domingo, 25 de julho de 2021

Encontro 176 - A Vida de Santo Antão (Parte VI – 1-3)

 


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Encontro 176

Atanásio de Alexandria (285-373)

A Vida de Santo Antão (Parte VI – 1-3)

 

Parte VI

1 - Visões

São numerosas as histórias, e além disso todas concordes, que os monges transmitiram sobre muitas outras coisas semelhantes operadas por ele. E no entanto não parecem tão maravilhosas como outras ainda mais maravilhosas.

Uma vez, por exemplo, à hora de noa (três horas da tarde), quando se pôs de pé para orar antes de comer, sentiu-se transportado em espírito e, estranho é dizê-lo, viu-se a si mesmo como se achasse fora de si mesmo e como se outros seres o levassem aos ares.

Então viu também outros seres terríveis e abomináveis no ar, que lhe embargavam o passo. Como seus guias oferecessem resistência, os outros perguntaram sob que pretexto queria fugir de sua responsabilidade diante deles.

E quando começaram eles próprios a pedir-lhe contas desde seu nascimento, intervieram os guias de

Antão: "Tudo o que date desde o seu nascimento o Senhor apagou; podem pedir-lhe contas desde que começou a ser monge e se consagrou a Deus”.

Então começaram a apresentar acusações falsas e como não as puderam provar, tiveram de deixar-lhe livre a passagem. Imediatamente viu-se a si mesmo aproximando-se - ao menos assim lhe pareceu - e juntando-se a si mesmo, e assim Antão voltou de novo à realidade.

Esquecendo-se então de comer, passou todo o resto do dia e toda a noite suspirando e orando. Estava abismado de ver contra quantos inimigos devemos lutar e que trabalhos se tem para abrir passagem pelos ares.

Lembrou-se de que é isto o que diz o apóstolo: "de acordo com o príncipe das potências do ar" (Ef 2.2). Aí está precisamente o poder do inimigo que peleja e trata de deter os que intentam passar. Por isto o mesmo apóstolo dá também sua especial advertência: "Tomem a armadura de Deus que os faça capazes de resistir no dia mau" (Ef 6.13), e "nada tendo que dizer contra nós, fique envergonhado (Tito 2.8). E nós que aprendemos isto, recordemos o que o mesmo apóstolo diz: "Se fui levado em meu corpo ou fora dele, não

sei; Deus o sabe" (2 Cor 12.2). Paulo, porém, foi levado ao terceiro céu e ouviu "palavras inefáveis" (2 Cor 12.2,4), e voltou, enquanto Antão viu-se a si mesmo entrando nos ares e lutando até que ficou livre.

Noutra ocasião teve o seguinte favor de Deus: Quando sozinho na montanha e refletindo, não podia encontrar solução alguma, a Providência lha revelava em resposta à sua oração; o santo varão era ensinado por Deus com palavras da Escritura (cf Is 54.13; Jo 6.45; 1 Ts 4.9).

Assim favorecido, teve uma vez discussão com alguns visitantes sobre a vida da alma e que lugar teria depois desta vida.

Na noite seguinte chegou-lhe um chamado do alto: "Antão, sai para fora e veja!" Ele saiu, pois distinguia os chamados que devia atender, e olhando para o alto viu uma enorme figura, espantosa e repugnante, de pé, que alcançava as nuvens; viu além disto certos seres que subiam como com asas.

A primeira figura estendia as mãos e alguns dos seres eram detidos por ela, enquanto outros voavam sobre ela, e havendo-a ultrapassado, continuavam sem maior incômodo.

Contra eles o monstro rangia os dentes, alegrando-se porém pelos outros que haviam caído. Nesse momento uma voz dirigiu-se a Antão: "Compreende a visão!" (cf Dn 9.23). Abriu-se seu entendimento (cf Lc 24.45) e apercebeu-se de que isso era a passagem das almas e de que o monstro que ali estava era o inimigo, o invejoso dos crentes. Sujeitava os que lhe correspondiam e não os deixava passar; mas os que ele não tinha podido dominar, tinha que deixá-los passar fora de seu alcance.

Tendo visto isso, e tomando-o como advertência, lutou ainda mais para adiantar cada dia na direção do que o esperava. Não tinha nenhuma inclinação para falar acerca destas coisas. Quando, porém, havia passado muito tempo em oração e absorto em toda essa maravilha, e seus companheiros insistiam e o importunavam para que falasse, era forçado a fazê-lo.

Como pai não podia guardar um segredo ante seus filhos. Sentia que sua própria consciência era limpa e que contar-lhes isto poderia servir-lhes de ajuda. Conheceriam o bom fruto da vida ascética, e que muitas vezes as visões são concedidas como compensação pelas privações.

 

2 - Devoção de Antão aos Ministros da Igreja – Equanimidade (moderação) de seu caráter

Era paciente por disposição e humilde de coração. Sendo homem de tanta fama, mostrava, no entanto, o mais profundo respeito aos ministros da Igreja, e exigia que a todo clérigo se desse maior honra do que a ele.

Não se envergonhava de inclinar a cabeça diante de bispos e de sacerdotes.

Se algum diácono chegava a ele pedindo-lhe ajuda, conversava com ele o que lhe fosse proveitoso, mas, chegando a oração, pedia-lhe que presidisse, não se envergonhando de aprender.

De fato, muitas vezes propôs questões inquirindo os pontos de vista de seus companheiros, e se tirava proveito do que dizia o outro, mostrava-se grato.

Seu rosto tinha grande e indescritível encanto. E o Salvador lhe tinha dado por acréscimo este dom: se se achava presente numa reunião de monges e algum a quem não conhecia desejava vê-lo, esse tal, ao chegar, passava por alto os demais, como que atraído por seus olhos.

Não eram nem sua estatura nem sua figura que o destacavam entre os demais, mas seu caráter sossegado e a pureza de sua alma.

Ela era imperturbável e assim sua aparência externa era tranquila ("apátheia"). O gozo de sua alma transparecia na alegria de seu rosto, e pela forma de expressão de seu corpo se sabia e conhecia a estabilidade de sua alma, como o diz a Escritura: "O coração contente alegra o semblante, o coração triste deprime o espírito" (Pv 15.13).

Também Jacó observou que Labão estava tramando algo contra ele e disse a suas mulheres: "Vejo que o pai de vocês não me olha com bons olhos" (Gn 31.5). Também Samuel reconheceu Davi porque tinha olhos que irradiavam alegria e dentes brancos como o leite (cf 1 Sm 16.12; cf tb.Gn 49.2). Assim também era reconhecido Antão: nunca estava agitado, pois sua alma estava em paz; nunca estava triste porque havia alegria em sua alma.

 

3 - Por lealdade à fé Antão intervém na luta anti-ariana

Em assuntos de fé, sua devoção era sumamente admirável. Por exemplo, nunca se relacionou com os cismáticos melecianos, sabedor desde o começo de sua maldade e apostasia.

(Melécio, bispo de Licópolis no Egito (c. 325). Melécio propugna uma atitude severa com os "lapsi" ou cristãos apóstatas da perseguição. Deportado, em seu regresso organizam no Egito uma hierarquia cismática. Posteriormente o Concílio de Nicéia tomou medidas contra ele. Esses melecianos uniram-se aos arianos, destacando em sua luta contra Atanásio).

Tampouco teve trato amistoso com os maniqueus (heresia gnóstica, assim chamada por seu fundador Mani -  aproximadamente entre 216 e 275. Esta heresia durou até a Idade Média). nem com outros hereges, à exceção unicamente das

admoestações que lhes fazia para que voltassem à verdadeira fé.

Pensava e ensinava que amizade e associação com eles prejudicavam e arruinavam a

alma. Detestava também a heresia dos arianos (Toma seu nome de Ario, líbio, nascido na segunda metade do séc. III, e era presbítero de Alexandria. Talvez tenha pertencido ao cisma meleciano (ver nota 67). Até 318 opõe-se violentamente a seu bispo, Alexandre de Alexandria num ponto da teologia trinitária: defende o subordinacianismo ontológico do Verbo. A controvérsia ariana, que comoveu toda a

cristandade e que alcançou por vezes contornos violentíssimos, ocupou toda a vida de Atanásio, desde quando diácono de Alexandria), e exortava a todos a não se acercarem deles nem compartilhar de sua perversa crença.

Uma vez quando alguns desses ímpios arianos chegaram a ele, interrogou-os detalhadamente; e ao aperceber-se de sua ímpia fé, expulsou-os da montanha, dizendo que suas palavras eram piores que veneno de serpentes.

Quando numa ocasião os arianos espalharam a mentira de que partilhava de suas opiniões, demonstrou que estava enojado e irritado contra eles. Respondendo ao chamado dos bispos e de todos os irmãos, desceu a montanha e entrando em Alexandria denunciou os arianos.

Dizia que sua heresia era a pior de todas e precursora do anticristo. Ensinava ao povo que o Filho de Deus não é uma criatura nem veio "da não existência" ao ser, mas "é Ele a eterna Palavra e Sabedoria da substância do Pai".

Por isso é ímpio dizer: 'houve um tempo em que não existia', pois a Palavra foi sempre coexistente com o Pai. Por isso, não se metam em nada com estes arianos sumamente ímpios: simplesmente 'não há comunidade entre a luz e as trevas' (2 Cor 6.14).

Vocês devem se lembrar de que são cristãos tementes a Deus, mas eles ao dizerem que o Filho e Palavra de Deus é uma criatura, não se diferenciam dos pagãos 'que adoram a criatura em lugar de Deus Criador' (Rm 1.25). E estejam seguros de que toda a criação está irritada contra eles, porque contam entre as coisas criadas o Criador e Senhor de tudo, pelo qual todas as coisas foram criadas" (cf Gl 1.16).

Todo o povo se alegrava ao ouvir semelhante homem anatematizar a heresia que lutava contra Cristo. Toda a cidade corria para ver Antão.

Também os pagãos e inclusive seus assim chamados sacerdotes iam à Igreja dizendo: "Vamos ver o homem de Deus", pois assim o chamavam todos.

Além disso, também ali o Senhor operou por seu intermédio expulsões de demônios e curas de doenças mentais.

Muitos pagãos queriam também tocar o ancião, confiando em que seriam auxiliados, e em verdade houve tantas conversões nesses poucos dias como não tinham sido vistas em todo um ano.

Alguns pensaram que a multidão o incomodava e por isso trataram de afastar todos dele, mas ele, sem se molestar, disse: "Toda essa gente não é mais numerosa do que os demônios contra os quais temos que lutar na montanha".

Quando se ia e estávamos nos despedindo dele, ao chegar à porta, uma mulher atrás de nós gritava: "Espera, homem de Deus, minha filha está sendo terrivelmente atormentada por um demônio! Espera, por favor, ou vou morrer, correndo!"

O ancião ouviu-a, rogamos-lhe que se detivesse e ele acedeu com gosto. Quando a mulher se aproximou, sua filha estava arrojada ao chão. Antão orou e invocou sobre ela o nome de Cristo; a moça levantou-se sã e o espírito impuro a deixou. A mãe louvou a Deus e todos renderam graças. E ele também contente partiu para a Montanha, para o seu próprio lar.

 

O que você destaca no texto e por quê?

Como este texto serviu para sua espiritualidade?

O que você destaca na fala de seu irmão/ã.

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