segunda-feira, 26 de agosto de 2024

265 - Cirilo de Jerusalém (315-386) - Catecismo Mistagógico - Introdução

 


265

Cirilo de Jerusalém (315-386)

Catecismo Mistagógico

Introdução


Introdução

1.      São Cirilo de Jerusalém nasceu por volta do ano de 315 (ou 313) em Jerusalém ou em seus arredores. Pouco se sabe sobre sua infância e juventude, além de que ele cresceu num lar cristão, com uma vida financeira confortável. Recebeu uma sólida formação nas Sagradas Escrituras e em matérias humanísticas.

2.      A história da vida de Cirilo não é contada em detalhes por nenhum autor contemporâneo; em seus próprios escritos há pouca menção a si mesmo; e os historiadores da Igreja se referem apenas aos eventos de sua maturidade e velhice.

3.      Os nomes de seus pais são bastante desconhecidos; mas na Menæa grega, ou catálogos mensais de santos, e no Martirológio Romano para o dia 18 de março, Cirilo é dito ter "nascido de pais piedosos, professando a fé ortodoxa, e ter sido criado na mesma, no reinado de Constantino".

4.      Este relato de sua ascendência e educação deriva alguma probabilidade do fato de que Cirilo em nenhum lugar fala como alguém que havia se convertido do paganismo ou de qualquer seita herética.

5.      Sua linguagem no final da VII Catequese parece ser inspirada pela gratidão aos seus próprios pais por uma educação cristã: “A primeira observância virtuosa em um cristão é honrar seus pais, retribuir seus problemas e prover com todo seu poder seu conforto: pois, por mais que possamos retribuí-los, nunca poderemos ser para eles o que eles, como pais, foram para nós. Que eles desfrutem do conforto que podemos dar e nos fortaleçam com bênçãos.”

6.      Apenas um membro da família de Cirilo é mencionado pelo nome, o filho de sua irmã, Gelásio, que foi nomeado por Cirilo para ser bispo de Cesareia após a morte de Acácio, por volta de 366 d.C.

7.      O próprio Cirilo provavelmente nasceu, ou pelo menos foi criado, em Jerusalém ou nas proximidades, pois era comum escolher um bispo dentre o clero sobre o qual ele deveria presidir, sendo dada preferência àqueles que eram mais conhecidos pelo povo em geral.

8.      Que Cirilo, nativo de Jerusalém ou não, tenha passado parte de sua infância ali, é tornado provável por suas alusões à condição dos Lugares Santos antes de serem limpos e adornados por Constantino e Helena.

9.      Ele parece falar como uma testemunha ocular de seu estado anterior, quando diz que alguns anos antes o local da Natividade em Belém tinha sido arborizado, que o lugar onde Cristo foi crucificado e sepultado era um jardim, do qual ainda restavam vestígios, que a madeira da Cruz tinha sido distribuída a todas as nações, e que antes da decoração do Santo Sepulcro por Constantino, havia uma fenda ou caverna diante da porta do Sepulcro, escavada na rocha. A própria rocha, mas agora não mais visível, porque a caverna externa havia sido escavada para os adornos recentes.

10.  Ordenado sacerdote em 345, aos 30 anos, ele foi sagrado bispo de Jerusalém apenas três anos mais tarde, em 348.

11.  O início do episcopado de Cirilo foi marcado pelo aparecimento de uma cruz brilhante no céu, por volta das nove horas da manhã do domingo de Pentecostes, 7 de maio de 351 d.C. Mais brilhante   que o sol, ela pairava sobre a colina do Gólgota e se estendia até o Monte das Oliveiras, sendo visível por muitas horas. Toda a população de Jerusalém, cidadãos e estrangeiros, cristãos e pagãos, jovens e velhos, acorreram à Igreja, cantando louvores a Cristo e saudando o fenômeno como um sinal do céu confirmando a verdade da religião cristã.

12.  Cirilo considerou a ocasião como favorável para anunciar ao Imperador Constâncio o início de seu Episcopado; e em sua carta existente descreveu o sinal como uma prova do favor de Deus para com o Império e seu governante cristão.

13.  A piedade de seu pai Constantino havia sido recompensada pela descoberta da verdadeira Cruz e dos lugares Santos: e agora a maior devoção do Filho havia conquistado uma manifestação mais sinalizadora da aprovação Divina.  

14.  A carta termina com uma oração para que Deus conceda ao Imperador um longo reinado como protetor da Igreja e do Império, “glorificando sempre a Santíssima e Consubstancial Trindade, nosso verdadeiro Deus”.

15.  Sua ordenação a sacerdote em 345 pelo bispo Máximo II, a quem sucederia após sua morte ou deposição levada a efeito pelos eusebianos.

16.  Muito depressa Acácio, metropolita da Província e um dos chefes dos eusebianos, investe contra Cirilo, defensor da fé de Nicéia. Seguem-se acusações mútuas acerca da fé de cada um. Cirilo é exilado por três vezes em uma situação parecida à de São João Crisóstomo com Teófilo de Alexandria.

17.  Em 358/9 o concílio de Seleucia o restabelece em sua sé episcopal. No ano seguinte será desterrado por ordem do Imperador Constâncio, movido por Acácio e seguidores. Ele permanece no desterro até 362, quando é favorecido pela anistia geral proclamada por Juliano. Porém, em 367 (ou 386), apesar da morte de Acácio, ele volta ao exílio até que, em 378, Graciano decreta a suspensão do desterro para todos os bispos.

18.  Em 381 encontramo-lo entre os padres conciliares do primeiro Concílio de Constantinopla. A liturgia ocidental e oriental comemora no dia 18 de março a sua morte, que deve ter-se dado no ano de 387.

19.  É necessário distinguir em Cirilo o teólogo e a testemunha da fé e da Tradição cristã, de modo geral, e da Igreja de Jerusalém, em particular.

20.  Como teólogo ele não apresenta a profundidade doutrinal dos Padres da segunda metade do século IV, defensores da ortodoxia, como Santo Atanásio e Santo Hilário ou teólogos como São Basílio e os demais Padres Capadócios que marcarão o pensamento teológico, influenciando as gerações futuras.

21.  Mas é uma valiosa testemunha da Tradição antiga e eco da fé cristã professada em Nicéia e, mais tarde, no primeiro Concílio de Constantinopla. 

I. Caracterização da época

22.  Uma rápida visão da época em que viveu Cirilo ajudar-nos-á a melhor apreender o motivo que subjaz a muitos ditos seus ao longo de suas obras.

23.  No século II a Igreja se vê diante de correntes religiosas que se esforçam para exercer uma espécie de sedução sobre os homens de seu tempo: a gnose e as religiões de Mistério. O gnosticismo continuará presente nos séculos posteriores sob formas diversas, sendo combatido por Justino, Santo Ireneu, Tertuliano e o autor dos Philosophumena. Localizar-se-á, sobretudo, no Egito e na Síria.

24.  A gnose fala de uma centelha divina no homem, o qual, provindo do reino divino, caiu neste mundo. Aqui o homem se encontra submisso ao destino, ao nascimento, à morte e tem necessidade de ser despertado por seu arquétipo celeste ao qual ele finalmente se reunirá. Esta libertação se dá pelo conhecimento (gnose), que consiste essencialmente em conhecer-se, melhor, se reduz à necessidade de reconhecer o elemento divino que constitui o verdadeiro «eu». Liberta-se assim de todos os «poderes» que o retêm no «profano» e no erro.

25.  Ao mesmo tempo que tais correntes angariavam adeptos, no interior da Igreja se assistia ao surgimento de doutrinas anti-trinitárias. Incapazes de admitir a diversidade de Pessoas na unidade de uma e mesma Natureza divina, negavam alguns a divindade do Cristo reduzindo-o a um simples homem dotado de extraordinários poderes e virtudes (dinamistas), ou explicavam sua personalidade como mera modalidade da de Deus Pai (modalistas, patripassianos). Em relação ao Filho, temos Noeto e Práxeas; em relação ao Espírito Santo, temos Sabélio.

26.  Daí à doutrina sustentada por Ário, sacerdote da Igreja de Alexandria, seria um passo. Logo após a vitória sobre Licínio, Constantino, único imperador, escreve a Alexandre, bispo de Alexandria, para que ele se ponha de acordo com Ário.

27.  Alexandre se escandalizara com as posições cristológicas de seu sacerdote Ário, que, de mil maneiras, mesmo através de cânticos populares, ensinava que o Cristo não é verdadeiramente Deus.

28.  Em uma carta a Eusébio de Nicomedia, Ario expõe sua posição: «Ele (o Cristo) começou a existir por um ato de vontade. Antes de ser gerado Ele não era». Tal discussão culminará com o primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia, em 325, onde se proclamará, contra o arianismo, a divindade do Filho e sua consubstancialidade (homoousía) com o Pai.

29.  A luta ariana (318-381) coincide com a vida de São Cirilo e caracteriza este período. Concílios e sínodos, fórmulas e mais fórmulas de fé, mútuas condenações constituem a tecedura desta luta. Para aumentar a confusão dos fiéis, surgiram, dentro das correntes heterodoxas, outras com matizes diversos, uma mais extremada, a dos anomeus, outra mais mitigada; a dos semi-arianos ou homoioúsios. A muitos faltavam serenidade e magnanimidade, deixando-se envolver em intrigas e mesmo fraudes e violências.

30.  Em meio a tal situação se destacam a ousadia e a sobriedade, a profundidade e a mente esclarecida de um Basílio Magno, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa, Cirilo de Alexandria e outros.

31.  São Cirilo em suas catequeses alerta os fiéis não só contra as afirmações anticristãs provindas do meio gentílico ou judaico, mas também contra as asserções heréticas. Enumera os vícios dos deuses adorados pelos pagãos, assim como de seus adoradores. Busca no A.T. anúncios e prefigurações do N.T., em oposição aos judeus, e mostra a unidade de ambos os Testamentos, o que era rejeitado pelos gnósticos. Levanta-se contra os hereges, cujas obras ele diz ter lido: «Estas coisas, fala Cirilo, estão nos livros dos maniqueus, eu as li, porque não cria nos que me falavam delas; e as examinei cuidadosamente para segurança vossa e ruína dos outros».

32.  Muito se escreveu sobre o fato de Cirilo jamais empregar o termo homooúsios: consubstancial. Todavia, a simples leitura de suas catequeses nos mostra um Cirilo preocupado em ser o mais simples possível, evitando sempre que possível o emprego de termos teológicos.

33.  Ele tem diante de si pessoas pouco versadas em doutrina cristã, às quais deseja transmitir de modo acessível e com proveito suas instruções. Daí o fato de ele expor a doutrina em uma terminologia fundamentalmente bíblica. Ademais, o termo homooúsios foi compreendido por alguns em um sentido sabeliano, que Cirilo tantas vezes combate. 

II. Particularidades da Igreja de Jerusalém

34.  Através das próprias catequeses de São Cirilo podemos ter uma ideia da Igreja de Jerusalém. O costume da catequese era cuidadosamente observado em Jerusalém. Se em outras Igrejas a exposição do Credo se resumia a duas, três ou mais apresentações, em Jerusalém se lhe dedicava todo o tempo da Quaresma.

35.  Compreende-se o motivo pelo qual o conjunto das catequeses nos oferece todo um sistema doutrinário. Na Catequese Preliminar ele nos faz ver a importância conferida a esta ação catequética: «Aprende o que ouves e guarda-o para sempre. Não creias serem estas homilias habituais. Também elas são boas e dignas de fé».

36.  Cirilo pronuncia as catequeses na Igreja da Ressurreição e na Capela do Santo Sepulcro. Para que alguém fosse admitido ao catecumenato exigia-se, segundo menciona Eusébio, a imposição das mãos e a oração. O primeiro Concílio de Constantinopla (381) nos fala dos exorcismos e da insuflação, feitos em três dias consecutivos.

37.  No primeiro dia, diz o Concílio, fazemo-los cristãos; no segundo catecúmenos; no terceiro os exorcizamos, soprando por três vezes o rosto e os ouvidos e assim os catequizamos.

38.  São Cirilo se refere expressamente aos exorcismos, os quais são recebidos com a face coberta com um véu: «O teu rosto foi coberto com um véu, a fim de que todo o teu pensamento não estivesse disperso, e o olhar, divagando, não fizesse vagar também o coração».

39.  Após o primeiro grau de Catecumenato passa-se ao dos Competentes com todo um período de preparação e que antecedia em algumas semanas à Páscoa. O bispo lhes dirigia uma exortação, seguida da inscrição nos registros da Igreja. Esta se fazia, em Jerusalém, no princípio da Quaresma e num mesmo dia. Recebiam então o nome de fiéis. «Vê que, sendo chamado fiel, tua intenção não seja de um infiel».

40.  Findo o que se seguia à preparação imediata para o batismo que compreendia duas partes principais: a) Preparação ascética: que Cirilo descreve na Catequese Preliminar, na primeira e na segunda Catequese. Três obras a caracterizam: o jejum, a penitência e a confissão dos pecados.

41.  Jejum: o jejum se estendia, na comunidade jerosolimitana, pelo espaço de 40 dias, inclusive os sábados e domingos, e abarcava também a abstinência de vinho e carnes. Além deste jejum quaresmal existia o jejum pascal, muito mais rigoroso.

42.  Penitência: acentua-se não só a penitência externa, mas também a interna como meio imprescindível para uma digna recepção do batismo. Diz Cirilo: «Prepara teu coração para receberes as doutrinas, para participares dos sagrados mistérios». É o convite à renúncia a todo mau hábito e à purificação dos pecados. «Deixa desde já toda obra má; que tua língua não fale palavras inconvenientes; que teu olhar já não peque mais e que teu espírito não se ocupe com coisas vãs.” Este espírito de penitência é fruto da graça de Deus implorada na oração. Por isso Cirilo insiste que seus ouvintes sejam assíduos à oração: “Ore com insistência a fim de que Deus te faça digno dos celestes e imortais mistérios. Não cesses nem de dia nem de noite”. Quarenta dias, no entanto, é pouco tempo de preparação para os que viveram entregues às vaidades. Daí a necessidade de receber com toda devoção os exorcismos, assistir às catequeses com pureza de intenção.

43.  Confissão: São Cirilo desenvolve de modo todo especial o inciso sobre a confissão dos pecados. No início da primeira Catequese ele exclama: «Vós que estais cobertos com o manto das transgressões e estais ligados com as cadeias dos vossos pecados, escutai a voz profética que diz: Lavai-vos, purificai-vos». Em outra Catequese ele repete: «Quão excelente é confessar-se».

44.  A segunda Catequese é praticamente uma grande exortação à confissão apresentada não como mero relato de pecados, mas expressando uma situação existencial e consequente vontade de mudar de vida. Os termos que ocorrem para designar a confissão são significativos: (confissão) e (penitência).

45.  Preparação catequética: Nota-se aqui a diferença da Igreja de Jerusalém das demais Igrejas. Como já dissemos acima, em Jerusalém se emprega toda a Quaresma para explicar o Credo, enquanto nas demais igrejas a exposição do Credo se restringe a duas ou mais apresentações.

46.  Cirilo profere vinte e três catequeses, o que por si só exprime a importância que é dada à catequese na preparação batismal. As dezoito primeiras se dirigem aos que se preparam para o batismo e comentam basicamente o Credo artigo por artigo.

47.  As últimas cinco são pronunciadas para os recém-batizados, durante a semana da Páscoa, na capela do Santo Sepulcro. As cinco tratam da doutrina, dos ritos e cerimônias dos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia.

III. Apresentação geral de sua obra

48.  Cirilo pronuncia vinte e três catequeses que podem ser divididas em dois blocos distintos: As dezoito primeiras pronunciadas em preparação para o batismo e as cinco últimas aos já batizados. Quase todas foram proferidas na Igreja do Santo Sepulcro e, como observa J. Quasten, «uma nota conservada em diversos manuscritos recorda que elas foram copiadas em estenografia, ou, ainda; que elas representam a transcrição de um de seus ouvintes, e não uma cópia «manu propria» do bispo».

49.  Precede às dezoito primeiras uma alocução preliminar ou introdução geral, na qual Cirilo prepara os ouvintes para receber, com maior proveito, as instruções pré-batismais. Após uma ardorosa recepção: «Já vos impregna, ó iluminandos, o odor da bem-aventurança», o bispo acentua a necessidade da penitência e purificação dos pecados, da prece e da disciplina pessoal e de uma intenção livre de todo interesse mundano para se aproximar do sacramento de iniciação. O mesmo é repetido nas duas primeiras catequeses, que versam sobre o pecado e a penitência.

50.  Na terceira, ele trata do batismo e de seus efeitos. A quarta é um breve compêndio da doutrina sobre a fé. Aí ele expõe as verdades necessárias ao homem para que ele se salve.

51.  Em primeiro lugar, alude ao Credo onde se professa o Deus Criador, seu Filho Jesus Cristo e o Espírito Santo. Em seguida, apresenta a doutrina cristã sobre o homem, sua natureza, sua vida moral e seu fim último. Finalmente, discorre sobre o conhecimento de Deus e de nós mesmos, fundado na Sagrada Escritura.

52.  Da quinta à décima oitava Catequese Cirilo dá uma explicação detalhada dos artigos do Credo, que se aproxima muito da fórmula do Concílio de Constantinopla (381). Por exemplo, na quinta ele expõe a palavra Credo. Segue-se o primeiro artigo: “Creio em um só Deus” e assim por diante.

53.  As Catequeses Mistagógicas (19-23) versam sobre os sacramentos recebidos pelos neófitos na vigília pascal. Doutrina que permanecera até então oculta. Daí o nome de catequeses mistagógicas. Nas duas primeiras, o bispo busca explicar as cerimônias que precederam ao batismo. Na terceira fala da Confirmação; na quarta da Eucaristia e na quinta trata da Divina liturgia.

IV. Conteúdo doutrinário das Catequeses

54.  A doutrina exposta por S. Cirilo nas Catequeses se resume basicamente ao Credo. Eis a profissão de fé da comunidade de Jerusalém:

1. Cremos em um Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.

2. E em um Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai, Deus verdadeiro, antes de todos os séculos, pelo qual foram feitas todas as coisas.

3. Que veio na carne e se fez homem (da Virgem e do Espírito Santo).

4. Foi crucificado e sepultado.

5. Ressuscitou ao terceiro dia.

6. E subiu aos céus e está sentado à direita do Pai.

7. E virá na glória para julgar os vivos e os mortos, cujo reino não terá fim.

8. E em um Espírito Santo, o Paráclito que falou nos profetas.

9. E em um batismo de penitência para remissão dos pecados.

10. E em uma santa católica Igreja.

11. E na ressurreição da carne.

12. E na vida eterna.

55.  O símbolo não se encontra escrito integralmente nas Catequeses. Isso por causa da disciplina do arcano. Cirilo insiste sobre o segredo que os candidatos devem conservar não divulgando o que lhes fora ensinado. «Oferecemo-vos em poucos versículos o dogma inteiro da fé. Quero que o fixeis com as próprias palavras e o repitais convosco mesmos com todo cuidado, não o escrevendo em papel, mas gravando-o na memória de vosso coração».

56.  As Catequeses falam da fé e de suas fontes: a Sagrada Escritura e a Tradição, unidade e trindade de Deus, divindade e consubstancialidade das três Pessoas, mistério da Redenção, anjos, origem divina do homem, espiritualidade e imortalidade da alma, livre arbítrio, pecado, novíssimos, Igreja, sacramentos.

57.  Sobre o Cristo Cirilo rejeita o arianismo e apresenta sua posição que concorda com a fé de Nicéia. Cristo é verdadeiramente Deus. Ele é um com o Pai. «São um pela dignidade da divindade (...) Um são eles, porque não há entre eles discórdia ou separação, pois não são umas as obras criadas por Cristo, outras as criadas pelo Pai».

58.  O Espírito Santo é professado como uma personalidade distinta do Pai e do Filho, gozando igualmente da mesma divindade. Ele proclama sua fé trinitária: «Indivisa a fé, inseparável a piedade. Não fazemos separação na Santíssima Trindade, como alguns; nem confusão, como Sabélio».

59.  Estes temas não são tratados de modo igual, pois o objetivo de Cirilo é explicar o Símbolo e não apresentar um tratado sobre cada um dos temas.

60.  As Catequeses Mistagógicas, no entanto, falarão extensamente do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia. Cirilo apresenta uma visão geral do batismo, explicitando o significado da unção e da imersão, e aponta seus efeitos, eficácia, necessidade, autor, sujeito e ministro.

61.  Pelo batismo o cristão participa da vida mesma de Cristo. Cristo assumiu toda a realidade humana para que pudéssemos participar da salvação. «Batizados em Cristo e dele revestidos vos tornastes conformes ao Filho de Deus».

62.  Esta semelhança ao Filho é significada especificamente na Crisma, quando, «ungidos com o óleo, fostes feitos participes e companheiros de Cristo».

63.  Este processo de assemelhação ao Filho se realiza no e pelo próprio Filho, que se torna alimento espiritual. «Em forma de pão te é dado o corpo, e em forma de vinho o sangue, para que te tornes, tomando o corpo e o sangue de Cristo, con-corpóreo e consangüíneo com Cristo».

64.  Ele é bastante explícito ao declarar que o pão e o vinho não são simples elementos, mas «são, conforme a afirmação do Mestre, corpo e sangue».

65.  A coroa ou o «edifício espiritual» de toda instrução é a celebração eucarística, que o bispo de Jerusalém descreve minuciosamente interpretando a liturgia eucarística em seu desenrolar. Vê-se pois a importância e o sentido das Catequeses de S. Cirilo não só para a Catequese e para a Liturgia, como também para a Teologia, que tem nelas o testemunho da Tradição cristã sobre as principais verdades de fé. 

V. Método e estilo

66.  Em suas obras, Cirilo não nos deixa perceber que tenha observado um método com regras precisas. Com isso não se quer dizer que não haja certa ordem ao longo da exposição.

67.  Por vezes ele começa apresentando o erro dos hereges e mostra o ponto fraco da doutrina deles, para então expor a verdadeira doutrina e os argumentos que a apoiam.

68.  Outras vezes segue exatamente o caminho oposto. E quando a doutrina é puramente moral, como na Catequese Preliminar; ele não observa nenhuma ordem.

69.  Ele apresenta suas considerações assim como elas lhe veem à mente. Penitência, aversão ao pecado, oração, leitura da Bíblia, rejeição da heresia, distanciamento de espetáculos e jogos maus ou perigosos, são recomendações que voltam sempre que é possível.

70.  Quanto ao estilo, ele é bastante popular e simples. Diante de um auditório, que era de iniciantes na fé, sua linguagem assume uma feição muito familiar.

71.  É em tom de conversação que ele desenvolve as instruções. Muitas vezes ele deixa o tratamento «vós», que é empregado quando ele se dirige aos seus ouvintes de modo geral, e fala em «tu» como se estivesse se dirigindo pessoalmente a alguém.

72.  Refletem as Catequeses comunicação e clareza de linguagem.

73.  Algumas vezes, porém ele deixa perceber uma eloquência muito viva. Lemos na sexta Catequese: «Lembrai-vos do que foi dito: Que consórcio há entre a justiça e a iniquidade? Que comunidade entre a luz e as trevas? (...) Aqui há ordem, aqui há disciplina, aqui há seriedade, aqui há castidade, aqui é considerado pecado olhar alguma mulher com olhos concupiscentes. Aqui o matrimônio é mantido em santidade (...). Associa-te às ovelhas. Foge dos lobos. Não te afastes da Igreja...».

Conclusão:

74.  Cirilo foi amado por Jerusalém e reconhecido pelo Sínodo de Constantinopla. O Imperador Teodósio convocou os Bispos de seu Império para um novo Sínodo em Constantinopla. O Sínodo ocorreu no verão de 382.

75.  A carta sinodal dirigida aos Bispos reunidos em Roma é preservada por Teodoreto e nela lemos o seguinte: “Da Igreja em Jerusalém, a Mãe de todas as Igrejas, fazemos saber que Cirilo, o mais reverendo e mais amado de Deus, é Bispo; e que ele foi ordenado canonicamente há muito tempo pelos Bispos da província, e que ele tem lutado uma boa luta em vários lugares contra os arianos.”

76.  Somos informados por Jerônimo que ele manteve a posse imperturbável de sua Sé por oito anos sob Teodósio. Faleceu em 386 dC no dia 18 de março.

1.      O que você destaca no texto?

2.      Como este estudo serve para sua espiritualidade?



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