terça-feira, 19 de novembro de 2019

120 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 32)


Resultado de imagem para icone a pregação de Jesus na sinagoga de nazaré

120
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 32)


HOMILIA 32 - Lc 4.14-20
Sobre o que está escrito: “Jesus retornou com o poder do Espírito”, até aquela passagem que diz: “E os olhos de todos na sinagoga estavam fixos sobre ele”.

No poder do Espírito
No começo, evidentemente, Jesus, “cheio do Espírito Santo, voltou das margens do Jordão e era conduzido pelo Espírito no deserto durante quarenta dias”. Como seria tentado pelo diabo, e como ainda ia lutar contra ele, a palavra “espírito” é citada ora uma vez, ora duas vezes sem nenhum acréscimo. Mas, depois que Jesus, lutando, superou as três tentações que a Escritura menciona, vê o que é citado, de modo característico e prudentemente, a respeito do Espírito. Diz a Escritura: “Jesus retornou no poder do Espírito”. Foi acrescentada a palavra “poder”, porque ele havia calcado aos pés o dragão e havia vencido o tentador numa luta corpo a corpo. Jesus “retornou, pois, para a terra da Galileia no poder do Espírito, e sua reputação se espalhou por toda a região ao redor. Ele próprio ensinava em suas sinagogas e todos celebravam seus louvores”.

O ensinamento de Jesus, sempre atual
Quando lês: “Ele ensinava em suas sinagogas e todos celebravam seus louvores”, cuida para que não julgues felizes apenas os ouvintes do Cristo, e te consideres privado de seu ensinamento. Se são  verdadeiras as coisas que constam na Escritura, o Senhor não fala apenas nas assembleias judaicas, mas também hoje em nossa assembleia, e não somente na nossa, mas Jesus ensina também em outras reuniões e no mundo inteiro, procurando instrumentos através dos quais possa ensinar. Orai para que ele me encontre igualmente disposto e apto a cantá-lo! Com efeito, do mesmo modo que o Deus todo-poderoso buscava profetas naquele tempo em que os mortais careciam de profecia, e encontrou, por exemplo, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, assim Jesus busca instrumentos através dos quais possa ensinar sua palavra e possa instruir os povos em suas sinagogas, e seja glorificado por todos. Hoje Jesus é mais “glorificado por todos” do que naquele tempo em que era conhecido em apenas uma província.

Na sinagoga de Nazaré
“Ele veio em seguida a Nazaré, onde havia sido criado, e entrou, segundo o costume, no dia de sábado, na sinagoga; e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando o livro, encontrou uma passagem onde estava escrito: ‘o Espírito do Senhor está sobre mim, e por isso ele me consagrou pela unção’”.  Não é por simples acaso, mas por intervenção da Divina Providência que desenrolou o livro e encontrou no texto o capítulo que profetizava a seu respeito. Assim, pois, está escrito: “Na rede não cai um pardal sem a vontade do Pai” e porque “os cabelos da cabeça” dos Apóstolos “são todos contados”. Seria, então, efeito do acaso que tenha sido encontrado o livro de Isaías mais facilmente que qualquer outro, e esta leitura que exprimiria o mistério de Cristo, e não outra: “O Espírito do Senhor está sobre mim, e por isso ele me consagrou pela unção”? É o Cristo, com efeito, que lembra essas coisas, e deve-se considerar que nada sucedeu por simples bel-prazer e por acaso, mas pela Providência e pelo desígnio de Deus.

A Boa-Nova
Quaisquer que sejam as condições, portanto, consideremos o que é dito no livro do Profeta e o que, em seguida, Jesus proclama de si mesmo na sinagoga. “Ele me enviou”, disse ele, “para levar a Boa-Nova aos pobres”. Os pobres significam os gentios. Eles eram, com efeito, pobres que não possuíam absolutamente nada, nem Deus, nem Lei, nem Profetas, nem justiça, nem nenhuma outra virtude. É por esta razão que Deus o enviou, para que fosse o mensageiro para os pobres: para “anunciar aos cativos a libertação”. Nós fomos cativos, por tantos anos Satanás nos mantinha acorrentados, prisioneiros e sujeitos a seu poder. Jesus veio “anunciar aos cativos a libertação e aos cegos, o retorno à visão”. Com efeito, pela sua palavra e pela pregação de sua doutrina, os cegos voltam a ver. Sua pregação deve ser entendida como alcance geral, não só para os cativos, mas também para os cegos. “Devolver a liberdade aos oprimidos”. Que ser foi destarte oprimido e magoado quanto o homem, que, por Jesus, foi libertado e curado? “Proclamar um ano da graça do Senhor.” Segundo a interpretação literal pura e simples, dizem que o Salvador pregou o Evangelho por um ano na Judeia, e [esse] é o sentido da expressão: “Proclamar um ano da graça do Senhor e o dia da retribuição”, se a Palavra de Deus não quiser, talvez, dizer algo de mistério na proclamação do ano do Senhor. Os dias futuros, com efeito, serão diferentes, não tais quais os que vemos agora neste mundo, os meses também serão diferentes tanto quanto a ordem das calendas. Se todos esses tempos são, pois, diferentes, assim também o ano do Senhor que há de vir é portador de graça. E todas essas realidades foram anunciadas, para que depois de ter passado da cegueira à visão, depois de ter passado das correntes à liberdade, depois de
ter passado das diversas feridas à cura, cheguemos ao “ano da graça do Senhor”.

Ver Jesus
“Depois de ter lido essas palavras, enrolando o livro, o deu ao servo e assentou-se, e
todos, na sinagoga, tinham os olhos fixos nele.” Mesmo atualmente, se o quiserdes, em nossa sinagoga e assembleia, vossos olhos podem fixar-se sobre o Salvador. Quando tiveres direcionado, com efeito, o olhar mais profundo de teu coração para contemplar a Sabedoria e a Verdade e o Unigênito de Deus, teus olhos fixar-se-ão sobre Jesus. Bem-aventurada a congregação da qual a Escritura dá testemunho de que “os olhos de todos estavam fixos sobre ele!”. Como eu queria que esta assembleia tivesse semelhante testemunho, que os olhos de todos, dos catecúmenos, dos fieis, das mulheres, dos homens e das crianças, não os olhos do corpo, mas os da alma, estivessem voltados para Jesus! Quando tiverdes, com efeito, voltado vosso olhar para ele, sua luz e sua contemplação tornarão vossos rostos mais luminosos e podereis dizer: “Foi assinalada sobre nós a luz de tua face, ó Senhor”: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

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