segunda-feira, 30 de março de 2020

128 - São Cipriano de Cartago (210-258) A Oração do Senhor (1-4)

Ministração do Estudo 128



O que significam os gestos de mão nos ícones cristãos?

128
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Oração do Senhor (1-4)



1. A verdadeira oração
Os preceitos evangélicos, caríssimos irmãos, não são outra coisa senão ensinamentos divinos, bases para a edificação da esperança, fundamentos para fortalecimento da fé, nutrimento para animar os corações, guia para indicar o caminho, amparo para obter a salvação.
Por eles, as almas dóceis dos fiéis são instruídas na terra e, enfim, conduzidas ao Reino Celeste.
Deus quis que, por meio dos seus servos, os profetas, muitas coisas fossem ditas e ouvidas. São, porém, incomparavelmente maiores as que nos diz o próprio Filho.
É o Verbo de Deus, que estivera nos profetas, que fala agora com sua própria voz. Não se trata mais de mandar que se prepare o caminho para o que há de vir, mas é ele próprio que vem, abrindo e mostrando o caminho, a fim de que nós que errávamos cegos e hesitantes nas trevas da morte tomássemos o caminho da vida, iluminados pela luz da graça, guiados e conduzidos pelo Senhor.
Entre outros salutares ensinamentos e preceitos com que o Senhor encaminhou o seu povo para a salvação, deu-nos também a forma de orar; aconselhou e ensinou Ele próprio o que devemos rogar.
Aquele que nos fez viver ensinou-nos também a orar e, com essa mesma benignidade, dignou-se dar-nos e conferir-nos outros bens, para que, dirigindo-nos ao Pai com a súplica e oração ensinada pelo Filho, mais facilmente sejamos ouvidos.
Já anunciara que viria a hora em que os verdadeiros adoradores adorariam em espírito e verdade, e cumpriu o que antes prometera.
Assim, os que recebemos pela sua santificação o Espírito e a Verdade, oremos também, a partir do que nos legou, em espírito e verdade. E que oração poderá ser mais espiritual que esta, que nos foi dada pelo Cristo, por quem o Espírito Santo nos foi enviado? Que prece poderá ser mais verdadeira diante do Pai que esta, recebida da boca do Filho, que é a própria Verdade?
Portanto, orar de maneira diversa da que nos ensinou não é somente ignorância, mas culpa, pois ele mesmo preceituou, dizendo: “Desprezais o mandamento de Deus, para estabelecer a vossa tradição”.
Oremos, pois, irmãos caríssimos, como Deus, qual Mestre, nos ensinou. Fazer oração agradável e familiar é rogar a Deus com o que é seu, é elevar aos seus ouvidos a oração do Cristo.
Que o Pai reconheça a palavra do seu Filho quando oramos; que esteja em nossa palavra o que habita dentro de nós. E, uma vez que é ele o advogado diante do Pai pelos nossos pecados, peçamos com as palavras do advogado, quando pedimos, como pecadores, pelas nossas faltas.
Pois se ele disse que obteremos tudo que pedirmos ao Pai em seu nome, com eficácia muito maior conseguiremos o que pedimos em nome do Cristo, se o fizermos com a sua oração.

2. Atitude na oração
Sejam, porém, disciplinadas – com tranquilidade e modéstia – a palavra e a prece dos que oram.
Consideremos que estamos diante de Deus. Devem ser agradáveis aos olhos divinos tanto a atitude do corpo como a maneira de falar.
Pois, assim como é próprio do insolente estrondear com clamores, convém ao modesto orar com preces discretas.
Finalmente, mandou-nos o Senhor, nos seus ensinamentos, que orássemos secretamente, em lugares afastados e escondidos, mesmo nos quartos; assim é mais conveniente para a nossa fé, pois lembra-nos que Deus está presente em toda parte, que Ele vê e ouve a todos e que penetra mesmo o distante e o oculto, com a plenitude de sua majestade, conforme está escrito: “Acaso sou um Deus que está próximo, e não um Deus afastado? Se, por acaso, o homem estiver metido em esconderijos, eu não o verei? Não é verdade que eu encho o céu e a terra?”.
E de novo: “Em toda parte os olhos de Deus observam os bons e os maus”.
Também quando nos reunimos em comunhão com os irmãos e celebramos com o sacerdote de Deus o sacrifício divino, devemos nos lembrar da dignidade e da disciplina; não espalhar desordenadamente as nossas preces com vozes confusas, nem lançar tumultuosamente e com loquacidade o pedido que deve ser entregue a Deus modestamente.
Pois Deus ouve o coração, e não a voz. E o Senhor nos mostra que não se deve importunar com clamores, ele que vê os pensamentos, conforme prova quando diz: “Porque pensais o mal nos vossos corações”; e, noutro lugar: “Em todas as igrejas saberão que eu penetro o coração e as entranhas”.
Ana, figura da Igreja no Primeiro Livro dos Reis, guarda e cumpre essas palavras. Ela não pedia clamorosamente, mas, calada e modesta, no segredo do seu coração.
Falava com prece oculta, mas com fé manifesta. Falava não com a voz, mas com o coração, pois sabia bem que desse modo seria ouvida por Deus. E obteve, com efeito, o que pedira, porque o fizera com fé.
Declara-o a Escritura divina, dizendo: “Falava no seu coração, seus lábios moviam-se, mas não se ouvia voz, ouviu-a, contudo, o Senhor”.
Igualmente lemos nos Salmos: “Dizei nos vossos corações e estai compungidos nos vossos aposentos”. Também por Jeremias o Espírito Santo sugere e ensina a mesma coisa: “Tu, Deus, deves ser adorado interiormente”.
Quem adora, irmãos caríssimos, deve atentar também para a forma em que o fez o publicano no templo, ao lado do fariseu. Não [foi] com os olhos arrogantemente levantados para o céu, nem com as mãos insolentemente erguidas, mas batendo no peito e confessando os pecados ocultos que o publicano implorava a misericórdia divina.
Enquanto o fariseu, ao seu lado, se comprazia consigo mesmo, assim orou o publicano: sem colocar a esperança de salvação na presunção de inocência, pois inocente ninguém é, mas, tendo confessado os pecados, rogou humildemente e mereceu dessa maneira ser mais santificado. Ouviu a sua oração aquele que perdoa aos humildes.
O Senhor apresenta esse fato no seu Evangelho quando diz: “Dois homens subiram ao templo para orar, um fariseu, outro publicano.
O fariseu, em pé, orava consigo mesmo: ‘Eu te dou graças, meu Deus, porque não sou como o resto dos homens, injustos, ladrões, adúlteros, nem como este publicano. Eu jejuo duas vezes por semana e pago dízimo de tudo que possuo’.
O publicano, porém, em pé, ao longe, não ousava erguer os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo: ‘Deus, sede misericordioso para mim pecador’. Digo-vos: este voltou para casa mais justificado que aquele fariseu, porque todo o que se exalta será humilhado e todo o que se humilha será exaltado”.

3. A oração do Senhor
Nós, irmãos caríssimos, que aprendemos [essas coisas] na lição divina, tendo sabido como nos devemos aproximar da oração, saibamos [também], pelo ensinamento do Senhor, o que [devemos] orar: “Assim”, diz ele, “orai: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje, perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores, e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”.

4. A oração em comum
Antes de tudo, o Doutor da paz e o Mestre da unidade não quis que a oração fosse feita em particular e privadamente, a fim de que, ao orar, ninguém o fizesse apenas para si.
Com efeito, não dizemos: “Pai meu que estás nos céus”, nem “o pão meu dá-me hoje”, nem se pede, cada um para si apenas, o perdão de sua dívida, que não venha a cair em tentação ou que seja livre do mal.
A nossa oração é pública e comum. Ao orarmos, não o fazemos para um apenas, mas para todo o povo, porque todo o povo somos um.
O Deus da paz e o Mestre da concórdia, que ensinou a unidade, quis que fosse assim, que um orasse por todos, como ele próprio, sendo um, carregara a todos.
Cumpriram esta lei da oração os três jovens na fornalha, unindo-se na oração e na concórdia do mesmo espírito. Declara-o a fé da divina escritura, indicando como estes oraram, e com isso nos dá o exemplo que devemos seguir ao orar, para que sejamos iguais a eles.
“Então”, diz a Escritura, “aqueles três, como uma só boca, cantavam um hino, bendizendo o Senhor”.
Oravam com uma só boca e o Cristo ainda não os ensinara a orar. Por isso, tendo sido bem acolhida pelo Senhor a oração pacífica, simples e espiritual, foi proveitosa e eficaz a palavra dos que oravam.
Igualmente assim encontramos os apóstolos e os discípulos do Senhor que oravam depois de sua ascensão. “Todos eles”, diz [a Escritura], “perseveravam unânimes na oração, em companhia das mulheres, de Maria, mãe de Jesus e dos irmãos dele”.
Perseveravam unânimes na oração, mostrando a um tempo assiduidade e concórdia. E
Deus, que “faz habitar unânimes na casa”, não admite na sua divina e eterna mansão senão aqueles cuja oração é unânime.

O que você deseja destacar no texto?
O que ele serve para sua espiritualidade?
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