domingo, 27 de março de 2022

Estudo 197 - Hilário de Poitiers (315-368) - O Tratado da Santíssima Trindade - Livro Segundo (Capítulos 1 - 5)

 


197

Hilário de Poitiers (315-368)

O Tratado da Santíssima Trindade

Livro Segundo (Capítulos 1 - 5)

LIVRO SEGUNDO

Capítulo 1.

1.      Para os fiéis, bastaria a palavra de Deus que chegou a nossos ouvidos pelo testemunho do Evangelista, com a força de sua verdade, quando o Senhor disse: Ide, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos mandei; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28,19-20).

2.      Pois, o que não está contido neste testemunho a respeito do mistério da salvação humana? Ou, o que falta nele ou é obscuro? Tudo é pleno, vindo do que é Pleno, perfeito, do que é Perfeito.

3.      O significado das palavras, a eficácia do ato, a ordem do conteúdo e a compreensão da natureza aqui se encontram.

4.      Ordenou batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, isto é, na confissão do Autor, do Unigênito e do Dom.

5.      O autor de tudo é um só. Pois há um só Deus, o Pai, de quem tudo procede, e um só Senhor nosso, Unigênito, Jesus Cristo, por quem tudo existe, e um só Espírito, dom em tudo (cf. 1Cor 8,6; Ef 4,4).

6.      Todas as coisas estão ordenadas por suas virtudes e méritos: um poder, do qual tudo procede; um único Filho, por quem tudo foi feito; um só dom da perfeita esperança.

7.      Em tão grande perfeição absolutamente nada falta, pois nela há, no Pai, no Filho e no Espírito Santo, o infinito no eterno, a beleza na imagem, a intimidade no dom.

 

Capítulo 2.

8.      Somos obrigados, pelos erros dos hereges e blasfemadores, a tratar de coisas ilícitas, escalar cumes perigosos, falar do que é inefável e ousar o que é proibido.

9.      Quando somente com a fé deveríamos cumprir seus preceitos, isto é, adorar o Pai e, com Ele, venerar o Filho e enriquecer-nos com o Espírito Santo, somos forçados, com a fraqueza de nossa palavra, a estender-nos até as coisas inenarráveis e, pelo erro alheio, juntar-nos ao erro, de modo que aquilo que seria necessário guardar com respeito nas mentes, agora seja exposto, não sem perigo, por meio de palavras humanas.

 

Capítulo 3.

10.  Muitos receberam a simplicidade das palavras celestes em conformidade com a própria vontade, não de acordo com o que pedia sua força expressiva.

11.  Pois a heresia nasce da interpretação errônea, não da Escritura. O erro está no sentido imposto, não na palavra.

12.  Acaso pode a verdade ser corrompida? Quando se ouve a palavra Pai, a natureza do Filho não está contida no nome? Não será o Espírito Santo Aquele que recebe este nome? O Pai não pode deixar de ser Pai porque é Pai. O Filho não deixa de ser Filho, porque é Filho, e o Espírito Santo é Aquele que é recebido.

13.  Porém, homens de mente perversa tudo confundem e complicam. Com sua perversidade mudam a natureza para fazer com que o Pai não seja Pai, fazendo com que o Filho não seja Filho, quando afirmam que o Filho não é Filho por natureza, pois não se é filho quando a natureza não é a mesma no que gera e no que nasce. Não é filho o que tem uma natureza diferente da do pai. E como o Pai seria Pai se não tivesse gerado o Filho de sua mesma substância e natureza?

 

Capítulo 4.

14.  Não podem de modo algum mudar a realidade das coisas, porém introduzem novas doutrinas e invenções humanas.

15.  Sabélio diz que o Pai se estende ao Filho e que diferem antes pelo nome que pela realidade. Afirma que o Filho é o mesmo Pai.

16.  Ebion atribui somente a Maria a origem do Filho. Para ele, Deus procede do homem, e não o homem de Deus. A Virgem não recebeu em seu seio Aquele que subsistia antes dos séculos, porque era Deus e no princípio estava junto de Deus, mas gerou a carne pelo verbo, pois afirma que a palavra verbo não significa a natureza de Deus Unigênito que já existia, mas sim o som da palavra proferida.

17.  Outros pregadores deste tempo dizem que procede do nada e do tempo a forma, a sabedoria e a força de Deus, para indicar que o Pai não sofreu diminuição pelo fato de existir o Filho, tornando-se igual ao Filho.

18.  Vêm em defesa de Deus, afirmando que Filho é criatura, como todas as coisas que foram criadas do nada, para que o Pai conserve sua perfeição porque nada foi gerado dele.

19.  Não causa admiração, portanto, que tenham uma ideia diferente sobre o Espírito Santo aqueles que, com tamanha audácia, afirmam que quem o concede que foi criado é mutável e pode desaparecer.

20.  Assim destroem a verdade deste perfeito mistério, inventando uma diversidade de substância onde existe a comunhão, negando o Pai quando negam que o Filho seja Filho, negando o Espírito Santo quando ignoram que o possuímos, e ignorando o seu Autor.

21.  Assim fazem perder-se os ignorantes quando afirmam a racionalidade de sua doutrina e iludem os ouvintes privando os nomes da realidade da sua natureza, já que não podem tirar os nomes da realidade.

22.  Omito outros nomes perigosos para os homens: os marcionitas, os valentinianos, os maniqueus e outras pestes que às vezes ocupam a mente dos ignorantes e os contagiam com o seu convívio. Causam uma única epidemia, quando os pregadores infundem a doença na mente dos ouvintes pela sua palavra.

 

Capítulo 5.

23.  A infidelidade dos hereges nos faz duvidar e correr perigo.

24.  Por isso, devemos dizer mais do que ordena o preceito celeste sobre coisas tão importantes e misteriosas.

25.  O Senhor mandou batizar os povos Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19). A fórmula de fé é clara. Para os hereges, porém, o sentido é incerto. Portanto, não se deve acrescentar nada ao que foi prescrito, mas sim opor um limite a sua audácia.

26.  Como a malignidade, instigada pela fraude diabólica, quer ocultar a verdade, fingindo respeitar os nomes que correspondem à natureza, devemos dar a conhecer a realidade dos nomes.

27.  Tendo indicado, de acordo com o que se acha na Escritura, a dignidade e função do Pai, do Filho e do Espírito Santo, procuraremos fazer com que os nomes não sejam privados das propriedades da natureza, e que estas sejam contidas na significação natural destes nomes.

28.  Não sei o que pretendem os que pensam de modo diferente sobre estas coisas corrompendo a verdade, obscurecendo a luz, dividindo o indivisível, partindo o indestrutível, separando o inseparável.

29.  Para eles é tão fácil censurar o que é perfeito, dar uma lei ao poder divino, circunscrever o infinito! Quanto a mim, sofro intensamente ao ter de responder-lhes. Meu espírito se perturba, minha inteligência se entorpece. Confessarei com minhas palavras não tanto minha incapacidade, quanto o dever de silenciar. Vejo-me obrigado a falar, pois é preciso resistir à audácia, evitar a difusão do erro, precaver-se contra a ignorância.

30.  O que se exige é incomensurável, aquilo que se ousa fazer é incompreensível: falar de Deus para além dos limites estabelecidos pelo próprio Deus.

31.  Ele deu os nomes que correspondem à natureza: Pai, Filho, Espírito Santo. O que se procura além disso ultrapassa o sentido das palavras, transcende a capacidade do pensamento e a compreensão da inteligência, não pode ser dito, alcançado, captado.

32.  A própria natureza das coisas torna impossível que as palavras tenham um significado.

33.  A luz impenetrável cega a mente do que contempla, o que não é contido por nenhum limite excede a capacidade da inteligência.

34.  Nós, porém, pedindo perdão Àquele que é todas estas coisas, levados pela necessidade, ousaremos, procuraremos e falaremos.

35.  Só uma coisa prometemos, em questão de tamanha importância: acreditar no que as palavras significam.

 

O que você destaca em cada capítulo?

Como este texto auxilia sua espiritualidade?

 

terça-feira, 22 de março de 2022

Estudo 196 - Hilário de Poitiers (315-368) - O Tratado da Santíssima Trindade - Livro Primeiro (Capítulos 28 - 38)

 


196

Hilário de Poitiers (315-368)

O Tratado da Santíssima Trindade

Livro Primeiro (Capítulos 28 - 38)

LIVRO PRIMEIRO

Capítulo 28.

1.      O livro oitavo, bem como os dois anteriores, muito proveitosos para a fé dos que creem no Filho de Deus, que é o Deus verdadeiro, agora se detém na demonstração de um só Deus, sem negar a natividade do Filho de Deus nem introduzir, por este nascimento, a divindade de dois deuses.

2.      Em primeiro lugar, ensina com que meios os hereges se esforçam por não levar a sério a verdade de Deus Pai e de Deus Filho, que não podem negar. Desfaz os ineptos e ridículos pretextos segundo os quais afirmam que a união do Pai e do Filho se dá pela vontade e unanimidade, mais que pela natureza, porque foi dito: A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma (At 4,82) e Aquele que planta e aquele que rega são um (1Cor 3,8), e ainda: Não rogo somente por eles, mas, por aqueles que, pela sua palavra, crerão em mim, a fim de que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti, para que eles estejam em nós (Jo 17,20- 21).

3.      Nós, porém, examinando estas mesmas palavras segundo sua própria força (isto é, segundo a autoridade delas), mostramos conterem em si a fé na divina natividade.

4.      Estudando atentamente todas as afirmações do Senhor, ensinamos, segundo os precônios apostólicos e as palavras do Espírito Santo, o íntegro e perfeito mistério da majestade do Pai e do Unigênito. Pois o Filho compreendido no Pai e o Pai conhecido no Filho demonstram o nascimento do Deus Unigênito e a verdade de sua perfeita divindade.

Capítulo 29.

5.      Nas questões mais necessárias relativas à salvação, é pouco apresentar somente argumentos próprios à satisfação da fé, porque muitas vezes as afirmações não completamente entendidas de nossa exposição enganam e mudam de sentido.

6.      No entanto, os argumentos apresentados pelos nossos adversários são tão ridículos que, por si mesmos, confirmam a nossa fé. Por isso, todo o nono livro se ocupa em repelir os argumentos usados pelos ímpios, que intentam tirar a força da natividade do Deus Unigênito, esquecidos do mistério da Economia oculto há séculos, e não se lembram de pregar, conforme a fé evangélica, o Deus e Homem.

7.      Negam que Nosso Senhor Jesus Cristo seja Deus e, como Deus Filho, igual a Deus Pai. Negam que tenha nascido de Deus, subsistindo em virtude da geração eterna, na verdade do Espírito (isto é, da divindade).

8.      Costumam apoiar-se nestas palavras do Senhor: Por que me chamas bom? 25 Ninguém é bom a não ser o único Deus (Lc 18,19). Dizem que, respondendo ao ser chamado de bom, que, a não ser o único Deus, ninguém é bom, demonstra que está fora da bondade de Deus, que é o bom, e também que não está na verdade de Deus, que é um.

9.      A estas palavras também acrescentam mais argumentos para a impiedade: É esta a vida eterna, que te conheçam a ti, único e verdadeiro Deus, e a quem enviaste, Jesus Cristo (Jo 17,3). Argumentam que, se declara ser o Pai o único Deus verdadeiro, não é nem verdadeiro, nem Deus, porque a unicidade do único Deus verdadeiro não pode estender-se para além daquele que possui tal propriedade.

10.  Não se entenda ter dito isto de maneira ambígua, dizem eles, visto que Ele mesmo declarou: O Filho por si mesmo nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer (Jo 5,19).

11.  Não poder fazer nada sem um exemplo revela a fraqueza da natureza, e de modo algum se pode igualar à onipotência a submissão de alguém que depende da ação de outrem.

12.  A própria razão mostra que existe uma grande diferença entre poder todas as coisas e não poder. Esta diferença existe a ponto de ter Ele mesmo declarado: O Pai é maior do que eu (Jo 14,28).

13.  Querem que cesse toda ocasião de contradizer esta confissão, dada a sua clareza, pois seria impiedade atribuir a natureza e a honra devidas a Deus a quem as recusa.

14.  Além disso, dizem estar tão longe dele a natureza do verdadeiro Deus que chega a atestar: Quanto ao dia e à hora ninguém conhece, nem os anjos nos céus, nem o Filho, mas somente o Pai (Mc 13,32). Que o Filho não saiba o que somente o Pai sabe mostra estar longe do que sabe Aquele que não sabe, porque na natureza submetida à ignorância não podem existir a força e o poder, que estão proibidos a quem é dominado pela ignorância.

Capítulo 30.

15.  Mostramos que estas coisas foram entendidas de modo ímpio, com um sentido corrupto e depravado. Apresentamos todas as causas de suas afirmações, segundo o gênero das questões, os tempos e a economia da salvação, antepondo as causas às palavras, ao invés de atribuirmos as causas às palavras.

16.  Há diferença entre: o Pai é maior do que eu (Jo 14,20) e Eu e o Pai somos um (Jo 10,30), como não é o mesmo dizer: Ninguém é bom, a não ser o único Deus (Lc 18,19), e: Quem me vê, vê também o Pai (Jo 14,9).

17.  Sem dúvida, há grande diversidade entre estas afirmações contrárias: Pai, tudo o que é teu é meu, e o que é meu é teu (Jo 17,10), e: Para que te conheçam, a ti, único e verdadeiro Deus ( Jo 17,3), ou entre: Eu estou no Pai, e o Pai em mim (Jo 14,11), e: Quanto ao dia e a hora ninguém conhece, nem os anjos nos céus, nem o Filho, mas somente o Pai (Mc 13,31).

18.  É preciso entender, em cada uma destas afirmações, o que se refere à economia e o que se refere ao poder da natureza consciente de si mesma. Como o autor de todos os ditos é o mesmo, ficando demonstrado o valor de cada gênero de declaração (das diferentes naturezas que existem em Cristo), não se pode dizer que seja desconhecimento da verdadeira divindade aquilo que é pregado a respeito do mistério da fé evangélica, no que se refere à manifestação da causa, do tempo, da natividade e do nome.

Capítulo 31.

19.  O livro décimo tem o mesmo teor que a fé. Tendo eles roubado algumas declarações sobre os sofrimentos do Senhor, tomando-as, de modo estulto, como injúria à natureza divina de Jesus Cristo Senhor e a seu poder, foi preciso provar terem sido entendidas por eles com toda a impiedade e lembrar que o Senhor as pronunciou a fim de dar testemunho da verdadeira e perfeita majestade nele existente.

20.  Para ocultar sua impiedade sob uma aparente religiosidade servem-se de maneira enganosa destas palavras: Minha alma está triste até a morte (Mt 26,38).

21.  Querem mostrar, assim, como está longe da bem-aventurança e incorruptibilidade de Deus Aquele cuja alma é dominada pelo medo da tristeza iminente e que chega a suplicar, aterrorizado pela necessidade da Paixão: Pai, se for possível, que se afaste de mim este cálice (Mt 26,39).

22.  Pareceria, sem dúvida, temer o sofrimento, por ter orado para se ver livre dele, porque a ansiedade diante da dor foi a causa do pedido e a violência do sofrimento venceu de tal modo sua fraqueza, que chegou a dizer quando padecia na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27,46) e, queixando-se de sua desolação, comovido pela amargura, privado do auxílio paterno, entregou o espírito dizendo: Pai, em tuas mãos entrego meu espírito (Lc 23,46).

23.  Ao exalar o espírito, perturbado pelo temor, entregou-o a Deus Pai para guardá-lo, porque o desespero de não ter segurança exigiu a entrega.

Capítulo 32.

24.  Estes estultíssimos e ímpios homens, sem compreenderem que nada nas ações era contrário às palavras, apegando-se somente a elas, puseram de lado as causas pelas quais foram ditas.

25.  É muito diferente: Minha alma está triste até a morte (Mt 26,38), de: Logo vereis o Filho do Homem assentado à direita do poder de Deus (Mt 26, 64), e não é o mesmo: Pai, se possível, passe de mim este cálice, que: O cálice que meu Pai me deu, não o beberei? (Jo 18,11).

26.  Grande diferença existe entre: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27,43), e: Em verdade eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23,43); muito divergem: Pai, em tuas mãos entrego meu espírito (Lc 23,46), e: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lc 23, 34).

27.  Recaíram na impiedade, incapazes de entender as palavras divinas. Já que não combinam temor e liberdade, prontidão e escusa, queixa e advertência, desconfiança e intercessão, sem se lembrarem do que foi dito sobre a natureza divina, mantiveram como provas de sua impiedade os fatos e as palavras da economia.

28.  Por isso, tendo demostrado tudo o que pertence ao mistério, tanto da alma quanto do corpo do Senhor Jesus Cristo, não deixamos nada sem ser explorado, nada foi passado em silêncio.

29.  Combinando a explicação de todas as palavras segundo seu gênero, demonstramos que a confiança não temeu e a vontade não hesitou e que Ele não procurou segurança nem orou para recomendar-se a si mesmo, mas desejou o perdão para os outros.

30.  Confirmamos, pela pregação absoluta do mistério evangélico, a fé em todas as suas palavras.

Capítulo 33.

31.  A estes homens sem esperança, nem mesmo a própria glória da ressurreição pôde manter dentro dos limites da fé, pelo conhecimento da verdadeira religião e compreensão da verdade.

32.  Da confissão da divina condescendência tiraram armas para sua impiedade. A revelação do mistério serviu-lhes para desprezar a Deus. Por ter dito: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus (Jo 20,17), excluem-no da natureza do Deus verdadeiro já que também é comum, a nós e a Ele, que o Pai seja Pai, e que Deus seja Deus.

33.  Afirmam estar, como nós, submetido a Deus criador e ser Filho por adoção. Baseiam-se nas palavras do Apóstolo: Ao dizer que tudo lhe está submetido, excetua-se sem dúvida Aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E, quando tudo lhe estiver submetido, então ainda o próprio Filho estará submetido Àquele que lhe submeteu todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos (1Cor 1,15.27-28), para não querer admitir que haja nele a natureza divina, porque a submissão implica fraqueza do que é dominado e significa poder do que domina.

34.  Destas questões, que devem ser estudadas com grande reverência, ocupa-se o livro undécimo, que demostra, pelas próprias palavras apostólicas, que a submissão não prova a fraqueza da divindade, mas, justamente, mostra a verdade de Deus, nascido de Deus.

35.  Que o Pai seja Pai para Ele e para nós, e Deus para Ele e para nós, muito nos enriquece e dele nada retira, pois, tendo nascido Homem e possuindo todas as limitações de nossa carne, subiu para Deus, a fim de que nossa humanidade fosse elevada até Deus, nosso Pai, e fosse glorificada em Deus.

Capítulo 34.

36.  Conforme observamos, todo gênero de estudos sempre começa pelos exercícios elementares.

37.  Depois de longo tempo, os que foram formados por muita dedicação ao seu ofício tornam-se capazes de passar para a experiência daquilo em que se exercitaram. Após militar nos exercícios bélicos, passa-se para o exército; os que foram formados para tomar parte nos debates forenses pelo estudo das leis, finalmente são enviados aos debates dos tribunais; quando o nauta intrépido já se exercitou em lagos pequenos e conhece bem a nave, é então que enfrenta os grandes e desconhecidos mares com suas procelas.

38.  O mesmo acontece com esta máxima e gravíssima compreensão de toda a fé. Foi o que procuramos fazer. Antes, por breves indícios sobre o nascimento, o nome, a divindade, a verdade, educamos a fé incipiente e, progredindo lentamente, chegamos a extirpar todos os pretextos dos hereges.

39.  Quisemos aumentar assim o desejo de aprender dos que nos leem. Só então os levamos a participar das grandes e gloriosas competições, porque, na medida em que falha a mente humana em querer abarcar, só com a opinião do senso comum, a ideia do eterno nascimento, na mesma medida deverá ser despertado o interesse pelas questões divinas, para que seja possível perceber o que ultrapassa nossa compreensão natural.

40.  Procuramos principalmente refutar a opinião que, alimentada pela estupidez da sabedoria secular, julga-se no direito de dizer a respeito do Senhor Jesus: Houve tempo em que não existia, e: Não era antes de nascer, e: Foi feito do não existente, porque o nascimento pareceria fazer ser o que não era e nascer o que ainda não existia.

41.  Os hereges também submetem o Deus Unigênito à ideia de tempo, como se a fé e o nascimento indicassem que não existiu em algum tempo.

42.  Dizem ter nascido do que não existia, porque o nascimento concede o ser ao que não era.

43.  Nós, porém, de acordo com os testemunhos apostólicos e evangélicos, pregamos existir sempre o Pai e sempre o Filho, mostrando que o Deus de todas as coisas não existiu depois de nenhuma, mas é antes de tudo.

44.  Sem cair na temeridade irreligiosa da ideia de que tenha nascido do não existente e de que não tenha sido antes de ter nascido, pregamos que nasceu, tendo existido sempre, e proclamamos que sempre existiu tendo nascido.

45.  Nele não se trata de uma exceção de inascibilidade, mas da eternidade do nascimento, porque o nascimento supõe o Pai, mas a divindade não deixa de ser eterna.

Capítulo 35

46.  Por ignorarem os ditos proféticos e não compreenderem as doutrinas celestes, para afirmarem ser Deus criado, em vez de nascido, apoiam-se no sentido atribuído erroneamente a esta sentença: O Senhor me criou para o início de seus caminhos e para suas obras (Pr 8,22).

47.  Dizem, por isso, que pertence à natureza comum da criação, embora seja mais excelente o gênero de sua criação. Nele, portanto, não há a glória do nascimento divino, mas a força da criatura poderosa.

48.  Nós, porém, sem apresentar nada de novo, nada que seja deduzido a partir de argumentos exteriores, daremos, pelo testemunho da própria Sabedoria, a verdadeira interpretação desta palavra.

49.  Não se pode eliminar o nascimento divino e eterno, a partir da afirmação de ter sido a Sabedoria criada para o início dos caminhos de Deus e suas obras. Não é a mesma coisa ser ela criada para, e ter nascido antes de todas as coisas, pois onde se fala de natividade, só se declara a natividade; onde, porém, há a palavra criação, aí a causa da mesma criação é anterior. Se a Sabedoria nasceu antes de tudo, embora também tenha sido criada para algumas coisas, não é a mesma coisa existir antes de tudo e ter começado a existir depois de algumas coisas.

Capítulo 36.

50.  Depois de eliminar a palavra criação da fé que temos no Deus Unigênito, pareceu justo ensinar também o que se deve confessar a respeito do Espírito Santo para que, já há muito confirmados pelo estudo diligente dos livros anteriores, nada falte à perfeição de toda a fé, e para que, afastadas também as pregações errôneas e irreligiosas sobre o Espírito Santo, o mistério da Trindade que regenera esteja contido, ileso e puro, na salutar definição da autoridade apostólica e evangélica, e não mais se ouse, com base na simples inteligência humana, enumerar entre as criaturas o Espírito de Deus que receberemos como penhor da imortalidade para chegar ao consórcio da divina e incorrupta natureza.

Capítulo 37.

51.  Estou consciente de ter como a tarefa mais importante de minha vida o dever de tudo fazer para que toda minha palavra e ideia te manifeste, a ti, Deus Pai onipotente.

52.  Não pode existir maior prêmio para a faculdade de falar, a mim concedida por ti, do que servir-te proclamando e ensinando quem tu és.

53.  Que ao mundo ignorante ou ao herege que te nega, eu demonstre que tu és Pai, isto é, Pai do Deus Unigênito. É este o meu único desejo.

54.  Quanto ao mais, devo pedir que me concedas teu auxílio e misericórdia e que, abertas e infladas as velas de nossa fé em ti e de nossa confissão, nos impulsiones, pelo sopro de teu Espírito, nesta pregação iniciada.

55.  Não é infiel o autor da promessa: Pedi e vos será dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á (Lc 11,9).

56.  Nós, indigentes, pediremos aquilo de que precisamos e, ao perscrutar as palavras de teus Profetas e Apóstolos, empregaremos um esforço obstinado, batendo às portas de todas as interpretações difíceis.

57.  A ti pertence conceder o que foi pedido, estar presente ao que busca, abrir a quem bate. Pois estamos entorpecidos pela preguiça própria a nossa natureza que nos imobiliza.

58.  A fraqueza de nossa inteligência nos aprisiona numa ignorância que não permite conhecer teus mistérios. Mas o zelo pelo conhecimento de tua doutrina nos estimula a alcançar a verdade divina, e a obediência da fé nos conduz para além daquilo que é próprio de nossa natureza.

Capítulo 38.

59.  Esperamos, portanto, que este trabalho que iniciamos receba de ti sua força e possa progredir com teu auxílio.

60.  Chama-nos a participar do Espírito dos Profetas e dos Apóstolos, para que compreendamos suas palavras no sentido que eles lhes deram e não em sentido diferente, e respeitemos o sentido real de cada uma delas.

61.  Devemos falar daquilo que foi pregado por eles como mistério: de ti, Deus eterno, Pai do eterno Deus Unigênito, de ti que és o único não nascido e do único Senhor Jesus Cristo, que de ti procede pelo nascimento eterno, que não pode ser considerado como um outro Deus e deve ser reconhecido como gerado de ti, único Deus, e a quem devemos confessar como verdadeiro Deus nascido de ti, verdadeiro Pai.

62.  Concede-nos compreender o significado das palavras, dá-nos luz para a inteligência, dignidade nas palavras e fé na verdade.

63.  Permite que possamos anunciar aquilo que acreditamos e, tendo-te conhecido por intermédio dos Profetas e Apóstolos como o único Deus Pai e o único Senhor Jesus Cristo, negando as afirmações dos hereges, te celebremos como Deus, mas não sozinho, e anunciemos a Ele, mas não como falso Deus.

terça-feira, 15 de março de 2022

Encontro 195 - Hilário de Poitiers (315-368) - O Tratado da Santíssima Trindade Livro Primeiro (Capítulos 18 - 27) .

 



195

Hilário de Poitiers (315-368)

O Tratado da Santíssima Trindade

Livro Primeiro (Capítulos 18 - 27)

 


LIVRO PRIMEIRO

Capítulo 18.

1.      Vós, que fostes chamados a estudar estes assuntos pelo fervor da fé e desejo da verdade que o mundo e os sábios deste mundo não conhecem, será preciso que vos lembreis de que as fracas e tolas opiniões devem ser rejeitadas e as mentes estreitas e imperfeitas devem abrir-se em religiosa expectativa.

2.      Os espíritos regenerados precisam de novas maneiras de compreender, para que cada um seja iluminado por sua consciência de acordo com o dom de origem celeste.

3.      Em primeiro lugar, ao refletir sobre a essência de Deus, deixe-se guiar, pela fé, como adverte o santo Jeremias (cf. Jr 23.22; LXX).

4.      Ao ouvir e falar sobre a substância de Deus, regule sua mente por aquilo que é digno de Deus e não procure entender, a não ser na medida, sua infinidade.

5.      Consciente de ter sido feito participante da natureza divina, como diz o santo Apóstolo Pedro, em sua Segunda Epístola (cf. 2Pd 1,4), não medirá a natureza de Deus pelas leis da natureza, mas considerará as divinas afirmações de acordo com a magnificência da palavra de Deus sobre si mesmo.

6.      O melhor leitor é o que espera compreender a partir das palavras e não o que lhes impõe um sentido; é o que reflete sobre elas, mais do que as força; é o que não atribui aos ditos o que imagina conterem, é o que não presume, antes da leitura, a sua compreensão.

7.      Portanto, ao tratar das coisas de Deus, concedamos a Deus o conhecimento de si mesmo, submetendo-nos com piedosa veneração a suas palavras, pois só é idônea testemunha de si mesmo quem só por si mesmo é conhecido.

 

Capítulo 19.

8.      Se, ao tratarmos da natureza de Deus e do nascimento, apresentamos exemplos e comparações, ninguém os considere como absolutamente perfeitos, pois, quando se trata de Deus, a comparação com o que é terreno é nula, não tem valor.

9.      Todavia a fraqueza de nossa inteligência busca nas coisas inferiores alguma figura, procurando como que indícios das coisas superiores, para que, com o auxílio do que é corriqueiro e familiar, a partir das provas de nossa experiência, sejamos conduzidos à ideia do que não costumamos experimentar.

10.  Toda comparação é mais útil ao homem do que adaptada a Deus, porque é sobretudo um sinal para a inteligência sem que possa satisfazê-la.

11.  Não se pense que aquilo que se deduz sobre a natureza da carne e a do espírito possa equiparar-se, e que as coisas invisíveis possam ser comparadas às palpáveis.

12.  Afirmamos, no entanto, serem necessárias as comparações, por causa da fraqueza humana, para nos vermos livres da acusação de serem estes exemplos insatisfatórios.

13.  Vamos então continuar falando de Deus com as palavras de Deus, impregnando, porém, nossa mente com a imagem do que conhecemos.

 

Capítulo 20.

14.  Em primeiro lugar, dispusemos o plano de toda a obra, para que a ordem bem escolhida mostre ao leitor a progressão e conexão dos livros.

15.  Nada de desordenado ou confuso quisemos apresentar, para que o acúmulo sem ordem da obra não desse azo a alguma reclamação indignada.

16.  Porque não há subida por uma escarpa que dispense os poucos degraus que levam os passos até o cume, preparando o início da caminhada, suavizamos este árduo caminho da encosta, tornando-a branda para a inteligência, não mais por degraus, mas por um plano insensivelmente inclinado, de modo que, sem sentir a subida, se chegue ao alto.

 

Capítulo 21.

17.  Depois do primeiro livro, o seguinte ensina o mistério da divina geração, a fim de que aqueles que serão batizados no Pai, no Filho e no Espírito Santo não ignorem o sentido destes nomes, nem confundam com palavras a sua inteligência, mas concebam no espírito a cada um e como é e como se chama, e conheçam claramente que sua realidade não é de um nome, assim como o nome não deixa de expressar a verdade.

 

Capítulo 22.

18.  Depois deste discurso breve e simples, no qual se demonstra o que é a Trindade, o terceiro livro já vai um pouco mais longe e adapta o mais possível, por meio de muitos exemplos, à inteligência da fé, aquilo que ultrapassa a compreensão da mente humana e que Deus revelou a respeito de si mesmo quando disse: Eu estou no Pai, e o Pai, em mim (Jo 10,38).

19.  O que o homem, fraco por natureza, por si mesmo não entende, a fé consegue pelo conhecimento esclarecido, porque não se deve deixar de crer no que Deus ensina sobre si mesmo nem se deve pensar que a compreensão do seu poder esteja fora do alcance da fé.

 

Capítulo 23.

20.  O quarto livro tem como ponto de partida as doutrinas dos hereges e rejeita os vícios que desdouram a fé da Igreja.

21.  Apresenta a exposição da infidelidade declarada por muitos até bem pouco tempo, e mostra com que finura e ardil aqueles ímpios defendiam haver, pela Lei, um só Deus e demonstra, por meio de todos os testemunhos da Lei e dos Profetas, que confessar um só Deus, sem o Deus Cristo, é irreligião, e pregar o Deus Unigênito, Cristo, sem confessar a existência de um só Deus, é falta de fé.

 

Capítulo 24.

22.  O quinto livro contém, em ordem, as respostas à profissão de fé estabelecida pelos hereges. Pois enganam-se ao pregar um único Deus segundo a Lei e também se iludem ao declarar ser um só o Deus verdadeiro pela mesma Lei, de modo que, pela aceitação do único Deus verdadeiro, negam a natividade do Senhor Cristo, porque só onde há nascimento há conhecimento da verdade.

23.  Seguimos, em nosso ensinamento, a mesma ordem que eles usaram para negar a verdade.

24.  Não pregamos dois deuses, nem um só Deus como solitário, mas o Pai, verdadeiro Deus, tanto pela Lei como pelos Profetas, e não corrompemos a fé no único Deus nem negamos a natividade.

25.  Segundo eles, o Senhor Jesus Cristo é criado, não gerado, por isso o nome de Deus lhe foi imputado, mas não lhe pertence propriamente.

26.  A realidade da divindade é demonstrada de tal modo pelas autoridades proféticas que nós, pregando ser Deus verdadeiro o Senhor Jesus Cristo, mostramos que a verdade de sua divindade, que Ele possui por geração, é compatível com a verdade de um só Deus.

 

Capítulo 25.

27.  O sexto livro põe às claras toda a fraudulência das afirmações heréticas. Para que se desse crédito a suas odiosas afirmações, os hereges roubaram as pias pregações da Igreja, para disfarçar suas ímpias doutrinas sob o manto da fé.

28.  Condenando as ideias e os vícios dos hereges, a saber, de Valentino e de Sabélio, de Maniqueu e de Hieracas, abrandando suas palavras irreligiosas e moderando os significados ambíguos a pretexto da condenação da impiedade, extinguiam a doutrina da piedade.

29.  Nós, examinando cada uma das suas palavras e declarações, libertamos as santas pregações da Igreja e não permitimos haver algo de comum com as condenadas heresias.

30.  Condenando o que deve ser condenado, seguimos apenas o que deve ser venerado. Ensinamos que o Senhor Jesus Cristo é Filho de Deus (o que por eles é principalmente negado), como o Pai atesta sobre Ele, como a respeito de si mesmo o declara, como os apóstolos pregam, como os religiosos creem, como os demônios gritam, como os judeus confessam ao negarem, como os povos ignorantes compreendem, para que não haja lugar para hesitação e nada fique ignorado.

 

Capítulo 26.

31.  O livro sétimo dá continuidade à discussão, propondo as normas da perfeita fé. Em primeiro lugar, com uma sadia e incorrupta demonstração da fé inviolável, toma parte na contenda entre Sabélio, Ebion e todos os que não pregavam Jesus como verdadeiro Deus.

32.  Sabélio negava que subsistisse antes dos séculos Aquele que os outros confessavam ser criatura. Sabélio ignorava o Filho subsistente, mas não duvidava de que o Deus verdadeiro agisse, estando no corpo de Cristo.

33.  Outros negavam a natividade e afirmavam ser Ele criatura, por não entenderem que suas obras eram obras do Deus verdadeiro.

34.  Nossa fé é o objeto de sua contenda. Pois, enquanto nega o Filho (e por isso erra), Sabélio vence, porque foi o Deus verdadeiro (como bem prova) que agiu. A Igreja vence aqueles que negam que Cristo seja verdadeiro Deus.

35.  Os outros, ao demonstrarem que Cristo subsiste antes dos séculos e que sempre atua, triunfam conosco, condenando Sabélio, que conhece o verdadeiro Deus, mas desconhece o Filho de Deus. Ebion é vencido por ambos, pois um (Ário) afirma ser Ele subsistente antes dos séculos, e o outro (Sabélio) convence quanto ao verdadeiro Deus que age.

36.  Uns e outros, todos vencem-se e são vencidos, porque a Igreja, não só contra Sabélio e contra os que pregam ser Ele criatura, mas ainda contra Ebion, atesta ser Deus verdadeiro de Deus verdadeiro o Senhor Jesus Cristo, nascido antes dos séculos e depois gerado como Homem.

 

Capítulo 27.

37.  Ninguém duvida convir plenamente à doutrina sagrada que anunciemos primeiro o Filho de Deus, com base na Lei e nos Profetas, depois, também o Deus Verdadeiro em relação com o mistério da unidade (do Pai e do Filho).

38.  Em seguida, confirmando a Lei e os Profetas pelos Evangelhos, ensinaremos por meio destes que Cristo é Filho de Deus e que é Deus verdadeiro.

39.  Muitíssimo justo foi, portanto, depois do nome do Filho, demonstrar sua verdade.

40.  Aliás, de acordo com o senso comum, dizer: Filho já indica a sua realidade. Mas, para que não subsista ocasião de engano e de ilusão para os adversários da verdadeira divindade do Deus Unigênito, apoiamos esta mesma fé (pela qual se crê ser Ele o próprio Filho de Deus) na natureza da verdadeira divindade.

41.  Ensinamos ser Deus Aquele que não se nega ser Filho de Deus, provando por estes meios: nome, natividade, natureza, poder, confissão, que não é diferente do nome que lhe é dado, que o nome não deixa de fazer referência ao nascimento, que, pelo nascimento, não perde sua natureza, que a natureza não perde seu poder e que o poder não deixa de ser reconhecido na confissão consciente da verdade do seu ser.

42.  Baseamo-nos nos argumentos tirados dos Evangelhos, segundo seus diversos gêneros, para mostrar que sua confissão não ocultou seu poder, seu poder não ocultou a natureza, a natureza é a que lhe corresponde pelo nascimento, e o nascimento não deixa de ser o que corresponde ao nome de Filho.

43.  Deste modo, não há lugar para a ímpia calúnia, já que Nosso Senhor Jesus Cristo, quando ensinou a verdade de sua natureza, demonstrou a divindade do Deus verdadeiro que procede do Deus verdadeiro, pelo nome, nascimento, natureza e poder.

 

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