segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

122 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 34)


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122
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 34)


HOMILIA 34 - Lc 10.25-37
Sobre o que está escrito: “Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?” até aquela passagem em que é dito: “Vá, e tu também faz o mesmo”.

A parábola do bom samaritano
Embora haja muitos preceitos na Lei, o Salvador colocou no Evangelho apenas estes que, em uma espécie de resumo, conduzissem os que os observam à vida eterna.
É a isso, com efeito, que se refere uma pergunta que lhe havia dirigido um doutor da Lei, dizendo: “Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?” Essa leitura segundo [São] Lucas vos foi recitada hoje. Jesus respondeu: “O que está escrito na Lei? O que lês lá?
Tu amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, com todas as tuas forças, de toda a tua alma; e a teu próximo como a ti mesmo”.
E em seguida, Jesus diz: “Respondeste bem, faz isto e viverás”. Sem nenhuma dúvida, se trata da vida eterna, sobre a qual também o doutor da Lei havia interrogado e que havia sido o conteúdo das palavras do Salvador.
Ao mesmo tempo, somos instruídos de modo totalmente claro pelo preceito da Lei a amarmos a Deus.
No Deuteronômio, Deus nos fala: “Escuta, Israel, o Senhor teu Deus é o único Deus”, e “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração” e a sequência, e “ao próximo como a ti mesmo”.
E o Salvador prestou testemunho a essas verdades, dizendo: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas”.
O doutor da Lei, porém, “querendo justificar-se a si mesmo” e mostrar que ninguém era seu próximo, diz: “Quem é meu próximo?”.
O Senhor, então, apresentou a parábola, cujo início é: “Um certo homem descia de Jerusalém para Jericó”, e a sequência. E ensina que aquele que descia não foi próximo de ninguém, senão daquele que quis guardar os mandamentos e preparar-se para ser o próximo de todo homem que necessita de auxílio.
É isso, com efeito, que é colocado no fim, depois da parábola: “Qual destes três te parece ser o próximo daquele que caiu na mão dos ladrões?” Com efeito, nem o sacerdote, nem o levita foram seus próximos, mas, como o próprio doutor da Lei também respondeu, foi seu próximo “aquele que praticou a misericórdia”.
Daí também é dito pelo Salvador: “Vai, faz tu também de modo semelhante”.

Interpretação tradicional da parábola
Dizia alguém entre os presbíteros, querendo interpretar a parábola, que o homem que descia representa Adão; Jerusalém, o paraíso; Jericó, o mundo; os ladrões, as potências inimigas; o sacerdote, a Lei; o levita, os profetas; o samaritano, o Cristo.
Mas as feridas devem ser interpretadas como a desobediência; a montaria, o corpo do Senhor; o “pandochium”, isto é, o albergue que acolhe a todos os que querem aí entrar, a Igreja.
Além disso, os dois denários devem ser entendidos como o Pai e o Filho; o albergueiro, o chefe da Igreja, a quem é confiada a sua administração.
Mas quanto à promessa feita pelo samaritano de voltar, era a figura do segundo advento do Salvador.

Sentido cristológico
Ainda que essas interpretações sejam enunciadas de modo espiritual e sedutor, não se deve, porém, considerar que elas possam se aplicar a qualquer homem.
Com efeito, nem todo homem “descia de Jerusalém para Jericó”, porque nem todos os homens vivem no século presente, mesmo se o Cristo, que “foi enviado, tenha vindo por causa das ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Portanto, o homem que “desceu de Jerusalém para Jericó” “caiu na mão dos ladrões”, porque ele próprio quis descer.
Os ladrões, porém, não são ninguém mais senão aqueles dos quais diz o Salvador: “Todos os que vieram antes de mim foram ladrões e bandidos”.
Entretanto ele não cai na mão de ladrões, mas na mão de “bandidos” muito mais malvados que os ladrões, que, estando ele a descer “de Jerusalém”, quando havia caído na mão deles, “o roubaram e o cobriram de ferimentos”.
Quais são esses ferimentos, quais as feridas com as quais o homem estava coberto? Os vícios e os pecados.
Em seguida, porque os bandidos, que o espancaram mais de uma vez, o despojaram de suas vestes e o cobriram de feridas, não o socorrem em sua nudez e o abandonam, a Escritura diz: “Tendo-o despojado e coberto de feridas, foram embora e o abandonaram” não morto, mas semimorto.
Sucedeu, porém, que desciam, pela mesma estrada, primeiramente “um sacerdote”, depois “um levita”, que talvez havia feito algum bem a outros homens, não, porém, àquele que havia descido “de Jerusalém para Jericó”.
O sacerdote, a meu ver, figura da Lei, com efeito, o vê; o levita, que, em minha opinião, representa a palavra profética, também o vê.
Mas depois que o viram, passaram e o abandonaram. A Providência, porém, deixava aquele homem semimorto aos cuidados daquele que era mais forte que a Lei e os Profetas, isto é, ao Samaritano, cujo nome significa “guardião”.
É ele que “não cochila nem dorme guardando Israel”.
Para socorrer o semimorto, o samaritano pôs-se a caminho, descendo “de Jerusalém para Jericó”, não como o sacerdote e o levita descem; se ele desce, desce para salvar o moribundo e guardá-lo; mas os judeus lhe disseram: “Tu és um samaritano e és possuído por um demônio”.
Depois de ter negado que estivesse possuído por um demônio, Jesus não quis negar que ele fosse samaritano, pois ele sabia que era um guardião.
Assim, depois de ter vindo até o homem semimorto e tê-lo visto revolver-se em seu sangue, ele se compadeceu e aproximou-se dele para se tornar o seu próximo, “apertou com ligadura suas feridas, derramou óleo misturado ao vinho”, e não disse o que se lê no Profeta: “Não há nem curativo, nem óleo, nem ataduras para aplicar”.
Esse é o samaritano, de cujo cuidado e auxílio todos os que estão doentes necessitam, e o
moribundo, aquele homem que, descendo “de Jerusalém, havia caído na mão dos bandidos” e, ferido por eles, havia sido abandonado meio morto, necessitava especialmente do auxílio desse samaritano.
Porém, para que saibas que, segundo a Providência Divina, esse samaritano desceu para cuidar daquele que “havia caído na mão dos bandidos”, claramente receberás a instrução de que ele trazia consigo ligaduras, trazia consigo óleo, trazia consigo vinho, o qual, evidentemente, penso que o samaritano carregava consigo não por causa desse único semimorto, mas por causa de outros também, que, por várias causas, tinham sido feridos e necessitavam de ligaduras e óleo e vinho.
Ele tinha o óleo, do qual a Escritura diz: “Que o óleo faça o rosto alegrar-se”; e sem dúvida que é o rosto daquele que tinha recebido o cuidado. Para acalmar a inflamação das feridas, ele as limpa com óleo e com vinho misturado com algo amargo.
Depois, colocou aquele que tinha sido ferido sobre sua montaria, isto é, seu próprio corpo, junto ao qual se dignou assumir a humanidade.
Esse samaritano “carrega nossos pecados” e sofre por nós, carrega o semimorto e o conduz a um albergue, isto é, para a Igreja, que acolhe todos os homens e não recusa seu socorro a ninguém, para a qual Jesus manda vir a todos, dizendo: “Vinde a mim todos que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.
E, tendo conduzido o moribundo, não o deixa imediatamente, mas por um dia inteiro persevera com ele, e cura suas feridas não apenas de dia, mas também à noite, dedicando-lhe assim toda a sua solicitude e aplicação.
E quando, de manhã, preparava-se para partir, de suas preciosas moedas de prata, de seu precioso dinheiro, “ele apanha dois denários” e gratifica o albergueiro, que, sem dúvida alguma, é o anjo da Igreja, a quem prescreve que cuide diligentemente e conduza até a cura completa aquele que ele próprio também havia cuidado por um tempo exíguo.
Quanto aos dois denários dados ao anjo como salário para que cuide com toda diligência do homem a ele confiado, eles representam, parece-me, o conhecimento do Pai e do Filho e o conhecimento desse mistério, de como pode estar o Pai no Filho e o Filho no Pai.
E é prometido ao albergueiro o reembolso sem demora de tudo quanto tiver gasto de seu para a cura do moribundo.
Este guardião das almas apareceu verdadeiramente mais próximo que a Lei e os Profetas, ele “que fez misericórdia àquele que havia caído na mão dos bandidos”, e mostrou-se seu próximo não tanto em palavras, mas em atos.
É, pois, possível, segundo o que é dito: “Sereis meus imitadores, como eu o sou de Cristo”, que imitemos o Cristo e que nos compadeçamos daqueles que “tenham caído na mão dos bandidos”; que nos aproximemos deles, que ponhamos ataduras em suas feridas, que derramemos óleo e vinho, que os coloquemos sobre nossa própria montaria e carreguemos seus fardos.
E é por isso que o Filho de Deus, exortando-nos a tais recomendações, se dirige não tanto ao doutor da Lei quanto também a nós todos: “Vai tu também e faz de modo semelhante”.
Se tivermos agido de modo igual, obteremos a vida eterna no Cristo Jesus: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A Natividade do Senhor nas pregações dos Pais da Igreja


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A Natividade do Senhor
nas pregações dos Pais da Igreja



Inácio de Antioquia (35-107)
“Os mistérios clamorosos se realizaram no silêncio de Deus: a virgindade de Maria, o seu parto e a morte do Senhor”.
“No firmamento brilhou uma estrela maior do que todas as outras! A sua luz era indescritível. A sua novidade causou estranheza. Mas todos os demais astros, incluindo o Sol e a Lua, fizeram coro à Estrela. Esta, porém, ia arremessando a sua luz por sobre todos os demais. Houve, por isso, agitação. Donde lhes viria tão estranha novidade? Desde então, desfez-se toda a magia; suprimiram-se todas as algemas do mal. Dissipou-se toda a ignorância; o primitivo reino corrompeu-se, quando Deus se manifestou humanamente para a novidade de uma vida eterna”.

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Efrém, o Sírio (306-373)
“O menino que se encontra na manjedoura … aquele que rompeu o jugo que a todos oprimia”. “Fazendo-se Ele mesmo servo para nos chamar à liberdade”.
“Só um anjo anunciou a sua concepção, enquanto que para o seu nascimento uma multidão de anjos O anunciaram”.

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Gregório de Nazianzo (329-389)
“Esta é a nossa festa. Isto celebramos hoje: a vinda de Deus ao meio dos homens, para que, também nós cheguemos a Deus… celebremos, pois, a festa: não uma festa popular, mas uma festa de Deus, não como o mundo quer, mas como Deus quer; não celebremos as nossas coisas mas as coisas daquele que é nosso Senhor”.
“Não embelezemos as portas das casas, não organizemos festas, nem adornemos as estradas, não demos banquetes em nosso proveito nem concertos para mero agrado dos ouvidos, não exageremos nos adornos nem nas comidas… e tudo isto enquanto outros padecem fome e necessidades, esses que nasceram do mesmo barro que nós”.

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Prudêncio (348-410)
“Com crescente alegria brilhe o céu/ e dê-se parabéns a si a gozosa terra:/ de novo, passo a passo, sobre o astro/ do dia aos seus caminhos anteriores…/ Oh! Santo berço do teu presépio,/ eterno Rei, para sempre sagrado/ para todos os povos e pelos próprios/ animais sem voz reconhecida”.
“Reconheçamos o verdadeiro dia e tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo. E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro, aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de Natal de Jesus nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos, festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol. Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça”.

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Agostinho de Hipona (354-430)
“mesmo sem dizer nada, deu-nos uma lição, como se irrompesse num forte grito: que aprendamos a tornar-nos ricos nele que se fez pobre por nós; que busquemos nele a liberdade, tendo Ele mesmo assumido por nós a condição de servo; que entremos na posse do céu, tendo Ele por nós surgido da terra”.
                “Alegremo-nos, irmãos, rejubilem e alegrem-se os povos. Este dia tornou-se para nós santo não devido ao astro solar que vemos, mas devido ao seu Criador invisível, quando se tornou visível para nós, quando o deu à luz a Virgem Mãe”.
“Hoje nasceu para nós o Salvador. Nasceu, portanto, para todo o mundo o verdadeiro sol. Deus Fez-se homem para que o homem se fizesse Deus. Para que o escravo se tornasse senhor, Deus assumiu a condição de servo. Habitou na terra o morador do céu para que o homem, habitante da terra, pudesse encontrar morada nos céus”.
“Ele está deitado numa manjedoura, mas contém o universo inteiro; mama num seio materno, mas é o pão dos anjos; veio em pobres panos, mas reveste-nos de imortalidade; é amamentado, mas é também adorado; não encontrou lugar na estalagem, mas constrói para si um templo no coração dos seus fiéis. Tudo isto para que a fraqueza se tornasse forte e a prepotência se tornasse fraqueza. Por isso, não só não menosprezamos, mas mais admiramos o seu nascimento corporal e reconhecemos neste acontecimento quanto a sua imensa dignidade se humilhou por nós”.
 “Aquele que estava deitado na manjedoura fez-se frágil, mas não renunciou à sua condição divina; assumiu aquilo que não era, mas permaneceu aquilo que era. Eis que temos diante de nós Cristo menino: cresçamos juntamente com Ele”.
“Chama-se dia do Natal do Senhor a data em que a Sabedoria de Deus se manifestou como criança e a Palavra de Deus, sem palavras, imitou a voz da carne. A divindade oculta foi anunciada aos pastores pela voz dos anjos e indicada aos magos pelo testemunho do firmamento. Com esta festividade anual celebramos, pois, o dia em que se realizou a profecia: A verdade brotou da terra e a justiça desceu do céu (Sl 84.12).
“Neste dia, o Verbo de Deus revestiu-se de carne e nasceu de Maria virgem. Nasceu de modo admirável... Donde veio Maria? De Adão. Donde veio Adão? Da terra. Se Adão veio da terra e Maria de Adão, também Maria é terra. E se Maria é terra, entendemos quando cantamos: a verdade brotou da terra”.

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Leão Magno (461)
“a bondade divina sempre olhou de vários modos e de muitas maneiras pelo bem do gênero humano, e são muitos os dons da sua providência, que na sua clemência concedeu nos séculos passados. Porém, nos últimos tempos superou os limites da sua habitual generosidade, quando, em Cristo, a própria Misericórdia desceu aos pecadores, a própria Verdade veio aos extraviados, e aos mortos veio a Vida. O Verbo, coeterno e igual ao Pai, assumiu a humildade da nossa natureza humana para nos unir à sua divindade, e Deus nascido de Deus, também nasceu de homem fazendo-se homem”.
“Nasceu hoje, irmãos, o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza quando nasce a vida; a qual, destruindo o temor da morte, nos enche com a alegria da eternidade prometida. Ninguém está excluído da participação nesta alegria; a causa desta alegria é comum a todos, porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar. Exulte o santo porque está próxima a vitória; rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida… Por isso é que, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram em alegria ‘glória a Deus nas alturas’ e anunciaram ‘paz na terra aos homens...’. Porque veem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo, obra inexprimível do amor divino, que, se dá tanto gozo aos anjos nas alturas do céu, que alegria não deverá dar aos homens cá na terra?”


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Máximo de Turim (408)
“Jesus é o novo sol que atravessa as paredes, invade os infernos, perscruta os corações. Ele é o novo sol que com os seus espíritos faz reviver o que está morto, restaura o que está velho, levanta o que está decadente e purifica ainda, com o seu calor, aquilo que é impuro, aquece o que está frio e consome o que o que não presta”.
“Preparemo-nos pois, irmãos, para acolher o Natal do Senhor, adornemo-nos com vestes puras e elegantes! Falo, claro está, das vestes da alma, não do corpo… Adornemo-nos não com seda, mas com obras boas! Pois as vestes elegantes ornam o corpo, mas não podem adornar a consciência; pois seria muito vergonhoso trazer sob elegantes vestes elegantes, uma consciência contaminada. Procuremos acima de tudo embelezar os nossos afetos íntimos, e poderemos então vestir belas roupas; lavemos as manchas da alma para usarmos dignamente roupas elegantes! Não adianta dar nas vistas pelas vestes se estamos sujos em pecados, porque quanto a consciência está escura, todo o corpo fica nas trevas”.

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Romano Melode (490-556)
“Terra e céu rejubilem juntamente, diante do Emanuel que os profetas anunciaram, tornado criança visível, que dorme num presépio”. “A alegria acaba de nascer numa gruta. Hoje os coros dos anjos unem-se a todas as nações para celebrar.... Hoje toda a humanidade, desde Adão, dança. Bendito seja Deus, recém-nascido”.

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terça-feira, 26 de novembro de 2019

121 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 33)


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121
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 33)


HOMILIA 33 - Lc 4.23-27
Sobre o que está escrito: “Sem dúvida, vós me citareis este provérbio” e a sequência, até aquela passagem que diz: “E nenhum deles foi curado, mas somente o sírio Naamã”.

Israel e os gentios
Quanto ao que se refere à narrativa de Lucas, Jesus ainda não se deteve em Cafarnaum, e não consta que nessa cidade tenha feito milagres, visto que nela não ficou.
Mas, antes que viesse a Cafarnaum, é assinalado que esteve em sua pátria, Nazaré. “Sem dúvida”, diz ele a seus concidadãos, “vós me citareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Tudo o que ouvimos ter-se passado em Cafarnaum, faze-o igualmente aqui em tua pátria”.
Por isso, penso que algo misterioso está escondido na presente passagem, na qual Cafarnaum, figura dos gentios, passa adiante de Nazaré, figura dos Judeus.
Por isso Jesus, sabendo que ninguém tem honra em sua pátria, nem ele próprio, nem os profetas, nem os apóstolos, não quis pregar nessa cidade, mas pregou entre os gentios, para que não lhe fosse dito pelos seus compatriotas: “Sem dúvida, vós me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo”.
Virá, com efeito, um tempo em que o povo judeu dirá: “Tudo o que ouvimos ter-se passado em Cafarnaum”, os milagres e os prodígios realizados entre os gentios, faze-os também entre nós, em tua pátria.
O que mostraste ao mundo inteiro, mostrá-lo também. Prega tua mensagem a Israel teu povo, a fim de que, pelo menos, “quando a totalidade dos gentios tiver entrado, todo o Israel seja salvo”.
Por isso, parece-me que, aos Nazarenos que o interrogavam, o Salvador respondeu de caso  pensado: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”. E eu penso que essas palavras são mais verdadeiras segundo o mistério que segundo o sentido literal.

Atitude para com os profetas
Jeremias não foi bem recebido em Anatot, sua pátria; nem Isaías na sua, qualquer que seja ela; nem os outros profetas.
Parece-me, entretanto, que isso deve ser entendido mais desta forma: digamos que a pátria de todos os profetas foi o povo da circuncisão, e que este não acolheu os profetas nem as suas profecias.
Quanto aos gentios, que haviam estado longe dos profetas e não tinham conhecimento deles, eles aceitaram os ensinamentos de Jesus Cristo.
“Nenhum profeta é, pois, bem recebido em
sua pátria”, isto é, no povo judeu. Nós, porém, que não estávamos alheios à aliança e éramos estranhos às promessas, nós acolhemos os profetas de todo nosso coração; e nós temos Moisés e os profetas que anunciavam o Cristo mais do que os judeus, que, precisamente porque não acolheram Jesus, também não acolheram aqueles que trouxeram o anúncio a respeito dele.

A viúva de Sarepta
Daí que, a estas palavras: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”, ele acrescenta outra coisa: “Em verdade, pois, eu vos digo que havia muitas viúvas em Israel nos dias de Elias, quando o céu permaneceu fechado durante três anos e seis meses”.
Tal é o que quer dizer: “Elias era profeta e se encontrava no meio do povo judeu. Mas quando estava para realizar um prodígio, como houvesse várias viúvas em Israel, ele as deixou e veio encontrar uma pobre mulher pagã, uma viúva de Sarepta, no país de Sidon”, explicando assim a figura da realidade futura, porque a “fome que os tomava não era de pão, nem a sede, de água, mas a fome de ouvir a palavra de Deus”.
Veio até a viúva, sobre a qual também o profeta dá testemunho, dizendo: “Os filhos da mulher abandonada são mais numerosos do que os daquela que tem marido”.
E, como tinha vindo, Elias multiplica o pão e os alimentos dessa mulher. Tu eras a viúva de Sarepta, no país de Sidon, de cujas fronteiras “sai a mulher cananeia”, e deseja que sua filha seja curada e, por causa de sua fé, mereceu receber o que pedia.
“Havia muitas viúvas no meio do povo de Israel, mas a nenhuma delas foi enviado Elias, mas a Sarepta, para uma pobre mulher viúva”.
Naamã, figura do batismo.
 E o Cristo acrescenta outro exemplo, que é pertinente a outro sentido: “Havia muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, mas somente o sírio Naamã”, que, certamente, não pertencia ao povo de Israel.
Considera o grande número de leprosos até o presente dia “em Israel segundo a carne”; vê, por outro lado, o Eliseu espiritual, nosso Senhor e Salvador, que purifica no mistério batismal os homens cobertos da crosta da lepra e que diz a ti: “Levanta-te, vá ao Jordão, lava-te e tua carne te será restituída”.
Naamã levantou-se, foi-se, e, lavado, cumpriu o mistério do batismo, “sua carne tornou-se semelhante à carne de uma criança”.
De qual criança? Daquela que, “no banho da regeneração”, nascerá no Cristo Jesus: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

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terça-feira, 19 de novembro de 2019

120 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 32)


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120
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 32)


HOMILIA 32 - Lc 4.14-20
Sobre o que está escrito: “Jesus retornou com o poder do Espírito”, até aquela passagem que diz: “E os olhos de todos na sinagoga estavam fixos sobre ele”.

No poder do Espírito
No começo, evidentemente, Jesus, “cheio do Espírito Santo, voltou das margens do Jordão e era conduzido pelo Espírito no deserto durante quarenta dias”. Como seria tentado pelo diabo, e como ainda ia lutar contra ele, a palavra “espírito” é citada ora uma vez, ora duas vezes sem nenhum acréscimo. Mas, depois que Jesus, lutando, superou as três tentações que a Escritura menciona, vê o que é citado, de modo característico e prudentemente, a respeito do Espírito. Diz a Escritura: “Jesus retornou no poder do Espírito”. Foi acrescentada a palavra “poder”, porque ele havia calcado aos pés o dragão e havia vencido o tentador numa luta corpo a corpo. Jesus “retornou, pois, para a terra da Galileia no poder do Espírito, e sua reputação se espalhou por toda a região ao redor. Ele próprio ensinava em suas sinagogas e todos celebravam seus louvores”.

O ensinamento de Jesus, sempre atual
Quando lês: “Ele ensinava em suas sinagogas e todos celebravam seus louvores”, cuida para que não julgues felizes apenas os ouvintes do Cristo, e te consideres privado de seu ensinamento. Se são  verdadeiras as coisas que constam na Escritura, o Senhor não fala apenas nas assembleias judaicas, mas também hoje em nossa assembleia, e não somente na nossa, mas Jesus ensina também em outras reuniões e no mundo inteiro, procurando instrumentos através dos quais possa ensinar. Orai para que ele me encontre igualmente disposto e apto a cantá-lo! Com efeito, do mesmo modo que o Deus todo-poderoso buscava profetas naquele tempo em que os mortais careciam de profecia, e encontrou, por exemplo, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, assim Jesus busca instrumentos através dos quais possa ensinar sua palavra e possa instruir os povos em suas sinagogas, e seja glorificado por todos. Hoje Jesus é mais “glorificado por todos” do que naquele tempo em que era conhecido em apenas uma província.

Na sinagoga de Nazaré
“Ele veio em seguida a Nazaré, onde havia sido criado, e entrou, segundo o costume, no dia de sábado, na sinagoga; e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando o livro, encontrou uma passagem onde estava escrito: ‘o Espírito do Senhor está sobre mim, e por isso ele me consagrou pela unção’”.  Não é por simples acaso, mas por intervenção da Divina Providência que desenrolou o livro e encontrou no texto o capítulo que profetizava a seu respeito. Assim, pois, está escrito: “Na rede não cai um pardal sem a vontade do Pai” e porque “os cabelos da cabeça” dos Apóstolos “são todos contados”. Seria, então, efeito do acaso que tenha sido encontrado o livro de Isaías mais facilmente que qualquer outro, e esta leitura que exprimiria o mistério de Cristo, e não outra: “O Espírito do Senhor está sobre mim, e por isso ele me consagrou pela unção”? É o Cristo, com efeito, que lembra essas coisas, e deve-se considerar que nada sucedeu por simples bel-prazer e por acaso, mas pela Providência e pelo desígnio de Deus.

A Boa-Nova
Quaisquer que sejam as condições, portanto, consideremos o que é dito no livro do Profeta e o que, em seguida, Jesus proclama de si mesmo na sinagoga. “Ele me enviou”, disse ele, “para levar a Boa-Nova aos pobres”. Os pobres significam os gentios. Eles eram, com efeito, pobres que não possuíam absolutamente nada, nem Deus, nem Lei, nem Profetas, nem justiça, nem nenhuma outra virtude. É por esta razão que Deus o enviou, para que fosse o mensageiro para os pobres: para “anunciar aos cativos a libertação”. Nós fomos cativos, por tantos anos Satanás nos mantinha acorrentados, prisioneiros e sujeitos a seu poder. Jesus veio “anunciar aos cativos a libertação e aos cegos, o retorno à visão”. Com efeito, pela sua palavra e pela pregação de sua doutrina, os cegos voltam a ver. Sua pregação deve ser entendida como alcance geral, não só para os cativos, mas também para os cegos. “Devolver a liberdade aos oprimidos”. Que ser foi destarte oprimido e magoado quanto o homem, que, por Jesus, foi libertado e curado? “Proclamar um ano da graça do Senhor.” Segundo a interpretação literal pura e simples, dizem que o Salvador pregou o Evangelho por um ano na Judeia, e [esse] é o sentido da expressão: “Proclamar um ano da graça do Senhor e o dia da retribuição”, se a Palavra de Deus não quiser, talvez, dizer algo de mistério na proclamação do ano do Senhor. Os dias futuros, com efeito, serão diferentes, não tais quais os que vemos agora neste mundo, os meses também serão diferentes tanto quanto a ordem das calendas. Se todos esses tempos são, pois, diferentes, assim também o ano do Senhor que há de vir é portador de graça. E todas essas realidades foram anunciadas, para que depois de ter passado da cegueira à visão, depois de ter passado das correntes à liberdade, depois de
ter passado das diversas feridas à cura, cheguemos ao “ano da graça do Senhor”.

Ver Jesus
“Depois de ter lido essas palavras, enrolando o livro, o deu ao servo e assentou-se, e
todos, na sinagoga, tinham os olhos fixos nele.” Mesmo atualmente, se o quiserdes, em nossa sinagoga e assembleia, vossos olhos podem fixar-se sobre o Salvador. Quando tiveres direcionado, com efeito, o olhar mais profundo de teu coração para contemplar a Sabedoria e a Verdade e o Unigênito de Deus, teus olhos fixar-se-ão sobre Jesus. Bem-aventurada a congregação da qual a Escritura dá testemunho de que “os olhos de todos estavam fixos sobre ele!”. Como eu queria que esta assembleia tivesse semelhante testemunho, que os olhos de todos, dos catecúmenos, dos fieis, das mulheres, dos homens e das crianças, não os olhos do corpo, mas os da alma, estivessem voltados para Jesus! Quando tiverdes, com efeito, voltado vosso olhar para ele, sua luz e sua contemplação tornarão vossos rostos mais luminosos e podereis dizer: “Foi assinalada sobre nós a luz de tua face, ó Senhor”: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

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terça-feira, 12 de novembro de 2019

119 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 31)


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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 31)


HOMILIA 31 - Lc 4.9-13
Sobre a terceira tentação do salvador

A terceira tentação
Sondai as Escrituras, de modo que também naquelas passagens consideradas simples possais descobrir mistérios que não são pequenos.
Examinemos o princípio da leitura do Evangelho que ouvimos hoje e apareça em pleno dia o que estava oculto. “O diabo”, diz-se, “conduziu Jesus a Jerusalém”.
É incrível que o diabo conduzisse o Filho de Deus e ele o seguisse. Jesus seguia, sem dúvida alguma, como o faz o atleta que se dirige espontaneamente à prova.
Não temia o tentador nem receava as armadilhas de um inimigo bastante astuto, e devia expressar-se mais ou menos nestes termos: “Conduze-me onde queiras, tenta-me como te aprouver, me ofereço espontaneamente à tentação.
Suporto o que tiveres sugerido, me entrego a toda sorte de tentações: em todas me encontrarás mais forte”.
“Ele o conduziu, portanto, a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, atira-te para baixo”.
O diabo o conduziu ao cume, ao ponto mais alto do templo, e o exortou a precipitar-se de lá de cima.
Como ele propusesse isso fraudulentamente e tentasse outra coisa sob pretexto de mostrar a glória do Cristo, o Salvador respondia: “Está escrito: não tentarás o Senhor teu Deus”.
Considera também o modo com que o diabo tenta o Cristo.
Ele não ousa tentar invocando o testemunho de nenhuma outra parte senão o dos Salmos, que diz: “Se tu és o Filho de Deus, atira-te para baixo. Com efeito, está escrito: Ele deu ordens para ti, ordens a seus anjos; eles te levarão em suas mãos, para que não machuques contra uma pedra o teu pé”.
Como sabes, ó diabo, que estas palavras estão na Escritura? Leste os Profetas ou conheceste a Palavra divina?
Ainda que tu cales, eu responderei em teu lugar. Leste, não para que te tornes melhor a partir da leitura dos livros santos, mas para matar por meio da simples letra os que são amigos da letra.
Sabes que, se quiseres falar ao Cristo de outras obras, não o enganarás, nem poderão ter nenhuma autoridade tuas asserções.

Contra a exegese dos gnósticos
Marcião lê as Escrituras assim como o diabo; e da mesma forma Basílides e Valentino, para, juntamente com o diabo, dizerem ao Salvador: “Está escrito: Ele deu ordens para ti a seus anjos, e eles te levarão em suas mãos, para que não machuques contra uma pedra o teu pé”.
Se porventura ouvires testemunhos das Escrituras, vela para que não aquiesças imediatamente a quem fala, mas considera sua vida, seus pensamentos e sua intenção, para que não simule ser o santo que talvez não seja, e sob a pele de uma ovelha se esconda um lobo infectado pelos venenos da heresia, pelo qual o diabo não fale a respeito das Escrituras.
Mas o diabo fala, segundo a ocasião dos tempos, apoiando-se nas Escrituras.
Paulo, ao contrário, pelo bem daqueles que o ouvem, toma o testemunho não só das Escrituras, mas também dos livros profanos e diz: “Cretenses sempre mentirosos, bichos maus, ventres preguiçosos”.
Cita outro autor: “Nós somos também da sua mesma raça”. E até um cômico: “As más tagarelices corrompem os bons costumes”.
Mas nem o diabo, citando as Escrituras, poderá nesta ocasião me enganar, nem Paulo, tirando algum exemplo das letras profanas, me afastará de seu ensinamento.
Com efeito, para santificar [seus ouvintes] Paulo tomou também como suas as palavras daqueles que não são dos nossos.

A exegese do diabo
Vejamos, pois, a passagem da Escritura que o diabo propõe ao Senhor: “Com efeito, está escrito: Ele deu ordens para ti, ordens a seus anjos; eles te levarão em suas mãos, para que não machuques contra uma pedra o teu pé”.
Vê como ele é dissimulado até nos próprios testemunhos.
O diabo quer, com efeito, diminuir a glória do Salvador, como se Jesus necessitasse do auxílio dos anjos, prestes a dar uma topada com o pé, se não fosse alçado pelas mãos deles.
Ele toma um testemunho, e aplica ao Cristo um versículo da Escritura que não diz respeito ao Cristo, mas aos santos em geral.
Com toda liberdade e com uma inteira segurança, afirmo, contrariamente ao diabo, que essas palavras não podem ser entendidas da pessoa do Cristo.
Ele, com efeito, não necessita do socorro dos anjos. Ele é maior que os anjos e, por herança, alcançou um nome bem mais superior que os deles.
A nenhum dos anjos Deus disse alguma vez: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”.
A nenhum deles ele falou como a um filho: “Ele fez de seus anjos sopros e servidores, um fogo ardente”; mas dirige a Cristo estas palavras: “Tu és meu Filho, hoje eu te gerei”, [as dirige] a seu próprio Filho, do qual ele fala nos profetas em inumeráveis passagens.
O Filho de Deus, eu digo, não necessita do auxílio dos anjos.
Aprende, pois, ó diabo, que os anjos tropeçarão, se Jesus não os ajudar.
E se se viu algum dos anjos, [algum] dos quais há pouco foi lido: “Nós julgaremos os anjos”, tropeçou porque não estendeu a sua mão a Jesus, a fim de que, segurado por ele, não tropeçasse.
Com efeito, quando alguém que confia na própria virtude não invoca a assistência de Jesus, tropeça e cai.
E tu, ó diabo, caíste “como um raio do céu” porque não quiseste crer em Jesus Cristo, Filho de Deus.
Para que saibas, porém, que tu interpretaste erroneamente, escuta que o que se segue deve ser entendido, não a respeito de Cristo, mas a respeito dos santos.
Não é a Jesus Cristo, mas aos santos que Deus liberta da “ruína e do demônio do meio-dia”. Lê o Salmo 91, do qual aqui está o começo: “Aquele que se mantém sob o auxílio do Altíssimo permanecerá na proteção do Deus Todo-poderoso”.
Constatarás que a passagem seguinte diz respeito mais ao homem justo do que ao Filho de Deus: “Mil cairão a teu lado e dez mil a tua direita, mas de ti não se aproximarão; entretanto tu verás com teus olhos e contemplarás o salário dos pecadores”, e o resto, fazendo uma interpretação da pessoa do justo.
Mas o diabo se serve perversamente dos testemunhos também assim, para afirmar que as coisas que eram ditas acerca dos justos deviam ser entendidas como se dissesse respeito ao Salvador, enquanto silencia e omite os versículos que contra ele foram escritos.
De fato, depois de ter dito: “Ele deu ordens para ti a seus anjos, e eles te levarão em suas mãos, para que não machuques contra uma pedra o teu pé”, silenciou quanto ao que se segue: “Sobre a áspide e o basilisco tu andarás, e calcarás o leão e o dragão”.
Por que isso, ó diabo, senão porque tu és “basilisco”, tu és o régulo de todas as serpentes, que tens os venenos mais nocivos que todos os outros, que causas instantaneamente a morte daquele que tu vês?
Sabes que também existe outra força inimiga a teu lado, que se chama “áspide” e que está submetida ao homem justo e, por isso, nada dizes de tudo isso.

Vitória sobre Satanás
Tu és “o dragão”, tu és “o leão”, dos quais está escrito: “Sobre a áspide e o basilisco tu andarás, tu calcarás aos pés o leão e o dragão”.
Mas, apesar de teu silêncio, nós que lemos as Escrituras com mais retidão sabemos que possuí mos o poder de te calcar aos pés, e que este poder nos foi dado; pois digo que é cantado não só no Salmo no Antigo Testamento, mas também agora, também no Novo, com a palavra do Salvador: “Eis que vos dou o poder de calcar aos pés serpentes, escorpiões e todos os poderes do inimigo, e nada vos prejudicará”.
Tomemos as armas, firmados por tão grande poder, e façamos de tudo para calcar aos pés, por nossa conduta, o leão e o dragão.
Doravante, para que saibas como pode ser calcado aos pés o leão e esmagado o dragão, lê a epístola de Paulo, na qual ele afirma que o Filho de Deus é calcado aos pés pelo pecador.
Como, portanto, aquele que é pecador calca aos pés o Filho de Deus, assim, pelo contrário, aquele que é justo “calca aos pés o leão e o dragão”, e calca aos pés “todo o poder do inimigo”, em nome de Jesus Cristo: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

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