terça-feira, 29 de outubro de 2019

116 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 28)


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116
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 28)


HOMILIA 28 - Lc 3.23-28; Mt 1.1-17.
Sobre a genealogia do Salvador e as divergências entre Mateus e Lucas a respeito dos ancestrais de Cristo.

As genealogias do Cristo
Muito mais superior a Melquisedec, cuja genealogia a Escritura não registrou, foi Nosso Senhor e Salvador, nascido de uma linhagem de ancestrais que a Escritura nos reporta.
Ora, como a sua divindade não está submetida a um nascimento humano, é por causa de ti, que nasceste na carne, que ele quis nascer.
Todavia, a sua genealogia não é narrada de modo igual pelos evangelistas, situação que a muitos intensamente conturbou.
Mateus, com efeito, começando a compor a série de sua ancestralidade a partir de Abraão até chegar àquele versículo em que diz: “O nascimento de Jesus, porém, aconteceu deste modo”, descreve não aquele que foi batizado, mas aquele que veio ao mundo.
Mas Lucas, expondo a sua genealogia, não faz descer dos mais antigos para os mais novos, mas, como havia dito antes o que foi batizado, chega até o próprio Deus.
Além disso, não há os mesmos personagens na genealogia do Cristo, seja quando se descende seja quando se ascende.
Mateus, que o mostra descendendo dos seres celestiais, introduz também mulheres; não quaisquer mulheres, mas pecadoras, que a Escritura havia repreendido;
Lucas, que fala do Cristo depois de seu batismo, não faz menção a nenhuma mulher.
Em Mateus, portanto, como dissemos, é nomeada Tamar, que, por astúcia, tornou-se concubina de seu sogro; e Rute, a moabita, que não era da raça de Israel; Raab, que não sei de onde tenha sido tirada; e a esposa de Urias, que violou o leito conjugal.
Porque, com efeito, Nosso Senhor e Salvador tinha vindo para isto, tomar sobre si os pecados dos homens – e Deus “tornou pecado para nós aquele que não havia cometido pecado” –; descendo para o mundo, assumiu o papel dos homens pecadores e viciosos, e quis nascer da estirpe de Salomão, cujos pecados foram reportados pela Escritura, e de Roboão, cujos delitos são relatados, e de outros, dentre os quais “muitos praticaram o mal aos olhos do Senhor”.
Mas quando sobe do banho batismal e, em seguida, é descrita sua origem, ele nasce não da linhagem de Salomão, mas da de Natã, que reprovou a seu pai a morte de Urias e o nascimento de Salomão.
Mas em Mateus está sempre presente o verbo “gerar”; já em Lucas é totalmente silenciado.
Em Mateus, com efeito, está escrito: “Abraão gerou Isaque; Isaque gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos, Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara”; e até o final sempre a palavra “gerou” é colocada.
Mas em Lucas, Jesus, que se eleva do banho batismal, é dito “considerado o filho de José”; e, numa sequência tão longa de nomes, em nenhuma parte, a palavra “geração” é empregada, salvo [que é subentendida] nesta frase: “considerado filho de José”.
Em Mateus não está escrito: “Ele iniciava”; mas em Lucas, porque ele havia de subir a partir do batismo, lê-se “ele começava”, segundo o relato da Escritura: “O próprio Jesus estava no início [de seu ministério]”.
Porque, com efeito, recebeu o batismo e assumiu o mistério do segundo nascimento – para que tu destruas também teu nascimento anterior e nasças de novo numa segunda geração – pode-se,
então, dizer que “Ele iniciava”.
E como o povo judeu, quando estava no Egito, não tinha o hábito de considerar um mês como o primeiro do ano; mas, assim que saiu do Egito, então foi dito a ele: “Este mês será como início da sequência dos meses e será para vós o
primeiro dos meses do ano”.
Assim [também aconteceu] com o Cristo, de quem não é narrado “que ele tenha iniciado” enquanto não tinha sido batizado.
Não é sem razão, acreditemos, que às palavras: “O próprio Jesus estava” é acrescentado “no início”.

José, prefiguração do Cristo
Examinemos agora esta frase: “Com cerca de trinta anos”, “José tinha trinta anos”, quando foi libertado da prisão e, tendo interpretado o sonho do Faraó do Egito – foi nomeado intendente do Egito – armazenou trigo no tempo da abundância, para que tivesse o que distribuir no tempo da fome.
Eu penso que os trinta anos de José tenham
precedido em figura os trinta anos do Salvador.
Pois, o segundo José, que é Jesus, não armazenou o mesmo trigo, tal qual no Egito aquele José, mas o frumento verdadeiro e celestial, para que tivesse, como o trigo armazenado no tempo da abundância, o que distribuir, quando a fome fosse enviada para o Egito, “não a fome de pão nem a sede de água, mas a fome de ouvir a palavra de Deus”.
E assim Jesus recolhe na Lei, nos escritos dos Profetas e nos dos Apóstolos as palavras do tempo da abundância, para que – quando já não se escreverem mais livros, nem se concluir mais alguma nova aliança, nem forem enviados mais apóstolos – se possa distribuir então aquelas palavras que foram levadas por Jesus para os depósitos dos apóstolos, isto é, para as suas almas e as de todos os santos, e assim possa nutrir o Egito ameaçado de fome e, sobretudo, seus irmãos, dos quais está escrito: “Eu narrarei teu nome a meus irmãos; no meio da assembleia, eu te cantarei”.
Outros homens também têm palavras de paciência, e palavras de justiça e palavras das demais virtudes; é esse trigo que José distribuiu aos egípcios.
Mas é outro o frumento que Jesus dá aos irmãos, isto é, a seus discípulos, vindos da terra de Gessen, daquela terra que volta seu olhar para o oriente: é o frumento evangélico, o frumento apostólico.
Desse frumento devemos fazer pães, porém, evitando que não sejam misturados ao “velho fermento” e que tenhamos o pão novo do trigo e da farinha das Escrituras, moído em Cristo Jesus: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

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