domingo, 21 de setembro de 2025
Visio Divina - José do Egito
sábado, 23 de agosto de 2025
291 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Regra Monástica - Asketikon - As Regras Extensas (55 regras) - Questões 5 a 7
291
SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA
(330-379)
Regra Monástica - Asketikon
As
Regras Extensas (55 regras)
Questões
5 a 7
QUESTÃO
5
COMO
EVITAR A DIVAGAÇÃO
Resposta
1.
Importa saber que não é possível
cumprir os outros mandamentos e nem mesmo amar perfeitamente a Deus ou ao próximo
se o espírito divagar para cá e para lá. Não pode alguém dedicar-se a uma
ciência ou arte, transitando sempre de uma a outra, e nem mesmo adquirir o conhecimento
de uma delas, se ignorar os meios de alcançar sua finalidade.
2.
Convém que as ações quadrem com o
escopo, porque, de fato, nada de razoável se alcança por meios inadequados. Não
se consegue com bom resultado forjar metais exercitando-se em cerâmica; nem
tocando frequentemente flauta se chega a obter coroas atléticas; mas para cada
fim requer-se labor peculiar e ajustado. Também a ascese, segundo o Evangelho
de Cristo, que agrada a Deus, realiza-se pelo afastamento das preocupações do
século e a fuga completa da divagação. Por isso, embora sejam permitidas e
dignas de bênçãos as núpcias, o Apóstolo opõe as preocupações destas à
solicitude pelas coisas que são de Deus, como sendo impossível coexistirem
ambas, ao dizer: O solteiro cuida das coisas
que são do Senhor, procurando agradar a Deus. Mas o casado preocupa-se com as
coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa (ICor 7,32.33).
3.
Assim, o Senhor testemunhou a respeito
dos discípulos, por causa de seu ânimo sincero e firme: Não sois do mundo (Jo 15,19). E, ao contrário, atestou ser impossível ao mundo
receber o conhecimento de Deus e aceitar o Espírito Santo: Pai justo, disse,
o mundo não te conhece (Jo 17,25), e: o Espírito da verdade que o
mundo não pode receber (Jo
14,17).
4.
Todo aquele, portanto, que
verdadeiramente quer seguir a Deus, deve romper os vínculos das afeições desta
vida. Realizá-lo-á por afastamento completo e esquecimento dos hábitos anteriores.
Por esta razão, a menos que nos façamos estranhos ao parentesco carnal e à vida
em sociedade e emigrarmos de certo modo para outro mundo, quanto a nossos
hábitos, conforme aquele que disse: Nós somos cidadãos dos céus (F1 3,20), será impossível atingirmos a meta de agradar a
Deus. É terminante a declaração do Senhor: Assim,
pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu
discípulo (Lc 14,33). Feito isto, guardemos cuidadosamente nosso coração (Pr 4,23); jamais percamos a lembrança de Deus, nem manchemos
a memória de suas maravilhas com vãs imaginações.
5.
Por toda a parte carreguemos pura e continuamente
a santa lembrança de Deus, cuja recordação se imprima em nossa alma qual
indelével sigilo. Assim adquirimos o amor de Deus que também nos concita à prática
dos mandamentos do Senhor, enquanto esses, por sua vez, o conservam perpétua e
constantemente. O Senhor no-lo mostra ao dizer: Se amais, guardareis os meus mandamentos (Jo 14,15), ou ainda: Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no
meu amor (Jo 15,10). E o que é ainda mais persuasivo:
Como também eu guardei os
mandamentos de meu Pai e permaneço em seu amor (ibid.).
6.
Com isto, ensina-nos ele que, ao decidirmos
fazer uma obra, tenhamos sempre o escopo de realizar a vontade daquele que
ordena, concentrando nisso nossos esforços, conforme ele mesmo declarou em
outra passagem: Desci do céu, não para fazer
a minha vontade, mas a vontade daquele que enviou, o Pai (Jo 6,38).
7.
Os ofícios necessários a nossa
subsistência têm fins específicos e em consequência acomodam as atividades particulares
a essas finalidades. Assim também, tendo nossas obras uma só meta, uma só regra,
a saber, a observância dos mandamentos no intuito de agradar a Deus, é
impossível fazer um trabalho bem feito a não ser realizando-o de acordo com a
vontade de quem no-lo confiou. Se ao fazermos uma obra, aplicarmo-nos com zelo
diligente a cumprir a vontade de Deus, unimo-nos a ele por essa intenção.
8.
O ferreiro, por exemplo, ao forjar um
machado, lembra- se de quem o encomendou e, conservando-o na memória, pensa na forma
e no tamanho do instrumento, executando-o conforme os desejos de quem fez a
encomenda. Se por acaso se esquecer de tudo isso, fará outra coisa ou outra
muito diferente da que intencionara.
9.
Também o cristão, em qualquer ação,
pequena ou grande, orientada pela vontade de Deus, simultaneamente a pratica
com diligência e conserva a lembrança de quem a ordena, realizando a palavra: Ponho sempre o Senhor diante dos olhos; pois que
ele está à minha direita, não vacilarei (SI
15,8). E cumpre aquele preceito: Quer comais e bebais ou
façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus (ICor 10,31). Se alguém, ao agir, prejudica o rigor do
preceito, evidencia ter deixado se enfraquecer a recordação de Deus.
10. Lembrados, portanto, da palavra daquele que disse: Porventura, não enche minha presença o céu e a
terra? Oráculo do Senhor (Jr
23,24). E: Apenas eu sou Deus quando
estou perto? Não o sou também quando de longe? (ibid. 23). E: Onde dois ou três estão
reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18,20), tudo devemos fazer como convém a uma ação feita
sob o olhar de Deus e tudo pensar como sendo visto por ele.
11. Assim teremos constante temor, o qual, conforme está escrito
(SI 118,163), odeia a injustiça, a injúria, a soberba e os caminhos dos maus;
realizaremos a caridade, cumprindo o dito do Senhor: Não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai
que enviou (Jo 5,30), e convencidas estarão
continuamente as nossas almas de que as boas ações são bem aceitas pelo juiz e
árbitro de nossas vidas e de que as más receberão do mesmo a condenação.
12. Creio que assim acontecerá, como disse, que não sejam empregados
os mandamentos do Senhor para se captar a benevolência dos homens. Ninguém há
que se volte para um inferior, se está certo da presença de um superior. Mas,
se suceder que uma ação seja aceitável e grata a uma pessoa ilustre, porém
contrarie a um inferior e lhe pareça repreensível, dar-se-á mais valor à
aprovação da pessoa mais importante, sem considerar a censura de quem está
abaixo.
13. Entre os homens é assim que se passam as coisas. Qual será,
pois, a alma verdadeiramente vigilante e equilibrada que, convicta da presença
de Deus, menosprezará o que é do agrado de Deus e voltar-se-á para a glória
humana? Ou, negligenciando os preceitos de Deus, escravizar-se-á a práticas humanas,
ou deixar-se-á prender por um preconceito banal, ou dobrar-se-á por causa de
dignidades? Tal era a disposição daquele que disse: Contaram-me os ímpios coisas, mas quão diferente
é tudo isso da tua lei, Senhor! (SI
118,85). E ainda: Diante dos reis falarei de
vossas prescrições e não envergonharei (ibid.
46).
QUESTÃO
6
NECESSIDADE
DA VIDA RETIRADA
Resposta
14. Morar retirado é auxílio para se adquirir a estabilidade de espírito.
O próprio Salomão demonstra ser pernicioso levar a vida no meio dos que não
receiam desprezar a perfeita observância dos mandamentos, ao nos ensinar: Não faças amizade com um homem colérico, não
andes com o violento, com receio de que aprendas os seus costumes e prepares um
laço fatal para a tua alma (Pr
22,24.25).
15. E também: Saí do meio deles e separai-vos,
diz o Senhor (2Cor 6,17), induz à mesma conclusão. Por
isso, procuremos primeiro habitar num lugar retirado, para não sermos incitados
ao pecado através dos olhos e dos ouvidos, e não nos habituarmos a ele de
maneira despercebida, nem permaneçam na alma certas impressões e imagens do que
vimos e ouvimos, causando nossa ruína e perdição, e ainda a fim de persistirmos
na oração.
16. Assim podemos vencer os hábitos anteriores de uma vida em
desacordo com os mandamentos de Cristo (não é pequeno combate superar os
próprios hábitos; pois o hábito, corroborado durante muito tempo, adquire força
de segunda natureza) e também conseguiremos apagar as máculas do pecado tanto
por preces infatigáveis quanto pela meditação assídua da vontade de Deus.
17. A essa oração e meditação é impossível nos entregarmos em
meio à multidão que distrai a alma e a absorve com os negócios desta vida. E
quem poderá, envolvido em tudo isso, cumprir a palavra: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo
(Lc 9,23)?
18. Importa renegarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz de Cristo,
e assim o seguirmos. Renunciar-se a si mesmo consiste em esquecer-se
completamente do passado e abandonar as próprias vontades. Numa convivência com
os homens seria dificílimo realizá-lo, para não dizer totalmente impossível.
Esta companhia serve de empecilho quando se quer tomar sua cruz e seguir a
Cristo.
19. Tomar a sua cruz é estar pronto a morrer por Cristo. É
mortificar os membros terrenos, é estar disposto em ordem de batalha,
enfrentando qualquer perigo iminente por causa do nome de Cristo e não ser apegado
à vida presente. Vemos assim os grandes obstáculos que provêm da convivência comum
em uma sociedade profana.
20. Além de outros impedimentos e são muitos a alma considera a
multidão dos transgressores. Em primeiro lugar, não tem, com isso, oportunidade
de perceber os próprios pecados e de ter contrição dos delitos, por meio da
penitência. Compara-se aos piores e imagina que possui certa retidão.
21. Em seguida, devido aos tumultos e negócios que brotam da vida
vulgar, perde a preciosa lembrança de Deus e não somente sofre o prejuízo de
não se alegrar e se deleitar em Deus, de não fruir das delícias do Senhor, de
não experimentar a doçura de suas palavras, de modo a poder afirmar: Lembrei-me de Deus e senti-me cheio de gozo (SI 76,4), e: Quão saborosas são para mim vossas
palavras, mais doces que o mel à minha boca (SI 118,103), mas ainda acostuma-se inteiramente a desprezar
os seus juízos, a deles se esquecer, o que constitui o maior e pior dos males
que lhe possam suceder.
QUESTÃO
6
NECESSIDADE
DA VIDA RETIRADA
Resposta
22. Morar retirado é auxílio para se adquirir a estabilidade de espírito.
O próprio Salomão demonstra ser pernicioso levar a vida no meio dos que não
receiam desprezar a perfeita observância dos mandamentos, ao nos ensinar: Não faças amizade com um homem colérico, não
andes com o violento, com receio de que aprendas os seus costumes e prepares um
laço fatal para a tua alma (Pr
22,24.25).
23. E também: Saí do meio deles e separai-vos,
diz o Senhor (2Cor 6,17), induz à mesma conclusão. Por
isso, procuremos primeiro habitar num lugar retirado, para não sermos incitados
ao pecado através dos olhos e dos ouvidos, e não nos habituarmos a ele de
maneira despercebida, nem permaneçam na alma certas impressões e imagens do que
vimos e ouvimos, causando nossa ruína e perdição, e ainda a fim de persistirmos
na oração.
24. Assim podemos vencer os hábitos anteriores de uma vida em
desacordo com os mandamentos de Cristo (não é pequeno combate superar os
próprios hábitos; pois
25. o hábito, corroborado durante muito tempo, adquire força de segunda
natureza) e também conseguiremos apagar as máculas do pecado tanto por preces
infatigáveis quanto pela meditação assídua da vontade de Deus. A essa oração e
meditação é impossível nos entregarmos em meio à multidão que distrai a alma e
a absorve com os negócios desta vida. E quem poderá, envolvido em tudo isso, cumprir
a palavra: Se alguém quer vir após mim,
renegue-se a si mesmo (Lc 9,23)?
26. Importa renegarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz de Cristo,
e assim o seguirmos. Renunciar-se a si mesmo consiste em esquecer-se
completamente do passado e abandonar as próprias vontades. Numa convivência com
os homens seria dificílimo realizá-lo, para não dizer totalmente impossível.
Esta companhia serve de empecilho quando se quer tomar sua cruz e seguir a
Cristo.
27. Tomar a sua cruz é estar pronto a morrer por Cristo. É
mortificar os membros terrenos, é estar disposto em ordem de batalha,
enfrentando qualquer perigo iminente por causa do nome de Cristo e não ser apegado
à vida presente. Vemos assim os grandes obstáculos que provêm da convivência comum
em uma sociedade profana.
28. Além de outros impedimentos e são muitos a alma considera a
multidão dos transgressores. Em primeiro lugar, não tem, com isso, oportunidade
de perceber os próprios pecados e de ter contrição dos delitos, por meio da
penitência.
29. Compara-se aos piores e imagina que possui certa retidão. Em
seguida, devido aos tumultos e negócios que brotam da vida vulgar, perde a
preciosa lembrança de Deus e não somente sofre o prejuízo de não se alegrar e
se deleitar em Deus, de não fruir das delícias do Senhor, de não experimentar a
doçura de suas palavras, de modo a poder afirmar: Lembrei-me de Deus e senti-me cheio de gozo (SI 76,4), e: Quão saborosas são para mim vossas
palavras, mais doces que o mel à minha boca (SI 118,103), mas ainda acostuma-se inteiramente a desprezar
os seus juízos, a deles se esquecer, o que constitui o maior e pior dos males
que lhe possam suceder.
QUESTÃO
7
A
CONVENIÊNCIA DE SE CONVIVER COM OS QUE UNANIMEMENTE TENCIONAM AGRADAR A DEUS. É
TÃO DIFÍCIL QUÃO PERIGOSO VIVER ISOLADO
Uma vez que
vossas palavras nos persuadiram de que é perigoso passar a vida em companhia
dos que desprezam os mandamentos do Senhor, queremos agora saber se quem deles se
afasta deve viver sozinho ou conviver com irmãos que tenham o mesmo modo de
pensar e escolheram idêntico escopo
de piedade.
Resposta
30. Estou convicto de que a vida em comum dos que têm idêntico
escopo é a mais adequada à obtenção de muitas vantagens. Primeiramente, porque
nenhum de nós é autossuficiente para prover às suas necessidades corporais;
para adquirirmos o indispensável precisamos uns dos outros.
31. Os pés têm algumas capacidades, porém para algumas coisas são
incapazes. Privados do auxílio dos outros membros não têm em si força bastante,
nem continuamente são auto-suficientes; não podem suprir as próprias
deficiências. Assim também a vida eremítica torna inútil o que possuímos e não
nos possibilita adquirirmos o que nos falta. Deus, nosso Criador, quis que precisássemos
uns dos outros, e, como está escrito, que o homem se associasse a seu semelhante (Eclo 13,20).
32. Além disso, a caridade de Cristo impede que cada um
considere apenas o que é seu. A caridade, diz-se, não busca os seus próprios
interesses (ICor 13,5). A vida eremítica, porém,
tem um só escopo: o de atender às próprias necessidades. Evidentemente, isso é
oposto à lei da caridade, que o Apóstolo praticou, porque não buscava o interesse
próprio, mas o de muitos, para que fossem salvos (ICor 10,33). Em seguida, quem
vive isolado não reconhecerá facilmente seus pecados, pois não há quem o
repreenda e corrija com mansidão e misericórdia.
33. A repreensão, mesmo se parte de um inimigo, muitas vezes
desperta nos bons o desejo de correção. A purificação, porém, do pecado é
realizada conscientemente por aquele que ama de coração sincero: Quem ama (seu filho), foi dito, corrige-o continuamente (Pr 13,24). É dificílimo encontrar um tal na solidão, se não
houver antes vivido em comum. Acontece-lhe o que foi dito: Ai do homem solitário. Se ele cair não há ninguém
para o levantar (Ecl 4,10).
34. Muitos preceitos são facilmente cumpridos, quando o são por muitos
reunidos; por um sozinho, não, porque uma obra impede outra. A visita de um
enfermo, por exemplo, obsta à recepção de um hóspede e a doação e distribuição
do necessário (principalmente quando esses serviços tomam muito tempo) tolhe o
zelo na prática de boas obras. Com isso cai no esquecimento o preceito máximo e
mais condizente com a salvação: não é nutrido o faminto, nem vestido o nu. Quem
pretenderia dar precedência à vida inerte e infrutífera e não à vida frutuosa,
segundo o mandamento do Senhor?
35. Se todos nós que fomos assumidos numa só esperança da vocação
(Ef 4,4) somos um só corpo, tendo a Cristo por Cabeça (ICor 12,12), e somos
membros uns dos outros, se não nos unirmos na harmonia do Espírito Santo, na
constituição de um só corpo, mas ao contrário escolher cada um viver isolado,
sem servir, como é agradável a Deus, à utilidade comum na dispensação dos bens,
seguindo, como lhe apraz, os próprios apetites, como conservaremos, separados e
divididos, a mútua relação de membros e o serviço ou a obediência devidos a
nossa Cabeça, que é Cristo?
36. Não poderemos, vivendo separados, alegrar-nos com quem é glorificado,
nem sofrer com quem sofre (ibid. 26), não nos sendo possível, como se vê,
conhecer as condições do próximo. Além disso, como ninguém é capaz de receber
todos os carismas espirituais, mas segundo a proporção ãa fé (Rm 12,6) de cada um é dado o Espírito, o dom peculiar a um
transmite-se aos seus concidadãos. A um é dada uma palavra de
sabedoria, a outro a palavra de ciência, a outro a fé, a outro a profecia, a
outro a graça de curar as doenças, etc.
(ICor 12,8.10).
37. Recebe-os cada um, não tanto para si, mas para os outros. Na
vida em comunidade, necessariamente a força do Espírito Santo concedida a um
transmite-se simultaneamente a todos. Quem vive sozinho, talvez possua um dom;
mas enterra-o em si mesmo por preguiça e torna-o inútil. Quão grande é esse
perigo, sabeis vós todos que lestes os Evangelhos. Na convivência com muitos,
porém, goza do que lhe é próprio, multiplica-o ao comunicá-lo e colhe frutos
dos dons alheios, como dos próprios.
38. Possui ainda a vida em comum outras vantagens, difíceis de
enumerar em sua totalidade. É mais proveitosa para a conservação dos bens que
Deus nos deu do que a solidão. Também para a preservação das ciladas externas
do inimigo é mais seguro ter alguns vigias que o despertem no caso de adormecer
naquele sono mortal, que Davi nos preveniu pedirmos se afaste de nós: Iluminai meus olhos com vossa luz, para eu não
adormecer na morte (SI
12,4). É mais fácil ao pecador abandonar o pecado, se receia a condenação
unânime de muitos, de maneira a convir-lhe a palavra: Basta a esse homem o castigo que a maioria lhe
infligiu (2Cor 2,6).
39. Mais forte será a convicção daquele que age bem, sendo muitos
os que o aprovam e concordam com a sua atuação. Se toda questão deve se
resolver pela decisão de duas ou três testemunhas (Mt 18,6), é claro que há de
se sentir muito mais seguro quem fez uma boa obra, atestada por muitos. Além
dos supracitados, há outros perigos que acompanham a vida isolada.
40. O primeiro e o maior é o da auto complacência. Não tendo
quem examine suas obras, julgará ter atingido a perfeição do mandamento. Em
segundo lugar, deixando inertes os bons hábitos, não conhecerá seus próprios
vícios, nem o progresso realizado em obras, estando supressa a matéria para a prática
dos mandamentos.
41. Como demonstrará humildade, se ninguém houver em comparação
do qual se mostre mais humilde? Para com quem usará de comiseração, se está
longe da companhia dos demais? Como se exercitará na paciência, se ninguém se
opõe às suas vontades? Se disser alguém bastar-lhe o ensinamento das divinas
Escrituras para a emenda dos costumes, age à semelhança de quem aprende a
construir, mas nunca edifica, ou como quem aprende a forjar metais, mas não
quer aplicar as normas de sua arte.
42. O Apóstolo poderia lhe dizer: Diante de Deus não são justos os que ouvem a lei,
mas serão tidos por justos os que praticam a lei (Rm 2,13).
43. E eis que o Senhor, no excesso de seu amor aos homens, não se
contentou com ensinar só por palavras. A fim de nos dar exemplo claro e
expresso de humildade, na perfeição do amor, cingiu-se e lavou os pés dos
discípulos. De quem os lavarás tu?
44. A quem servirás? Como serás o último, se moras sozinho? Sendo
bom e agradável para irmãos unidos viverem juntos (SI 132,1), o que o Espírito
compara ao óleo puríssimo que exala da cabeça do sumo pontífice, como se
realizará isso para quem mora isolado?
45. A vida em comum de irmãos é estádio de atletismo, caminho excelente
de progresso, exercício perpétuo e meditação dos mandamentos do Senhor. Tem por
escopo a glória de Deus, segundo o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, que
disse: Assim, brilhe vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai
que está nos céus (Mt 5,16).
46. Esta vida comum conserva o caráter da vida dos santos, mencionada
nos Atos, onde está escrito: Todos os fiéis viviam unidos
e tinham tudo em comum (At
2,44). E ainda: A multidão dos fiéis era um
só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía;
mas tudo entre eles era comum (At
4,32).
O
que você destaca neste texto?
Como
serve para sua vida espiritual?
Como
serve para sua comunidade de Fé?
terça-feira, 19 de agosto de 2025
290 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Regra Monástica - Asketikon - As Regras Extensas (55 regras) - Questões 1 à 4.
290
SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA
(330-379)
Regra Monástica - Asketikon
As
Regras Extensas (55 regras)
Questões
1 a 4
QUESTÃO 1
ORDEM E SEQUÊNCIA DOS MANDAMENTOS DO
SENHOR
Uma vez que
a Escritura nos dá o direito de fazermos perguntas, queríamos saber, antes de
tudo, se há ordem e sequência nos mandamentos de Deus, havendo primeiro, segundo,
etc.; ou se todos estão relacionados e são iguais quanto à precedência, de
maneira que sem receio se possa tomar à vontade o ponto de partida como num
círculo.
Resposta
1.
É uma velha questão. Já fora, outrora,
proposta nos Evangelhos, quando um doutor da lei se aproximou do Senhor e disse:
Mestre, qual é o maior
mandamento da lei? Respondeu
o Senhor: Amarás o Senhor teu Deus de
todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu
espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a
este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Mt 22,36-39).
2.
O próprio Senhor, portanto, dispôs em
ordem os mandamentos. Declarou ser o primeiro e o maior dos mandamentos o referente ao amor de Deus; o
segundo em ordem, semelhante àquele, ou antes complementar e dependente do
primeiro, é o do amor ao próximo.
3.
Daí e de passagens semelhantes das Escrituras
divinas infere-se a ordem e a sequência de todos os mandamentos do Senhor.
QUESTÃO
2
A
CARIDADE PARA COM DEUS. HA, POR NATUREZA, NOS HOMENS INCLINAÇÃO E FORÇA PARA A
PRATICA DOS MANDAMENTOS DO SENHOR
Disserta
primeiro sobre o amor de Deus. Ouvimos ser preciso amar a Deus. Queremos aprender
o modo de consegui-lo bem.
Resposta
4.
O amor de Deus não é coisa que se
aprenda. Não aprendemos de outrem a alegrar-nos com a luz, a almejar a vida, nem
ensinou-nos alguém a amar os progenitores ou nutrícios.
5.
Assim também, ou com maior razão, não provém
de uma disciplina externa o amor de Deus. Mal começa a existir este ser vivo, o
homem, nele se implanta uma espécie de razão seminal contendo em si a faculdade
de amar e a afinidade com o amor. Costuma tomá-la a escola dos mandamentos de
Deus, cultivá-la cuidadosamente, nutri-la com a ciência e, pela graça de Deus,
levá-la à perfeição.
6.
Por isso, nós, vendo vosso zelo, que
aprovamos como necessário à obtenção de nosso escopo, por um dom de Deus e com
o auxílio de vossas preces, esforçar-nos-emos, apoiados na força que recebemos
do Espírito, por suscitar a centelha do amor divino em vós latente.
7.
Importa saber que uma só é essa
virtude; no entanto, por sua eficácia, cumpre-se e abrange-se qualquer mandamento.
Se alguém amar, diz o Senhor, guardará os meus mandamentos
(Jo 14,23). E ainda: Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e
os profetas (Mt 22,40).
8.
Não vamos, porém, desenvolver agora um
discurso muito acurado talvez
despercebidamente incluiríamos o todo referente aos mandamentos numa parte; mas,
na medida do possível e da conveniência do presente propósito, admoestar-vos-emos
a respeito do amor devido a Deus.
9.
Digamos, de início, que de Deus
recebemos antes a força a fim de cumprirmos todos os seus mandamentos, de modo
que não podemos nos insurgir como se nos fossem feitas novas imposições, nem
nos orgulhar como se retribuíssemos com mais do que nos foi dado.
10. E quando, por essa força, agimos bem, de maneira reta,
levamos piedosamente uma vida virtuosa; corrompendo-a, caímos nos vícios.
11. Pois tal é a definição do vício: abuso dos dons de Deus,
destinados ao bem, contra os preceitos do Senhor.
12. Ao invés, a definição da virtude que Deus requer, é a
seguinte: o uso dos mesmos, procedente de uma boa consciência, segundo o
mandamento do Senhor. Sendo assim, diremos o mesmo da caridade.
13. Tendo recebido o mandamento de amar a Deus, entramos de posse
da faculdade de amar, em nós inserta logo que fomos criados. Não é possível
demonstrar tal fato com argumentos externos, mas cada um pode percebê-lo por si
e em si mesmo.
14. Desejamos naturalmente o que é bom e belo, embora essa apreciação
difira de um a outro. Sem haver aprendido, temos amor aos amigos e parentes, e,
de bom grado, cercamos de benevolência aos benfeitores. E o que pode haver de
mais admirável do que a beleza divina?
15. Que pensamento há mais grato do que o da magnificência de
Deus? Ou pode haver desejo da alma veemente e irresistível como o que Deus faz
nascer na alma purificada de todo o vício, a dizer com verdadeiro afeto: Estou enferma de amor (Ct 2,5)?
16. São totalmente inefáveis e inenarráveis os fulgores da
divina beleza; a palavra não os descobre, não os depreende o ouvido.
17. Descrevam-se, embora, os esplendores da estrela Dalva, a claridade
da lua, a luz do sol, todos desfalecem diante de sua glória, e, comparados à
verdadeira luz, mais se distanciam do que uma noite profunda, sombria e sem
luar difere do clarão do meio-dia. É invisível essa beleza aos olhos da carne; só a apreendem a
alma e a mente.
18. Quando ilumina os santos, estimula-os com um desejo
incontido, levando-os a dizer, entediados, da vida presente: Ai de mim por se ter prolongado o meu exílio (SI 119,5). Quando ir ei contemplar a
face de Deus? (SI 41,3). E: Tenho desejo de ir para estar com Cristo, o que
é, sem comparação, o melhor (F11,23).
E ainda: Minha alma tem sede de Deus,
(do Deus) forte e vivo (SI
41,3). E: Agora, Senhor, deixas o teu
servo ir em paz (Lc 2,29).
19. Mal se podia deter o ímpeto daqueles que, atingidos pelo anelo
de Deus, suportavam o peso da vida presente, como sendo um cárcere. Com desejo
insaciável de contemplar a beleza divina, pediam que a contemplação da alegria
do Senhor durasse uma eternidade.
20. Por natureza, os homens desejam o bem e o belo. Propriamente
belo e amável é o bem. Deus é o bem. E todas as coisas apetecem o bem;
portanto, todas elas desejam a Deus.
21. Encontra-se em nós, naturalmente, se a malícia não houver
pervertido nossos pensamentos, aquilo que a vontade nos faz realizar de bom.
22. Por conseguinte, o amor de Deus é reclamado como um dever. Privada
dele, sofre a alma o mais insuportável dos males. Pois o afastamento e a
aversão de Deus é um mal mais intolerável até do que os ameaçadores suplícios
da geena e mais pesado para quem o sofre do que a privação da vista, mesmo se
indolor, e a perda da vida para os animais.
23. Se os filhos, por natureza, amam os pais (demonstra-o o
instinto dos animais e o afeto das crianças de tenra idade às suas mães), não nos
mostremos mais desarrazoados do que as criancinhas, nem mais selvagens do que
as feras, permanecendo estranhos e desafeiçoados em relação a nosso Criador.
Ignorássemos embora qual a sua bondade, só pelo fato de nos ter criado, deveríamos
querer-lhe bem, amá-lo imensamente e estar continuamente suspensos a sua
lembrança, como os pequeninos aos braços de sua mãe.
24. Entre aqueles que por natureza amamos, ocupam o primeiro lugar
os benfeitores. Este afeto aos beneméritos não é exclusivo ao homem, mas é
sentimento comum a quase todos os animais. Foi dito: “O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo
do seu dono” (Is 1,3). Que não se diga de nós o que se segue imediatamente: Mas Israel não me conhece e meu povo não tem
entendimento (ibid.). Não é ocioso falar da estima
que os cães e outros animais demonstram àqueles que lhes dão comida?
25. Se dedicamos benevolência e amizade naturais aos
benfeitores, se nos sujeitamos a qualquer labor para retribuir- lhes os dons
com que nos cumularam, como encontrar palavras que expliquem os dons de Deus? A
multidão deles é tão grande que escapa a qualquer cálculo.
26. A magnitude é de tal qualidade e extensão que mesmo um só
deles já exige graças infindas a seu doador. Omitirei os que, embora em si
mesmo sejam excelentes em grandeza e graça, comparados aos maiores brilham
menos, como as estrelas diante dos raios do sol têm fulgor menor e mais impreciso.
27. Falta-nos vagar para medirmos a bondade de nosso benfeitor
pelos dons menores, deixando de lado os maiores.
28. Calem-se, pois, o nascimento do sol, as fases da lua, a temperatura
da atmosfera, as vicissitudes das horas, as águas que caem das nuvens e as que
brotam da terra, o próprio mar, a terra toda, tudo o que nasce da terra, o que
vive nas águas, as espécies que cortam o ar, as inumeráveis diferenças dos
animais, tudo enfim que se destina a serviço da vida humana.
29. Propositadamente, porém, não é lícito preterir, nem pode
quem é razoável e de mente sã calar um grande benefício, embora menos ainda
possa exprimi-lo dignamente. É o seguinte: Deus criou o homem à sua imagem e
semelhança. Honrou-o com o conhecimento de si mesmo. Dotou-o, excluindo todos
os outros animais, com o uso da razão.
30. Deu-lhe a possibilidade de deleitar-se com a incrível beleza
do paraíso e estabeleceu-o príncipe de tudo o que há na terra. Enganado pela
serpente, tendo caído pelo pecado e pelo pecado ficando sujeito à morte e às
tribulações dele decorrentes, nem por isso Deus o abandonou.
31. Primeiramente, deu-lhe a lei em auxílio. Destinou anjos para
sua guarda e cuidado. Enviou profetas para repreenderem os vícios e ensinarem
as virtudes. Reprimiu o incitamento ao mal com ameaças, despertou o desejo do
bem com promessas.
32. Mostrou, de antemão, as consequências de um e outro, muitas
vezes, em diversas pessoas, para advertência dos demais. Depois de tantos e de
tais benefícios, apesar de permanecermos na desobediência, não se apartou de
nós.
33.
Não
nos abandonou a bondade de Nosso Senhor. Não abolimos o amor para conosco pela
insensibilidade com que ofendemos o benfeitor que nos cumulava de honras, mas
fomos de novo chamados da morte e restituídos à vida por Nosso Senhor Jesus Cristo.
34.
No
seguinte ponto é mais admirável ainda sua bondade e benevolência: Sendo ele de condição divina, não considerou a
sua igualdade com Deus como uma presa, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a
condição de escravo (F1 2,6-7).
35. Ele tomou sobre si nossas enfermidades e
encarregou- se de nossos sofrimentos... e foi ferido por nossa causa... para que fôssemos curados
graças a seus padecimentos; e
remiu-nos da maldição da
Lei, fazendo-se por nós Maldição (Is
53,4; G1 3,13).
36.
Submeteu-se
à morte mais ignominiosa para nos reconduzir à vida gloriosa. Não lhe bastou
vivificar os que estavam mortos, mas dignou-se ainda conceder-lhes a dignidade
da divinização e preparou-lhes um eterno repouso, cheio de alegrias tão grandes
que superam todas as cogitações humanas.
37. Que podemos retribuir ao Senhor por tudo o que
nos tem dado? (SI 115,12). É tão bom que não exige
remuneração. Contenta-se com ser amado por causa dos bens que concedeu.
38. Quando tudo isso me vem à mente (confesso meus sentimentos),
invade-me certo arrepio e perturbação, receando que, por falta de ponderação ou
por ocupação com coisas vãs, perca o amor de Deus e me tome motivo de opróbrio
para Cristo.
39. O atual sedutor que se esforça com todos os artifícios, por
meio de atrativos mundanos, para nos induzir ao esquecimento de nosso
benfeitor, e que nos injuria e nos pisa, visando a perdição de nossas almas,
então, diante do Senhor, converterá em insulto o nosso desprezo e gloriar-se-á
de nossa desobediência e defecção.
40. Ele que não nos criou, nem morreu por nós, tem-nos por
companheiros de sua obstinação e negligência em relação aos mandamentos de
Deus.
41. O Senhor ofendido e a jactância do inimigo parecem-me mais
graves do que os suplícios da geena, porque dão matéria ao inimigo de Cristo de
se vangloriar e de se orgulhar contra aquele que por nós morreu e ressuscitou.
A este, por tal razão, como está escrito, somos mais devedores.
42. Até aqui, acerca do amor de Deus. Não pretendo, como disse, esgotar
o assunto. Seria impossível. É apenas uma lembrança sumária para suscitar
sempre em nossas almas o desejo de Deus.
QUESTÃO 3
A CARIDADE PARA COM O PRÓXIMO
Seria
lógico dissertar agora sobre o segundo mandamento, em ordem e valor.
Resposta
43. Dissemos mais acima ser a lei agricultora e nutrícia daquelas
forças implantadas seminalmente em nós. Tendo sido ordenado amarmos o próximo
como a nós mesmos, consideremos se Deus nos deu força para praticarmos esse mandamento.
44. Quem não sabe que o homem é um ser social e manso, e não
isolado e fero? Nada é tão peculiar a nossa natureza como vivermos em comum,
necessitarmos uns dos outros, amarmos os semelhantes. O próprio Senhor, que
antes espargiu em nós essas sementes, reclama frutos adequados, dizendo: Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos
outros (Jo 13,34).
45. Querendo estimular-nos à prática deste mandamento, não
apresentou como características de seus discípulos sinais e milagres estupendos
(embora lhes houvesse concedido no Espírito Santo também tal poder), mas disse:
Nisto todos conhecerão que
sois meus discípulos, se vós amardes uns aos outros (Jo 13,35).
46. E assim, sempre correlaciona esses preceitos, transferindo
para si mesmo os benefícios feitos ao próximo. Diz: Porque tive fome e me destes de comer, etc. (Mt 25,35). E acrescenta: Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus
irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (ibid. 40).
47. É possível, portanto, por meio do primeiro praticar bem o segundo,
e novamente, pelo segundo voltar ao primeiro. Quem ama o Senhor, amará, em consequência,
o próximo: Se alguém ama, diz o Senhor, guardará os meus mandamentos
(Jo 14,23). Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros,
como eu vos amei (Jo 15,12). E reciprocamente, quem ama
o próximo, satisfaz o preceito de amar a Deus, que recebe essa boa ação como
feita a si mesmo.
48. Por isso, Moisés, o fiel servo de Deus, demonstrou tanto
amor a seus irmãos que desejou ser riscado do livro de Deus, no qual fora
inscrito, se não fosse perdoado o pecado do povo (Ex 32,32).
49. E Paulo ousou pedir ser separado
de Cristo por amor de seus irmãos, de sua raça, segundo a carne (Rm 9,3), porque à imitação do Senhor, queria fazer-se o
preço da salvação de todos; mas estava bem cônscio de ser impossível afastar-se
de Deus quem, por caridade, a fim de observar o maior mandamento, rejeitasse a
graça de Deus. Ao contrário, receberia muito mais do que havia dado.
50. Aliás, o que foi dito mais acima demonstra suficientemente haver
chegado a esta medida, a caridade dos santos para com o próximo.
QUESTÃO
4
O TEMOR
DE DEUS
Resposta
51. O sábio Salomão adverte ser mais útil para os principiantes
na piedade a formação baseada no temor, ao dizer: O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pr 1,7).
52. Vós, porém, que em Cristo já ultrapassastes a infância, não precisais
mais de leite e podeis ser levados à perfeição segundo o homem interior por
meio do sólido alimento dos dogmas; necessários se tomam, portanto, preceitos
mais sublimes, nos quais se consuma, em toda verdade, a caridade em Cristo.
53. Acautelai-vos, para que a superabundância dos dons de Deus
não se torne causa de condenação maior, se fordes ingratos para com o benéfico
doador. Quanto mais se confiar a
alguém, dele mais se há de exigir (Lc
12,48).
Amor de Deus
O amor de
Deus não é coisa que se aprenda. Não aprendemos de outrem a alegrar-nos com a
luz, a almejar a vida, nem ensinou-nos alguém a amar os progenitores ou
nutrícios. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Amor de Deus
Assim
também, ou com maior razão, não provém de uma disciplina externa o amor de
Deus. Mal começa a existir este ser vivo, o homem, nele se implanta uma espécie
de razão seminal contendo em si a faculdade de amar e a afinidade com o amor.
Costuma tomá-la a escola dos mandamentos de Deus, cultivá-la cuidadosamente,
nutri-la com a ciência e, pela graça de Deus, levá-la à perfeição. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou
de CESAREIA (330-379). Regra Monástica –
Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Amor de Deus
Por isso,
nós, vendo vosso zelo, que aprovamos como necessário à obtenção de nosso
escopo, por um dom de Deus e com o auxílio de vossas preces, esforçar-nos-emos,
apoiados na força que recebemos do Espírito, por suscitar a centelha do amor divino
em vós latente. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Amor a Deus
Quem ama
o Senhor, amará, em consequência, o próximo: Se alguém ama, diz o Senhor, guardará os meus mandamentos (Jo 14,23). Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros,
como eu vos amei (Jo 15,12). E reciprocamente, quem ama
o próximo, satisfaz o preceito de amar a Deus, que recebe essa boa ação como
feita a si mesmo. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 3
Vícios e virtudes
Pois tal
é a definição do vício: abuso dos dons de Deus, destinados ao bem, contra os preceitos
do Senhor. Ao invés, a definição da virtude que Deus requer, é a seguinte: o
uso dos mesmos, procedente de uma boa consciência, segundo o mandamento do
Senhor. Sendo assim, diremos o mesmo da caridade.
Tendo
recebido o mandamento de amar a Deus, entramos de posse da faculdade de amar,
em nós inserta logo que fomos criados. Não é possível demonstrar tal fato com
argumentos externos, mas cada um pode percebê-lo por si e em si mesmo. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou
de CESAREIA (330-379). Regra Monástica –
Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Belo
Desejamos
naturalmente o que é bom e belo, embora essa apreciação difira de um a outro.
Sem haver aprendido, temos amor aos amigos e parentes, e, de bom grado,
cercamos de benevolência aos benfeitores. E o que pode haver de mais admirável
do que a beleza divina? SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Belo
São
totalmente inefáveis e inenarráveis os fulgores da divina beleza; a palavra não
os descobre, não os depreende o ouvido. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379).
Regra Monástica –
Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Belo
Descrevam-se,
embora, os esplendores da estrela Dalva, a claridade da lua, a luz do sol,
todos desfalecem diante de sua glória, e, comparados à verdadeira luz, mais se
distanciam do que uma noite profunda, sombria e sem luar difere do clarão do meio-dia.
É invisível essa beleza aos olhos da carne; só a apreendem a
alma e a mente. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Belo e contemplação dos Santos
Quando
ilumina os santos, estimula-os com um desejo incontido, levando-os a dizer,
entediados, da vida presente: Ai de mim por se ter prolongado o meu exílio (SI 119,5). Quando irei contemplar a face de Deus? (SI 41,3). E: Tenho desejo de ir para estar com Cristo, o que
é, sem comparação, o melhor (F11,23).
E ainda: Minha alma tem sede de Deus,
(do Deus) forte e vivo (SI 41,3). E: Agora, Senhor, deixas o teu
servo ir em paz (Lc 2,29). Mal se podia deter o ímpeto
daqueles que, atingidos pelo anelo de Deus, suportavam o peso da vida presente,
como sendo um cárcere. Com desejo insaciável de contemplar a beleza divina,
pediam que a contemplação da alegria do Senhor durasse uma eternidade. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou
de CESAREIA (330-379). Regra Monástica –
Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Belo
Por
natureza, os homens desejam o bem e o belo. Propriamente belo e amável é o bem.
Deus é o bem. E todas as coisas apetecem o bem; portanto, todas elas desejam a
Deus. Encontra-se em nós, naturalmente, se a malícia não houver pervertido
nossos pensamentos, aquilo que a vontade nos faz realizar de bom. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Bondade de Deus
Não nos
abandonou a bondade de Nosso Senhor. Não abolimos o amor para conosco pela
insensibilidade com que ofendemos o benfeitor que nos cumulava de honras, mas
fomos de novo chamados da morte e restituídos à vida por Nosso Senhor Jesus Cristo.
SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Sacrifico de Jesus
Submeteu-se
à morte mais ignominiosa para nos reconduzir à vida gloriosa. Não lhe bastou
vivificar os que estavam mortos, mas dignou-se ainda conceder-lhes a dignidade
da divinização e preparou-lhes um eterno repouso, cheio de alegrias tão grandes
que superam todas as cogitações humanas. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379).
Regra Monástica –
Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 2
Comunhão
Quem não
sabe que o homem é um ser social e manso, e não isolado e fero? Nada é tão
peculiar a nossa natureza como vivermos em comum, necessitarmos uns dos outros,
amarmos os semelhantes. O próprio Senhor, que antes espargiu em nós essas
sementes, reclama frutos adequados, dizendo: Dou-vos um novo mandamento:
Amai-vos uns aos outros (Jo
13,34). SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Regra Monástica – Asketikon. As Regras Extensas (55 regras). Questão 3
O
que você destaca neste texto?
Como
serve para sua vida espiritual?
Como
serve para sua comunidade de Fé?