domingo, 8 de março de 2020

125 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilias 38)


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125
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilias 38)


HOMILIA 38 - Lc 19.41-45
Sobre o que está escrito: “Como, porém, ele se tinha aproximado, viu a cidade e chorou sobre ela”, até aquela passagem que diz: “Ele derrubou as mesas de todos os que vendiam pombas”.

Jesus, realização das bem-aventuranças
“Como tivesse se aproximado de Jerusalém, Nosso Senhor e Salvador, vendo a cidade, chorou e disse: ‘Se nesse dia tu também tivesses conhecido a mensagem de paz; porém agora, ela permanece escondida de teus olhos; pois dias virão sobre ti em que teus inimigos te sitiarão’”. São misteriosas as coisas ditas por Jesus, e esperamos, desvelando-as Deus [para nós], poder descobrir o [seu] sentido oculto.
Primeiramente, deve-se ver, então, o significado de seu choro. Todas as bem-aventuranças, das quais falou Jesus no Evangelho, são confirmadas por seu exemplo, e ele justifica seu ensinamento por seu próprio testemunho. Ele diz: “Bem-aventurados os mansos”. Eis o que diz de si próprio: “Aprendei de mim, que sou manso”. “Bem-aventurados os pacíficos”.
E quem mais é tão pacífico como o meu Senhor Jesus, que “é nossa paz, que fez cessar a inimizade e a suprimiu em sua carne?”
 “Bem-aventurados aqueles que sofrem perseguição por causa da justiça”.
Ninguém sofreu perseguição por causa da justiça mais do que o Senhor Jesus, que
por nossos pecados foi crucificado. O Senhor mostra, pois, todas as bem-aventuranças realizadas nele. Em conformidade com aquilo que dissera: “Bem-aventurados os que choram”, o próprio Jesus chorou para lançar o fundamento dessa bem-aventurança. Ele chorou, porém, sobre Jerusalém dizendo: “Se neste dia tivesses conhecido tu também a mensagem de paz; mas agora ela permanece oculta a teus olhos”, e a sequência, até aquela passagem que diz: “Porque não reconheceste o tempo em que tu foste visitada”.

Jesus chora sobre Jerusalém
Alguém entre os ouvintes poderia dizer: o sentido de tais palavras é evidente; elas se cumpriram, de fato, quanto ao que diz respeito a Jerusalém: o exército romano, com efeito, sitiou-a e devastou-a até o extermínio, e virá um tempo em que não restará mais dela pedra sobre pedra. Não nego que, evidentemente, aquela Jerusalém foi destruída por causa dos crimes de seus habitantes; mas pergunto se por acaso esse choro convenha também a esta nossa Jerusalém. Nós somos, com efeito, a Jerusalém que é deplorada por Jesus; nós, cujo olhar espiritual parece ser mais penetrante.
Se, depois de ter conhecido os mistérios da verdade, depois da palavra do Evangelho, depois da doutrina da Igreja e depois da visão dos mistérios de Deus, alguém dentre nós tiver pecado, ele será causa de choro e deploração. Nenhum pagão, com efeito, é causa de choro, mas aquele que foi de Jerusalém e deixou de ser dela.
Porém, esta nossa Jerusalém é causa de choro, porque, depois de seus pecados, “os inimigos, a saber, as potências adversas, os espíritos maus, a sitiarão. Eles lançarão trincheiras ao seu redor e sitiá-la-ão “até que não deixem pedra sobre pedra”. Isso é o que acontece sobretudo se, depois de uma perfeita continência, depois de muitos anos passados na castidade, um homem que tiver sido atraído pelos apelos moles da carne, tenha perdido a capacidade de suportar a pureza.
Se tiveres cometido uma fornicação, “não deixarão pedra sobre pedra” em ti. Com efeito, diz em outra passagem: “Eu não me recordarei mais das obras de justiça que ele praticou; eu o julgarei no próprio pecado em que tiver sido surpreendido”.
Essa é, portanto, a Jerusalém que é deplorada.

Jesus expulsa os vendilhões
É dito depois disso: “Ele entrou no templo” e, uma vez tendo entrado, “ele pôs para fora aqueles que vendiam pombas”. Não expulsou os compradores; quem, com efeito, compra, possui o que compra. Jesus expulsou do templo de seu Pai aqueles que vendem seus bens e põem fora o que tinham tido, à semelhança do filho voluptuoso que recebeu uma parte dos haveres do Pai e pôs a perder todas as coisas, bebendo em demasia.
Se vende, portanto, alguma coisa, é expulso, sobretudo se vendia pombas.
Por que não citou outras aves, senão pombas? Esse animal é simples e decoroso. Receio que também em nós um vício desse tipo seja identificado. Se, com efeito, eu tiver vendido por dinheiro, e não ensinado gratuitamente, o que me é revelado e confiado pelo Espírito Santo para dá-lo a conhecer ao povo, o que faço de diferente a não ser vender pombas, isto é, o Espírito Santo?
Quando o tiver vendido, eu serei expulso do templo de Deus.
Por isso, roguemos ao Senhor para que todos sejamos antes compradores que vendedores. Se, com efeito, não tivermos vendido, teremos o conhecimento e a compreensão de nossa salvação; caso contrário, os inimigos sitiarão nossa cidade. E se o exército inimigo nos tiver cercado uma vez, não mereceremos as lágrimas do Senhor.
Levantemo-nos, portanto, ao romper do dia e rezemos a Deus para que possamos comer, pelo menos, as migalhas que caem da mesa daquele homem.
A Escritura admira que a rainha de Sabá tenha vindo “da extremidade da terra para ouvir a sabedoria de Salomão”; e, depois de ter visto a refeição, e o mobiliário e os serviços de sua casa, ficou tomada de estupor e toda maravilhada. Quanto a nós, se não abraçarmos de boa vontade as prodigiosas riquezas de Nosso Senhor, o maravilhoso mobiliário de sua palavra, a abundância de seus ensinamentos, se não comermos “o pão da vida”, se não nos nutrirmos da carne de Jesus e não bebermos o sangue de seu sacrifício, se desprezarmos o banquete de Nosso Salvador, devemos saber que Deus pode ter “tanto bondade quanto severidade”.
 A partir disso tudo, devemos implorar para nós mais a sua bondade, em Cristo Jesus, Nosso Senhor, “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto?
Como o texto serve para sua espiritualidade?

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