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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias
sobre São Lucas (Homilia 13)
HOMILIA 13 - Lc 2.13-16
Sobre o que está escrito: “E se juntou uma multidão do exército
celeste” até aquela passagem que diz: “Eles encontraram Maria e Jesus colocado
numa manjedoura”.
O cântico dos anjos
Nosso Senhor e Salvador nasce em Belém, e “uma multidão do exército
celeste louva a Deus e diz: Glória a Deus nas alturas, e sobre a terra paz aos
homens, objetos da benevolência divina”.
Assim fala “A multidão do exército celeste”, porque ela já havia
falhado em oferecer seu auxílio aos homens, e porque via que não podia cumprir
o que lhe havia sido confiado sem aquele que verdadeiramente podia salvar e também
ajudar aos próprios guias dos homens, para que os homens fossem salvos.
Como está escrito no Evangelho, que alguns homens estavam já
cansados de ter sulcado o mar contra ventos contrários e, tendo penado vinte e
cinco ou trinta estádios, não podiam alcançar o porto, e depois o Senhor sobreveio e fez
acalmar as ondas tumultuosas e livrou o navio de um perigo iminente, cujos
flancos de ambos os lados recebiam golpes das ondas.
Entende assim por que também os anjos queriam evidentemente
oferecer aos homens o [seu] auxílio e lhes conceder a saúde, curando-os de suas
doenças: porque “todos são espíritos servidores, enviados a serviço por aqueles
que haverão de obter sua salvação”; e,
quanto estivesse em suas forças, ajudavam aos homens; viam, porém, que seus remédios
eram muito inferiores em relação ao que seus cuidados exigiam.
Vamos adiante, para que possas entender a partir de um exemplo o
que dizemos.
Imagina uma cidade na qual muitos estejam doentes e se lance mão
frequentemente de muitos médicos.
Imagina que haja feridas de todo tipo e que a gangrena penetre espalhando-se
quotidianamente pela carne moribunda, enquanto os médicos, porém, empregados
para curar essas feridas, não podem encontrar outros medicamentos e triunfar
sobre a grandeza desse mal pela ciência da sua profissão.
Enquanto tudo está em tal estado, chega um médico extraordinário,
que tenha o sumo conhecimento em sua profissão, e aqueles que anteriormente não
haviam podido curar, verificando que, pela mão do mestre, as gangrenas das
feridas cessam, não ficam com inveja, não são torturados de ciúme, mas irrompem
em louvores ao arquimédico e celebram altamente a Deus, que enviou, a eles e
aos doentes, um homem de tamanha ciência.
Assim, é por uma razão semelhante que se ouve uma multidão do exército
dos anjos dizer: “Glória a Deus nas alturas, e na terra paz aos homens, objetos
da benevolência divina”. Pois, depois que o Senhor veio à terra, “pacificou
pelo sangue de sua cruz os seres que estavam na terra, bem como os que estavam
no céu”.
Assim, os anjos, querendo que os homens se recordassem de seu
Criador – uma vez que houvessem feito tudo que estava em suas forças para curá-los,
e esses não tivessem querido receber a saúde –, se voltam para aquele que pôde
curar e, glorificando-o, dizem “Glória a Deus nas alturas, e na terra paz aos
homens, objetos da benevolência divina”.
Resposta a uma objeção
Um leitor atento da Escritura perguntar-se-á como o Salvador diz: “Não
vim trazer a paz à terra, mas a espada”, e
agora os anjos em seu nascimento cantam: “Paz na terra”, assim como,
igualmente, em outra passagem, a respeito de sua própria pessoa, é dito: “Eu
vos dou a minha paz, vos deixo a paz; eu dou a paz, não como este mundo dá a paz”.
Vejamos, então, se o que trazemos aqui permite resolver a questão.
Se estivesse escrito: “Paz na terra” e aí a frase terminasse aí, a objeção
surgiria com propriedade.
Mas, na realidade, o que foi acrescentado, isto é, o que é dito
depois de “paz”: “aos homens, objetos da benevolência divina”, resolve a questão.
Também a paz que o Senhor não dá “à terra” não é a “paz da benevolência
divina”. Ele não diz, pois, tão simplesmente: “não vim trazer a paz”, mas faz
um acréscimo: “à terra”; inversamente não diz: “não vim trazer à terra a paz da
benevolência divina”.
O anjo das igrejas
Estas palavras os anjos falaram aos pastores, não as falavam
apenas naquele tempo, mas até hoje falam. Se os anjos não tivessem falado aos
pastores e, assim, não tivessem unido sua obra à deles, seria dito a eles: “Se
o Senhor não tiver edificado a casa, em vão trabalham aqueles que a edificam;
se o Senhor não tiver guardado a cidade, em vão vigia quem a guarda”.
Se se permite falar com audácia a quem segue o sentido das
Escrituras, para cada igreja há dois bispos, um visível, outro invisível; esse,
visível de modo claro para a inteligência, aquele visível pela carne.
E como um homem é louvado pelo Senhor, se tiver cumprido bem a
incumbência a ele confiada – se a tiver cumprido mal, ele subjazerá à culpa e
ao vício –, assim também [acontece] para um anjo.
Está escrito no Apocalipse de [São] João: “Mas tens aí poucos
nomes que não tenham máculas”. Ou ainda isto, um pouco
antes: “Tens aí quem ensine a doutrina dos nicolaítas”, e
novamente: “Tens aí quem comete tal ou tal pecado”, e assim são acusados os
anjos a quem foram confiadas as igrejas.
Se os anjos têm, pois, inquietude sobre como governar as igrejas,
que necessidade há de falar dos homens, de quanto medo devem ter para que
possam obter, com a colaboração dos anjos, a salvação?
Eu acredito que se podem encontrar, ao mesmo tempo, um anjo e um
homem como bons bispos para uma igreja e, de certo modo, que podem ser partícipes
de uma única obra.
Se é assim, peçamos ao Deus onipotente que os bispos das igrejas,
anjos e homens, sejam para nós uma ajuda, e saibamos que uns e outros são
julgados pelo Senhor em nosso lugar.
Mas se eles forem julgados, e não forem encontrados nem vício nem
pecado que redunde em sua incúria, mas em nossa negligência, nós seremos
acusados e castigados.
Ainda que eles façam, pois, todas as coisas e se esforcem por
nossa salvação, nós não estaremos livres dos pecados.
Entretanto, frequentemente sucede que, apesar de nosso trabalho,
eles não desempenham seu dever e têm culpa.
O mistério do presépio
E aconteceu, diz a Escritura, que os pastores disseram uns aos
outros, quando os anjos os deixaram para voltar ao céu: “Passemos até Belém, e
vejamos a realização desta palavra que o Senhor nos fez conhecer. E eles vieram
depressa e encontraram Maria, José e o menino”.
Porque haviam vindo depressa, e não devagar, nem com passo cansado, eles
encontraram José, que havia preparado tudo para
o nascimento do Senhor e Maria, que deu à luz Jesus, e o próprio Salvador “deitado
numa manjedoura”.
A manjedoura era aquela da qual o profeta anunciou o oráculo,
dizendo: “O boi conheceu seu proprietário, e o asno a manjedoura de seu senhor”.
O boi é um animal puro, o asno é um animal impuro. “Conheceu o
asno a manjedoura de seu senhor”. Não foi o povo de Israel que conheceu a
manjedoura de seu senhor, mas um animal impuro vindo dos pagãos: “Ora, diz a
Escritura, Israel não me conheceu, e meu povo não me compreendeu”.
Compreendamos o sentido deste presépio, esforcemo-nos por descobrir
o Senhor, mereçamos conhecê-lo e assumi-lo, não somente sua natividade e sua
ressurreição da carne, mas também o segundo advento glorioso da majestade daquele
“a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos”.
O que
você destaca no texto?
Como
ele serve para sua espiritualidade?
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