291
SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA
(330-379)
Regra Monástica - Asketikon
As
Regras Extensas (55 regras)
Questões
5 a 7
QUESTÃO
5
COMO
EVITAR A DIVAGAÇÃO
Resposta
1.
Importa saber que não é possível
cumprir os outros mandamentos e nem mesmo amar perfeitamente a Deus ou ao próximo
se o espírito divagar para cá e para lá. Não pode alguém dedicar-se a uma
ciência ou arte, transitando sempre de uma a outra, e nem mesmo adquirir o conhecimento
de uma delas, se ignorar os meios de alcançar sua finalidade.
2.
Convém que as ações quadrem com o
escopo, porque, de fato, nada de razoável se alcança por meios inadequados. Não
se consegue com bom resultado forjar metais exercitando-se em cerâmica; nem
tocando frequentemente flauta se chega a obter coroas atléticas; mas para cada
fim requer-se labor peculiar e ajustado. Também a ascese, segundo o Evangelho
de Cristo, que agrada a Deus, realiza-se pelo afastamento das preocupações do
século e a fuga completa da divagação. Por isso, embora sejam permitidas e
dignas de bênçãos as núpcias, o Apóstolo opõe as preocupações destas à
solicitude pelas coisas que são de Deus, como sendo impossível coexistirem
ambas, ao dizer: O solteiro cuida das coisas
que são do Senhor, procurando agradar a Deus. Mas o casado preocupa-se com as
coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa (ICor 7,32.33).
3.
Assim, o Senhor testemunhou a respeito
dos discípulos, por causa de seu ânimo sincero e firme: Não sois do mundo (Jo 15,19). E, ao contrário, atestou ser impossível ao mundo
receber o conhecimento de Deus e aceitar o Espírito Santo: Pai justo, disse,
o mundo não te conhece (Jo 17,25), e: o Espírito da verdade que o
mundo não pode receber (Jo
14,17).
4.
Todo aquele, portanto, que
verdadeiramente quer seguir a Deus, deve romper os vínculos das afeições desta
vida. Realizá-lo-á por afastamento completo e esquecimento dos hábitos anteriores.
Por esta razão, a menos que nos façamos estranhos ao parentesco carnal e à vida
em sociedade e emigrarmos de certo modo para outro mundo, quanto a nossos
hábitos, conforme aquele que disse: Nós somos cidadãos dos céus (F1 3,20), será impossível atingirmos a meta de agradar a
Deus. É terminante a declaração do Senhor: Assim,
pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu
discípulo (Lc 14,33). Feito isto, guardemos cuidadosamente nosso coração (Pr 4,23); jamais percamos a lembrança de Deus, nem manchemos
a memória de suas maravilhas com vãs imaginações.
5.
Por toda a parte carreguemos pura e continuamente
a santa lembrança de Deus, cuja recordação se imprima em nossa alma qual
indelével sigilo. Assim adquirimos o amor de Deus que também nos concita à prática
dos mandamentos do Senhor, enquanto esses, por sua vez, o conservam perpétua e
constantemente. O Senhor no-lo mostra ao dizer: Se amais, guardareis os meus mandamentos (Jo 14,15), ou ainda: Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no
meu amor (Jo 15,10). E o que é ainda mais persuasivo:
Como também eu guardei os
mandamentos de meu Pai e permaneço em seu amor (ibid.).
6.
Com isto, ensina-nos ele que, ao decidirmos
fazer uma obra, tenhamos sempre o escopo de realizar a vontade daquele que
ordena, concentrando nisso nossos esforços, conforme ele mesmo declarou em
outra passagem: Desci do céu, não para fazer
a minha vontade, mas a vontade daquele que enviou, o Pai (Jo 6,38).
7.
Os ofícios necessários a nossa
subsistência têm fins específicos e em consequência acomodam as atividades particulares
a essas finalidades. Assim também, tendo nossas obras uma só meta, uma só regra,
a saber, a observância dos mandamentos no intuito de agradar a Deus, é
impossível fazer um trabalho bem feito a não ser realizando-o de acordo com a
vontade de quem no-lo confiou. Se ao fazermos uma obra, aplicarmo-nos com zelo
diligente a cumprir a vontade de Deus, unimo-nos a ele por essa intenção.
8.
O ferreiro, por exemplo, ao forjar um
machado, lembra- se de quem o encomendou e, conservando-o na memória, pensa na forma
e no tamanho do instrumento, executando-o conforme os desejos de quem fez a
encomenda. Se por acaso se esquecer de tudo isso, fará outra coisa ou outra
muito diferente da que intencionara.
9.
Também o cristão, em qualquer ação,
pequena ou grande, orientada pela vontade de Deus, simultaneamente a pratica
com diligência e conserva a lembrança de quem a ordena, realizando a palavra: Ponho sempre o Senhor diante dos olhos; pois que
ele está à minha direita, não vacilarei (SI
15,8). E cumpre aquele preceito: Quer comais e bebais ou
façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (ICor 10,31). Se alguém, ao agir, prejudica o rigor do
preceito, evidencia ter deixado se enfraquecer a recordação de Deus.
10. Lembrados, portanto, da palavra daquele que disse: Porventura, não enche minha presença o céu e a
terra? Oráculo do Senhor (Jr
23,24). E: Apenas eu sou Deus quando
estou perto? Não o sou também quando de longe? (ibid. 23). E: Onde dois ou três estão
reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18,20), tudo devemos fazer como convém a uma ação feita
sob o olhar de Deus e tudo pensar como sendo visto por ele.
11. Assim teremos constante temor, o qual, conforme está escrito
(SI 118,163), odeia a injustiça, a injúria, a soberba e os caminhos dos maus;
realizaremos a caridade, cumprindo o dito do Senhor: Não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai
que enviou (Jo 5,30), e convencidas estarão
continuamente as nossas almas de que as boas ações são bem aceitas pelo juiz e
árbitro de nossas vidas e de que as más receberão do mesmo a condenação.
12. Creio que assim acontecerá, como disse, que não sejam empregados
os mandamentos do Senhor para se captar a benevolência dos homens. Ninguém há
que se volte para um inferior, se está certo da presença de um superior. Mas,
se suceder que uma ação seja aceitável e grata a uma pessoa ilustre, porém
contrarie a um inferior e lhe pareça repreensível, dar-se-á mais valor à
aprovação da pessoa mais importante, sem considerar a censura de quem está
abaixo.
13. Entre os homens é assim que se passam as coisas. Qual será,
pois, a alma verdadeiramente vigilante e equilibrada que, convicta da presença
de Deus, menosprezará o que é do agrado de Deus e voltar-se-á para a glória
humana? Ou, negligenciando os preceitos de Deus, escravizar-se-á a práticas humanas,
ou deixar-se-á prender por um preconceito banal, ou dobrar-se-á por causa de
dignidades? Tal era a disposição daquele que disse: Contaram-me os ímpios coisas, mas quão diferente
é tudo isso da tua lei, Senhor! (SI
118,85). E ainda: Diante dos reis falarei de
vossas prescrições e não envergonharei (ibid.
46).
QUESTÃO
6
NECESSIDADE
DA VIDA RETIRADA
Resposta
14. Morar retirado é auxílio para se adquirir a estabilidade de espírito.
O próprio Salomão demonstra ser pernicioso levar a vida no meio dos que não
receiam desprezar a perfeita observância dos mandamentos, ao nos ensinar: Não faças amizade com um homem colérico, não
andes com o violento, com receio de que aprendas os seus costumes e prepares um
laço fatal para a tua alma (Pr
22,24.25).
15. E também: Saí do meio deles e separai-vos,
diz o Senhor (2Cor 6,17), induz à mesma conclusão. Por
isso, procuremos primeiro habitar num lugar retirado, para não sermos incitados
ao pecado através dos olhos e dos ouvidos, e não nos habituarmos a ele de
maneira despercebida, nem permaneçam na alma certas impressões e imagens do que
vimos e ouvimos, causando nossa ruína e perdição, e ainda a fim de persistirmos
na oração.
16. Assim podemos vencer os hábitos anteriores de uma vida em
desacordo com os mandamentos de Cristo (não é pequeno combate superar os
próprios hábitos; pois o hábito, corroborado durante muito tempo, adquire força
de segunda natureza) e também conseguiremos apagar as máculas do pecado tanto
por preces infatigáveis quanto pela meditação assídua da vontade de Deus.
17. A essa oração e meditação é impossível nos entregarmos em
meio à multidão que distrai a alma e a absorve com os negócios desta vida. E
quem poderá, envolvido em tudo isso, cumprir a palavra: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo
(Lc 9,23)?
18. Importa renegarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz de Cristo,
e assim o seguirmos. Renunciar-se a si mesmo consiste em esquecer-se
completamente do passado e abandonar as próprias vontades. Numa convivência com
os homens seria dificílimo realizá-lo, para não dizer totalmente impossível.
Esta companhia serve de empecilho quando se quer tomar sua cruz e seguir a
Cristo.
19. Tomar a sua cruz é estar pronto a morrer por Cristo. É
mortificar os membros terrenos, é estar disposto em ordem de batalha,
enfrentando qualquer perigo iminente por causa do nome de Cristo e não ser apegado
à vida presente. Vemos assim os grandes obstáculos que provêm da convivência comum
em uma sociedade profana.
20. Além de outros impedimentos e são muitos a alma considera a
multidão dos transgressores. Em primeiro lugar, não tem, com isso, oportunidade
de perceber os próprios pecados e de ter contrição dos delitos, por meio da
penitência. Compara-se aos piores e imagina que possui certa retidão.
21. Em seguida, devido aos tumultos e negócios que brotam da vida
vulgar, perde a preciosa lembrança de Deus e não somente sofre o prejuízo de
não se alegrar e se deleitar em Deus, de não fruir das delícias do Senhor, de
não experimentar a doçura de suas palavras, de modo a poder afirmar: Lembrei-me de Deus e senti-me cheio de gozo (SI 76,4), e: Quão saborosas são para mim vossas
palavras, mais doces que o mel à minha boca (SI 118,103), mas ainda acostuma-se inteiramente a desprezar
os seus juízos, a deles se esquecer, o que constitui o maior e pior dos males
que lhe possam suceder.
QUESTÃO
6
NECESSIDADE
DA VIDA RETIRADA
Resposta
22. Morar retirado é auxílio para se adquirir a estabilidade de espírito.
O próprio Salomão demonstra ser pernicioso levar a vida no meio dos que não
receiam desprezar a perfeita observância dos mandamentos, ao nos ensinar: Não faças amizade com um homem colérico, não
andes com o violento, com receio de que aprendas os seus costumes e prepares um
laço fatal para a tua alma (Pr
22,24.25).
23. E também: Saí do meio deles e separai-vos,
diz o Senhor (2Cor 6,17), induz à mesma conclusão. Por
isso, procuremos primeiro habitar num lugar retirado, para não sermos incitados
ao pecado através dos olhos e dos ouvidos, e não nos habituarmos a ele de
maneira despercebida, nem permaneçam na alma certas impressões e imagens do que
vimos e ouvimos, causando nossa ruína e perdição, e ainda a fim de persistirmos
na oração.
24. Assim podemos vencer os hábitos anteriores de uma vida em
desacordo com os mandamentos de Cristo (não é pequeno combate superar os
próprios hábitos; pois
25. o hábito, corroborado durante muito tempo, adquire força de segunda
natureza) e também conseguiremos apagar as máculas do pecado tanto por preces
infatigáveis quanto pela meditação assídua da vontade de Deus. A essa oração e
meditação é impossível nos entregarmos em meio à multidão que distrai a alma e
a absorve com os negócios desta vida. E quem poderá, envolvido em tudo isso, cumprir
a palavra: Se alguém quer vir após mim,
renegue-se a si mesmo (Lc 9,23)?
26. Importa renegarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz de Cristo,
e assim o seguirmos. Renunciar-se a si mesmo consiste em esquecer-se
completamente do passado e abandonar as próprias vontades. Numa convivência com
os homens seria dificílimo realizá-lo, para não dizer totalmente impossível.
Esta companhia serve de empecilho quando se quer tomar sua cruz e seguir a
Cristo.
27. Tomar a sua cruz é estar pronto a morrer por Cristo. É
mortificar os membros terrenos, é estar disposto em ordem de batalha,
enfrentando qualquer perigo iminente por causa do nome de Cristo e não ser apegado
à vida presente. Vemos assim os grandes obstáculos que provêm da convivência comum
em uma sociedade profana.
28. Além de outros impedimentos e são muitos a alma considera a
multidão dos transgressores. Em primeiro lugar, não tem, com isso, oportunidade
de perceber os próprios pecados e de ter contrição dos delitos, por meio da
penitência.
29. Compara-se aos piores e imagina que possui certa retidão. Em
seguida, devido aos tumultos e negócios que brotam da vida vulgar, perde a
preciosa lembrança de Deus e não somente sofre o prejuízo de não se alegrar e
se deleitar em Deus, de não fruir das delícias do Senhor, de não experimentar a
doçura de suas palavras, de modo a poder afirmar: Lembrei-me de Deus e senti-me cheio de gozo (SI 76,4), e: Quão saborosas são para mim vossas
palavras, mais doces que o mel à minha boca (SI 118,103), mas ainda acostuma-se inteiramente a desprezar
os seus juízos, a deles se esquecer, o que constitui o maior e pior dos males
que lhe possam suceder.
QUESTÃO
7
A
CONVENIÊNCIA DE SE CONVIVER COM OS QUE UNANIMEMENTE TENCIONAM AGRADAR A DEUS. É
TÃO DIFÍCIL QUÃO PERIGOSO VIVER ISOLADO
Uma vez que
vossas palavras nos persuadiram de que é perigoso passar a vida em companhia
dos que desprezam os mandamentos do Senhor, queremos agora saber se quem deles se
afasta deve viver sozinho ou conviver com irmãos que tenham o mesmo modo de
pensar e escolheram idêntico escopo
de piedade.
Resposta
30. Estou convicto de que a vida em comum dos que têm idêntico
escopo é a mais adequada à obtenção de muitas vantagens. Primeiramente, porque
nenhum de nós é autossuficiente para prover às suas necessidades corporais;
para adquirirmos o indispensável precisamos uns dos outros.
31. Os pés têm algumas capacidades, porém para algumas coisas são
incapazes. Privados do auxílio dos outros membros não têm em si força bastante,
nem continuamente são auto-suficientes; não podem suprir as próprias
deficiências. Assim também a vida eremítica torna inútil o que possuímos e não
nos possibilita adquirirmos o que nos falta. Deus, nosso Criador, quis que precisássemos
uns dos outros, e, como está escrito, que o homem se associasse a seu semelhante (Eclo 13,20).
32. Além disso, a caridade de Cristo impede que cada um
considere apenas o que é seu. A caridade, diz-se, não busca os seus próprios
interesses (ICor 13,5). A vida eremítica, porém,
tem um só escopo: o de atender às próprias necessidades. Evidentemente, isso é
oposto à lei da caridade, que o Apóstolo praticou, porque não buscava o interesse
próprio, mas o de muitos, para que fossem salvos (ICor 10,33). Em seguida, quem
vive isolado não reconhecerá facilmente seus pecados, pois não há quem o
repreenda e corrija com mansidão e misericórdia.
33. A repreensão, mesmo se parte de um inimigo, muitas vezes
desperta nos bons o desejo de correção. A purificação, porém, do pecado é
realizada conscientemente por aquele que ama de coração sincero: Quem ama (seu filho), foi dito, corrige-o continuamente (Pr 13,24). É dificílimo encontrar um tal na solidão, se não
houver antes vivido em comum. Acontece-lhe o que foi dito: Ai do homem solitário. Se ele cair não há ninguém
para o levantar (Ecl 4,10).
34. Muitos preceitos são facilmente cumpridos, quando o são por muitos
reunidos; por um sozinho, não, porque uma obra impede outra. A visita de um
enfermo, por exemplo, obsta à recepção de um hóspede e a doação e distribuição
do necessário (principalmente quando esses serviços tomam muito tempo) tolhe o
zelo na prática de boas obras. Com isso cai no esquecimento o preceito máximo e
mais condizente com a salvação: não é nutrido o faminto, nem vestido o nu. Quem
pretenderia dar precedência à vida inerte e infrutífera e não à vida frutuosa,
segundo o mandamento do Senhor?
35. Se todos nós que fomos assumidos numa só esperança da vocação
(Ef 4,4) somos um só corpo, tendo a Cristo por Cabeça (ICor 12,12), e somos
membros uns dos outros, se não nos unirmos na harmonia do Espírito Santo, na
constituição de um só corpo, mas ao contrário escolher cada um viver isolado,
sem servir, como é agradável a Deus, à utilidade comum na dispensação dos bens,
seguindo, como lhe apraz, os próprios apetites, como conservaremos, separados e
divididos, a mútua relação de membros e o serviço ou a obediência devidos a
nossa Cabeça, que é Cristo?
36. Não poderemos, vivendo separados, alegrar-nos com quem é glorificado,
nem sofrer com quem sofre (ibid. 26), não nos sendo possível, como se vê,
conhecer as condições do próximo. Além disso, como ninguém é capaz de receber
todos os carismas espirituais, mas segundo a proporção ãa fé (Rm 12,6) de cada um é dado o Espírito, o dom peculiar a um
transmite-se aos seus concidadãos. A um é dada uma palavra de
sabedoria, a outro a palavra de ciência, a outro a fé, a outro a profecia, a
outro a graça de curar as doenças, etc.
(ICor 12,8.10).
37. Recebe-os cada um, não tanto para si, mas para os outros. Na
vida em comunidade, necessariamente a força do Espírito Santo concedida a um
transmite-se simultaneamente a todos. Quem vive sozinho, talvez possua um dom;
mas enterra-o em si mesmo por preguiça e torna-o inútil. Quão grande é esse
perigo, sabeis vós todos que lestes os Evangelhos. Na convivência com muitos,
porém, goza do que lhe é próprio, multiplica-o ao comunicá-lo e colhe frutos
dos dons alheios, como dos próprios.
38. Possui ainda a vida em comum outras vantagens, difíceis de
enumerar em sua totalidade. É mais proveitosa para a conservação dos bens que
Deus nos deu do que a solidão. Também para a preservação das ciladas externas
do inimigo é mais seguro ter alguns vigias que o despertem no caso de adormecer
naquele sono mortal, que Davi nos preveniu pedirmos se afaste de nós: Iluminai meus olhos com vossa luz, para eu não
adormecer na morte (SI
12,4). É mais fácil ao pecador abandonar o pecado, se receia a condenação
unânime de muitos, de maneira a convir-lhe a palavra: Basta a esse homem o castigo que a maioria lhe
infligiu (2Cor 2,6).
39. Mais forte será a convicção daquele que age bem, sendo muitos
os que o aprovam e concordam com a sua atuação. Se toda questão deve se
resolver pela decisão de duas ou três testemunhas (Mt 18,6), é claro que há de
se sentir muito mais seguro quem fez uma boa obra, atestada por muitos. Além
dos supracitados, há outros perigos que acompanham a vida isolada.
40. O primeiro e o maior é o da auto complacência. Não tendo
quem examine suas obras, julgará ter atingido a perfeição do mandamento. Em
segundo lugar, deixando inertes os bons hábitos, não conhecerá seus próprios
vícios, nem o progresso realizado em obras, estando supressa a matéria para a prática
dos mandamentos.
41. Como demonstrará humildade, se ninguém houver em comparação
do qual se mostre mais humilde? Para com quem usará de comiseração, se está
longe da companhia dos demais? Como se exercitará na paciência, se ninguém se
opõe às suas vontades? Se disser alguém bastar-lhe o ensinamento das divinas
Escrituras para a emenda dos costumes, age à semelhança de quem aprende a
construir, mas nunca edifica, ou como quem aprende a forjar metais, mas não
quer aplicar as normas de sua arte.
42. O Apóstolo poderia lhe dizer: Diante de Deus não são justos os que ouvem a lei,
mas serão tidos por justos os que praticam a lei (Rm 2,13).
43. E eis que o Senhor, no excesso de seu amor aos homens, não se
contentou com ensinar só por palavras. A fim de nos dar exemplo claro e
expresso de humildade, na perfeição do amor, cingiu-se e lavou os pés dos
discípulos. De quem os lavarás tu?
44. A quem servirás? Como serás o último, se moras sozinho? Sendo
bom e agradável para irmãos unidos viverem juntos (SI 132,1), o que o Espírito
compara ao óleo puríssimo que exala da cabeça do sumo pontífice, como se
realizará isso para quem mora isolado?
45. A vida em comum de irmãos é estádio de atletismo, caminho excelente
de progresso, exercício perpétuo e meditação dos mandamentos do Senhor. Tem por
escopo a glória de Deus, segundo o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, que
disse: Assim, brilhe vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai
que está nos céus (Mt 5,16).
46. Esta vida comum conserva o caráter da vida dos santos, mencionada
nos Atos, onde está escrito: Todos os fiéis viviam unidos
e tinham tudo em comum (At
2,44). E ainda: A multidão dos fiéis era um
só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía;
mas tudo entre eles era comum (At
4,32).
O
que você destaca neste texto?
Como
serve para sua vida espiritual?
Como
serve para sua comunidade de Fé?
Nenhum comentário:
Postar um comentário