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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias
sobre São Lucas (Homilia 15)
HOMILIA
15 - Lc 2.25-29
A respeito de
Simeão e de sua vinda ao templo, impelido pelo Espírito, até aquela passagem,
em que diz: “Agora, Senhor, podes deixar ir em paz o teu servo”.
O Nunc
dimittis
Deve-se buscar
uma razão conveniente para explicar como a graça de Deus para com Simeão,
“varão santo e agradável a Deus”, como está escrito no Evangelho, “esperando a
consolação de Israel, recebeu uma garantia do
Espírito Santo de que não haveria de morrer antes que visse o Cristo Senhor”.
Em que lhe foi
útil ver o Cristo? Foi-lhe prometido somente o ver Cristo, sem que nada dessa
visão lhe redundasse de útil, ou se oculta na promessa algum dom digno de Deus
que o bem-aventurado Simeão tanto mereceu quanto recebeu?
“Uma mulher
tocou a orla da veste de Jesus e foi curada”. Se
essa mulher obteve tanta vantagem com a extremidade da veste, o que se deve
pensar de Simeão, que, em seus braços recebeu e segurou a criança, se alegrava
e se rejubilava, vendo o pequenino que ele trazia nos braços e que viera
libertar aos cativos – e também ele próprio haveria de ser liberto dos nós do
corpo –, sabendo que ninguém podia fazer alguém sair da prisão do corpo com
esperança da vida futura senão aquele que segurava nos braços?
Por isso também
é a ele que [Simeão] se dirige: “Agora, Senhor, podes deixar ir o teu servo em
paz”. Com efeito, [era como se Simeão dissesse]: “por tanto tempo não segurei o
Cristo; por tanto tempo não o apertava em meus braços; eu estava preso e não podia
sair de meus laços”. Mas se deve entender isso aplicado não só a Simeão, mas a toda
a raça humana. Se alguém sai do mundo, se alguém é libertado tanto do cárcere quanto
da casa dos cativos, que vá viver como rei, que tome Jesus em suas mãos, e o cerque com seus braços, tenha-o todo em seu
colo, e então poderá exultante ir-se para onde desejar.
Considerai
quanta organização foi preparada para que Simeão tenha merecido segurar o Filho
de Deus: primeiro havia recebido a garantia do Espírito Santo de que não veria
a morte, se não que antes tivesse visto o Cristo.
Depois, não
entrou no templo fortuita e simplesmente, mas “veio ao templo conduzido pelo
Espírito de Deus”; pois “todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de
Deus, esses são filhos de Deus”.
O Espírito
Santo, portanto, o conduziu ao templo. Tu também, se queres segurar Jesus e
abraçá-lo com as mãos e tornar-te digno de sair do cárcere, esforça-te com todo
afinco para que tenhas como condutor o Espírito de Deus e venhas ao templo de
Deus. E eis que estás de pé no templo do Senhor Jesus, isto é, em sua igreja.
Esse templo é construído “de pedras vivas”.
Estás de pé,
porém, no templo do Senhor, quando tua vida e tua conduta forem bastante dignas
do nome que designa a Igreja.
Morrer
na paz
Se vieres “ao
templo conduzido pelo Espírito”, encontrarás o pequenino Jesus, o elevarás em
teus braços e dirás: “Agora, Senhor, podes deixar ir teu servo em paz, segundo
a tua palavra”.
E presta
atenção, ao mesmo tempo, que a paz se acrescenta à soltura e ao livramento.
Pois Simeão não diz [simplesmente]: “quero que me deixes ir”; mas “podes deixar
ir”, com o acréscimo: “em paz”.
Na verdade, foi
prometida esta mesma coisa ao bem-aventurado Abraão: “Tu, porém, irás em paz a
teus pais, depois de ter vivido em uma feliz velhice”.
Quem é que
poderia morrer na paz, senão aquele que tem a paz de Deus, “que supera toda
inteligência e guarda o coração” de quem a possui?
Quem é que pode deixar este mundo na paz, senão aquele que compreende “que em
Cristo Deus reconciliava consigo o mundo”; aquele
que nenhuma inimizade e oposição fez a Deus, mas que, depois de ter atingido,
por suas boas obras, a plenitude da paz e da concórdia, vai-se na paz
reencontrar os santos patriarcas, para junto dos quais também Abraão partiu?
Mas por que
falar dos patriarcas? Vai-se para junto do próprio Jesus, príncipe e senhor dos
patriarcas, do qual se diz: “é melhor libertar-se pela morte e estar com o Cristo”.
Tem Jesus aquele
que ousa dizer: “Não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.
A fim de que nós
também, de pé no templo, segurando o Filho de Deus e abraçando-o com nossos
braços, sejamos dignos de ser libertos e de partir para realidades melhores,
oremos ao Deus onipotente, oremos também ao pequenino Jesus, com quem desejamos
conversar e a quem queremos segurar nos braços, “a quem pertencem a glória e o
poder nos séculos dos séculos. Amém”.
O que
você destaca no texto?
Como
ele serve para sua espiritualidade?
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