domingo, 13 de outubro de 2019

115 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 27)


Resultado de imagem para Icone o batismo do Senhor

115
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 27)



HOMILIA 27 - Lc 3.18-22
Sobre o que está escrito: “E muitas outras exortações ele anunciava”, até aquela passagem que diz: “O Espírito Santo desceu sobre ele”.

O Evangelho anunciado por João
Quem ensina a linguagem do Evangelho não anuncia uma única coisa, mas várias.
Tal é o sentido desta passagem da Escritura: “Em suas exortações, João anunciava, por certo, muitas outras coisas”.
Assim João pregava ao povo também outras coisas que não foram escritas.
Quanto às coisas que foram escritas, considerai quão importantes foram: anunciou o Cristo, mostrou-o com o dedo, pregou o batismo do Espírito Santo, ensinou a salvação aos publicanos; aos soldados, os princípios de uma boa conduta; ele disse que era necessário limpar a eira, ceifar as árvores e o resto de que a história do
Evangelho narra.
Tiradas, portanto, as coisas que foram escritas, anunciou ainda outras coisas que não foram destinadas à Escritura, como mostram estas palavras: “Em suas exortações, ele anunciava, por certo, ao povo muitas outras coisas”.
E como é relatado no Evangelho segundo João, o Cristo disse muitas outras coisas “que não foram escritas neste livro”, a ponto de que, “se estas coisas fossem escritas, nosso próprio mundo, creio, não poderia conter os livros que seria necessário escrever”.
Do mesmo modo, também para nossa passagem, porque João Batista anunciava certas verdades muito elevadas para poder ser confiadas à Escritura, entende que Lucas se recusou a dizê-las expressamente, mas apenas sinalizou que foram ditas, e, por isso, disse: “Em suas exortações, João anunciava ao povo muitas outras
coisas”.
Admiremos João Batista, sobretudo por causa do testemunho seguinte: “Entre os filhos das mulheres, ninguém foi maior que João Batista”, e ele mereceu elevar-se a uma reputação de virtude tal que por muitas pessoas fosse considerado o Cristo.
Mas isto é muito mais admirável ainda: Herodes, o tetrarca, gozava do poder real e podia matá-lo quando quisesse.
Ora, como tivesse cometido uma ação injusta e contrária à lei de Moisés, tomando a esposa de seu irmão, que tinha uma filha de seu primeiro marido, João não o temeu, não fez acepção de pessoa, não pensou no poder real, como eu disse.
Sem se preocupar com a morte – pois sabia que, mesmo se não fosse um profeta, que, uma vez inquietado, [o rei] poderia matá-lo – quando soube, portanto, todas essas coisas, com a liberdade de um profeta, censurou Herodes e lhe reprovou o casamento incestuoso.
Por causa dessa audácia, encerrado na prisão, ele não se preocupava nem com a morte nem com um julgamento com resultado incerto; mas só cogitava, em suas cadeias, no Cristo, a quem havia anunciado.
Não podendo ir encontrá-lo pessoalmente, ele envia seus discípulos com a pergunta: “Tu és aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”
Nota bem que, mesmo na prisão, João ensinava. Pois donde vem que, mesmo aí, ele tinha discípulos, e por qual razão aí permaneciam, senão porque mesmo na prisão João cumpria seu dever de mestre e os instruía com conversas sobre Deus?
Nessas circunstâncias, o problema de Jesus havia nascido, João lhe envia alguns dos discípulos para perguntar ao Cristo: “Tu és aquele que deve vir, ou é necessário esperar um outro?”
Os discípulos voltam e anunciam ao mestre o que o Salvador havia ordenado que fosse anunciado.
Essa resposta é para João uma arma para enfrentar o combate: ele morre com segurança e com grande coragem se deixa decapitar, assegurado pela palavra do próprio Senhor de que aquele em quem ele cria era verdadeiramente o Filho de Deus.
Tal foi a liberdade de João Batista, tal foi a loucura de Herodes, que a muitos crimes acrescentou também este, primeiramente encerrar João no cárcere e, depois, o degolar.

A presença do Espírito Santo
Mas porque o Senhor recebeu o batismo, e os céus se abriram, “O Espírito Santo desceu” sobre ele e uma voz vinda do céu, como um trovão, disse: “Eis meu Filho bem-amado em quem eu pus minha complacência”.
Assim, deve-se dizer que, graças ao batismo de Jesus, o céu se abriu para outorgar a remissão dos pecados – não àquele “que não tinha cometido pecado e em cuja boca não se encontrou nenhuma falsidade”, mas ao mundo inteiro –; os céus se abriram e o Espírito Santo desceu, para que, depois de “ter subido nas alturas, levando prisioneiros”, o Senhor nos concedesse o Espírito que tinha vindo a ele [em seu batismo]; e, de fato, ele no-lo deu, uma vez ressuscitado, pronunciando essas palavras: “Recebei o Espírito Santo.
Aquele a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e aquele a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”.
“O Espírito Santo desceu sobre o Salvador sob a forma de uma pomba”, a ave afável, inocente e simples.
Assim é-nos prescrito imitar “a inocência das pombas”. Tal é o Espírito Santo, puro, alado, elevando-se nos céus.
É por isso que dizemos esta oração: “Quem me dará asas como as das pombas, eu voarei e me repousarei?”, isto é: “Quem me dará as asas do Espírito Santo?”
E em outra passagem, uma profecia contém esta promessa: “Se repousais entre os muros do aprisco, as asas da Pomba se cobrem de prata e as penas de seu dorso com o brilho do ouro verde”.
De fato, “se nós repousamos entre os muros” do Antigo e do Novo Testamento, receberemos “as asas prateadas da pomba”, isto é, a Palavra de Deus e “as penas de seu dorso com o brilho do ouro verde”.
Nosso pensamento encontrará, assim, sua plenitude nos pensamentos do Espírito Santo, isto é, nossa linguagem e nossa inteligência encontrarão sua plenitude em sua vinda.
Não diremos e não pensaremos nada que não nos tenha sido sugerido; e toda santidade, a do coração como a de nossas palavras e de nossos atos, virá do Espírito Santo no Cristo Jesus, “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você deseja destacar no texto?
Como este texto serviu para sua espiritualidade?

Nenhum comentário:

Postar um comentário