sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Solenidade de Cristo, o Rei do Universo e o Calendário Cristão.

 

Solenidade de Cristo, o Rei do Universo e o Calendário Cristão.

 

Este é o último domingo do Ano Litúrgico. Estamos encerrando o Ano Cristão no próximo sábado, dia 27 de novembro de 2021, ao por do sol.

            Com o Advento iniciaremos o Ano Cristão “C”; onde as leituras de Domingo serão dirigidas pelo Evangelista Lucas.

            Contamos toda a história de Cristo a partir de São Marcos: Advento, Natal, Epifania, Batismo do Senhor, Tempo Comum (1), Quaresma, Semana Santa, Páscoa, Ascensão, Pentecostes e Tempo Comum (2).

            Nossos domingos foram cristocêntricos e terminam hoje. Estamos encerrando a História da Salvação proclamando Cristo Rei do Universo.

            Esta celebração tem um contexto próprio. Diante de tantos movimentos políticos e sociais, o cristianismo pregou que o verdadeiro Rei é o Senhor Jesus Cristo.

            A festa foi instituída para que todas as coisas culminassem na plenitude em Cristo Senhor, simbolizado no que diz o Apocalipse: ”Eu sou o Alfa e o Ômega, Principio e Fim de todas as coisas.” (Ap 1.8).

            Esta festa celebra o reinado de Cristo, o Reino de Deus e nossa participação neste reino. O fim da história não é o sofrimento nem as desigualdades. O fim da História é Jesus Cristo, nosso Senhor, o Rei dos Reis.

            Não cremos em milagres políticos. Cremos no Senhor Jesus, nosso Rei.

            Sabemos que o Senhor voltará como Rei para julgar o universo. Ele é o Rei do Universo, o Rei dos reis.

            O Senhor tem reinado em nossa vida? Quais são as áreas onde Cristo Rei não tem reinado?   Ele é rei dos meus olhos? É o rei da minha vida financeira? É o rei da minha família? É o rei de nossos dízimos e do nosso tempo?

            Que Ele reine em todas as áreas da nossa vida.


domingo, 7 de novembro de 2021

Encontro 189 - Atanásio de Alexandria (285-373) - Sobre a Encarnação (Capítulo 6)

                                    

Encontro 189
Atanásio de Alexandria (285-373)
Sobre a Encarnação (Capítulo 6)

 

CAPÍTULO VI

CONTRA OS GREGOS FILÓSOFOS E IDÓLATRAS. ARGUMENTOS DA

RAZÃO: A CONVENIÊNCIA COSMOLÓGICA DA ENCARNAÇÃO

1.       Quanto aos gregos, é verdadeiramente espantoso como se riem das questões mais respeitáveis, obcecados também acerca de sua própria vergonha, que lhes passa desapercebida, prestando culto a ídolos de pedra e madeira.

2.       Sentindo-nos à vontade na demonstração de nossa doutrina, confundi-los-emos com boas razões, sobretudo por fatos que constatamos. O que existe de estranho, de ridículo, entre nós? Afirmar que o Verbo realmente se manifestou corporalmente? Ora, se querem ser amigos da verdade, hão de reconhecer conosco que não se trata de evento tão estranho.

3.       Se negam inteiramente a existência do Verbo de Deus, perdem tempo por zombarem do que ignoram.

4.       Se assentem, contudo, que existe um Verbo de Deus, senhor do universo, que nele o Pai criou e por sua providência concede a todos os seres a luz, a vida, o ser, que reina sobre todos a ponto de ser possível perceber sua providência e por meio dele, o Pai, examina, por favor, se imperceptivelmente não caem no ridículo.

5.       Os filósofos gregos asseveram ser o mundo um grande corpo, e é verdade. Efetivamente, notamos que caem sob o domínio dos sentidos o mundo e suas partes. Se, portanto, o Verbo de Deus acha-se no mundo material, e veio a todas e a cada uma de suas partes, porque seria espantoso e estranho afirmar que veio também a um ser humano?

6.       Numa palavra, se é estranho que se tenha encarnado, seria também que viesse ao mundo e todos os seres recebessem de sua providência luz e movimento, uma vez que o universo é também corporal.

7.       Consequentemente, se convém que ele venha ao mundo e seja percebido em todo o universo, também é conveniente que apareça com corpo humano, iluminado e movido por ele. Com efeito, o gênero humano é também parte deste todo. E se não se faz mister que esta parte sirva de instrumento ao Verbo para proclamar sua divindade, seria completamente estranho que se desse a conhecer no conjunto do cosmos.

8.       Considerando-se que o homem ilumina e move o corpo inteiro, quem julga estranho atinja a força do homem também um artelho, passaria por insensato, pois, apesar de conceder que o homem está e age no corpo inteiro, negaria estar também numa parte. De igual modo, quem concede e crê estar o Verbo de Deus presente no mundo inteiro, ser o universo iluminado e movido por ele, não se admira de que ilumine e mova um corpo humano.

9.       Se eles acham não ser apropriado falar de aparição humana do Salvador, pelo fato de ser o gênero humano criado, feito do nada, vê que o estão excluindo também da criação, igualmente tirada do nada pelo Verbo.

10.   Embora também a criação tenha sido produzida, e não seja de admirar que o Verbo nela se ache presente, de igual forma não se estranhe que esteja em corpo humano. Conforme concebem o universo, forçoso é que pensem a respeito das partes dele; e, conforme disse, o homem também é parte do universo.

11.   Por conseguinte, não é inconveniente que o Verbo esteja num homem, e que tudo seja nele, e por ele iluminado, movido e vivificado, segundo asseveram até seus próprios autores: “É nele, com efeito, que temos a vida, o movimento e o ser” (At 17,28).

12.   Em que, portanto, será ridículo afirmar que o Verbo se serve qual instrumento para sua manifestação, deste corpo no qual está? Se nele não se achasse, não poderia utilizá-lo.

13.   Começamos por conceder que ele se acha no todo e nas partes. Que há de incrível em que ele se manifeste nas partes onde se encontra?

14.   Estando todo inteiro, por sua virtude, em cada um dos seres e em todos, e organizando tudo com largueza, se quisesse empregar o sol ou a lua, o céu ou a terra, a água ou o fogo, qual voz para se dar a conhecer a si e ao Pai, ninguém se admiraria, considerando que ele contém todas as coisas, e está simultaneamente em cada parte, revelando-se de modo invisível. Assim também se a todo ser ordena e vivifica, e quer se dar a conhecer aos homens, nada de extraordinário que empregue corpo humano qual instrumento para manifestar a verdade, e revelar o Pai. Pois, a humanidade é também parte do todo.

15.   A alma está difundida no homem todo e se manifesta numa parte do corpo, por exemplo, a língua, e ninguém afirma que a substância da alma com isso fica diminuída.

16.   Não se julgue indigno do Verbo, presente em todos os seres, utilizar-se de instrumento humano. Pois, segundo assegurei, se não convém que use o corpo como instrumento, igualmente não fica bem que esteja em todo o mundo.

17.   Por que, questionam eles, em lugar do homem, não se manifestou em outros seres mais nobres da criação? Por que não se serve de instrumento mais belo, como o sol, a lua, os astros, o fogo, o éter? Fiquem cientes de que o Senhor não veio somente para se exibir, e sim para curar e ensinar os que sofriam.

18.   Para se exibir, bastava aparecer e surpreender os espectadores. Mas para curar e instruir, era insuficiente vir, precisando ainda de se pôr a serviço dos necessitados e aparecer de forma adaptada a suas carências, a fim de não perturbar a humanidade sofredora por excesso e não ser improfícua a manifestação divina.

19.   Criatura alguma, senão o homem, equivocava-se no conhecimento de Deus. Pois, nem o sol ou a lua, o céu ou os astros, a água ou o éter, perturbam a ordem estabelecida, mas reconhecendo o Verbo, seu criador e rei, mantém-se tais quais foram criados.

20.   Somente os homens se apartaram do bem, fizeram ídolos de nada em lugar da verdade e atribuíram a honra devida a Deus, o conhecimento de Deus, a demônios, a homens figurados em pedra.

21.   Desta forma, sendo indigno da vontade de Deus desinteressar-se de tal situação, e visto que os homens não o percebiam presente a governar o mundo, assumiu qual instrumento uma parte do todo, o corpo humano, ao qual acedeu. Assim, os homens que não conseguiam conhecê-lo através do todo, não o desconheceriam através de uma parte; uma vez que não podiam erguer os olhos ao poder invisível, ao menos podiam compreendê-lo e contemplá-lo num ser semelhante a si mesmos.

22.   Homens como são, poderiam por meio de um corpo igual ao seu e pelas obras divinas corporalmente realizadas, conhecer mais rapidamente e mais de perto o Pai do Verbo, pela reflexão de não serem humanas e sim divinas, as obras realizadas.

23.   E se acaso se lhes afigurar estranho dê-se o Verbo a conhecer pelas obras corporais, também espantoso será que se manifeste pelas obras operadas no universo. Estando embora no meio da criação, em nada participa dos seres criados, mas, ao invés são estes que participam de seu poder. De igual sorte, utilizando qual instrumento o seu corpo, em nada participa de condições corporais; ao invés, santifica o corpo.

24.   Platão, tão admirado entre os gregos, disse que o autor do universo, vendo-o agitado pela tempestade e em perigo de soçobrar nas desigualdades, assentou-se ao leme da alma e veio socorrê-la, reparando todas as suas faltas. Por que admirar a asserção de que no seio da humanidade desnorteada o Verbo veio se estabelecer, aparecer como homem, a fim de salvá-la da tempestade por sua direção e sua bondade?

 

A conveniência física da encarnação

25.   Talvez eles, envergonhados, concedam tudo isso, tentando, porém declarar que se Deus quisesse instruir e salvar os homens, o fizesse por ato voluntário apenas, como outrora fizera, ao tirar os seres do nada, sem que o Verbo tocasse o corpo.

26.   Provavelmente se responda a essa objeção da seguinte maneira: Outrora, nada existia e bastava um só ato da vontade e um propósito para criar o universo. Depois, contudo, que o homem foi feito e não se impunha fossem seres tirados do nada e sim a cura de seres já existentes, segue-se que o médico e salvador devia aproximar-se das criaturas, para curá-las. Por isso, ele se fez homem e empregou o corpo humano, qual instrumento.

27.   Ao invés, se assim não devia acontecer, de que maneira havia de vir o Verbo, empregando um instrumento? De onde tomá-lo, senão dentre seres já existentes, necessitados do socorro da divindade, por meio de ser semelhante a eles? O nada não carecia de salvação e era suficiente apenas uma ordem. Mas, o homem já existia, entregue à corrupção e à ruína; fez-se mister, então, que o Verbo se servisse de instrumento humano e se estendesse a todas as coisas.

28.   Em seguida, faz-se mister saber que a corrupção não se achava fora do corpo. Nele penetrara. Forçoso era que em vez da corrupção, a vida a ele se apegasse. A morte estivera no corpo, a vida também nele se instalasse.

29.   Assim, se a morte fosse exterior ao corpo, a vida deveria ficar também de fora. Mas, uma vez que a morte se lhe unira, exercendo poder sobre ele, a vida precisava apegar-se ao corpo, a fim de que este, revestindo-se da vida, se livrasse da corrupção. De outro modo, se o Verbo se mantivesse fora do corpo e não dentro, a morte teria sido muito naturalmente vencida, por não possuir poder algum contra a vida. No entanto, a corrupção restaria no corpo no qual se sobrepusera.

30.   Consequentemente, o Salvador devia se revestir de corpo, a fim que este, assim apegado à vida, cessasse de estar unido à morte, enquanto mortal; ao invés, revestindo a imortalidade e ressuscitado, perdurasse imortal. Revestido da corrupção, era impossível ressurgir sem revestir a vida. Além disso, como a morte não subsiste em si mesma, e sim num corpo, o Verbo revestiu corpo, para ir ao encontro da morte neste corpo e fazê-la desaparecer. Como, pois, teria o Senhor demonstrado ser a Vida, senão vivificando o que é mortal?

31.   O fogo naturalmente consome a palha; afastada do fogo, não se queima, continua sendo palha, mas como tal tem medo das ameaças do fogo, pois naturalmente ele a consome. Se, contudo, a palha estiver bem revestida de amianto, o qual, diz-se, é incompatível com o fogo, a palha não mais teme o fogo, apoiada na segurança oferecida por este revestimento incombustível.

32.   O mesmo se pode dizer relativamente ao corpo e à morte. Se o Verbo tivesse apartado a morte somente por uma ordem, o corpo, contudo, manter-se-ia mortal e corruptível, segundo a lei que rege os corpos. A fim de que tal não sucedesse, o corpo vestiu o Verbo incorpóreo de Deus. Assim, não receia mais a morte, nem a corrupção, uma vez que revestiu a vida e a corrupção desapareceu.

 

O que você destaca no texto?

Como serve para sua espiritualidade?

domingo, 31 de outubro de 2021

Encontro 188 - Atanásio de Alexandria (285-373) - Sobre a Encarnação (Capítulo 5 – parte 2)

 


Encontro 188

Atanásio de Alexandria (285-373)

Sobre a Encarnação (Capítulo 5 – parte 2)

 

Outras testemunhas e reflexões sobre os milagres de Cristo

1.      Se tudo isso não lhes basta, deixem-se persuadir por outros textos de que eles mesmos dispõem. A quem se referem os profetas nesses termos: “Consenti em ser buscado pelos que não perguntavam por mim, consenti em ser encontrado pelos que não me procuravam. A uma nação que não invocava o meu nome eu disse: ‘Eis-me aqui!’ Todos os dias estendi as mãos a um povo desobediente e rebelde”? (Is 65,1-2; Rm

2.      10,20-21).

3.      Quem, pois, se revelou? Seja referido aos judeus! Se é do profeta que se trata, digam eles quando se escondeu para logo em seguida se mostrar! Quem é, portanto, esse profeta, que de invisível se tornou visível e estendeu as mãos na cruz? Nenhum dos justos, mas somente o Verbo de Deus, por natureza incorpóreo, fez-se por nossa causa visível corporalmente e por nós sofreu.

4.      E se isto não lhes é suficiente, outros testemunhos causem-lhes confusão, com manifesta refutação. Pois, diz a Escritura: “Fortalecei as mãos abatidas, revigorai os joelhos cambaleantes. Dizei aos corações conturbados: ‘Sede fortes, não temais.’ Eis que o vosso Deus vem para vingar-vos, ele vem para salvar-nos. Então abrir-se-ão os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos se desobstruirão; então o coxo saltará como o cervo e a língua dos surdo-mudos será ágil” (Is 35,3-6). Que replicar diante disso ou como encarar esses fatos? A profecia assinala a vinda de Deus, os milagres revelam a época de sua chegada. Que os cegos vejam, os coxos andem, os surdos ouçam e a língua dos mudos se torne ágil, tudo isso os profetas referem à vinda do Senhor. Digam-nos quando tais sinais se produziram em Israel, onde tal aconteceu na Judéia?

5.      Naaman, o leproso, foi curado, mas não houve surdo que ouvisse, nem coxo que andasse. Elias e Eliseu ressuscitaram mortos, mas não houve cego de nascença que recuperasse a vista. Certamente, grande milagre é ressuscitar um morto, mas o portento operado por eles não foram tão grandes quanto os que o Senhor realizou. E se a Escritura não omitiu a cura do leproso, nem a ressurreição do filho da viúva, sem dúvida se houvesse acontecido antes que um coxo andasse ou um cego visse, a Palavra de Deus não teria deixado de publicar também esses fatos. Visto que não há referências da Escritura a esse respeito, é claro que tais milagres não se haviam produzido anteriormente.

6.      Quando, então, sucederam, senão quando o próprio Verbo de Deus apareceu corporalmente? Quando, pois, veio ele, senão quando os coxos andaram, os mudos falaram com desembaraço, os surdos ouviram, os cegos de nascença viram claramente? Por essa razão, os judeus que o constataram e jamais haviam ouvido falar de fatos idênticos, diziam: “Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a cego de nascença. Se este homem não fosse de Deus, nada poderia fazer” (Jo 9,32-34).

7.      Talvez, incapazes de resistir diante da evidência, não negarão as Escrituras, entretanto assegurem que ainda esperam o Verbo, que é Deus, e ainda não veio. Eis o que eles repetem à porfia, sem saírem de sua ousada oposição aos fatos evidentes. Mas aqui também serão refutados, não por nós, mas por Daniel, que era muito prudente, e anuncia a época atual e o advento divino do Salvador, nesses termos: “Setenta semanas foram fixadas para o teu povo e a tua cidade santa para fazer cessar a transgressão e lacrar os pecados, para expiar e perdoar a iniquidade e instaurar justiça eterna, para selar visão e profeta e para ungir o santo dos santos. Ficarás sabendo, pois, e compreenderás isto, desde a promulgação do decreto sobre o retorno e a reconstrução de Jerusalém até o reino do Ungido” (Dn 9,24-25).

8.      Talvez pudessem encontrar pretextos nos outros profetas, e atribuir ao futuro o que foi escrito. Mas, que poderão dizer ou contrapor a este texto? Nele se indica o Cristo, não se anuncia o Ungido somente como homem, mas como o santo dos santos.  Jerusalém subsiste até a sua vinda, e em seguida cessam em Israel profeta e visão.

9.      Outrora tinham sido ungidos Davi, Salomão e Ezequias; mas então Jerusalém e o lugar santo subsistiam, e profetizavam Gad, Asaf, Natan, e após estes, Isaías, Oséias, Amós e outros profetas. Além disso, os ungidos eram denominados homens santos, e não: santo dos santos.

10.  Se, porém, apresentarem como objeção o cativeiro e que por causa deste Jerusalém não mais existia, que dirão acerca dos profetas? Com efeito, ao ser outrora o povo levado para Babilônia, viviam Daniel, Jeremias e Ezequiel, Ageu e Zacarias profetizavam.

11.  Pura invenção dos judeus, portanto, que transferem para o futuro fatos presentes. Quando cessaram em Israel profeta e visão, a não ser quando apareceu o santo dos santos, o Cristo? Sinal e marca considerável da presença do Verbo de Deus era não subsistir Jerusalém, não surgir profeta algum, nem revelação por meio de visão. E era perfeitamente exato.

12.  Pois, tendo chegado o que os sinais prenunciavam, que necessidade ainda havia destes sinais? Ao aparecer a realidade, para que ainda as sombras? Por esta razão, os profetas falaram até que chegasse a própria justiça, quem redime os pecados de todos. Jerusalém perdurou muito a fim de que os judeus ali considerassem as figuras da realidade futura.

13.  Mas, agora, com a vinda do santo dos santos, precisamente foram seladas visão e profecia e o reino de Jerusalém deixou de existir. Seus reis foram ungidos até que fosse também ungido o santo dos santos. Moisés profetizou que o reino de Jerusalém duraria até esta vinda, com essas palavras: “O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão de chefe de entre seus pés, até que o tributo lhe seja trazido e ele é a expectativa das nações” (Gn 49,10).

14.  O próprio Salvador também exclamava: “Todos os profetas bem como a Lei profetizaram até João” (Mt 11,13). Se, portanto, agora ainda existem entre os judeus, rei, profeta e visão, eles têm razão de negar que Cristo tenha vindo; mas se não há mais rei, nem visão, se toda profecia está selada, se cidade e templo foram destruídos, por que são ímpios e transgressores a ponto de negar Cristo, causa desses eventos, apesar do que se passou? Por que, ao verificarem que os gentios abandonaram os ídolos e por meio de Cristo depositam esperança no Deus de Israel, eles renegam Cristo, oriundo segundo a carne da raiz de Jessé, a reinar de hoje em diante? Se os gentios adorassem outro Deus, sem confessar o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Moisés, os judeus razoavelmente pretenderiam que Deus não veio.

15.  Entretanto, se o Deus adorado pelos gentios é idêntico ao que deu a Lei a Moisés, fez a promessa a Abraão, cujo Verbo os judeus rejeitaram, por que não o reconhecem, ou antes, por que recusam voluntariamente aceitar que o Senhor, prenunciado pela Escritura, resplandeceu na terra inteira e se mostrou presente no corpo? De fato, diz a Escritura: “O Senhor é Deus: ele nos ilumina” (Sl 117,27a) e ainda: “O Senhor enviou sua Palavra para curá-los” (Sl 106,20) e novamente: “Não foi um mensageiro ou um anjo, mas a sua própria face que os salvou” (Is 63,9).

16.  Seu estado assemelha-se ao de demente que veria a terra à luz do sol e negaria a existência do sol que a ilumina. O que restava fazer, se já viera aquele que esperavam? Chamar os pagãos? Mas, ele se antecipara neste chamado. Fazer cessar profeta, rei, visão? Também já haviam cessado. Denunciar a impiedade dos ídolos? De fato, denunciara e condenara. Aniquilar a morte? Ele a aniquilou.

17.  Do que competia a Cristo fazer, o que não fez? Que falta ainda, para os judeus se regozijarem e recusarem crer? No entanto, se, como vimos, eles não têm rei, nem profeta, nem Jerusalém, nem sacrifício, nem visão, e não obstante, a terra inteira está cheia do conhecimento de Deus, e os gentios rejeitam a impiedade para buscarem o Deus de Abraão, por meio do Verbo, nosso Senhor Jesus Cristo, faz-se evidente, até aos mais ousados, que Cristo já veio, que para todos os homens brilha inteiramente sua luz, e ele lhes ministra a respeito do Pai ensinamento verdadeiro e divino.

18.  Por este testemunho e outros mais, extraídos das divinas Escrituras, refutam-se as objeções dos judeus.

 

1.      O que destaco no texto e porquê?

2.      Como ele serve para a minha espiritualidade?

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Cronologia de Martinho Lutero - Homenagem ao Dia da Reforma protestante.

 



Cronologia de Martinho Lutero

1483 – Nasce em Eisleben, na Alemanha oriental.

 

1484 – Seus pais, Hans e Margaretha Luder, mudam-se para Mansfeld, onde Hans trabalha em minas de cobre.

 

1492 – Lutero estuda em Mansfeld.

 

1497 – Estuda em Magdeburgo e no ano seguinte em Eisenach.

 

1501 – Ingressa na Universidade de Erfurt e no ano seguinte recebe o grau de bacharel.

 

1505 – Conclui o mestrado em Erfurt e começa a estudar direito. Em 02-07, durante uma tempestade, jura tornar-se monge; ingressa na Ordem dos Eremitas Agostinianos, em Erfurt.

 

1507 – É ordenado e celebra a primeira missa. No ano seguinte, leciona filosofia moral em Wittenberg.

 

1510 – Visita Roma e no ano seguinte é transferido para a casa agostiniana de Wittenberg.

 

1512 – Torna-se doutor em teologia e no ano seguinte começa a lecionar sobre os Salmos na Universidade de Wittenberg.

 

1515 – Leciona sobre Romanos e é nomeado vigário distrital sobre dez mosteiros; no ano seguinte, começa a lecionar sobre Gálatas.

 

1517 – Começa a lecionar sobre Hebreus; em 31 de outubro, afixa as Noventa e Cinco Teses sobre as indulgências. Contexto: eleição do sacro imperador e venda de indulgências.

 

1518 – Defende a sua teologia em uma reunião dos agostinianos em Heidelberg. Em outubro, comparece diante do cardeal Cajetano em Augsburgo, mas recusa retratar-se; em dezembro, Frederico, o Sábio, impede que Lutero seja levado a Roma.

 

1519 – Entende a “justiça de Deus” como uma “justiça passiva com a qual Deus nos justifica pela fé.” Em julho, tem um debate com o professor dominicano João Eck em Leipzig; defende João Hus e nega a autoridade suprema de papas e concílios. Carlos V é eleito sacro imperador.

 

1520 – A bula papal Exsurge Domine dá-lhe 60 dias para retratar-se ou ser excomungado. Queima a bula papal e um exemplar da lei canônica. Escreve três documentos fundamentais: À Nobreza Cristã da Nação AlemãO Cativeiro Babilônico da Igreja A Liberdade do Cristão. A Reforma alastra-se na Alemanha e na Europa.

 

1521 – É excomungado pela bula Decet Romanum Pontificem, de Leão X. Em abril, na Dieta de Worms, recusa renegar os seus escritos e no mês seguinte um edito o condena como herético e proscrito. É seqüestrado e ocultado no Castelo de Wartburg, onde começa a traduzir o Novo Testamento. Protegido pelo príncipe eleito.

 

1522 – Em março, deixa o seu esconderijo e retorna a Wittenberg. No ano seguinte, escreve Sobre a Autoridade Temporal. É publicado o Novo Testamento em alemão.

 

1524 – Tem um debate com Andreas Bodenstein Karlstadt sobre a Ceia do Senhor. Explode a Revolta dos Camponeses.

 

1525 – Escreve Contra os Profetas Celestiais; escreve Contra as Hordas, criticando a Revolta dos CamponesesCasa-se com Catarina von Bora. Escreve O Cativeiro da Vontade, contra Erasmo. Morte de Frederico, o Sábio.

 

1526 – Escreve a Missa Alemã; nasce o seu filho Hans. Na Dieta de Spira, os príncipes recusam-se a aplicar o Edito de Worms. No ano seguinte, luta contra enfermidades e intensa depressão; escreve “Castelo Forte”. Nasce a sua filha Elizabete. Escreve contra as idéias de Zuínglio acerca da Ceia do Senhor.

 

1528 – Escreve a Grande Confissão Acerca da Ceia de Cristo; chora a morte de Elizabete; visita igrejas.

 

1529 – Dieta de Spira: intolerância contra os luteranos. Surge o nome “protestantes.” Lutero comparece com Zuínglio ao Colóquio de Marburg, mas não alcançam acordo sobre a Ceia do Senhor. Publica o Grande Catecismo e o Pequeno Catecismo. Nasce sua filha Madalena.

 

1530 – Morre seu pai. Lutero, sendo um proscrito, não pode comparecer à Dieta de Augsburgo, realizada na tentativa de pôr fim à divisão religiosa do império. Filipe Melanchton apresenta a Confissão de Augsburgo, uma declaração das convicções luteranas.

 

1531 – Começa a lecionar sobre Gálatas. Nasce o seu filho Martin e morre a sua mãe, Margaretha.

 

1532 – Escreve Sobre os Pregadores Infiltradores e Clandestinos. Recebe o mosteiro agostiniano de Wittenberg como sua residência.

 

1533 – Nasce o seu filho Paulo. No ano seguinte, publica a Bíblia Alemã completa e nasce sua filha Margarete.

 

1536 – Aceita a Concórdia de Wittenberg sobre a Ceia do Senhor, na tentativa de sanar as diferenças com outros reformadores, mas os zuinglianos a rejeitam.

 

1537 – Redige os Artigos de Schmalkald como seu “testamento teológico.” No ano seguinte, escreve contra os judeus emContra os Sabatarianos.

 

1539 – Escreve Sobre os Concílios e a Igreja. Em 1541, escreve Exortação à Oração contra os Turcos.

 

1542 – Redige o seu testamento; morre sua filha Madalena. No ano seguinte, escreve Sobre os Judeus e suas Mentiras.

 

1544 – Escreve contra a interpretação de Caspar Schwenckfeld sobre a Santa Ceia.

 

1545 – Escreve Contra o Papado de Roma, uma Instituição do Diabo. Morre o arcebispo Alberto de Mogúncia e tem início o Concílio de Trento.

 

1546 – Lutero morre no dia 18 de fevereiro em Eisleben. Sua esposa morre em 1552.

domingo, 24 de outubro de 2021

Encontro 187 - Atanásio de Alexandria (285-373) - Sobre a Encarnação - (Capítulo 5 – parte 1)

                                     


Encontro 187

Atanásio de Alexandria (285-373)

Sobre a Encarnação (Capítulo 5 – parte 1)

 

CAPÍTULO V

CONTRA OS JUDEUS INCRÉDULOS TESTEMUNHAS DA ENCARNAÇÃO DE CRISTO

 

1.      Assim sendo, após clara demonstração da ressurreição do corpo do Salvador e da vitória alcançada sobre a morte, refutemos agora a incredulidade dos judeus e a zombaria dos gregos.

2.      Em oposição a esses fatos, os judeus recusam crer e ridicularizam os gregos, puxando para cá e para lá o que a cruz e a encarnação do Verbo de Deus apresentam de menos adequado. Não deixarei, contudo, de dirigir minha exposição contra uns e outros, tanto mais que possuo contra eles argumentos convincentes.

3.      Os judeus incrédulos encontrariam comprovação nas Escrituras, a cuja leitura também eles se dão. Do começo ao fim, o livro inspirado todo inteiro clama estas realidades, segundo revelam suas próprias palavras. Os profetas, há muito, anunciavam o milagre da Virgem e do menino que dela nasceria: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e por-lhe-á o nome de Emanuel” (Is 7,14; Mt 1,23), que significa: Deus conosco.

4.      Moisés, realmente grande, cuja veracidade reconheciam os judeus, aprecia de igual modo como sendo das maiores coisas as palavras proferidas sobre a encarnação do Salvador, e tomando-as como tais, cita-as em seus livros: “Um astro procede de Jacó, um homem se levanta, procedente de Israel. E esmaga os príncipes de Moab” (Nm 24,17b). E ainda: “Como são formosas as tuas moradas, ó Jacó, e as tuas tendas, ó Israel! Como vales sombreados, e como jardins ao lado de um rio e como tendas que o Senhor levantou, como cedros junto às águas! Um herói surge na sua descendência, e domina sobre muitos povos” (Nm 24,5-7a) E ainda Isaías: “Porque, antes que a criança saiba dizer ‘papai’ e ‘mamãe’, as riquezas de Damasco e os despojos de Samaria serão levados para o rei da Assíria” (Is 8,4b).

5.      Palavras proféticas acerca de seu aspecto humano. Mas os profetas prenunciam ser ele o Senhor de todos, nesses termos: “O Senhor, montado em uma nuvem veloz, vai ao Egito. Os deuses do Egito tremem diante dele” (Is 19,1) De lá, com efeito, é que o Pai o chama novamente do Egito: “Do Egito chamei o meu Filho” (Mt 2,15; Os 1,1).

6.      Sua morte também não passou sob silêncio, mas foi distintamente indicada nas Sagradas Escrituras. No intuito de que ninguém o ignorasse, permanecendo em erro, os profetas não hesitaram declarar nem mesmo a causa desta morte, que não padeceu por si mesmo, mas para a imortalidade e salvação de todos, nem de narrar as ciladas dos judeus e os ultrajes infligidos por eles.

7.      Assim se expressam: “Um homem sujeito à dor, familiarizado com a enfermidade, sua face foi objeto de aversão; desprezado, não se fazia caso dele. E, no entanto, eram os nossos pecados que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava. Nós o tínhamos como sofredor, ferido e humilhado. Mas ele foi ferido por causa de nossas transgressões e esmagado em virtude das nossas iniquidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre ele, sim por suas feridas fomos curados” (Is 53,3b-5).

8.      Admira a filantropia do Verbo, que aceita ultrajes por nossa causa, a fim de sermos honrados. “Todos nós, como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada um o seu próprio caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós. Foi maltratado, mas não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro, como ovelha que permanece muda na presença de seus tosquiadores ele não abriu a boca. Em sua humildade seu julgamento foi retirado” (At 8,32s).

9.      Enfim, para não passar por homem vulgar, devido a seus sofrimentos, a Escritura previne os pensamentos dos homens e dá a conhecer sua natureza e seu poder, diversos dos nossos, dizendo: “Quem contará sua geração? Foi cortado da terra dos vivos, foi conduzido à morte por causa da transgressão do seu povo. Deram-lhe sepultura com os ímpios, e o seu túmulo está com os ricos, se bem que não houvesse praticado violência nem houvesse engano em sua boca. Mas o Senhor quis curá-lo de suas feridas” (Is 53,8b-10a).

10.  Mas, talvez após ter ouvido a profecia sobre sua morte, queiras saber o que foi prenunciado sobre a cruz. Pois, ela também não passou sob silêncio, mas foi brilhantemente destacada pelos santos.

11.  Moisés foi o primeiro a anunciá-la com grandes clamores: “Tua vida penderá diante de teus olhos por um fio, e não acreditarás” (Dt 28,66).

12.  Depois dele, também os profetas deram testemunho: “Mas eu como cordeiro manso que é levado ao matadouro, não sabia; eles tramavam planos contra mim: Vinde, coloquemos madeira em seu pão, arranquemo-lo da terra dos vivos” (Jr 11,19a).

13.  E ainda: “Traspassaram as minhas mãos e os meus pés, contaram todos os meus ossos; repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sorte” (Sl 22,17s).

14.  Esta morte por suspensão num madeiro só podia ser a da cruz; e em nenhum outro gênero de morte mãos e pés se traspassam a não ser no da cruz.

15.  E como pelo advento do Salvador todas as gentes começaram a reconhecer o Senhor, nem isso a Sagrada Escritura deixou de citar, mas o relembra nesses termos: “Ele será a raiz de Jessé, que se ergue para governar os povos; nele esperarão as nações” (Is 11,10; Rm 15,12). Estas poucas palavras bastam para demonstração dos fatos.

 

16.  Desenvolvimento oratório sobre estas testemunhas

17.  A Escritura inteira, efetivamente, acha-se repleta de traços a refutarem a incredulidade dos judeus. Entre os justos mencionados nas divinas Escrituras, os santos profetas, os patriarcas, houve algum que tenha nascido somente de virgem? Ou que mulher basta, sem concurso de marido, para dar à luz um homem? Acaso Abel não nasceu de Adão, Enoc de Jared, Noé de Lamec, Abraão de Taré, Isaac de Abraão e Jacó de Isaac? Judá de Jacó, Moisés e Aarão de Amram? Samuel não nasceu de Elcana, Davi de Jessé, Salomão de Davi, Ezequias de Acaz, Josias de Amós, Isaías de Amós, Jeremias de Helcias, Ezequiel de Buzi? Na origem de cada um deles não houve pai? Qual nasceu somente de virgem? Ora, o profeta cuidadosamente indicou este sinal.

18.  De quem um astro anunciou nos céus e proclamou à terra inteira seu nascimento? Moisés, ao nascer, foi escondido pelos pais. De Davi até mesmo os vizinhos não tinham ouvido falar, pois o grande Samuel não o conhecia e perguntou se havia ainda outro filho de Jessé. Abraão só depois de adulto foi notado pelos mais próximos. Mas, Cristo, ao nascer, não teve apenas o testemunho de um homem e sim de um astro que apareceu no céu, donde ele próprio descera.

19.  Qual o rei que antes de poder chamar ‘papai’ e ‘mamãe’ (cf. Is 8,4) começou a reinar e alcançou troféus contra os inimigos? Davi não começou a reinar aos trinta anos, e Salomão, já rapaz? Não tinha Joás sete anos ao começar a reinar (cf. 2Rs 12,1) e Josias, mais novo ainda, pelos sete anos, não recebeu o poder? (cf. 2Rs 22,1) Mesmo os que, porém, já haviam atingido tal idade, podiam chamar o pai e a mãe.

20.  Quem, pois, quase antes de nascer reina e despoja os inimigos? Os judeus, que perscrutam as Escrituras, digam-me qual o rei de Israel e de Judá em quem todas as nações depositaram sua esperança e com ele mantinham a paz? Ao invés, não eram elas antes inimigas?

21.  Enquanto Jerusalém subsistia, faziam-lhe guerra sem tréguas. Combatiam todas contra Israel. Os assírios a oprimiam, os egípcios a perseguiam, os babilônios a invadiam. E coisa espantosa, os sírios, seus vizinhos eram também adversários. Davi não guerreava os moabitas, e não talhava em peças os sírios, Josias não se precavia de seus vizinhos, e Ezequias não temia a jactância de Senaquerib? Amalec não lutou com Moisés, a quem eram hostis também os amorreus? Os habitantes de Jericó não combateram contra Josué, filho de Nun? E em geral, na falta de verdadeiras tréguas, houve acaso amizade entre as nações e Israel? Será bom verificar em quem, pois, as nações depositam sua esperança. Deve existir alguém, pois é impossível que os profetas tenham mentido.

22.  Qual, então, o santo profeta ou santo patriarca que morreu na cruz pela salvação de todos? Quem foi ferido e morto para a cura de todos? Qual dos justos ou dos reis desceu ao Egito, a fim de derrubar, por ocasião de sua chegada, os ídolos dos egípcios? Abraão desceu, e no entanto, a idolatria em geral exercia seu império. Foi lá que Moisés nasceu; todavia, a superstição ali reinava.

23.  Qual dentre os mencionados pela Escritura teve mãos e pés traspassados, ou pendeu de fato do madeiro e morreu na cruz pela salvação de todos? Abraão acamou-se e morreu; Isaac e Jacó também juntaram os pés no leito e morreram. Moisés e Aarão faleceram no monte. Davi, em casa, e não sucumbiu às conjurações do povo. Sem dúvida, fora perseguido por Saul, mas escapou incólume. Isaías foi cortado ao meio, mas não pendeu do lenho. Jeremias foi coberto de injúrias, não foi, contudo, condenado à morte. Ezequiel não sofreu por causa da plebe, mas por anunciar o que aconteceria ao povo.

24.  Consequentemente, todos esses que assim padeceram eram homens, semelhantes por natureza aos outros. Aquele, porém, cujos sofrimentos foram prenunciados nas Escrituras não é simplesmente homem, mas diz-se que é a Vida de todos, embora por natureza semelhante aos homens. “Tua vida penderá diante de teus olhos por um fio”, diz a Escritura (Dt 28,66); e ainda: “Quem contará sua geração?” (Is 53,8). É possível ter notícia da geração de todos os santos e contar desde o começo o que foi cada um deles, e onde nasceu; mas a Palavra de Deus indica ser inenarrável a geração do que é a própria Vida.

25.  A quem, pois, assim as Sagradas Escrituras se referem? Quem é este ser tão grande do qual os profetas anunciam coisas tão prodigiosas? Nenhum outro se encontra enquanto tal nas Escrituras, a não ser nosso Salvador comum, o Verbo de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo. É procedente da Virgem, apareceu qual homem na terra aquele cuja geração segundo a carne é inenarrável. Com efeito, não se lhe atribui um pai segundo a carne, porque seu corpo não provém de homem e sim apenas de virgem.

26.  Não é difícil traçar a genealogia dos antepassados de Davi, de Moisés e dos patriarcas; ao invés, ninguém pode narrar, como se fosse originária de um homem, a geração do Salvador, segundo a carne. Foi ele quem fez um astro anunciar o nascimento de seu corpo; forçoso era, uma vez que o Verbo descia do céu, houvesse também um sinal do céu. A chegada do rei da criação precisava ser claramente noticiada por toda a

27.  terra.

28.  Sem dúvida, nasceu na Judéia, entretanto persas vieram adorá-lo. Mesmo antes de sua aparição corpo, devia alcançar a vitória contra os demônios, seus adversários, e obter os troféus contra a idolatria. Podemos observar com os nossos próprios olhos como, por toda parte os povos abjuram aos costumes de seus pais e a impiedade dos ídolos, depositando de então em diante a confiança em Cristo e sendo contados entre os seus.

29.  A impiedade dos egípcios não cessou a não ser quando o Senhor do universo, levado, por assim dizer, sobre uma nuvem e vindo corporalmente para o meio deles, reduziu a nada o erro da idolatria, e reconduziu os homens a si e por seu intermédio ao Pai.

30.  Foi ele quem, à luz do sol, diante de toda a criação e dos que o matavam, foi crucificado; sua morte trouxe salvação universal e a criação inteira foi redimida. Ele é a Vida de todos e qual ovelha entregou o corpo à morte, em resgate pela salvação de todos, mesmo se os judeus continuam incrédulos.

 

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