terça-feira, 23 de julho de 2019

104 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 15)


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104
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 15)


HOMILIA 15 - Lc 2.25-29
A respeito de Simeão e de sua vinda ao templo, impelido pelo Espírito, até aquela passagem, em que diz: “Agora, Senhor, podes deixar ir em paz o teu servo”.

O Nunc dimittis
Deve-se buscar uma razão conveniente para explicar como a graça de Deus para com Simeão, “varão santo e agradável a Deus”, como está escrito no Evangelho, “esperando a consolação de Israel, recebeu uma garantia do Espírito Santo de que não haveria de morrer antes que visse o Cristo Senhor”.
Em que lhe foi útil ver o Cristo? Foi-lhe prometido somente o ver Cristo, sem que nada dessa visão lhe redundasse de útil, ou se oculta na promessa algum dom digno de Deus que o bem-aventurado Simeão tanto mereceu quanto recebeu?
“Uma mulher tocou a orla da veste de Jesus e foi curada”. Se essa mulher obteve tanta vantagem com a extremidade da veste, o que se deve pensar de Simeão, que, em seus braços recebeu e segurou a criança, se alegrava e se rejubilava, vendo o pequenino que ele trazia nos braços e que viera libertar aos cativos – e também ele próprio haveria de ser liberto dos nós do corpo –, sabendo que ninguém podia fazer alguém sair da prisão do corpo com esperança da vida futura senão aquele que segurava nos braços?
Por isso também é a ele que [Simeão] se dirige: “Agora, Senhor, podes deixar ir o teu servo em paz”. Com efeito, [era como se Simeão dissesse]: “por tanto tempo não segurei o Cristo; por tanto tempo não o apertava em meus braços; eu estava preso e não podia sair de meus laços”. Mas se deve entender isso aplicado não só a Simeão, mas a toda a raça humana. Se alguém sai do mundo, se alguém é libertado tanto do cárcere quanto da casa dos cativos, que vá viver como rei, que tome Jesus em suas mãos, e o cerque com seus braços, tenha-o todo em seu colo, e então poderá exultante ir-se para onde desejar.
Considerai quanta organização foi preparada para que Simeão tenha merecido segurar o Filho de Deus: primeiro havia recebido a garantia do Espírito Santo de que não veria a morte, se não que antes tivesse visto o Cristo.
Depois, não entrou no templo fortuita e simplesmente, mas “veio ao templo conduzido pelo Espírito de Deus”; pois “todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.
O Espírito Santo, portanto, o conduziu ao templo. Tu também, se queres segurar Jesus e abraçá-lo com as mãos e tornar-te digno de sair do cárcere, esforça-te com todo afinco para que tenhas como condutor o Espírito de Deus e venhas ao templo de Deus. E eis que estás de pé no templo do Senhor Jesus, isto é, em sua igreja. Esse templo é construído “de pedras vivas”.
Estás de pé, porém, no templo do Senhor, quando tua vida e tua conduta forem bastante dignas do nome que designa a Igreja.

Morrer na paz
Se vieres “ao templo conduzido pelo Espírito”, encontrarás o pequenino Jesus, o elevarás em teus braços e dirás: “Agora, Senhor, podes deixar ir teu servo em paz, segundo a tua palavra”.
E presta atenção, ao mesmo tempo, que a paz se acrescenta à soltura e ao livramento. Pois Simeão não diz [simplesmente]: “quero que me deixes ir”; mas “podes deixar ir”, com o acréscimo: “em paz”.
Na verdade, foi prometida esta mesma coisa ao bem-aventurado Abraão: “Tu, porém, irás em paz a teus pais, depois de ter vivido em uma feliz velhice”.
Quem é que poderia morrer na paz, senão aquele que tem a paz de Deus, “que supera toda inteligência e guarda o coração” de quem a possui? Quem é que pode deixar este mundo na paz, senão aquele que compreende “que em Cristo Deus reconciliava consigo o mundo”; aquele que nenhuma inimizade e oposição fez a Deus, mas que, depois de ter atingido, por suas boas obras, a plenitude da paz e da concórdia, vai-se na paz reencontrar os santos patriarcas, para junto dos quais também Abraão partiu?
Mas por que falar dos patriarcas? Vai-se para junto do próprio Jesus, príncipe e senhor dos patriarcas, do qual se diz: “é melhor libertar-se pela morte e estar com o Cristo”.
Tem Jesus aquele que ousa dizer: “Não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.
A fim de que nós também, de pé no templo, segurando o Filho de Deus e abraçando-o com nossos braços, sejamos dignos de ser libertos e de partir para realidades melhores, oremos ao Deus onipotente, oremos também ao pequenino Jesus, com quem desejamos conversar e a quem queremos segurar nos braços, “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua espiritualidade?

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