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Atanásio de Alexandria (285-373)
Biografia
de Atanásio de Alexandria
A Vida de
Atanásio
1.
Atanásio
(295-373), nasceu na cidade de
Alexandria, no Egito. A cidade era culturalmente vital para o Império Romano,
sendo, ao mesmo tempo, uma importante referência na área educacional e um
celeiro para grande parte do Oriente.
2.
É uma das raras
cidades que teve líderes intelectuais do paganismo, judaísmo helenístico, e do
cristianismo – todos atraídos para as escolas filosóficas da cidade e para a
fabulosa Biblioteca de Alexandria.
3.
Sabemos pouco
sobre sua educação e família, então a evidência concreta mais antiga que temos
é de quando ele entrou para o serviço do bispo de Alexandria – um homem
convenientemente chamado Alexandre. Atanásio aprendeu sua teologia e
habilidades pastorais de Alexandre como diácono e, eventualmente, serviu como
seu secretário.
4.
Ele seguiu o
bispo durante a ascensão da luta contra o Arianismo.
5.
Assim, quando a
controvérsia ariana surgiu, Atanásio ainda servia em um papel de apoio até
depois do Concílio de Nicéia.
6.
Ele viria a
seguir Alexandre para o bispado de Alexandria, e muito de sua fama cresceu a partir
destes últimos anos, quando ele defendeu a ortodoxia contra os esforços em
curso para apoiar algumas das conclusões de Ário.
7.
Quase todas as
obras de Atanásio vêm de depois de Nicéia, e foram utilizadas para esclarecer,
defender e incentivar a ortodoxia do Credo de Nicéia.
A
Controvérsia Ariana
8.
Uma das primeiras
heresias do Século II é o que hoje chamamos Modalismo. A ideia central no
Modalismo é resolver as tensões na nossa linguagem sobre a Trindade,
apresentando o Pai, Filho e Espírito em um único ser. Isto significa que quando
a Bíblia fala de cada uma das pessoas da Trindade estas são máscaras ou modos
que Deus usa para se revelar.
9.
Às vezes, Deus se
mostra como Pai, por vezes, como Filho, às vezes como Espírito. Mas não há
nenhuma diferença real entre estes modos, já que todos eles são um só Deus.
10. Embora possa parecer lógico, há um problema nessa
ideia: ela acaba violentando a leitura natural da Bíblia. Por exemplo: Jesus
chamando ao Pai na cruz, ou o Pai falando do Filho em seu batismo, ou Jesus
orando ao Pai, são apresentados como uma farsa. Deus está chamando a Si mesmo,
perguntando por que Ele abandonou a Si mesmo. Jesus está orando para Si mesmo,
e não para o seu Pai.
11. Após a rejeição do Modalismo, muitos teólogos
começaram a trabalhar em uma linguagem que ajudou a separar Pai, Filho e
Espírito. Eles não acreditavam que havia três deuses, mas, no entanto, queriam
proteger as pessoas de caírem no Modalismo. Para fazer isso, enfatizaram como o
Pai não era o Filho, o Filho não era o Pai, etc.
12. Quando Ário (256 – Líbia -336 - Constantinopla)
começou a ensinar em Alexandria caiu no mesmo campo de “anti-modalistas”.
13. Sua linguagem, porém, acabou no outro extremo: ele
argumentou que somente o Pai era verdadeiramente Deus e que o Filho foi a
primeira e maior criatura feita pelo Pai.
14. Isso fez sentido para Ário por causa da linguagem de
Pai-Filho: um pai dá à luz a seu filho e ninguém os considera como o mesmo ser.
Mas a linguagem de Ário salientou que o Filho nem sempre existiu e que foi
criado. Em outras palavras, se você perguntasse se o Filho é realmente Deus,
Ário responderia que ele não é. Ele foi uma criatura, feita por Deus, para
realizar a salvação. O Filho é mais parecido conosco do que com Deus.
15. No final, este ensinamento de Ário deu origem a uma
controvérsia, primeiro na Alexandria, em seguida derramando-se para outras
regiões do Império Oriental. Assim, a necessidade de um Concílio para decidir o
problema se tornou necessária.
O Concílio
de Nicéia (325 d.C.)
16. O Concílio de Nicéia (na atual Turquia) não foi a
primeira vez que a igreja se reuniu em um conselho para decidir sobre uma
questão controversa. Isso havia ocorrido em Atos 15:1-35. O que fez o Concílio
de Nicéia único foi o fato de que ele foi convocado e executado pelo Imperador
Constantino e de que ele tentou reunir bispos de todas as partes conhecidas do
mundo cristão. Este não foi um conselho regional, portanto, mas um que tentaria
oferecer uma resposta universal para um problema teológico.
17. O conselho se reuniu e ouviu as reivindicações de Ário
e Alexandre. O debate não foi exatamente combativo. Parte das deliberações do
conselho foram gastas para compreender o que os ensinamentos de Ário realmente
eram, uma vez que muitos não estavam cientes de sua teologia. No final, o
conselho rejeitou fortemente a ideia de que o Filho era uma criatura, afirmando
que o Filho foi “gerado, não criado, consubstancial ao Pai”.
18. É comum ouvir que Atanásio desempenhou um papel
fundamental no Concílio e que contribuiu com a elaboração do credo. A verdade é
exatamente o contrário: o papel Atanásio no Concílio teria sido não essencial.
Ele ainda era o secretário do Bispo Alexandre e por isso provavelmente não foi
autorizado a falar, muito menos a moldar o credo em si.
19. Atanásio foi, no entanto, moldado pelos debates sobre
Ário e seus ensinamentos. Como a maioria dos presentes, ele viu os problemas
que vêm de se descrever o Filho como uma criatura – notadamente, ele não pode
ser o nosso Senhor e Salvador. Assim, após o encerramento do Concílio, e com o
arianismo ainda em ascensão no Oriente, Atanásio viria a dedicar sua vida a
defender os ensinamentos ortodoxos sobre a Trindade.
Atanásio, o
Teólogo e Bispo
20. Alexandre morreu e então Atanásio foi eleito para o
bispado de Alexandria em 9 de maio de 328.
21. Sua eleição foi muito controversa, principalmente
porque ele estava abaixo da idade canônica para assumir este cargo. Ele também
foi alvo de adversários do Credo de Nicéia, que trabalharam para eliminar as
suas conclusões de que o Pai e o Filho eram o mesmo ser. Ele também enfrentou o
filho de Constantino, que, naquela época, governava a metade Oriental do
Império.
22. Em cinco ocasiões Atanásio foi banido da cidade de
Alexandria. Ele, no entanto, manteve-se firme em seu compromisso com a
divindade do Filho.
23. Sua obra mais famosa é hoje “Sobre a Encarnação do
Verbo” – um livro mais sobre a divindade do Filho antes dele assumir a feição
humana do que sobre a encarnação propriamente dita.
24. O legado de Atanásio, então, baseia-se quase
inteiramente em seus esforços heroicos para defender a divindade do Filho (e,
por extensão, do Espírito) contra aqueles cujas reflexões teológicas achavam
que isto era absurdo.
25. Para Atanásio, o problema não era mero raciocínio
abstrato, mas a leitura simples das Escrituras. Jesus é o próprio Deus que
desceu, não uma criatura mediadora. Portanto, ao mesmo tempo em que acreditamos
que Deus é um só, entendemos que ele também é três pessoas que se
inter-relacionam. Nós não adoramos uma criatura ou um homem, mas o próprio Deus
em carne humana.
26. O Ataque ao arianismo lhe valeu sete anos de exílio.
27. Atanásio também trouxe uma riqueza de informações
sobre o Monaquismo. Jovem ainda foi viver o monaquismo nos desertos do Egito,
onde conheceu o grande Santo Antão (†376), o “pai dos monges” e escreveu sua
biografia – A Vida de Santo Antão.
28. Gregório Nazianzeno disse dele: “O que foi a cabeleira
para Sansão, foi Atanásio para a Igreja.”
Introdução a
“Vida de Santo Antão” escrita por Atanásio
Atanásio e o
monaquismo
29. Atanásio não foi monge, mas acha-se em lugar muito
destacado nas origens do movimento monástico. Sua vida, como a de todos os
Padres da igreja do século IV, foi sumamente ascética.
30. Ainda que seus estudos, segundo o testemunho de São
Gregório Nazianzeno, não tenham sido especialmente amplos, possuía ele um
grande domínio da Sagrada Escritura.
31. Desde muito cedo parece ter estado em relação com os
monges, particularmente com Santo Antão.
32. Dois discípulos deste o acompanharam em seu desterro a
Roma em 339, e entre os monges buscou e encontrou colaboradores durante sua
luta anti-ariana, confiando a alguns deles sedes episcopais.
33. Todas estas relações de amizade e mútua compreensão -
os monges apoiaram amplamente a causa de Atanásio, e este defendeu e propagou o
nascente ideal no Oriente e no Ocidente - fizeram-se mais sólidas e profundas
durante os três últimos desterros do bispo, na Tebaida e entre os monges
pacomianos.
34. Em face à resistência de muitos bispos, Atanásio soube
compreender o valor do movimento monástico, estimulou-o, influiu grandemente
nele através de seu contato pessoal e de seus escritos, propagou seus ideais e
o estabeleceu definitivamente como movimento de Igreja.
35. É indubitável que, fora a ajuda de Deus e sua própria
convicção e a adesão inquebrantável de seu povo de Alexandria, Atanásio
encontrou no apoio entusiasta do monaquismo copta um grande consolo em sua luta
e em seus desterros.
36. Aqui se destaca de modo especial a amizade de Santo
Antão. Escreveu ao imperador Constantino em favor de seu amigo, e não vacilou
em apresentar-se na própria cidade de Alexandria.
37. É indubitável também que, fora do influxo doutrinal, a
presença de Atanásio foi decisiva na orientação essencialmente escriturística e
evangélica do movimento monástico.
38. E, entre todas as suas obras, é sua "Vida de
Santo Antão" a que constitui sua mais significativa contribuição ao
desenvolvimento do espírito monástico.
A "vida
de Santo Antão"
39. Atanásio escreveu a "Vida", segundo alguns,
por ocasião de seu primeiro desterro no deserto, na Tebaida, encontrando-se
entre os monges, 356-362; segundo outros, tê-la-ia escrito em sua volta
definitiva a Alexandria, depois de 366.
40. Atualmente já ninguém discute que tenha sido
efetivamente Atanásio o autor da "Vida". Parece haver acordo em
aceitar que o substancial dos dados contidos na "Vida" corresponde
ajustadamente à verdade histórica, Santo Antão, não é, pois, uma figura mítica,
pura criação de Atanásio, como tampouco o são as diversas circunstâncias e
etapas de sua vida.
41. Atanásio deseja demonstrar que o copta iletrado que
foi Santo Antão superou amplamente todos aqueles heróis ou homens divinos, não
por suas próprias forças, mas pela graça de Deus (5,10; 7,1; 38,3; 78,1.2;
84,1; 94,1).
Santo Antão
42. Para conhecer a vida de Santo Antão tem-se como texto
fundamental a obra de Santo Atanásio. Fora dela citam-se por vezes outras
fontes, mas que não dão as mesmas garantias de autenticidade. Com mais ou menos
segurança se lhes atribuem algumas cartas, ditadas por ele em todo caso, pois
não sabia grego. Menor segurança reveste a atribuição que de alguns apoftegmas
se lhe faz tradicionalmente.
43. Fora de dúvida estão, no entanto, as notícias contidas
na carta que, por ocasião da morte de Santo Antão, escreveu ao amigo deste, São
Serapião, bispo de Thmuis (339 e 353), como igualmente a menção do historiador
Sozomeno (+ 439?) e o elogio de São Gregório Nazianzeno (+ 389/390).
44. Valem também as menções na literatura pacomiana, ainda
que por vezes adornadas com um traço bem legendário.
45. As datas da vida de Santo Antão são inseguras. A mais
certa é a de sua morte, no ano 356. Segundo a "Vida" (89,3), tinha
nesta data cento e cinco anos de idade. Ainda que semelhante idade, certamente
não comum, não seja de todo improvável na vida de um homem, pode, no entanto,
estar excedida em alguns anos.
46. Sendo assim, Santo Antão teria nascido entre 250 e
260. Como lugar de origem, costuma-se dar a aldeia de Coma (Kiman-elArus), no
Egito médio, perto da antiga Heracleópolis.
47. Seus pais eram camponeses abastados. Além de Antão,
tinham uma filha. À morte dos pais, o jovem, de uns 18 a 20 anos, vendeu a
propriedade, por amor ao Evangelho, distribuiu o dinheiro aos pobres,
reservando apenas algo para sua irmã, menor que ele. Posteriormente distribuiu
também isso, consagrando sua irmã ao estado de virgem cristã.
48. Retirou-se ele à vida solitária, perto de sua aldeia
natal, segundo o costume da época. É a etapa de sua formação monástica, de sua
apaixonada dedicação à Escritura e à oração; é também o período de seus primeiros
encontros com o demônio. Depois de um certo tempo, buscando uma confrontação
mais direta com o demônio, vai viver num cemitério abandonado, encerrando-se um
mausoléu. Ali sofre ataques violentíssimos dos demônios, mas sem se deixar
amedrontar, persevera em seu propósito. Assim chega aos 35 anos.
49. Empreende então a separação decisiva: vai para o
deserto. A "Vida" assinala esse passo como algo totalmente insólito
nessa época (11,1). Santo Antão cruza o Nilo e se interna na montanha, onde
ocupa um fortim abandonado. Ali passou quase vinte anos (14,1), não se deixando
ver por ninguém, entregue absolutamente só à prática da vida ascética.
50. Pressionado pelos que queriam imitar sua vida, Santo
Antão abandona a solidão e se converte em pai e mestre de monges. Conta
cinqüenta e cinco anos, e junto ao dom da paternidade espiritual, Deus lhe
concede diversos outros carismas.
51. Em torno dele forma-se uma pequena colônia de ascetas
(44). Nesta etapa conta-se também a descida de Santo Antão e de seus discípulos
a Alexandria, por ocasião da perseguição de Maximino Daia (311), para
confortarem os mártires de Cristo ou ter a graça de sofrerem eles próprios o
martírio.
52. Voltando à solidão, encontrou-a povoada demais para
seus desejos. Fugindo então à celebridade, Santo Antão chega ao que a
"Vida" chama "Montanha interior" (a "Montanha" ou
Pispir) havia sido até então sua residência, e nela permanece a colônia de seus
discípulos), o Monte Colzim, perto do Mar Vermelho.
53. Apesar de tudo, de vez em quando visita seus irmãos, e
estes vão a ele. A "Vida" coloca neste tempo a maioria dos prodígios
que lhe atribui.
54. A pedido dos bispos e dos cristãos, empreende segunda
vez o caminho de Alexandria, para prestar seu apoio à verdadeira fé na luta
contra o arianismo. Os últimos anos de sua vida passou em companhia de dois
discípulos.
55. Vaticina sua morte, faz legado de suas pobres roupas e
roga a seus acompanhantes que não revelem a ninguém o lugar de sua sepultura.
56. Gratificado com uma última visão de Deus e de seus
santos, morreu em grande paz.
57. Ainda que a "Vida" diga explicitamente que
Santo Antão não foi o primeiro anacoreta (3,3-5; 4,1-5), sustentando, por outro
lado, que foi o primeiro a retirar-se ao deserto do Egito (11,1), e ainda que,
além disso , seja muito difícil assinalar origens e iniciadores precisos num
movimento humano tão complexo como o monástico, contudo, a figura se sobressai
em forma tão extraordinária, que com razão é ele considerado pai da vida
monástica e, especialmente, como modelo perfeito da vida solitária.
58. Sua fama já em vida, acrescentada depois de sua morte sobretudo através das páginas da "Vida", é inteiramente justa. Ao celebrar sua festa, de acordo com muito antigas tradições, a 17 de janeiro, os cristãos reconhecemos o poder de Deus entre os homens, a força de sua sabedoria ao deixar-nos um exemplo em homem tão humilde, o dom de seu Espírito multiforme com a discrição e o alento fraterno do grande ancião.
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