Catherine de
Hueck Doherty explica o que é uma Poustínia
Este assunto de
poustinia é tão importante para mim, que não me posso furtar ao desejo de
partilhálo com o leitor em tantos pormenores. Por isso passo a apresentar uma
ou duas dessas cartas escritas a membros ausentes de nossa comunidade. As
cartas fazem parte do desenvolvimento histórico dos poustinias em Madonna House
e testificam também que Deus, aos poucos, foi vestindo de carne e sangue aquilo
que eu guardava na mente e no coração como meras lembranças e saudades do meu
país. Eis uma das cartas:
“Um poustinia deve ser quase rude na sua
pobreza e simplicidade. Deve conter uma mesa e uma cadeira. Haja sempre uma
Bíblia sobre a mesa, juntamente com papel e lápis. O leito seja um catre com
simples tábuas em vez de colchão; mas não faltem dois cobertores ou colcha e um
travesseiro, se for necessário. Pode dar-se o caso em que não haja leito. Num
dos cantos do quarto ponha-se uma bacia e um jarro para higiene pessoal. Eis
tudo o que deve ser oferecido em questão de comodidade para dormir. Haverá água
para beber e um pão dividido em três pedaços: um para a manhã, outro para o
almoço e outro para o jantar. Se alguém não estiver acostumado a comer seu pão
apenas com água, pode haver utensílios necessários para fazer chá ou café. Uma
simples cruz de madeira, sem o Cristo, de dois metros de altura por um de
largura, deve estar pregada na parede, em lugar bem destacado... ...A cruz sem o Cristo é para lembrar o que
ela é para nós, pois os que amam apaixonadamente Jesus Cristo desejam ser
crucificados com ele a fim de chegarem às alegrias da Ressurreição. Isto é
suficiente para definir o aspecto externo do poustinia. Mas, evidentemente, há
outros aspectos mais importantes. O deserto é o símbolo da austeridade, pobreza
e simplicidade. É Deus quem leva a alma ao deserto e ela não pode permanecer aí
a não ser que seja alimentada por Deus. Eis porque aí se faz abstenção do
alimento material pelo jejum e, de certo modo, até de alimento espiritual que
possa vir 71 de outros livros que não a Bíblia. Nela está Deus como o alimento
fundamental. Gostaria de saber quais as reações de todos vocês a respeito
destes dois aspectos do poustinia. É provável que tenham manifestado boa dose
de curiosidade e, talvez, se tenham sentido envolvidos emocionalmente quando
estiveram naquela casa de campo para lavá-la e pintá-la. Esta reação emocional
é compreensível por tratar-se de uma ideia nova e realmente excitante, não só
do ponto de vista emocional como também espiritual. Permitam-me, porém, que os
previna: vocês poderão achar o deserto um lugar terrível, como aconteceu com
Cristo. Eu sei porque nele estive já muitas e muitas vezes. Não quer isto dizer
que se deva ter medo do poustinia; o temor de que falo é o que pode surgir
ocasionalmente e morar com vocês dentro da solidão. É o medo que todo homem
experimenta em sua alma, fruto da presença de Satanás que, mais ainda do que
qualquer um de nós, tem um verdadeiro pavor do poustinia! O medo é um tipo de
tentação. Não haja dúvida que, no principio, o simples fato de estar num
poustinia será uma novidade muito excitante. Mas quando se começa a repetir a
experiência, digamos uma vez por mês, então a coisa muda e um problema sério
começa a surgir dentro de vocês; um sofrimento que eu chamaria de "dor de
parto espiritual". Haverá, por vezes, um tremendo tédio, secura interior e
o tempo se arrastará numa lentidão irritante. Esta é uma das razões pela qual
não lhes será permitido passar mais de 24 horas no poustinia, numa primeira
experiência. Talvez uma licença especial do padre espiritual possa prolongar
esse tempo a 36 e até 48 horas. É indispensável que o "deserto" seja
um lugar de simplicidade total, como já deixei expresso. Portanto, nada de
cortinas, livros, quadros etc. A única exceção, quanto a quadros, é a imagem de
Nossa Senhora. Ninguém se iluda tampouco com a ideia de que o poustinia deva
estar sempre no campo: uma cabana feita de troncos, como as temos aqui em
Madonna House. Seria uma concepção falsa do poustinia, do "deserto"
que pode estar em qualquer parte uma vez que, fundamentalmente, ele está mais
dentro do que fora de nós. Como foi dito atrás, até um quarto vazio, na própria
casa em que se mora, pode preencher essa finalidade ou, quem sabe, até um
armário ou guarda-roupa bastante grande! Sem dúvida alguma, o poustinia vai desnudar
você. O Senhor do Deserto fará o mesmo. Como ele, você também será tentado;
mas, no fim, uma imensa serenidade transbordará de sua alma, a paz como
resultado da ordem interior vinda de Deus. Lembre-se de que você irá ao deserto
pelas seguintes razões:
para jejuar, para viver em silêncio,
para orar, de modo que você
possa morrer para si mesmo mais depressa, podendo assim comunicar Deus ao mundo também mais
rapidamente. Porque o mundo tem fome de Deus!
para oferecer reparação, tanto pelos
seus pecados como pelos pecados dos outros. para orar pela humanidade, pela paz,
pelas missões, pela união dos cristãos, mesmo dentro da própria Igreja...
para tornar-se
santo, isto é: amante de Jesus Cristo, em verdade, e pelo testemunho das obras.
para imitar
Jesus Cristo,
para salvar sua
alma e a dos seus irmãos,
para aprender
mais rapidamente a entrega total a Deus, porque já o fizemos esperar demais!
Tenham todos estes pontos ante os olhos, meus queridos, e preparem seus
corações para essa jornada em demanda de um deserto em que vocês morrerão por
Cristo e em Cristo a fim de ressuscitarem com ele.”
Título original:
Poustinia: Christian Spirituality of the East for Western Man Catherine de
Hueck Doherty (antes de casar-se: Kolyschkine) Ave Maria Press, Notre Dame,
Indiana, USA 1975 - Deserto Vivo:
Poustínia Edições Loyola, São Paulo, SP, Brasil 1989 Tradução: Héber Salvador
de Lima, S.J. PP 69-73
São numerosas as
histórias, e além disso todas concordes, que os monges transmitiram sobre
muitas outras coisas semelhantes operadas por ele. E no entanto não parecem tão
maravilhosas como outras ainda mais maravilhosas.
Uma vez, por
exemplo, à hora de noa (três horas da tarde), quando se pôs de pé para orar
antes de comer, sentiu-se transportado em espírito e, estranho é dizê-lo,
viu-se a si mesmo como se achasse fora de si mesmo e como se outros seres o
levassem aos ares.
Então viu também
outros seres terríveis e abomináveis no ar, que lhe embargavam o passo. Como
seus guias oferecessem resistência, os outros perguntaram sob que pretexto
queria fugir de sua responsabilidade diante deles.
E quando
começaram eles próprios a pedir-lhe contas desde seu nascimento, intervieram os
guias de
Antão: "Tudo o que date desde o seu
nascimento o Senhor apagou; podem pedir-lhe contas desde que começou a ser monge
e se consagrou a Deus”.
Então começaram
a apresentar acusações falsas e como não as puderam provar, tiveram de
deixar-lhe livre a passagem. Imediatamente viu-se a si mesmo aproximando-se -
ao menos assim lhe pareceu - e juntando-se a si mesmo, e assim Antão voltou de
novo à realidade.
Esquecendo-se
então de comer, passou todo o resto do dia e toda a noite suspirando e orando.
Estava abismado de ver contra quantos inimigos devemos lutar e que trabalhos se
tem para abrir passagem pelos ares.
Lembrou-se de que
é isto o que diz o apóstolo: "de acordo com o príncipe das potências do
ar" (Ef 2.2). Aí está precisamente o poder do inimigo que peleja e trata
de deter os que intentam passar. Por isto o mesmo apóstolo dá também sua
especial advertência: "Tomem a armadura de Deus que os faça capazes de
resistir no dia mau" (Ef 6.13), e "nada tendo que dizer contra nós, fique
envergonhado (Tito 2.8). E nós que aprendemos isto, recordemos o que o mesmo
apóstolo diz: "Se fui levado em meu corpo ou fora dele, não
sei; Deus o sabe" (2 Cor 12.2).
Paulo, porém, foi levado ao terceiro céu e ouviu "palavras inefáveis"
(2 Cor 12.2,4), e voltou, enquanto Antão viu-se a si mesmo entrando nos ares e
lutando até que ficou livre.
Noutra ocasião
teve o seguinte favor de Deus: Quando sozinho na montanha e refletindo, não
podia encontrar solução alguma, a Providência lha revelava em resposta à sua
oração; o santo varão era ensinado por Deus com palavras da Escritura (cf Is 54.13;
Jo 6.45; 1 Ts 4.9).
Assim
favorecido, teve uma vez discussão com alguns visitantes sobre a vida da alma e
que lugar teria depois desta vida.
Na noite
seguinte chegou-lhe um chamado do alto: "Antão, sai para fora e
veja!" Ele saiu, pois distinguia os chamados que devia atender, e olhando
para o alto viu uma enorme figura, espantosa e repugnante, de pé, que alcançava
as nuvens; viu além disto certos seres que subiam como com asas.
A primeira
figura estendia as mãos e alguns dos seres eram detidos por ela, enquanto
outros voavam sobre ela, e havendo-a ultrapassado, continuavam sem maior
incômodo.
Contra eles o
monstro rangia os dentes, alegrando-se porém pelos outros que haviam caído.
Nesse momento uma voz dirigiu-se a Antão: "Compreende a visão!" (cf
Dn 9.23). Abriu-se seu entendimento (cf Lc 24.45) e apercebeu-se de que isso
era a passagem das almas e de que o monstro que ali estava era o inimigo, o invejoso
dos crentes. Sujeitava os que lhe correspondiam e não os deixava passar; mas os
que ele não tinha podido dominar, tinha que deixá-los passar fora de seu alcance.
Tendo visto
isso, e tomando-o como advertência, lutou ainda mais para adiantar cada dia na
direção do que o esperava. Não tinha nenhuma inclinação para falar acerca
destas coisas. Quando, porém, havia passado muito tempo em oração e absorto em
toda essa maravilha, e seus companheiros insistiam e o importunavam para que
falasse, era forçado a fazê-lo.
Como pai não
podia guardar um segredo ante seus filhos. Sentia que sua própria consciência
era limpa e que contar-lhes isto poderia servir-lhes de ajuda. Conheceriam o
bom fruto da vida ascética, e que muitas vezes as visões são concedidas como
compensação pelas privações.
2
- Devoção de Antão aos Ministros da Igreja – Equanimidade (moderação) de seu caráter
Era paciente por
disposição e humilde de coração. Sendo homem de tanta fama, mostrava, no
entanto, o mais profundo respeito aos ministros da Igreja, e exigia que a todo
clérigo se desse maior honra do que a ele.
Não se
envergonhava de inclinar a cabeça diante de bispos e de sacerdotes.
Se algum diácono
chegava a ele pedindo-lhe ajuda, conversava com ele o que lhe fosse proveitoso,
mas, chegando a oração, pedia-lhe que presidisse, não se envergonhando de
aprender.
De fato, muitas
vezes propôs questões inquirindo os pontos de vista de seus companheiros, e se
tirava proveito do que dizia o outro, mostrava-se grato.
Seu rosto tinha
grande e indescritível encanto. E o Salvador lhe tinha dado por acréscimo este
dom: se se achava presente numa reunião de monges e algum a quem não conhecia
desejava vê-lo, esse tal, ao chegar, passava por alto os demais, como que
atraído por seus olhos.
Não eram nem sua
estatura nem sua figura que o destacavam entre os demais, mas seu caráter
sossegado e a pureza de sua alma.
Ela era
imperturbável e assim sua aparência externa era tranquila ("apátheia"). O gozo de sua alma transparecia na
alegria de seu rosto, e pela forma de expressão de seu corpo se sabia e
conhecia a estabilidade de sua alma, como o diz a Escritura: "O coração
contente alegra o semblante, o coração triste deprime o espírito" (Pv 15.13).
Também Jacó
observou que Labão estava tramando algo contra ele e disse a suas mulheres:
"Vejo que o pai de vocês não me olha com bons olhos" (Gn 31.5).
Também Samuel reconheceu Davi porque tinha olhos que irradiavam alegria e
dentes brancos como o leite (cf 1 Sm 16.12; cf tb.Gn 49.2). Assim também era reconhecido
Antão: nunca estava agitado, pois sua alma estava em paz; nunca estava triste
porque havia alegria em sua alma.
3
- Por lealdade à fé Antão intervém na luta anti-ariana
Em assuntos de
fé, sua devoção era sumamente admirável. Por exemplo, nunca se relacionou com
os cismáticos melecianos, sabedor desde o começo de sua maldade e apostasia.
(Melécio, bispo de Licópolis no Egito
(c. 325). Melécio propugna uma atitude severa com os "lapsi" ou
cristãos apóstatas da perseguição. Deportado, em seu regresso organizam no
Egito uma hierarquia cismática. Posteriormente o Concílio de Nicéia tomou
medidas contra ele. Esses melecianos uniram-se aos arianos, destacando em sua
luta contra Atanásio).
Tampouco
teve trato amistoso com os maniqueus (heresia
gnóstica, assim chamada por seu fundador Mani -aproximadamente entre 216 e 275. Esta heresia durou até a Idade Média). nem com outros
hereges, à exceção unicamente das
admoestações que lhes fazia para que
voltassem à verdadeira fé.
Pensava e ensinava
que amizade e associação com eles prejudicavam e arruinavam a
alma. Detestava
também a heresia dos arianos (Toma seu nome
de Ario, líbio, nascido na segunda metade do séc. III, e era presbítero de
Alexandria. Talvez tenha pertencido ao cisma meleciano (ver nota 67). Até 318
opõe-se violentamente a seu bispo, Alexandre de Alexandria num ponto da
teologia trinitária: defende o subordinacianismo ontológico do Verbo. A controvérsia
ariana, que comoveu toda a
cristandade e que alcançou por vezes contornos
violentíssimos, ocupou toda a vida de Atanásio, desde quando diácono de
Alexandria),
e exortava a todos a não se acercarem deles nem compartilhar de sua perversa
crença.
Uma
vez quando alguns desses ímpios arianos chegaram a ele, interrogou-os detalhadamente;
e ao aperceber-se de sua ímpia fé, expulsou-os da montanha, dizendo que suas
palavras eram piores que veneno de serpentes.
Quando
numa ocasião os arianos espalharam a mentira de que partilhava de suas
opiniões, demonstrou que estava enojado e irritado contra eles. Respondendo ao
chamado dos bispos e de todos os irmãos, desceu a montanha e entrando em
Alexandria denunciou os arianos.
Dizia
que sua heresia era a pior de todas e precursora do anticristo. Ensinava ao povo
que o Filho de Deus não é uma criatura nem veio "da não existência" ao
ser, mas "é Ele a eterna Palavra e Sabedoria da substância do Pai".
Por
isso é ímpio dizer: 'houve um tempo em que não existia', pois a Palavra foi sempre
coexistente com o Pai. Por isso, não se metam em nada com estes arianos
sumamente ímpios: simplesmente 'não há comunidade entre a luz e as trevas' (2
Cor 6.14).
Vocês
devem se lembrar de que são cristãos tementes a Deus, mas eles ao dizerem que o
Filho e Palavra de Deus é uma criatura, não se diferenciam dos pagãos 'que
adoram a criatura em lugar de Deus Criador' (Rm 1.25). E estejam seguros de que
toda a criação está irritada contra eles, porque contam entre as coisas criadas
o Criador e Senhor de tudo, pelo qual todas as coisas foram criadas" (cf
Gl 1.16).
Todo
o povo se alegrava ao ouvir semelhante homem anatematizar a heresia que lutava
contra Cristo. Toda a cidade corria para ver Antão.
Também
os pagãos e inclusive seus assim chamados sacerdotes iam à Igreja dizendo:
"Vamos ver o homem de Deus", pois assim o chamavam todos.
Além
disso, também ali o Senhor operou por seu intermédio expulsões de demônios e
curas de doenças mentais.
Muitos
pagãos queriam também tocar o ancião, confiando em que seriam auxiliados, e em
verdade houve tantas conversões nesses poucos dias como não tinham sido vistas
em todo um ano.
Alguns
pensaram que a multidão o incomodava e por isso trataram de afastar todos dele,
mas ele, sem se molestar, disse: "Toda essa gente não é mais numerosa do
que os demônios contra os quais temos que lutar na montanha".
Quando
se ia e estávamos nos despedindo dele, ao chegar à porta, uma mulher atrás de
nós gritava: "Espera, homem de Deus, minha filha está sendo terrivelmente
atormentada por um demônio! Espera, por favor, ou vou morrer, correndo!"
O
ancião ouviu-a, rogamos-lhe que se detivesse e ele acedeu com gosto. Quando a
mulher se aproximou, sua filha estava arrojada ao chão. Antão orou e invocou
sobre ela o nome de Cristo; a moça levantou-se sã e o espírito impuro a deixou.
A mãe louvou a Deus e todos renderam graças. E ele também contente partiu para
a Montanha, para o seu próprio lar.
1.Depois
de alguns dias voltou à sua montanha. Desde então muitos foram visitá-lo, entre
eles muitos cheios de aflição, que arriscavam a viagem até ele.
2.Para
todos os monges que chegavam até ele, tinha sempre o mesmo conselho: pôr sua
confiança no Senhor e amá-lo, guardar-se a si mesmo dos maus pensamentos e dos
prazeres da carne, e não ser seduzidos por um estômago cheio, como está escrito
nos Provérbios (Pv 24.15).
3.Deviam
fugir da vanglória e orar continuamente; cantar salmos antes e depois do sono; guardar
no coração os mandamentos impostos nas Escrituras e recordar os feitos dos
santos, de modo que a alma, ao recordar os mandamentos, possa inflamar-se ante
o exemplo de seu zelo.
4.Aconselhava-os
sobretudo recordar sempre a palavra do Apóstolo: "Que o sol não se ponha
sobre vossa ira" (Ef 4.26), e a considerar estas palavras como ditas em
relação a todos os mandamentos: o sol não se deve pôr não apenas sobre nossa
ira, como sobre nenhum outro pecado.
5.É
inteiramente necessário que o sol não nos condene por nenhum pecado de dia, nem
a lua por nenhuma falta noturna (inclusive o mau pensamento).
6.Para
assegurar-nos disso, é bom ouvir e guardar o que diz o apóstolo: "Julguem-se
e provem-se a si mesmos" (2 Cor 13.5). Por isso, cada um deve fazer
diariamente um exame do que fez de dia e de noite; se pecou, deixe de pecar; se
não pecou, não se orgulhe disso.
7.Persevere
antes na prática do bem e não deixe de estar em guarda. Não julgue o próximo
nem se declare justo a si mesmo, como diz o santo apóstolo Paulo , "até
que venha o Senhor e traga à luz o que está escondido" (1 Cor 4.5; Rm 2.16).
8.Muitas
vezes não temos consciência do que fazemos; nós não o sabemos, mas o Senhor
conhece tudo. Por isso, deixando a Ele o julgamento, compadeçamo-nos mutuamente
e "levemos as cargas uns dos outros" (Gl 6.2).
9.Julguemo-nos
a nós mesmos e, se nos vemos diminuídos, esforcemo-nos com toda a seriedade por
reparar nossa deficiência. Que esta observação seja nossa salvaguarda contra o
pecado: anotemos nossos atos e impulsos da alma como se tivéssemos de informar
a outro: podem estar seguros de que de pura vergonha de que isto seja
conhecido, deixaremos de pecar e de prosseguir com pensamentos pecaminosos.
10.Quem gosta que o
vejam pecando? Quem, depois de pecar, não preferiria mentir, esperando escapar assim
de que o descubram? Assim como não quiséramos abandonar-nos ao prazer à vista
de outros, assim também se tivéssemos de escrever nossos pensamentos para
dizê-los a outro, muito nos guardaríamos de maus pensamentos, por vergonha que
alguém os soubesse.
11.Que essa
informação escrita seja, pois, como os olhos de nossos irmãos ascetas, de modo
que, ao nos envergonharmos de escrever como se nos estivessem vendo, jamais nos
demos ao mal.
12.Modelando-nos
desta maneira, seremos capazes de "levar nossos corpos a
obedecer-nos" (1 Co 9.27), para agradar ao Senhor e calcar aos pés as
maquinações do inimigo".
7
- Milagres no deserto
13.Estes eram os
conselhos a seus visitantes. Com os que sofriam unia-se em simpatia e oração, e
amiúde e em muitos e variados casos, o Senhor ouviu sua oração. Nunca, porém,
se jactou quando atendido, nem se queixou não o sendo. Sempre deu graças ao
Senhor, e animava os que sofriam a ter paciência e a se aperceberem de que a
cura não era prerrogativa dele nem de ninguém, mas de Deus só, que a opera
quando quer e a favor de quem Ele quer.
14.Os que sofriam
ficavam satisfeitos, recebendo as palavras do ancião como cura, pois aprendiam
a ter paciência e a suportar o sofrimento. E os que eram curados aprendiam a
dar graças, não a Antão, mas a Deus só.
15.Havia, por
exemplo, um homem chamado Frontão, oriundo de Palatium (Havia duas cidades com esse nome na antiga Itália, mas como a
palavra significa também "corte, palácio", sugere-se que este homem,
quanto aos demais desconhecidos, era um oficial, ou empregado romano a serviço
do prefeito romano de Alexandria). Tinha uma enfermidade horrível: mordia
continuamente a língua e sua vista ia se encurtando.
16.Chegou à
montanha e pediu a Antão que rogasse por ele. Orou e disse logo a Frontão:
"Vai-te, vais ser curado". Ele porém, insistiu e ficou durante dias,
enquanto Antão prosseguia dizendo-lhe: "Não ficarás curado enquanto
ficares aqui. Vai-te, e quando chegares ao Egito, verás em ti o milagre".
17.O homem
consentiu afinal e foi-se; e ao chegar à vista do Egito, sua enfermidade
desapareceu. Sarou segundo as instruções que Antão havia recebido do Senhor
enquanto orava.
18.Uma menina de
Busiris em Trípoli (Trípoli situa-se na costa da Líbia, região
ocidental, próximo da fronteira com a Tunísia) padecia de uma
enfermidade terrível e repugnante: uma supuração nos olhos, nariz e ouvidos
transformava-se em vermes quando caía no chão. Além disso tinha o corpo
paralisado e seus olhos eram defeituosos. Seus pais ouviram falar de Antão por
alguns monges que iam vê-lo, e tendo fé no Senhor que curou a hemorragia (Mt 9.20),
pediram-lhes licença para irem também com sua filha, e eles consentiram.
19.Os pais e a
menina ficaram ao pé da montanha com Pafnúcio, o confessor e monge. (trata-se do bispo Pafnúcio da Alta Tebaiba, martirizado sob
Maximino. Participou no Concílio de Nicéia, com grandes honras. O Martirológio
Romano menciona-os no dia4 de setembro)
20.Os
demais subiram, e quando se dispunham a falar-lhe da menina, ele adiantou-se e
lhes falou tudo sobre os sofrimentos dela, e de como havia feito com eles a
viagem. Então, quando lhe perguntaram se essa gente podia subir, não lhes
permitiu e disse: "Podem ir e, se não morreu, vão encontrá-la sã. Não é
certamente nenhum mérito meu que ela tenha querido vir a um infeliz como eu;
não, em verdade, sua cura é obra do Salvador que mostra sua misericórdia em
todo lugar aos que o invocam.
21.Neste caso o
Senhor ouviu sua oração, e Seu amor pelos homens me revelou que curará a
enfermidade da menina onde ela está". Em todo caso o milagre se realizou:
quando desceram, encontraram os pais felizes e a menina em perfeita saúde.
22.Sucedeu também
que quando dois dos irmãos estavam em viagem para vê-lo, acabou-se-lhes a água;
um morreu e o outro estava a ponto de morrer.
23.Já não tinha
forças para andar, mas jazia no chão esperando também a morte. Sentado na
montanha, Antão chamou dois monges que casualmente estavam ali e os compeliu a
se apresarem: "Tomem um jarro d'água e corram descendo pelo caminho do
Egito; vinham dois, um acaba de morrer e o outro também morrerá se vocês não se
apressarem.
24.Foi-me revelado
isto agora na oração". Foram-se os monges, acharam um morto e o
enterraram. Ao outro fizeram-no reviver com água e o levaram ao ancião. A
distância era de um dia de viagem.
25.Agora, se alguém
pergunta porque não falou antes de morrer o outro, sua pergunta é
injustificada. O decreto de morte não passou por Antão, mas por Deus que a
determinou para um, enquanto revelava a condição do outro.
26.Quanto a Antão,
o admirável é que, enquanto estava na montanha com seu coração tranquilo,
mostrou-lhe o Senhor coisas distantes.
27.Noutra ocasião
em que estava sentado na montanha, olhando para cima viu no ar alguém levado
para o alto entre grande regozijo de outros que lhe saíam ao encontro.
Admirando-se de tão grande multidão e pensando quão felizes eram, orou para
saber quem podia ser este.
28.De
repente uma voz se dirigiu a ele dizendo-lhe que era a alma do monge Amón de Nitria,
que levou vida ascética até idade avançada. (Amón morou nodeserto de Nitria vinte anos, até sua norte. Consta que em
fins do século IV, haveria no deserto de Nítria uns cinco mil discípulos dele).
29.Pois
bem, a distância de Nitria à montanha onde Antão estava era de treze dias de
viagem. Os que estavam com Antão, vendo o ancião tão extasiado, perguntaram-lhe
o motivo e ele lhes contou que Amón acabava de morrer.
30.Este era bem
conhecido pois vinha aí amiúde e muitos milagres foram operados por seu
intermédio. Segue um exemplo. Uma vez tinha que atravessar o chamado rio Lycus
na estação das cheias; pediu a Teodoro que se adiantasse para que não se vissem
nus um ao outro enquanto atravessavam o rio a nado.
31.Então, quando
Teodoro se foi, ele sentiu-se entretanto envergonhado por ter que se ver ele
mesmo nu. Enquanto estava assim desconcertado e refletindo, foi de repente
transportado à outra margem. Teodoro, também, homem piedoso, saiu da água, e ao
ver que o outro chegara antes dele sem se haver molhado, perguntou-lhe como atravessara.
Quando viu que não o queria contar, agarrou-se a seus pés, insistindo em que
não o soltaria até que lhe dissesse.
32.Notando a determinação
de Teodoro, especialmente depois do que lhe disse, insistiu por sua vez para
que não o dissesse a ninguém antes de sua morte, e assim lhe revelou ter sido
levado e depositado na margem; que não havia caminhado sobre as águas, uma vez
que isto só é possível ao Senhor e àqueles aos quais Ele o permite, como o fez
no caso do grande apóstolo Pedro (Mt 14.19). Teodoro relatou isto depois da
morte de Amón.
33.Os monges aos
quais Antão falou sobre a morte de Amón anotaram o dia e quando, um mês depois,
os irmãos voltaram de Nítria, perguntaram e souberam que Amón havia dormido no
mesmo dia e hora em que Antão viu sua alma levada para o alto.
34.E tanto eles
como os outros ficaram estupefatos ante a pureza de alma de Antão, que podia
saber imediatamente o que se passara treze dias antes, e que era capaz de ver a
alma levada para o alto.
35.Noutra ocasião,
o conde Arqueláo (Trata-se talvez do alto oficial que
ajudou Santo Atanásio no Sínodo de Tiro do ano 335, a por a
36.descoberto algumas das maquinações de eusebianos e
melecianos)
o encontrou na Montanha Exterior e pediu-lhe somente que orasse por Policrácia,
a admirável virgem de Laodicéia, portadora de Cristo (Christóforos). Sofria muito do estômago e das costas devido à sua
excessiva austeridade, o seu corpo estava reduzido a grande debilidade.
37.Antão orou e o
conde anotou o dia dessa oração. Ao voltar a Laodicéia encontrou curada a
virgem. Perguntado quando se havia visto livre de sua debilidade, tirou o papel
onde anotara a hora da oração. Quando lhe responderam, imediatamente mostrou a
sua anotação no papel, e todos se maravilharam ao reconhecer que o Senhor a
havia curado de sua doença no próprio momento em que Antão estava orando e
invocando a bondade do Salvador em seu auxílio.
38.Quanto a seus
visitantes, predizia frequentemente sua vinda, dias e às vezes um mês antes,
indicando o motivo da visita. Alguns vinham só para vê-lo, outros devido a
enfermidades, e outros, atormentados pelos demônios.
39.E ninguém
considerava viagem demasiado molesta ou que fosse tempo perdido; cada um
voltava sentindo que fora ajudado. Ainda que Antão tivesse esses poderes de
palavra e visão, no entanto suplicava que ninguém o admirasse por essa razão,
mas admirasse antes ao Senhor porque Ele nos ouve a nós, que somos apenas
homens, a fim de que possamos conhecê-lo melhor.
40.Noutra ocasião
havia descido de novo para visitar as celas exteriores. Quando convidado a
subir a um barco e orar com os monges, só ele percebeu um mau cheiro horrível e
sumamente penetrante. A tripulação disse que havia a bordo pescado e alimento
salgado e que o cheiro vinha disso, mas ele insistiu que o odor era diferente.
41.Enquanto estava
falando, um jovem que tinha um demônio e subira a bordo pouco antes como clandestino,
soltou de repente um guincho. Repreendido em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
foi-se o demônio, e o homem voltou à normalidade; todos então se aperceberam de
que o mau cheiro vinha do demônio.
42.Outra vez um homem
de posição foi a ele, possuído por um demônio. Neste caso o demônio era tão
terrível que o possesso não estava consciente de que ia a Antão. Chegava mesmo
a devorar seus próprios excrementos.
43.O homem que o
levou a Antão rogou-lhe que orasse por ele. Compadecido pelo jovem, Antão orou
e passou com ele toda a noite. Ao amanhecer, o jovem lançou-se de repente sobre
Antão, empurrando-o.
44.Seus companheiros
indignaram-se diante disso, mas Antão acalmou-os, dizendo: "Não se
aborreçam com o jovem, pois não é ele o responsável, e sim o demônio que nele
está”. Ao ser increpado (repreendido) e mandado a lugares desertos (Lc 11.24),
ficou furioso e fez isto.
45.“Deem graças ao
Senhor, pois o atacar-me deste modo é um sinal da partida do demônio". E
enquanto Antão dizia isto, o jovem voltou a seu estado normal; deu-se conta de
onde estava, abraçou o ancião e deu graças a Deus.
1.Quando
se viu acossado por muitos e impedido de retirar-se como era seu propósito e
seu desejo, e inquieto pelo que o Senhor estava operando por intermédio dele,
pois podia transformar-se em presunção, ou poderia alguém estimá-lo mais do que
convinha, refletiu e foi-se para a Alta Tebaida, a um povo que o desconhecia.
2.Recebeu
pão dos irmãos e sentou-se à margem do rio, esperando ver um barco que passasse
e no qual pudesse partir.
3.Enquanto
estava assim esperando, ouviu-se uma voz do alto: "Antão, aonde vais e por
que?"Não se desorientou, mas,
ouvindo outras vezes tais palavras, contestou: "Já que as multidões não me
permitem estar só, quero ir para a Alta Tebaida, porque são muitos os incômodos
a que estou sujeito aqui, e sobretudo porque me pedem coisas para além de meu
poder".
4."Se
sobes à Tebaida", disse a voz "ou se, como também pensaste, desces à
Bucolia (Trata-se de um distrito pantanoso no delta do Nilo, habitado por
pastores), terás mais, sim, o duplo de incômodos a suportar. Mas se realmente
queres estar contigo mesmo, então vai-te ao deserto interior".
5."Mas,
disse Antão, quem me mostrará o caminho? Eu não o conheço". De repente
chamaram-se a atenção uns sarracenos que estavam a tomar aquele caminho.
Aproximando-se, Antão lhes pediu para ir com eles ao deserto.Como por ordem da Providência, deram-lhe as
boas-vindas. E viajou com eles três dias e três noites e chegou a uma montanha
muito alta, tendo ao pé uma água clara como cristal e muito fresca.
6.Estendendo-se
dali havia uma planície e algumas tamareiras. Como inspirado por Deus, Antão
ficou encantado com o lugar porque foi isto o que quis dizer quem falou com ele
à margem do Rio (Trata-se do monte Colzim, em pleno
deserto na planície de Qalala do sul, aproximadamente 180 km a sueste de
Alexandria, entre o Nilo e o Mar Vermelho, a 334 Km do Cairo. A montanha com o
antigo mosteiro de Santo Antão é chamada de Deir Mar Antonios).
7.Começou
por conseguir uns pães de seus companheiros de viagem e ficou sozinho na
montanha, sem companhia alguma. Daí em diante olhou esse lugar como se houvera
encontrado seu próprio lar.
8.Quanto
aos sarracenos, notando o entusiasmo de Antão, fizeram do lugar um ponto em
suas travessias, e estavam contentes de levar-lhe pão. Também as tamareiras lhe
davam uma pequena e frugal mudança de dieta.
9.Mas
tarde os irmãos, inteirando-se do lugar, como filhos preocupados por seu pai,
engenharam-se para enviar-lhe pão. No entanto, vendo Antão que o pão lhes
causava incômodo, pois tinham de aumentar o trabalho que já suportavam, e querendo
demonstrar consideração aos monges também nisso, refletiu sobre o assunto e
pediu a alguns de seus visitantes que lhe trouxessem um enxadão e um machado e
alguns grãos.
10.Quando o
trouxeram, ele foi ao terreno junto da montanha, e encontrando um pedaço
adequado, com abundante provisão de água vertente, cultivou-o e semeou. Assim o
fez cada ano e conseguia seu pão.
11.Estava feliz,
pois com isto não era molesto a ninguém e em tudo tratava de não ser carga para
os outros.
12.Mais tarde,
porém, vendo que de novo chegava gente para vê-lo, começou a cultivar também
algumas hortaliças, a fim de que seus visitantes tivessem algo mais para
restaurar suas forças depois de tão cansativa e pesada viagem.
13.No começo, os
animais do deserto que vinham beber água danificavam as plantações de sua
horta. Pegou então um deles, reteve-o suavemente e disse a todos: "Por que
me prejudicam se não lhes faço nada a nenhum de vocês? Retirem, e em nome do
Senhor não se aproximem outra vez destas coisas!" E desde então, como
atemorizados com essas ordens, lá não voltaram mais.
4
- De novo, os demônios
1.Assim
esteve sozinho na Montanha Interior, dando seu tempo à oração e à prática da
vida ascética.
2.Os
irmãos que foram em sua busca rogaram-lhe que lhes permitisse ir cada mês e
levar-lhe azeitonas, legumes e azeite, pois agora já era ancião.
3.De
seus visitantes soubemos quantos combates teve de suportar enquanto viveu ali, "não
contra carne e sangue", como está escrito (Ef ,12), mas em luta com os
demônios.
4.Também
ali ouviram tumultos e muitas vozes e clamor como de armas. À noite viram a
montanha encher-se de vida com animais selvagens. Viram-no também lutando como
com inimigos visíveis, e orando contra eles.
5.A
um que o visitou falou-lhe palavras de alento enquanto ele próprio mantinha-se
firme na contenda, de joelhos e orando ao Senhor.
6.Era
realmente notável que, sozinho como estava nesse despovoado, nunca desmaiasse
ante os ataques dos demônios, nem tampouco com todos os animais e répteis que
havia, tivesse medo de sua ferocidade.
7.Como
está na Escritura, ele realmente "confiava no Senhor como o monte Sião (Sl
125.1), com ânimo inquebrantável e intrépido.
8.Assim
os demônios antes fugiam dele, e os animais selvagens fizeram paz com ele, como
está escrito (Jó 5,23).
9.O
mau pôs estreita guarda sobre Antão e rangeu os dentes contra ele, como o disse
Davi no salmo (Sl 35.16), mas Antão foi animado pelo Salvador, não sendo danificado
por essa vilania e sutil estratégia.
10.Enviou-lhe animais
selvagens enquanto estava em suas vigílias noturnas, e em plena noite todas as
hienas do deserto sairam de suas tocas e o rodearam. Tendo-o no centro, abriam
suas fauces e ameaçavam mordê-lo.
11.Ele, porém, conhecendo
bem as manhas do inimigo, disse-lhes: "Se receberam poder para fazer isto
contra mim, estou disposto a ser devorado; mas se foram enviados pelos
demônios, saiam imediatamente porque sou servidor de Cristo". Enquanto
Antão dizia isto, fugiram como açoitados pelo chicote dessa palavra.
12.Poucos dias
depois, enquanto estava trabalhando - porque o trabalho sempre era parte de seu
propósito - alguém chegou à porta e puxou a corda com que trabalhava (estava
fazendo cestos que dava a seus visitantes em troca do que lhe traziam).
13.Levantou-se e
viu um monstro que parecia homem até as coxas, mas com pernas e pés de asno.
Antão fez simplesmente o sinal da cruz e disse: "Sou servidor de Cristo.
Se foste enviado contra mim, aqui estou".
14.O monstro porém
com seus demônios fugiu tão rápido que sua própria rapidez o fez cair e morreu.
A morte do monstro veio a significar o fracasso dos demônios: fizeram o que
puderam para que saísse do deserto e não o conseguiram.
5
- Antão visita os irmãos ao longo do Nilo
15.Um vez os monges
pediram-lhe que voltasse para eles e passasse algum tempo visitando-os e a seus
estabelecimentos. Fez a viagem com os monges que vieram a seu encontro.
16.Um camelo ia
carregado com pão e água, já que em todo esse deserto não havia água, e a única
potável estava na montanha de onde haviam saído e onde estava sua cela.
17.Indo a caminho,
acabou-se a água, e estavam todos em perigo quando o calor era mais intenso.
Andaram buscando e voltaram sem a encontrar.
18.Estavam por
demais fracos para poderem caminhar. Lançaram-se ao chão e deixaram partir o
camelo, entregando-se ao desespero.
19.Vendo o perigo
em que todos estavam, o ancião encheu-se de aflição. Suspirando profundamente,
apartou-se um pouco deles. Ajoelhou-se, estendeu as mãos e orou. E de repente o
Senhor fez brotar uma fonte no lugar onde estava orando, e todos puderam beber
e refrescar-se.
20.Encheram os
odres e puseram-se a buscar o camelo até que o encontraram: sucedeu que o
cordel se embaraçara numa pedra e ficara preso. Levaram-no a beber e carregando-o
com os odres concluíram sua viagem sem mais prejuízos ou acidentes.
21.Ao chegar às
celas exteriores, todos lhe deram cordiais boas-vindas, olhando-o como a um
pai. Por seu lado, como trazendo-lhes provisões de sua montanha, ele os entretinha
com suas narrações e lhes comunicava sua experiência prática.
22.E de novo houve
alegria nas montanhas e anelos de progresso, e de consolo que vem de uma fé
comum (cf Rm 1,12).
23.Também se
alegrou ao contemplar o zelo dos monges, e ao ver sua irmã que havia envelhecido
em sua vida de virgindade, sendo ela mesma guia espiritual de outras virgens.