terça-feira, 28 de maio de 2019

97 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 7)


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97
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 7)



HOMILIA 7
Lc 1.39-45 - Sobre o que está escrito: “Levantando-se com pressa, Maria dirigiu-se à montanha”, até aquela passagem que diz: “haverá o cumprimento do que foi dito”.

A visitação
Os melhores vão aos menores, para que, com sua vinda, lhes possam oferecer algum benefício. Assim, também o Salvador veio até João, a fim de santificar o batismo dele.
Assim que Maria ouviu o anjo anunciando que conceberia o Salvador, e que a sua prima Isabel estaria grávida, “levantando-se com pressa, dirigiu-se à montanha, e entrou na casa de Isabel”. Jesus, com efeito, que estava em seu ventre, apressava-se em santificar João, colocado no ventre de sua mãe.
Enfim, antes que Maria viesse e saudasse Isabel, “não exultou a criança em seu ventre”; mas, assim que Maria pronunciou a palavra que o Filho de Deus lhe sugerira no ventre de sua mãe, “a criança exultou em júbilo”, e desde então Jesus fez de seu precursor um profeta.
Também era necessário que Maria, depois do diálogo com o anjo, muitíssimo digna de ser a mãe do Filho de Deus, subisse a montanha e morasse nas alturas.
Por isso, está escrito: “Naqueles dias, Maria se levantou e se dirigiu para a montanha”. Ela devia, igualmente, porque era atenta e diligente, apressar-se solicitamente e, cheia do Espírito Santo, ser conduzida às alturas, protegida pelo poder de Deus, pelo qual já havia sido recoberta.
Ela veio, portanto, “a uma cidade de Judá, na casa de Zacarias, e saudou Isabel. E sucedeu que, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, exultou a criança em seu ventre, e ficou repleta do Espírito Santo”. Não há dúvida de que, se Isabel ficou então repleta do Espírito Santo, foi por causa do Filho que o ficou.
Não foi, com efeito, a mãe que mereceu primeiramente o Espírito Santo, mas, quando João, ainda encerrado no ventre da mãe, recebeu o Espírito Santo, Isabel, por sua vez, depois da santificação de seu filho, “ficou repleta do Espírito Santo”. Poderás crer nisso, se conheceres algo semelhante a respeito do Salvador.
Lê-se que a bem-aventurada Virgem Maria profetizou, como encontramos em grande número de exemplares.
Mas não ignoramos, com efeito, que, segundo outros códices, foi Isabel quem proferiu esses oráculos.
Maria ficou, portanto, repleta do Espírito Santo, desde o momento em que começou a trazer em seu seio o Salvador.
Desde que recebeu o Espírito Santo, criador do corpo do Senhor, e que o Filho de Deus começou a existir em seu ventre, Maria também ficou cheia do Espírito Santo.

A virgindade de Maria
 “Exultou, pois, a criança no ventre de Isabel, e ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, exclamou e disse: ‘Tu és bendita entre as mulheres’”.
Nessa passagem, devemos, para que os homens simples não sejam enganados, refutar o que os hereges costumam objetar.
Com efeito, não sei quem prorrompeu em tamanha loucura a ponto de afirmar que Maria tinha sido renegada pelo Salvador, porque, depois do seu nascimento, ela teria se unido a José.
Foi] o que alguém disse; que ele tenha sabido com que intenção disse. Se algumas vezes os hereges vos fizerem tal objeção, respondei-lhes e dizei: é, certamente, cheia do Espírito Santo que Isabel disse: “Tu és bendita entre as mulheres”. Se Maria é proclamada bendita pelo Espírito Santo, como o Salvador a pôde renegar?
Quanto aos que afirmam que ela contraiu bodas depois do parto virginal, eles não têm como prová-lo; pois os que eram filhos atribuídos a José não tinham nascido de Maria, nem há nenhum texto da Escritura que mencione esse fato.

Jesus santifica os seus
“Tu és bendita entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre. De onde me vem que a mãe do meu Senhor venha a mim?” Estas palavras: “De onde me vem” não são sinal de ignorância, como se Isabel, muitíssimo cheia do Espírito Santo, não soubesse que a mãe do Senhor tinha vindo até ela, segundo a vontade de Deus.
Mas fala com este sentido: “O que fiz de bom? Quais das minhas obras são grandes o bastante para que a mãe do Senhor venha até mim? Por qual justiça, por qual perfeição, de que fidelidade interior mereci este favor, que a mãe do Senhor venha me ver?” “Eis que, assim que a tua saudação soou aos meus ouvidos, exultou de alegria a criança em meu ventre”.
Santa era a alma do bem-aventurado João e, ainda encerrada no ventre da mãe e ainda vindoura no mundo, conhecia aquele que Israel ignorava. Por isso exultou, e não simplesmente exultou, mas de alegria.
Ele havia percebido, pois, que o seu Senhor tinha vindo, a fim de santificar o servo, antes que saísse do ventre da mãe. Oxalá venha me ver, a mim que acreditei em tais mistérios, para que eu seja considerado louco pelos infiéis.
A própria obra e a verdade mostraram que eu não tinha acreditado em uma loucura, mas na sabedoria, porque o que é considerado loucura para eles, para mim se torna ocasião de salvação. Pois, a menos que o nascimento do Salvador não tivesse sido celestial e bem aventurado, se não tivesse algo de divino e superior à humanidade dos homens, nunca sua doutrina teria se espalhado pelo mundo inteiro.
Se estivesse no ventre de Maria apenas um homem, e não o Filho de Deus, como poderia acontecer que fossem curadas, naquele tempo e agora, as múltiplas doenças, não só dos corpos, mas também das almas?
Quem de nós não foi um insensato, nós, que agora temos, por causa da misericórdia de Deus, a inteligência e conhecemos a Deus? Quem nunca foi um descrente da justiça, que agora, por causa de Cristo, temos a justiça e seguimos a justiça?
Quem de nós nunca esteve no erro e na perdição, que agora, por causa do advento do Salvador, não conhecemos mais nem a hesitação nem a perturbação, mas estamos no caminho, isto é, em Jesus, que disse: “Eu sou o caminho”?

Poder sempre atual do Cristo
Podemos, reunindo também o que resta, ver que tudo que foi escrito sobre Jesus é reportado como divino e digno de admiração: seu nascimento, seu crescimento, seu poder e sua paixão e ressurreição existiram não só naquele tempo, mas também hoje operam em nós.
Quem, pois, ó catecúmenos, vos reuniu na igreja? Qual aguilhão vos impeliu a que, deixando vossas casas, vos reunais nesta assembleia? Porque não rondamos, uma a uma, vossas casas; mas [foi] o Pai onipotente que, por sua força invisível, inspirou em vossos corações, que Ele sabe serem dignos, esse ardor, para que, como a vosso contragosto e com rabugice, venhais para a fé, sobretudo no começo da vossa vida cristã, quando vós recebeis a fé da salvação com temor, tomados, por assim dizer, de medo e de tremor. Suplico-vos, ó catecúmenos, não recueis.
Nenhum de vós ceda ao medo e ao assombro, mas segui Jesus, que anda à vossa frente. Ele vos atrai para a salvação, vos reúne na Igreja, terrestre por enquanto, mas que, se produzirdes bons frutos, vos reunirá na “Igreja dos Primogênitos, cujos nomes estão inscritos nos céus”.
“Feliz aquela que acreditou”, e feliz aquele que acreditou, “porque haverá o cumprimento daquilo que lhes foi dito pelo Senhor”. Por isso Maria engrandece o Senhor Jesus: “Minha alma engrandece o Senhor, o meu espírito, a Deus”.
Indagaremos, estudaremos e falaremos que significado têm [essas palavras], se o Senhor o permitir, quando novamente nos reunirmos na igreja; quando vireis alegres à casa de Deus e prestareis atenção à lição divina, em Cristo Jesus: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto? Como ele serve para sua espiritualidade?


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