões, elevai-vos, antigos portais, para que entre o rei da glória”. As “portas eternas” são os céus. Porque o Verbo desceu invisível para as criaturas, não foi reconhecido quando desceu. Porém, como se encarnou, se fez visível quando ascendeu aos céus. Quando os principados dos anjos inferiores o viram, gritaram no firmamento: “Levantai, ó portas, erguei-vos portas eternas, para que entre o rei da glória”. Esses, assombrados, se perguntavam: “Quem é este?”, e os que haviam visto testemunhavam pela segunda vez: “O Senhor poderoso e forte é o rei da glória”.
85. Ressuscitado e elevado ao céu, [o Filho de Deus] aguarda à direita do Pai o momento fixado pelo Pai para julgar todos os seus inimigos que serão a ele sujeitados. Os inimigos são aqueles que foram encontrados em estado de rebelião, anjos, arcanjos, principados, tronos, que desprezaram a verdade. Davi afirmava ainda: “Oráculo de Iahweh ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos como escabelo de teus pés”. Davi disse, também, que subiu ao lugar de onde havia descido: “Ele sai de um extremo dos céus, e até o outro extremo vai o ser percurso; nada escapa ao seu calor”.

O testemunho dos apóstolos
86. Se os apóstolos predisseram que o Filho de Deus devia manifestar-se sobre a terra, e
predisseram o lugar, a maneira e a forma da sua manifestação sobre a terra, e se o Senhor fez suas todas essas profecias, a nossa fé nele é bem fundada, e é autêntica a Tradição da pregação, isto é, o testemunho dos apóstolos. Esses, enviados pelo Senhor, pregaram pelo mundo inteiro que o Filho de Deus veio para sofrer a Paixão, ele que a
suportou para destruir a morte e vivificar o corpo, e que, cessando a hostilidade contra Deus, isto é, as iniquidades, teremos obtido a sua paz, cumprindo o que é do seu agrado. Assim foi anunciado pelos profetas, nestes termos: “Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas-novas e anuncia a salvação”. E anunciou que esses mensageiros deviam vir da Judeia e de Jerusalém
para anunciar a nós a Palavra de Deus, que para nós é lei, também. Como disse Isaías: “Com efeito, de Sião sairá a Lei, e de Jerusalém a Palavra de Iahweh”. Davi afirmava que haveriam de pregar por toda a terra: “e por toda a terra sua linha aparece, e até os confins do mundo a sua linguagem”.

O primado do amor
87. Não é com a argumentação prolixa da lei que o gênero humano é salvo, mas com a concisão da fé e da caridade. Disse Isaías: “uma palavra concisa e breve na justiça, porque Deus enviará uma palavra concisa, com eficácia, sobre toda a terra”. Igualmente Paulo disse: “a caridade é a plenitude da lei”. De fato, aquele que ama a Deus cumpre a Lei. Quando ao Senhor foi perguntado: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”, respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração [...] com toda a tua força”; e o segundo é semelhante a esse: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. Desses dois mandamentos, disse, “dependem toda a lei e os profetas”. Assim, com a fé nele cresceu o nosso amor por Deus e pelo próximo para fazer-nos mais piedosos, mais justos e bondosos. Por isso, ele mandou uma “palavra breve sobre a terra”.

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