Ministração do Estudo 128
128
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Oração do
Senhor (1-4)
1. A verdadeira
oração
Os
preceitos evangélicos, caríssimos irmãos, não são outra coisa senão
ensinamentos divinos, bases para a edificação da esperança, fundamentos para
fortalecimento da fé, nutrimento para animar os corações, guia para indicar o
caminho, amparo para obter a salvação.
Por
eles, as almas dóceis dos fiéis são instruídas na terra e, enfim, conduzidas ao
Reino Celeste.
Deus
quis que, por meio dos seus servos, os profetas, muitas coisas fossem ditas e
ouvidas. São, porém, incomparavelmente maiores as que nos diz o próprio Filho.
É
o Verbo de Deus, que estivera nos profetas, que fala agora com sua própria voz.
Não se trata mais de mandar que se prepare o caminho para o que há de vir, mas
é ele próprio que vem, abrindo e mostrando o caminho, a fim de que nós que errávamos
cegos e hesitantes nas trevas da morte tomássemos o caminho da vida, iluminados
pela luz da graça, guiados e conduzidos pelo Senhor.
Entre
outros salutares ensinamentos e preceitos com que o Senhor encaminhou o seu
povo para a salvação, deu-nos também a forma de orar; aconselhou e ensinou Ele
próprio o que devemos rogar.
Aquele
que nos fez viver ensinou-nos também a orar e, com essa mesma benignidade,
dignou-se dar-nos e conferir-nos outros bens, para que, dirigindo-nos ao Pai
com a súplica e oração ensinada pelo Filho, mais facilmente sejamos ouvidos.
Já
anunciara que viria a hora em que os verdadeiros adoradores adorariam em
espírito e verdade, e cumpriu o que antes prometera.
Assim,
os que recebemos pela sua santificação o Espírito e a Verdade, oremos também, a
partir do que nos legou, em espírito e verdade. E que oração poderá ser mais
espiritual que esta, que nos foi dada pelo Cristo, por quem o Espírito Santo
nos foi enviado? Que prece poderá ser mais verdadeira diante do Pai que esta,
recebida da boca do Filho, que é a própria Verdade?
Portanto,
orar de maneira diversa da que nos ensinou não é somente ignorância, mas culpa,
pois ele mesmo preceituou, dizendo: “Desprezais o mandamento de Deus, para
estabelecer a vossa tradição”.
Oremos,
pois, irmãos caríssimos, como Deus, qual Mestre, nos ensinou. Fazer oração
agradável e familiar é rogar a Deus com o que é seu, é elevar aos seus ouvidos
a oração do Cristo.
Que
o Pai reconheça a palavra do seu Filho quando oramos; que esteja em nossa
palavra o que habita dentro de nós. E, uma vez que é ele o advogado diante do
Pai pelos nossos pecados, peçamos com as palavras do advogado, quando pedimos,
como pecadores, pelas nossas faltas.
Pois
se ele disse que obteremos tudo que pedirmos ao Pai em seu nome, com eficácia
muito maior conseguiremos o que pedimos em nome do Cristo, se o fizermos com a
sua oração.
2. Atitude na
oração
Sejam,
porém, disciplinadas – com tranquilidade e modéstia – a palavra e a prece dos
que oram.
Consideremos
que estamos diante de Deus. Devem ser agradáveis aos olhos divinos tanto a
atitude do corpo como a maneira de falar.
Pois,
assim como é próprio do insolente estrondear com clamores, convém ao modesto
orar com preces discretas.
Finalmente,
mandou-nos o Senhor, nos seus ensinamentos, que orássemos secretamente, em
lugares afastados e escondidos, mesmo nos quartos; assim é mais conveniente
para a nossa fé, pois lembra-nos que Deus está presente em toda parte, que Ele
vê e ouve a todos e que penetra mesmo o distante e o oculto, com a plenitude de
sua majestade, conforme está escrito: “Acaso sou um Deus que está próximo, e
não um Deus afastado? Se, por acaso, o homem estiver metido em esconderijos, eu
não o verei? Não é verdade que eu encho o céu e a terra?”.
E
de novo: “Em toda parte os olhos de Deus observam os bons e os maus”.
Também
quando nos reunimos em comunhão com os irmãos e celebramos com o sacerdote de
Deus o sacrifício divino, devemos nos lembrar da dignidade e da disciplina; não
espalhar desordenadamente as nossas preces com vozes confusas, nem lançar
tumultuosamente e com loquacidade o pedido que deve ser entregue a Deus
modestamente.
Pois
Deus ouve o coração, e não a voz. E o Senhor nos mostra que não se deve
importunar com clamores, ele que vê os pensamentos, conforme prova quando diz:
“Porque pensais o mal nos vossos corações”; e, noutro lugar: “Em todas as
igrejas saberão que eu penetro o coração e as entranhas”.
Ana,
figura da Igreja no Primeiro Livro dos Reis, guarda e cumpre essas palavras.
Ela não pedia clamorosamente, mas, calada e modesta, no segredo do seu coração.
Falava
com prece oculta, mas com fé manifesta. Falava não com a voz, mas com o
coração, pois sabia bem que desse modo seria ouvida por Deus. E obteve, com
efeito, o que pedira, porque o fizera com fé.
Declara-o
a Escritura divina, dizendo: “Falava no seu coração, seus lábios moviam-se, mas
não se ouvia voz, ouviu-a, contudo, o Senhor”.
Igualmente
lemos nos Salmos: “Dizei nos vossos corações e estai compungidos nos vossos
aposentos”. Também por Jeremias o Espírito Santo sugere e ensina a mesma coisa:
“Tu, Deus, deves ser adorado interiormente”.
Quem
adora, irmãos caríssimos, deve atentar também para a forma em que o fez o
publicano no templo, ao lado do fariseu. Não [foi] com os olhos arrogantemente
levantados para o céu, nem com as mãos insolentemente erguidas, mas batendo no
peito e confessando os pecados ocultos que o publicano implorava a misericórdia
divina.
Enquanto
o fariseu, ao seu lado, se comprazia consigo mesmo, assim orou o publicano: sem
colocar a esperança de salvação na presunção de inocência, pois inocente
ninguém é, mas, tendo confessado os pecados, rogou humildemente e mereceu dessa
maneira ser mais santificado. Ouviu a sua oração aquele que perdoa aos humildes.
O
Senhor apresenta esse fato no seu Evangelho quando diz: “Dois homens subiram ao
templo para orar, um fariseu, outro publicano.
O
fariseu, em pé, orava consigo mesmo: ‘Eu te dou graças, meu Deus, porque não
sou como o resto dos homens, injustos, ladrões, adúlteros, nem como este
publicano. Eu jejuo duas vezes por semana e pago dízimo de tudo que possuo’.
O
publicano, porém, em pé, ao longe, não ousava erguer os olhos para o céu, mas
batia no peito dizendo: ‘Deus, sede misericordioso para mim pecador’. Digo-vos:
este voltou para casa mais justificado que aquele fariseu, porque todo o que se
exalta será humilhado e todo o que se humilha será exaltado”.
3. A oração do
Senhor
Nós,
irmãos caríssimos, que aprendemos [essas coisas] na lição divina, tendo sabido
como nos devemos aproximar da oração, saibamos [também], pelo ensinamento do
Senhor, o que [devemos] orar: “Assim”, diz ele, “orai: Pai nosso, que estás nos
céus, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje, perdoa-nos as
nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores, e não nos deixes
cair em tentação, mas livra-nos do mal”.
4. A oração em comum
Antes
de tudo, o Doutor da paz e o Mestre da unidade não quis que a oração fosse
feita em particular e privadamente, a fim de que, ao orar, ninguém o fizesse
apenas para si.
Com
efeito, não dizemos: “Pai meu que estás nos céus”, nem “o pão meu dá-me hoje”,
nem se pede, cada um para si apenas, o perdão de sua dívida, que não venha a
cair em tentação ou que seja livre do mal.
A
nossa oração é pública e comum. Ao orarmos, não o fazemos para um apenas, mas
para todo o povo, porque todo o povo somos um.
O
Deus da paz e o Mestre da concórdia, que ensinou a unidade, quis que fosse
assim, que um orasse por todos, como ele próprio, sendo um, carregara a todos.
Cumpriram
esta lei da oração os três jovens na fornalha, unindo-se na oração e na
concórdia do mesmo espírito. Declara-o a fé da divina escritura, indicando como
estes oraram, e com isso nos dá o exemplo que devemos seguir ao orar, para que
sejamos iguais a eles.
“Então”,
diz a Escritura, “aqueles três, como uma só boca, cantavam um hino, bendizendo
o Senhor”.
Oravam
com uma só boca e o Cristo ainda não os ensinara a orar. Por isso, tendo sido
bem acolhida pelo Senhor a oração pacífica, simples e espiritual, foi
proveitosa e eficaz a palavra dos que oravam.
Igualmente
assim encontramos os apóstolos e os discípulos do Senhor que oravam depois de
sua ascensão. “Todos eles”, diz [a Escritura], “perseveravam unânimes na
oração, em companhia das mulheres, de Maria, mãe de Jesus e dos irmãos dele”.
Perseveravam
unânimes na oração, mostrando a um tempo assiduidade e concórdia. E
Deus, que “faz habitar unânimes na
casa”, não admite na sua divina e eterna mansão senão aqueles cuja oração é
unânime.
O
que você deseja destacar no texto?
O
que ele serve para sua espiritualidade?
?