121
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias
sobre São Lucas (Homilia 33)
HOMILIA
33 - Lc 4.23-27
Sobre o que está
escrito: “Sem dúvida, vós me citareis este provérbio” e a sequência, até aquela
passagem que diz: “E nenhum deles foi curado, mas somente o sírio Naamã”.
Israel
e os gentios
Quanto ao que se
refere à narrativa de Lucas, Jesus ainda não se deteve em Cafarnaum, e não
consta que nessa cidade tenha feito milagres, visto que nela não ficou.
Mas, antes que
viesse a Cafarnaum, é assinalado que esteve em sua pátria, Nazaré. “Sem dúvida”,
diz ele a seus concidadãos, “vós me citareis este provérbio: Médico, cura-te a
ti mesmo. Tudo o que ouvimos ter-se passado em Cafarnaum, faze-o igualmente
aqui em tua pátria”.
Por isso, penso
que algo misterioso está escondido na presente passagem, na qual Cafarnaum,
figura dos gentios, passa adiante de Nazaré, figura dos Judeus.
Por isso Jesus,
sabendo que ninguém tem honra em sua pátria, nem ele próprio, nem os profetas,
nem os apóstolos, não quis pregar nessa cidade, mas pregou entre os gentios, para
que não lhe fosse dito pelos seus compatriotas: “Sem dúvida, vós me direis este
provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo”.
Virá, com
efeito, um tempo em que o povo judeu dirá: “Tudo o que ouvimos ter-se passado
em Cafarnaum”, os milagres e os prodígios realizados entre os gentios, faze-os
também entre nós, em tua pátria.
O que mostraste
ao mundo inteiro, mostrá-lo também. Prega tua mensagem a Israel teu povo, a fim
de que, pelo menos, “quando a totalidade dos gentios tiver entrado, todo o
Israel seja salvo”.
Por isso, parece-me
que, aos Nazarenos que o interrogavam, o Salvador respondeu de caso pensado: “Nenhum profeta é bem recebido em
sua pátria”. E eu penso que essas palavras são mais verdadeiras segundo o
mistério que segundo o sentido literal.
Atitude
para com os profetas
Jeremias não foi
bem recebido em Anatot, sua pátria; nem
Isaías na sua, qualquer que seja ela; nem os outros profetas.
Parece-me,
entretanto, que isso deve ser entendido mais desta forma: digamos que a pátria
de todos os profetas foi o povo da circuncisão, e que este não acolheu os
profetas nem as suas profecias.
Quanto aos gentios,
que haviam estado longe dos profetas e não tinham conhecimento deles, eles aceitaram
os ensinamentos de Jesus Cristo.
“Nenhum profeta
é, pois, bem recebido em
sua pátria”, isto é, no povo judeu. Nós,
porém, que não estávamos alheios à aliança e éramos estranhos às promessas, nós
acolhemos os profetas de todo nosso coração; e nós temos Moisés e os profetas
que anunciavam o Cristo mais do que os judeus, que, precisamente porque não
acolheram Jesus, também não acolheram aqueles que trouxeram o anúncio a
respeito dele.
A
viúva de Sarepta
Daí que, a estas
palavras: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”, ele acrescenta outra
coisa: “Em verdade, pois, eu vos digo que havia muitas viúvas em Israel nos
dias de Elias, quando o céu permaneceu fechado durante três anos e seis meses”.
Tal é o que quer
dizer: “Elias era profeta e se encontrava no meio do povo judeu. Mas quando
estava para realizar um prodígio, como houvesse várias viúvas em Israel, ele as
deixou e veio encontrar uma pobre mulher pagã, uma viúva de Sarepta, no país de
Sidon”, explicando assim a figura da
realidade futura, porque a “fome que os tomava não era de pão, nem a sede, de água,
mas a fome de ouvir a palavra de Deus”.
Veio até a
viúva, sobre a qual também o profeta dá testemunho, dizendo: “Os filhos da
mulher abandonada são mais numerosos do que os daquela que tem marido”.
E, como tinha vindo,
Elias multiplica o pão e os alimentos dessa mulher. Tu eras a viúva de Sarepta,
no país de Sidon, de cujas fronteiras “sai a mulher cananeia”, e deseja que sua filha seja curada e, por causa
de sua fé, mereceu receber o que pedia.
“Havia muitas
viúvas no meio do povo de Israel, mas a nenhuma delas foi enviado Elias, mas a
Sarepta, para uma pobre mulher viúva”.
Naamã, figura do batismo.
E o Cristo acrescenta outro exemplo, que é
pertinente a outro sentido: “Havia muitos leprosos em Israel nos dias do
profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, mas somente o sírio Naamã”, que,
certamente, não pertencia ao povo de Israel.
Considera o
grande número de leprosos até o presente dia “em Israel segundo a carne”; vê,
por outro lado, o Eliseu espiritual, nosso
Senhor e Salvador, que purifica no mistério batismal os homens cobertos da
crosta da lepra e que diz a ti: “Levanta-te, vá ao Jordão, lava-te e tua carne
te será restituída”.
Naamã
levantou-se, foi-se, e, lavado, cumpriu o mistério do batismo, “sua carne tornou-se semelhante à carne de uma criança”.
De qual criança?
Daquela que, “no banho da regeneração”, nascerá
no Cristo Jesus: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos.
Amém”.
O que você
deseja destacar no texto?
Como este texto
serviu para sua espiritualidade?