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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias
sobre São Lucas (Homilia 26)
HOMILIA 26 - Lc 3.17
Sobre o que está escrito: “A joeira está em sua mão e ele limpará
a sua eira”, até a passagem que diz: “E recolherá o trigo em seu celeiro”.
O julgamento de Deus
“Deus é espírito e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em
verdade”.
Nosso Deus é também “um fogo devorante”. Deus
recebe, portanto, dois nomes: “espírito” e “fogo”; espírito para os justos,
fogo para os pecadores.
Mas os anjos são também chamados “espírito” e “fogo”: “Ele que faz
de seus anjos espíritos”, diz a Escritura, “e de seus servidores, um fogo
ardente”.
Os anjos são “espírito” para todos os santos; mas os que merecem
ser supliciados, eles os submetem ao fogo e ao abrasamento.
Nesse sentido, nosso Senhor e Salvador, porque é “espírito”, “veio
pôr fogo sobre a terra”. Ele é “espírito”, segundo aquilo que consta na Escritura: “Quando tu
te terás convertido ao Senhor, porém, o véu será retirado”, e: “O
senhor é o espírito”.
Porém, “ele veio pôr fogo” não sobre o céu, mas “sobre a terra”,
como ele próprio demonstra dizendo: “vim pôr fogo sobre a terra, e como eu
gostaria que ele já ardesse!”
Pois, “se tu te tiveres convertido ao Senhor”, que é “espírito”,
Cristo será “espírito” para ti e, para ti, ele não “veio pôr fogo sobre a terra”.
Mas se, ao contrário, te recusas a te converteres a ele, e se
possuis a terra e seus frutos, “ele veio pôr fogo sobre a terra” que está em
ti.
A Escritura diz, também de Deus, em termos análogos: “O fogo de
minha cólera se acendeu” não até o céu, mas “até o fundo da mansão dos mortos”
e “ele consumará” não o céu, mas “a terra e seus produtos”.
Batismo e julgamento
Com qual propósito lembrei todas essas coisas? Porque o batismo de
Jesus é também um batismo “no Espírito Santo e no fogo”.
Lembro-me das coisas que há pouco falei e não me esqueci da
explicação dada acima, mas quero trazer uma nova interpretação.
Se fores santo, serás batizado no Espírito Santo; se fores
pecador, serás lançado no fogo.
O único e mesmo batismo se tornará condenação e fogo para os pecadores
indignos; mas para aqueles que são santos e com toda fé se converterem ao
Senhor, receberão a graça do Espírito Santo e a salvação.
“Aquele que batiza no Espírito Santo e no fogo”, como diz a
Escritura, tem “em sua mão a joeira e vai limpar a sua eira; e recolherá o seu
trigo no celeiro, e queimará a palha no fogo que não se apaga”.
Eu quero descobrir quais motivos tem nosso Senhor para segurar “a
joeira”, e por qual sopro a palha leve é levada para cá e para lá, enquanto o
trigo mais pesado cai no mesmo lugar, pois, na ausência do vento, não se pode
separar o trigo e a palha.
O vento, eu creio, designa aqui as tentações, que,
no monte confuso dos que creem, revela que uns são palha, os outros, trigo.
Pois, quando vossa alma deixou-se dominar por alguma tentação, não
é a tentação que te transformou em palha, mas porque tu eras palha, isto é,
leve e sem fé, a tentação te desvelou tua natureza oculta.
Ao contrário, porém, quando enfrentas corajosamente a tentação, não
é a tentação que te faz fiel e paciente, mas ela revela à luz do dia as
virtudes de paciência e de força presentes em ti, mas que estavam ocultas.
“Pois, diz o Senhor, tu pensas que eu tinha um outro fim,
falando-te assim, senão que te fazer parecer justo?”
E em outra parte: “Eu te afligi e te atingi com a penúria, para
que se tornassem manifestas as coisas que havia em teu coração”.
Desse modo, também a tempestade não permite que um edifício
construído sobre a areia resista, mas, se queres edificar, construa “sobre a rocha”.
A tempestade, uma vez começada, não poderá derrubar o que foi
alicerçado “sobre a rocha”, mas ela faz ver a fragilidade dos alicerces da casa
que vacila “sobre a areia”.
Assim, antes que a tempestade surja, antes que o soprar dos ventos
se eleve, antes que se encham até as bordas os rios, enquanto até agora todas
as coisas estão calmas, vamos trazer todo o nosso esforço para as fundações das
edificações; edifiquemos a nossa casa com as pedras sólidas e variadas que são
os mandamentos de Deus; e, quando a perseguição enfurecer-se contra os cristãos
e o terrível turbilhão se levantar, mostremos que nós temos um edifício “sobre
a rocha” que é o Cristo Jesus.
Mas se alguém o renegar então – longe de nós essa desgraça –, que
esse alguém o saiba bem, não é no instante de sua renegação que renegou o
Cristo, mas trazia em si sementes e raízes de renegação já antigas; o que
estava nele se revelou naquele momento e manifestou-se em pleno dia.
Assim, peçamos ao Senhor para que sejamos um edifício sólido que
nenhuma tempestade possa derrubar, “alicerçado sobre a rocha”, sobre nosso
Senhor Jesus Cristo, “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos.
Amém”.
O
que você deseja destacar no texto?
Como
este texto serviu para sua espiritualidade?
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