quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

298 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Regra Monástica - Asketikon - As Regras Extensas (55 regras) - Questões 36-40

 


298

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Regra Monástica - Asketikon

As Regras Extensas (55 regras)

Questões 36-40

 

QUESTÃO 36

OS QUE SE RETIRAM DA COMUNIDADE DOS IRMÃOS

Resposta

 

1.      Não é lícito àqueles que uma vez prometeram viver unidos a outros, num mesmo lugar, retirarem-se facultativamente. Duas seriam as causas de não se manterem o propósito: ou o prejuízo proveniente da vida determinada numa comunidade, ou a instabilidade do ânimo de quem muda de parecer.

2.      Quem se separa dos irmãos por ter sofrido dano, não guarde para si o conhecimento da causa, mas acuse o prejuízo infligido, segundo o ensinamento do Senhor: Se teu irmão tiver pecado, vai e repreende-o entre ti e ele somente, etc. (Mt 18,15).

3.      Se houver a emenda desejada, lucra o irmão sem infligir afronta à comunidade. Se, porém, ele observar que persistem no mal e não aceitam a correção, comunicá-lo-á aos que são competentes para julgar tais decisões, e com o testemunho de muitos, afaste- se.

4.      Retira-se, porém, não mais da companhia de irmãos, mas de estranhos, porque o Senhor compara aquele que se obstina no mal a um pagão e um publicano. Seja, para ti, disse, como um pagão e um publicano (Mt 18,17).

5.      Se, contudo, é por própria leviandade que se retira da companhia dos irmãos, cure-se de sua fraqueza; se não o quiser, seja considerado indesejável à comunidade. Se, porém, por causa do mandamento do Senhor, alguém for atraído a outra parte, ele não se retira, mas realiza um desígnio.

6.      Razoavelmente não se admite outra causa de saída; primeiro, porque é afronta ao nome de Nosso Senhor Jesus Cristo que os reuniu; segundo, porque a consciência de um não está pura diante do outro, mas haverá mútuas suspeitas, o que é evidentemente contra o preceito do Senhor, que diz: Se estás, portanto, por fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e então vem fazer a tua oferta (Mt 5,23.24).

 

QUESTÃO 37

SE É LÍCITO, SOB PRETEXTO DE ORAÇÃO E DE SALMODIA, DESCUIDAR-SE DO TRABALHO. QUAL O TEMPO APROPRIADO PARA AS ORAÇÕES? EM PRIMEIRO LUGAR É DEVER TRABALHAR?

 

Resposta

7.      Como Nosso Senhor Jesus Cristo diz que o operário merece o seu sustento (Mt 10,10), e não simplesmente sem discriminação, qualquer um, e o Apóstolo ordena trabalhar e executar com as suas próprias mãos o que é bom (Ef 4,28), para se ter com que socorrer aos necessitados (ibid.), evidencia-se que devemos trabalhar com diligência.

8.      A piedade não seja considerada pretexto de preguiça, nem fuga do esforço, mas ocasião de luta e de labor maior, como de paciência nas tribulações, de maneira que possamos dizer: Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede (2Cor 11,27).

9.      Este modo de viver é proveitoso não só para subjugar o corpo, mas ainda por causa da caridade para com o próximo, a fim de que, por nosso intermédio, Deus forneça o bastante aos irmãos mais fracos, segundo o modelo apresentado nos Atos pelo Apóstolo que diz: Em tudo vos tenho mostrado que, assim trabalhando, convém acudir aos fracos (At 20,35).

10.  E de novo: Para ter com que socorrer aos necessitados (Ef 4,28). Assim seremos dignos de ouvir: Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo. Porque tive fome e 􀉬􀉟 destes de comer; tive sede, e 􀉬􀉟 destes de beber (Mt 25,34.35).

11.  Qual a necessidade de dizer que constitui grande mal a ociosidade, quando o Apóstolo claramente preceitua: Quem não quiser trabalhar, não tem direito de comer (2Ts 3,10)?

12.  Como é indispensável para todos o alimento cotidiano, assim também é necessário o trabalho, à medida das forças. Não foi em vão que Salomão escreveu em elogio: Não comeu o pão da ociosidade (Pr 31,27).

13.  E ainda o Apóstolo, falando de si mesmo: Não temos comido de graça o pão de ninguém, mas, com trabalho e fadiga, labutamos noite e dia (2Ts 3,8), embora pudesse, porque pregava o Evangelho, viver do Evangelho. Também o Senhor associou a preguiça a malícia, dizendo: Servo mau e preguiçoso (Mt 25,26).

14.  E o sábio Salomão não só louva o trabalhador pelas causas já citadas, mas igualmente censura o preguiçoso, comparando-o a animais minúsculos, ao dizer: Vai o preguiçoso ter com a formiga (Pr 6,6). Por isso é de temer que no dia do juízo nos seja isto lançado em rosto, pois quem nos deu forças para o trabalho, exigirá obras proporcionadas a elas.

15.  Porque: Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir (Lc 12,48). Desde que alguns, sob o pretexto de orações e salmodia, furtam-se ao trabalho, convém saber que há um tempo próprio para cada coisa, segundo o Eclesiastes que diz: Para tudo há um tempo (Ecl 3,1).

16.  Mas, para a oração e a salmodia, como para muitas outras ocupações, serve qualquer tempo, porque enquanto as mãos trabalham, talvez seja possível, ou ao menos proveitoso para a edificação da fé, com a língua, ou ao menos de coração, louvar a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais (Cl 3,16), como está escrito, entregando-nos assim à oração no meio do trabalho.

17.  Demos graças àquele que deu forças às mãos para o trabalho e inteligência para adquirirmos a ciência, fornecendo-nos ainda a matéria, tanto a dos instrumentos, quanto a matéria-prima para as artes que cultivamos. Supliquemos que as obras de nossas mãos tenham a finalidade de agradar a Deus.

18.  Afastamos a divagação do espírito quando, em cada ação, impetramos de Deus o bom andamento da obra, agradecemos àquele que nos concede a energia para a ação e conservamos o propósito de lhe agradar, conforme foi dito acima.

19.  Porque, de outro modo, como se conciliarão as duas palavras do Apóstolo: Orai sem cessar (lTs 5,17), e: Labutando noite e dia (2Ts 3,8)? Se também a lei determina se dê graças em todo o tempo e a natureza e a razão demonstram a necessidade desta ação de graças em nossa vida, nem por isso podemos omitir as horas determinadas, que escolhemos por necessidade, para a oração nas comunidades dos irmãos, pois cada uma constitui uma espécie de memória dos bens recebidos de Deus.

20.  A hora matutina, para dedicarmos a Deus os primeiros movimentos da alma e da mente e nada cuidarmos antes de nos alegrarmos com o pensamento de Deus, como está escrito: Lembrei-me de Deus e senti-me cheio de gozo (SI 76,4). Que o corpo não se mova para o trabalho antes de fazer o que foi dito: É a vós que eu invoco, Senhor, desde a manhã; escutai-me. Porque, desde o raiar do dia, a vós apresento minhas súplicas e espero (SI 5,4.5).

21.  De novo, à hora terça, levantem-se para a oração, convoque-se a comunidade, mesmo se acontecer que alguns estejam ocupados em diversos trabalhos. Lembrados do dom do Espírito, concedido aos apóstolos na hora terceira, unânimes, prostrem-se todos, para se tornarem dignos também de receber a santificação. Peçam que ele os dirija no caminho e lhes ensine o que é proveitoso.

22.  Façam como aquele que disse: ò meu Deus, criai em mim um coração puro. E renovai-me o espírito de firmeza. De vossa presença não me rejeiteis. E nem me priveis de vosso santo espírito. Restituí-me a alegria da salvação. E sustentai-me com uma vontade generosa (SI 50,12.13). E alhures: Que o vosso espírito de bondade me conduza pelo caminho reto (SI 142, 10). E assim, voltem ao trabalho.

23.  Se alguns se afastarem para mais longe, por causa de trabalho, ou da natureza do lugar, cumpram obrigatoriamente ali, sem hesitações, tudo o que foi estabelecido em comum, porque: Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu em meio deles (Mt 18,20).

24.  À hora sexta, julgamos necessária a oração, à imitação dos santos, que dizem: Pela tarde, de manhã e ao meio-dia, narrarei e anunciarei. E ele ouvirá minha voz (SI 54,18).

25.  E para nos livrarmos do ataque e do demônio meridiano (SI 90,6), também se diga o salmo 90. À hora nona é dever rezar, como nos ensinaram os apóstolos nos Atos, onde se narra que Pedro e João iam subindo ao templo para rezar à hora nona (At 3,1).

26.  Já completo o dia, damos graças pelo que nos foi concedido neste dia, ou pelo bem que fizemos, e também confessamos nossas omissões, a saber, falta voluntária ou involuntária, ou qualquer pecado oculto, por palavras, obras, ou só no coração, aplacando a Deus por tudo com a oração.

27.  É de grande utilidade examinar o passado, para não recairmos nas mesmas faltas. Por isso foi dito: Refleti em vossos corações, quando estiverdes em vossos leitos e calai (SI 4,5).

28.  Ainda, ao cair da noite, vem a prece para que o repouso seja inofensivo e livre de pesadelos.

29.  Recite-se nessa hora, obrigatoriamente, o salmo 90. Paulo e Silas nos transmitiram ser preciso orar no meio da noite, conforme os Atos declaram: Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus (At 16,25). E o salmista diz: Em meio à noite levanto-me para vos louvar pelos vossos decretos cheios de justiça (SI 118,62).

30.  E de novo, antecipando-nos à aurora, levantamo-nos para a oração para não sermos surpreendidos pelo dia ainda adormecidos no leito, segundo a palavra: Meus olhos se antecipam à vigília da noite, para meditarem em vossa palavra (ibid. 148).

31.  Nenhuma dessas horas seja esquecida por aqueles que se decidiram a viver com fervor para a glória de Deus e de seu Cristo. Julgo ser de vantagem a diversidade e a variedade nas preces e na salmodia, nas horas estabelecidas, e nestas últimas, porque pela monotonia muitas vezes a alma se entorpece e se distrai; a mudança e a variedade da salmodia, como também o sentido de cada hora, renovam o desejo e a atenção se refaz.

 

QUESTÃO 38

A EXPLICAÇÃO NOS MOSTROU SUFICIENTEMENTE QUE A ORAÇÃO NÃO PODE SER OMITIDA E QUE O TRABALHO É INDISPENSÁVEL. SERIA LÓGICO APRENDERMOS AGORA QUAIS OS OFÍCIOS ADEQUADOS A NOSSA PROFISSÃO

 

Resposta

32.  Não é fácil especificar os ofícios, porque devem ser adaptados à natureza do lugar e às peculiaridades mercantis de cada região.

33.  Em geral, podem ser designados à escolha os que salvaguardam nossa vida pacífica e tranquila, sem muitas dificuldades de aquisição de matéria-prima, nem muitas preocupações com a venda dos produtos e os que não acarretam aglomerações inconvenientes ou prejudiciais de homens ou mulheres. Mas precisamos considerar que em tudo nos é proposto um fim peculiar: as coisas simples e baratas.

34.  Evitemos servir à cupidez desarrazoada e danosa dos homens, produzindo o que eles mais ambicionam. À arte têxtil peçamos o que entrou na vida corrente e não o que foi excogitado por homens desregrados para captar os jovens e apanhá-los no laço.

35.  De modo semelhante procuremos a fabricação de sapatos, a fim de obtermos desta arte o necessário. Quanto à arquitetura, à carpintaria e à ferraria, à agricultura são por si indispensáveis e muito úteis; portanto, não há motivo especial de serem rejeitadas.

36.  Se, contudo, nos cercam de agitação ou quebram a unidade da vida comum dos irmãos, então, forçosamente, evitemo-las.

37.  Demos preferência aos ofícios que mantêm nossa vida sem distrações, continuamente fiel ao Senhor, e que não reclamam os que perseveram nos exercícios de piedade, no tempo da salmodia, da oração ou de outras iniciativas louváveis.

38.  Portanto, se neles nada há que prejudique o essencial de nossa vida, sejam preferidos entre muitos especialmente a agricultura que produz por si o necessário e livra os agricultores de muitas saídas e de correrem para cá e para lá; contanto, como o dissemos, que não nos envolva, da parte dos vizinhos, ou dos que moram conosco, em tumultos ou confusão.

 

 QUESTÃO 39

COMO VENDER OS PRODUTOS E COMO VIAJAR

 

Resposta

39.  Faz-se mister não colocar os produtos muito longe, nem sair para vender. Seria mais conveniente, mais útil ficar no próprio lugar, tanto para a edificação mútua como para a perfeita conservação do alimento cotidiano.

40.  Por isto, é preferível abaixar um pouco o preço a sair de casa por causa de pequenos lucros.

41.  Se a experiência mostrar ser isto impossível, escolham-se, para que a viagem seja de proveito, lugares e cidades de homens piedosos; e vários irmãos juntos, cada qual carregando o próprio produto, partam para o mercado designado.

42.  Partam em grupo a fim de perfazerem o caminho com salmos e orações para edificação mútua.

43.  Quando chegarem ao termo, procurem obter uma só hospedagem, tanto para a preservação de todos, quanto para não lhes escapar hora alguma de oração, diurna ou noturna.

44.  Deste modo sofrerão menos do que se estivessem sós, ao contato com homens intratáveis e avaros. Mesmo os mais violentos não querem ter muitas testemunhas de sua injustiça.


QUESTÃO 40

DAS TRANSAÇÕES FEITAS COM ASSEMBLÉIAS RELIGIOSAS

Resposta

45.  Não nos convêm nem mesmo as transações feitas nos lugares onde se veneram os mártires, como no-lo declara a Palavra.

46.  Não compareçam os cristãos nos locais onde são venerados os mártires ou nas suas adjacências, a não ser para a oração e a fim de que, pela comemoração da piedosa firmeza dos santos até à morte, incitem-se a idêntico zelo.

47.  Lembrem-se da terrível ira do Senhor que, embora mostrando-se sempre e em toda a parte manso e humilde de coração, conforme está escrito (Mt 11,29), tomou energicamente do flagelo só contra aqueles que vendiam e compravam no templo (Jo 2,15), porque transformavam pela mercancia a casa de oração em covil de ladrões.

48.  Alguns perderam o costume em vigor entre os santos, fazendo desse tempo e lugar uma praça pública e um empório, em vez de se entregarem à oração uns pelos outros, à adoração de Deus com os demais, às lágrimas em comum diante dele, à propiciação pelos pecados, à eucaristia por seus benefícios, à edificação com palavras de exortação. (Conforme sabemos de conhecimento próprio, isto era praticado).

49.  Nem por isso seria consequente que os seguíssemos e confirmássemos seus absurdos por nossa participação; mas imitemos as assembleias reunidas em torno de Nosso Senhor Jesus Cristo e descritas nos Evangelhos.

50.  Pratiquemos os preceitos do Apóstolo, bem conformes a este modelo, ao escrever: Quando vos reunis, cada um de vós tem um cântico, uma revelação, um discurso em línguas, uma interpretação: que tudo se faça de modo a edificar (ICor 14,26).

 

 

O que você destaca no texto?

Como serve para sua espiritualidade?

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