terça-feira, 8 de outubro de 2019

114 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 26)

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114
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 26)


HOMILIA 26 - Lc 3.17
Sobre o que está escrito: “A joeira está em sua mão e ele limpará a sua eira”, até a passagem que diz: “E recolherá o trigo em seu celeiro”.

O julgamento de Deus
“Deus é espírito e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade”.
Nosso Deus é também “um fogo devorante”. Deus recebe, portanto, dois nomes: “espírito” e “fogo”; espírito para os justos, fogo para os pecadores.
Mas os anjos são também chamados “espírito” e “fogo”: “Ele que faz de seus anjos espíritos”, diz a Escritura, “e de seus servidores, um fogo ardente”.
Os anjos são “espírito” para todos os santos; mas os que merecem ser supliciados, eles os submetem ao fogo e ao abrasamento.
Nesse sentido, nosso Senhor e Salvador, porque é “espírito”, “veio pôr fogo sobre a terra”. Ele é “espírito”, segundo aquilo que consta na Escritura: “Quando tu te terás convertido ao Senhor, porém, o véu será retirado”, e: “O senhor é o espírito”.
Porém, “ele veio pôr fogo” não sobre o céu, mas “sobre a terra”, como ele próprio demonstra dizendo: “vim pôr fogo sobre a terra, e como eu gostaria que ele já ardesse!”
Pois, “se tu te tiveres convertido ao Senhor”, que é “espírito”, Cristo será “espírito” para ti e, para ti, ele não “veio pôr fogo sobre a terra”.
Mas se, ao contrário, te recusas a te converteres a ele, e se possuis a terra e seus frutos, “ele veio pôr fogo sobre a terra” que está em ti.
A Escritura diz, também de Deus, em termos análogos: “O fogo de minha cólera se acendeu” não até o céu, mas “até o fundo da mansão dos mortos” e “ele consumará” não o céu, mas “a terra e seus produtos”.

Batismo e julgamento
Com qual propósito lembrei todas essas coisas? Porque o batismo de Jesus é também um batismo “no Espírito Santo e no fogo”.
Lembro-me das coisas que há pouco falei e não me esqueci da explicação dada acima, mas quero trazer uma nova interpretação.
Se fores santo, serás batizado no Espírito Santo; se fores pecador, serás lançado no fogo.
O único e mesmo batismo se tornará condenação e fogo para os pecadores indignos; mas para aqueles que são santos e com toda fé se converterem ao Senhor, receberão a graça do Espírito Santo e a salvação.
“Aquele que batiza no Espírito Santo e no fogo”, como diz a Escritura, tem “em sua mão a joeira e vai limpar a sua eira; e recolherá o seu trigo no celeiro, e queimará a palha no fogo que não se apaga”.
Eu quero descobrir quais motivos tem nosso Senhor para segurar “a joeira”, e por qual sopro a palha leve é levada para cá e para lá, enquanto o trigo mais pesado cai no mesmo lugar, pois, na ausência do vento, não se pode separar o trigo e a palha.
O vento, eu creio, designa aqui as tentações, que, no monte confuso dos que creem, revela que uns são palha, os outros, trigo.
Pois, quando vossa alma deixou-se dominar por alguma tentação, não é a tentação que te transformou em palha, mas porque tu eras palha, isto é, leve e sem fé, a tentação te desvelou tua natureza oculta.
Ao contrário, porém, quando enfrentas corajosamente a tentação, não é a tentação que te faz fiel e paciente, mas ela revela à luz do dia as virtudes de paciência e de força presentes em ti, mas que estavam ocultas.
“Pois, diz o Senhor, tu pensas que eu tinha um outro fim, falando-te assim, senão que te fazer parecer justo?”
E em outra parte: “Eu te afligi e te atingi com a penúria, para que se tornassem manifestas as coisas que havia em teu coração”.
Desse modo, também a tempestade não permite que um edifício construído sobre a areia resista, mas, se queres edificar, construa “sobre a rocha”.
A tempestade, uma vez começada, não poderá derrubar o que foi alicerçado “sobre a rocha”, mas ela faz ver a fragilidade dos alicerces da casa que vacila “sobre a areia”.
Assim, antes que a tempestade surja, antes que o soprar dos ventos se eleve, antes que se encham até as bordas os rios, enquanto até agora todas as coisas estão calmas, vamos trazer todo o nosso esforço para as fundações das edificações; edifiquemos a nossa casa com as pedras sólidas e variadas que são os mandamentos de Deus; e, quando a perseguição enfurecer-se contra os cristãos e o terrível turbilhão se levantar, mostremos que nós temos um edifício “sobre a rocha” que é o Cristo Jesus.
Mas se alguém o renegar então – longe de nós essa desgraça –, que esse alguém o saiba bem, não é no instante de sua renegação que renegou o Cristo, mas trazia em si sementes e raízes de renegação já antigas; o que estava nele se revelou naquele momento e manifestou-se em pleno dia.
Assim, peçamos ao Senhor para que sejamos um edifício sólido que nenhuma tempestade possa derrubar, “alicerçado sobre a rocha”, sobre nosso Senhor Jesus Cristo, “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você deseja destacar no texto?
Como este texto serviu para sua espiritualidade?

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