terça-feira, 13 de julho de 2021

174 - A Vida de Santo Antão (Parte V. 3-5)

 


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Mosteiro Deir Mar Antonios


174

Atanásio de Alexandria (285-373)

A Vida de Santo Antão (Parte V. 3-5)

 

 

3 - Fuga para a montanha interior

1.      Quando se viu acossado por muitos e impedido de retirar-se como era seu propósito e seu desejo, e inquieto pelo que o Senhor estava operando por intermédio dele, pois podia transformar-se em presunção, ou poderia alguém estimá-lo mais do que convinha, refletiu e foi-se para a Alta Tebaida, a um povo que o desconhecia.

2.      Recebeu pão dos irmãos e sentou-se à margem do rio, esperando ver um barco que passasse e no qual pudesse partir.

3.      Enquanto estava assim esperando, ouviu-se uma voz do alto: "Antão, aonde vais e por que?"  Não se desorientou, mas, ouvindo outras vezes tais palavras, contestou: "Já que as multidões não me permitem estar só, quero ir para a Alta Tebaida, porque são muitos os incômodos a que estou sujeito aqui, e sobretudo porque me pedem coisas para além de meu poder".

4.      "Se sobes à Tebaida", disse a voz "ou se, como também pensaste, desces à Bucolia (Trata-se de um distrito pantanoso no delta do Nilo, habitado por pastores), terás mais, sim, o duplo de incômodos a suportar. Mas se realmente queres estar contigo mesmo, então vai-te ao deserto interior".

5.      "Mas, disse Antão, quem me mostrará o caminho? Eu não o conheço". De repente chamaram-se a atenção uns sarracenos que estavam a tomar aquele caminho. Aproximando-se, Antão lhes pediu para ir com eles ao deserto.  Como por ordem da Providência, deram-lhe as boas-vindas. E viajou com eles três dias e três noites e chegou a uma montanha muito alta, tendo ao pé uma água clara como cristal e muito fresca.

6.      Estendendo-se dali havia uma planície e algumas tamareiras. Como inspirado por Deus, Antão ficou encantado com o lugar porque foi isto o que quis dizer quem falou com ele à margem do Rio (Trata-se do monte Colzim, em pleno deserto na planície de Qalala do sul, aproximadamente 180 km a sueste de Alexandria, entre o Nilo e o Mar Vermelho, a 334 Km do Cairo. A montanha com o antigo mosteiro de Santo Antão é chamada de Deir Mar Antonios).

7.      Começou por conseguir uns pães de seus companheiros de viagem e ficou sozinho na montanha, sem companhia alguma. Daí em diante olhou esse lugar como se houvera encontrado seu próprio lar.

8.      Quanto aos sarracenos, notando o entusiasmo de Antão, fizeram do lugar um ponto em suas travessias, e estavam contentes de levar-lhe pão. Também as tamareiras lhe davam uma pequena e frugal mudança de dieta.

9.      Mas tarde os irmãos, inteirando-se do lugar, como filhos preocupados por seu pai, engenharam-se para enviar-lhe pão. No entanto, vendo Antão que o pão lhes causava incômodo, pois tinham de aumentar o trabalho que já suportavam, e querendo demonstrar consideração aos monges também nisso, refletiu sobre o assunto e pediu a alguns de seus visitantes que lhe trouxessem um enxadão e um machado e alguns grãos.

10.  Quando o trouxeram, ele foi ao terreno junto da montanha, e encontrando um pedaço adequado, com abundante provisão de água vertente, cultivou-o e semeou. Assim o fez cada ano e conseguia seu pão.

11.  Estava feliz, pois com isto não era molesto a ninguém e em tudo tratava de não ser carga para os outros.

12.  Mais tarde, porém, vendo que de novo chegava gente para vê-lo, começou a cultivar também algumas hortaliças, a fim de que seus visitantes tivessem algo mais para restaurar suas forças depois de tão cansativa e pesada viagem.

13.  No começo, os animais do deserto que vinham beber água danificavam as plantações de sua horta. Pegou então um deles, reteve-o suavemente e disse a todos: "Por que me prejudicam se não lhes faço nada a nenhum de vocês? Retirem, e em nome do Senhor não se aproximem outra vez destas coisas!" E desde então, como atemorizados com essas ordens, lá não voltaram mais.

 

4 - De novo, os demônios

1.      Assim esteve sozinho na Montanha Interior, dando seu tempo à oração e à prática da vida ascética.

2.      Os irmãos que foram em sua busca rogaram-lhe que lhes permitisse ir cada mês e levar-lhe azeitonas, legumes e azeite, pois agora já era ancião.

3.      De seus visitantes soubemos quantos combates teve de suportar enquanto viveu ali, "não contra carne e sangue", como está escrito (Ef ,12), mas em luta com os demônios.

4.      Também ali ouviram tumultos e muitas vozes e clamor como de armas. À noite viram a montanha encher-se de vida com animais selvagens. Viram-no também lutando como com inimigos visíveis, e orando contra eles.

5.      A um que o visitou falou-lhe palavras de alento enquanto ele próprio mantinha-se firme na contenda, de joelhos e orando ao Senhor.

6.      Era realmente notável que, sozinho como estava nesse despovoado, nunca desmaiasse ante os ataques dos demônios, nem tampouco com todos os animais e répteis que havia, tivesse medo de sua ferocidade.

7.      Como está na Escritura, ele realmente "confiava no Senhor como o monte Sião (Sl 125.1), com ânimo inquebrantável e intrépido.

8.      Assim os demônios antes fugiam dele, e os animais selvagens fizeram paz com ele, como está escrito (Jó 5,23).

9.      O mau pôs estreita guarda sobre Antão e rangeu os dentes contra ele, como o disse Davi no salmo (Sl 35.16), mas Antão foi animado pelo Salvador, não sendo danificado por essa vilania e sutil estratégia.

10.  Enviou-lhe animais selvagens enquanto estava em suas vigílias noturnas, e em plena noite todas as hienas do deserto sairam de suas tocas e o rodearam. Tendo-o no centro, abriam suas fauces e ameaçavam mordê-lo.

11.  Ele, porém, conhecendo bem as manhas do inimigo, disse-lhes: "Se receberam poder para fazer isto contra mim, estou disposto a ser devorado; mas se foram enviados pelos demônios, saiam imediatamente porque sou servidor de Cristo". Enquanto Antão dizia isto, fugiram como açoitados pelo chicote dessa palavra.  

12.  Poucos dias depois, enquanto estava trabalhando - porque o trabalho sempre era parte de seu propósito - alguém chegou à porta e puxou a corda com que trabalhava (estava fazendo cestos que dava a seus visitantes em troca do que lhe traziam).

13.  Levantou-se e viu um monstro que parecia homem até as coxas, mas com pernas e pés de asno. Antão fez simplesmente o sinal da cruz e disse: "Sou servidor de Cristo. Se foste enviado contra mim, aqui estou".

14.  O monstro porém com seus demônios fugiu tão rápido que sua própria rapidez o fez cair e morreu. A morte do monstro veio a significar o fracasso dos demônios: fizeram o que puderam para que saísse do deserto e não o conseguiram.

 

5 - Antão visita os irmãos ao longo do Nilo

15.  Um vez os monges pediram-lhe que voltasse para eles e passasse algum tempo visitando-os e a seus estabelecimentos. Fez a viagem com os monges que vieram a seu encontro.

16.  Um camelo ia carregado com pão e água, já que em todo esse deserto não havia água, e a única potável estava na montanha de onde haviam saído e onde estava sua cela.

17.  Indo a caminho, acabou-se a água, e estavam todos em perigo quando o calor era mais intenso. Andaram buscando e voltaram sem a encontrar.

18.  Estavam por demais fracos para poderem caminhar. Lançaram-se ao chão e deixaram partir o camelo, entregando-se ao desespero.

19.  Vendo o perigo em que todos estavam, o ancião encheu-se de aflição. Suspirando profundamente, apartou-se um pouco deles. Ajoelhou-se, estendeu as mãos e orou. E de repente o Senhor fez brotar uma fonte no lugar onde estava orando, e todos puderam beber e refrescar-se.

20.  Encheram os odres e puseram-se a buscar o camelo até que o encontraram: sucedeu que o cordel se embaraçara numa pedra e ficara preso. Levaram-no a beber e carregando-o com os odres concluíram sua viagem sem mais prejuízos ou acidentes.

21.  Ao chegar às celas exteriores, todos lhe deram cordiais boas-vindas, olhando-o como a um pai. Por seu lado, como trazendo-lhes provisões de sua montanha, ele os entretinha com suas narrações e lhes comunicava sua experiência prática.

22.  E de novo houve alegria nas montanhas e anelos de progresso, e de consolo que vem de uma fé comum (cf Rm 1,12).

23.  Também se alegrou ao contemplar o zelo dos monges, e ao ver sua irmã que havia envelhecido em sua vida de virgindade, sendo ela mesma guia espiritual de outras virgens.

 

1.                 O que você destaca no texto e por quê?

2.                 Como o texto serviu para sua espiritualidade?

3.                 O que você destaca na fala do seu irmão/ã?


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